“Penso que o papel do jornalista, na sociedade do consumo, é interpretar e traduzir informações. Não cabe a ele apenas informar. Devido à saturação da informação, cabe ao jornalista interpretá-la, atribuindo-lhe sentido e precisão na produção de um bem intelectual que dê ao receptor a possibilidade de refletir e, também, de interpretar. É aí que reside a grandeza de um texto e só então pareceria correto atribuir ao jornalismo o papel de auxiliar na difusão do conhecimento”, jornalista Tiago Lobo, em artigo no site Observatório da Imprensa.
Recomenda-se que este seja o exercício permanente do profissional de comunicação, como já fazia o primeiro jornalista Hipólito José, no Brasil, há mais de 200 anos. Mas não em tempos tão antigos, como os que remontam a Julio Cezar, o poderoso imperador romano, que produzia algo como um informativo sobre suas conquistas. Era um noticioso, o primeiro de que se tem “notícia”, mas não era jornalismo, tal como viemos a produzir séculos depois.
O primeiro jornal brasileiro, que, por sinal, não podia ser produzido aqui (por questões políticas), foi o Correio Braziliense, esse mesmo de nossos dias, ressuscitado juntamente com a inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960: o CB foi criado em 1º de junho de 1808 pelo jornalista português Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, crítico de D. João VI, em Londres. Parou de circular em 1º de dezembro de 1822, com a Independência do Brasil, um dos objetivos do jornal.
Em 1931, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) instituiu o Dia do Jornalista, em homenagem ao médico e jornalista Giovanni Battista Líbero Badaró, que fazia oposição ao imperador D. Pedro I — assim como Hipólito, em relação a D. João VI — criador do Observatório Constitucional, jornal independente que focava em temas políticos até então censurados ou encobertos pelo monarca. Badaró era defensor da liberdade de imprensa e morreu em virtude de suas denúncias e de sua ideologia que contrariava os homens do poder. O assassinato do jornalista, entre outros fatores, levou à renúncia de D. Pedro, em 7 de abril de 1831.
O papel social do jornalismo
Para o jornalista Tiago Lobo, ser objetivo não é ser pouco preciso, até porque, “é possível ser objetivo em um texto jornalístico e descrever um acontecimento com precisão e técnicas narrativas literárias que lhe componham as sutilezas que permeiam a história humana. Inclusive o lead, ou ‘guia’, possui imenso valor às narrativas não ficcionais, portanto este ensaio prega apenas uma mudança ótica e executiva”.
O jornalista questiona se responder a todas as perguntas na abertura de uma matéria é um desserviço ao leitor, como se ele não tivesse tempo para ler jornais. E se pergunta se tal afirmação é acertada. “Ou será que os textos jornalísticos (salvo o brilho de poucos mestres) são frios, imprecisos, burramente objetivos e o leitor já se acostumou com essa estética técnica e industrial? O jornalismo se nutre da vida e história humana, portanto sua narrativa não deveria desumanizar as personagens das suas tramas de não ficção. O excesso da objetividade aborta a humanidade de um texto”, ressalta.
Ele reitera que, sendo o ser humano, a vida humana, a matéria prima do jornalismo e de toda narrativa, cabe ao jornalista o papel de extrema relevância de atentar-se para a humanização do seu trabalho. “O escritor de reportagens não possui mais ou menos valor do que o literato, mas seu trabalho incide imediatamente sobre a sociedade, atingindo uma maior parcela da população com seus textos do que a maioria dos escritores de livros.
Se o jornalista escreve para seu leitor é por ele, e para ele, que deve se pautar. A intimidade e círculo de confiança gerado pelos jornais de pequenas esferas de abrangência, como jornais e cadernos de bairro, atendem de forma muito mais crucial aos interesses coletivos do que a generalização de abraçar o mundo dos grandes veículos. A estes últimos caberia o papel não de formadores de opinião, mas de proponentes da reflexão”.
De Julio Cezar a Gutenberg, os precursores da informação
Não se sabe ao certo a origem do jornalismo nem qual foi o primeiro jornal do mundo, mas os historiadores atribuem sua invenção ao lendário imperador romano Julio Cezar. Em 59 a.C., o general e comandante demonstrou ser também um competente ‘marqueteiro’: para divulgar suas conquistas militares e informar o povo sobre a expansão do império, visando uma eficiente propaganda pessoal Cezar criou a “Acta Diurna”, o primeiro jornal de que se tem notícia.
Era uma publicação oficial e diária de suas conquistas militares, além de ciência e de política para todo o império e para além dele. Para produzir o diário surgiram os primeiros repórteres do mundo, os chamados ‘Correspondentes Imperiais’.
Eles eram enviados para todas as regiões e províncias romanas para acompanhar e descrever os acontecimentos. Reconhecida como a base do conceito e o formato geral dos jornais e do jornalismo modernos, ressaltamos que:
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Como não existiam tecnologias de impressão no império, muito menos papel em quantidade suficiente, a Acta era publicada em grandes placas brancas de papel e madeira (seria o outdoor da época);
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Estas placas eram expostas nas principais praças das grandes cidades para que o povo tomasse conhecimento;
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As mensagens levavam dias, às vezes semanas para chegarem aos seus destinos. Os textos eram transportados a pé ou a cavalo e quando era apresentado ao povo, as notícias já estavam ultrapassadas. Mesmo assim, atraíam a população.
Gutenberg
Séculos depois, surgiu Gutenberg, trazendo consigo a invenção da imprensa. O alemão Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg, ou simplesmente Johannes Gutenberg, foi o primeiro a usar a prensa e os tipos móveis de metal, inventos que revolucionaram a técnica de impressão.
Nascido em Mainz, Alemanha, — entre 1396 e 1400 — em 1434 já era conhecido como um homem de grande habilidade mecânica, proprietário de uma oficina onde ensinava vários ofícios, entre eles o de talhador de pedra, cortador e polidor de espelhos, ourives etc.
Antes de Gutenberg, a impressão de imagens era feita através de carimbos e blocos de madeira que mal permitiam produzir textos. Sabe-se que essa técnica foi usada pelo holandês Laurens Closter, e que era antiga no Extremo Oriente.
Como Gutenberg não tinha o hábito de datar e assinar seus trabalhos pouco se sabe sobre o que foi impresso nesse período. Conta-se que alguns fragmentos de um poema e de um calendário astronômico tenham sido impressos.
Segundo astrônomos, o calendário refere-se ao ano de 1448 e foi impresso com tipos móveis, criados por ele. Admitida como certa a conclusão dos cientistas, deduz-se que a tipografia com caracteres ou tipos móveis foi usada pela primeira vez entre 1439 e 1447.
O historiador francês Roger Chartier, um dos grandes estudiosos da história do livro e da leitura, destacou que a invenção de Gutenberg foi tão revolucionária que só pode ser comparada à invenção do computador e da reprodução digital da escrita.
E assim se deu a evolução da imprensa, do jornalismo, dos meios de comunicação como conhecidos hoje.
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