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Problemas na saúde: o drama que Friburgo vive

Lucas Barros
Além das Montanhas
Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.
A cena se repete em quase toda cidade brasileira — e Nova Friburgo, infelizmente, não é exceção. Você acorda cedo, vai até o posto de saúde, pega senha, enfrenta fila. Depois de horas de espera, ouve: “o médico não veio” ou “volte outro dia”. Parece piada, mas é o cotidiano de quem depende do SUS.
O Sistema Único de Saúde é uma conquista nacional, mas anda tropeçando nas próprias pernas. A falta de médicos, a demora em exames e a superlotação são problemas reais. Em Friburgo, moradores enfrentam filas longas até para atendimento simples. E quando conseguem vaga, ainda precisam torcer para ter remédio.
Não é difícil encontrar quem esteja há meses esperando por uma ultrassonografia. Exame de sangue mais específico? Só com muita paciência — ou sorte. Tem gente que desiste e vai direto para a emergência - e quando chega na emergência, é mandado embora. E tem idoso que aguarda cirurgia há tanto tempo que até perdeu a esperança.
Estado crítico
A situação nas unidades básicas é crítica. Em vários bairros, o atendimento é intermitente ou insuficiente. Falta clínico, falta pediatra, falta especialista. Nos distritos, como Lumiar e Amparo, o problema é ainda mais grave. Quando o médico aparece, é uma vitória. Parte do problema está na dificuldade está na administração pública ser efetiva na rede pública. Os salários são atrativos, mas a infraestrutura e a fiscalização. Resultado: postos vazios, pacientes sem atendimento, exames e medicamentos em falta.
Muitas unidades não têm estrutura mínima para funcionar e basta estar nos locais para perceber isso. Faltam materiais, equipamentos, insumos básicos. Consultórios mal equipados e quase nenhuma fiscalização por parte dos órgãos. O profissional quer trabalhar, mas não tem como.
Raul Sertã
Em Friburgo, o Hospital Municipal Raul Sertã vive sempre no limite. Emergência lotada, plantões sobrecarregados, pacientes nos corredores. O hospital faz o que pode, especialmente com a força e garra dos enfermeiros, mas carrega nas costas boa parte da demanda da região. E sem reforço, o colapso é questão de tempo.
Os postos de saúde deveriam resolver 80% dos casos, mas nem sempre têm equipe completa e o atendimento esperado. E aí tudo vai parar no hospital. Quando a base falha, o topo desaba. A atenção primária precisa ser reforçada — com médicos, enfermeiros, técnicos, psicólogos, dentistas e agentes de saúde.
Enquanto isso, o friburguense espera. Espera exame, espera consulta, espera atendimento. Muitos deixam de tratar a tempo e acabam agravando doenças. Muitos são mandados embora sem a menor condição de serem mandados embora. A fila cresce e o sofrimento também. O tempo perdido pesa — e, em saúde, tempo vale vida.
Precisamos de soluções para ontem
Soluções existem, mas exigem vontade política e planejamento sério. Outra: a valorização dos profissionais da saúde, com boas condições de trabalho. Ninguém quer atuar onde falta tudo e sobra pressão. No fim das contas, a indignação dos pacientes é repassada para quem menos tem culpa: os funcionários de atendimento e enfermeiros.
A informatização dos atendimentos, embora seja aplicada em Nova Friburgo, também pode ajudar. Prontuário eletrônico, agendamento online, controle de estoque de medicamentos. A tecnologia está aí e precisa ser usada a favor da população. Hoje, muita coisa ainda funciona no papel.
Outra alternativa viável é ampliar o uso da telemedicina. Muitas especialidades poderiam atender remotamente, reduzindo a fila. Psiquiatras, neurologistas, endocrinologistas são raros na rede pública. A consulta online pode ser uma ponte, especialmente nos bairros mais afastados e profissionais de outras regiões atenderem.
Audiências públicas acontecendo
O dever da população: cobrar, fiscalizar, participar e se indignar. Da mesma forma que elogiamos quando o trabalho é bem feito, nas redes sociais, temos também que nos indignar. As audiências públicas estão abertas a todos. A pressão popular é importante para mudar prioridades. Afinal, não há motivo para tanto valor gasto em festa e saúde sendo deixada pra depois.
Friburgo é uma cidade que valoriza sua gente. E gente saudável vive melhor, produz mais, sonha mais alto. Não podemos aceitar que o acesso à saúde básica vire privilégio. Embora muitos possuam plano de saúde, o SUS é para todos — e precisa funcionar para todos.
O friburguense não quer milagre. Quer respeito, dignidade, cuidado. Quer sair do posto com um diagnóstico, não com uma desculpa. Quer atendimento humano, estrutura decente, fila justa. Quer dar entrada em uma maternidade e ter a certeza que só sairá de lá, se realmente puder sair de lá. Não é pedir demais — é pedir o mínimo.
Enquanto isso não acontece, seguimos esperando. Mas sem calar. Porque se tem algo que não pode faltar num sistema de saúde, é voz. E a nossa precisa ser ouvida, alta e clara, porque o SUS em Nova Friburgo, berra por socorro.

Lucas Barros
Além das Montanhas
Jovem, advogado criminal, Chevalier na Ordem DeMolay e apaixonado por Nova Friburgo. Além das Montanhas vem para mostrar que nossa cidade não está numa redoma e que somos afetados por tudo a nossa volta.
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