Inteligência Artificial: os papeis da família, da escola e da literatura

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

terça-feira, 29 de abril de 2025

Nova Friburgo participou do Dia Mundial da Criatividade e Inovação (World Criativity Day), um evento global promovido pela ONU, durante os dias 21, 22 e 23 de abril, quando realizou diversas atividades gratuitas com a finalidade de promover o desenvolvimento humano com a participação de educadores, artistas, empreendedores, pesquisadores e demais agentes de mudança.

Assisti à palestra “Exame vocacional por Inteligência Artificial”, e o professor Felipe Oliveira fez uma explanação criativa e objetiva sobre a Inteligência Artificial. Enquanto ele apresentava o tema, várias questões começaram a pulular na minha mente, sendo iluminadas por algumas perguntas: será que a IA nos percebe como humanos? Como pode nos perceber se não tem uma história de vida construída com experiências e amadurecimentos, afetos e processos de aprendizagens múltiplas? Será que percebe os humanos como robôs? Qual o nível de responsabilidade dos programadores para os princípios éticos que sustentam a dignidade humana? Sabemos que seu objetivo é estar sempre disponível para atender às demandas daqueles que solicitam suas respostas e soluções.

A palestra foi marcada por debates a respeito dessas questões. Em relação à Orientação Vocacional, foi evidenciado se tratar de um processo de amadurecimento de experiências, autoconhecimento e pesquisas do mercado de trabalho. Um questionário produzido pela Inteligência Artificial, penso eu, deve apenas ser um instrumento que compõe o processo de definição vocacional.

Ao sair da palestra pensei sobre os papeis da família e da escola hoje, mergulhados em uma realidade em que a Inteligência Artificial pode favorecer o não pensar, o não aprender e o desaprender, posto que oferece respostas com imediatez. A família precisa estar presente, atenta e atuante na vida dos filhos desde a mais tenra idade e não pode transferir à escola suas responsabilidades. Amar é demonstrar afetividade nos olhos e nas mais simples atitudes; conviver sem pressas e conversar sem celulares; saber quando é preciso dizer o sim e o não com firmeza. Os filhos, ao saberem que podem contar com os pais e as mães, mesmo que estejam separados e tenham outras famílias, sentem-se fortalecidos ante um mundo cheio de incertezas e inseguranças.

A escola se faz através de pessoas, os seus educadores: professores, pedagogos, psicólogos e funcionários de um modo geral. Quem trabalha em um ambiente escolar está participando da construção de seres humanos. E de não robôs. Ser educador é assumir um desafio complexo e surpreendente. É, antes de mais nada, educar a si mesmo, conhecer-se. Descobrir-se junto ao outro e superar-se a cada dia.

As crianças e os jovens necessitam, ainda mais nos dias atuais, da presença dos pais e professores para utilizar os benefícios da Inteligência Artificial que são muitos, se, somente se, houver respeito ao desenvolvimento de individualidades criativas, responsáveis e participantes.

Ah, estou sendo bem determinante, atitude que não gosto de ter. Mas com relação a esse tema não sou sustentada pela necessidade de saber mais, de investigar e refletir como sempre acontece quando produzo textos desta coluna.

A literatura, como sempre, pode nos apresentar respostas mais inteligentes, sensíveis e objetivas que a Inteligência Artificial. Vou me sustentar no slogan “Quem lê, sabe mais” para declarar que os seus programadores precisam ser estudiosos e leitores para desenvolver programas que possam responder aos usuários com inteligência, afetividade e ética. E os seus usuários, da mesma forma, possam ter uma relação crítica com as informações que recebem. Especialmente, as crianças e os jovens não podem fazer uso da Inteligência Artificial com postura passiva e receptiva às informações. É aí que reside o grande perigo: processos de interação em que robôs superam humanos.

Não estamos no final de uma encruzilhada. Mas iniciando novos caminhos com desafios até então impensados e não podemos negá-los de forma alguma, mas aprender continuamente a utilizá-los com ética e da melhor forma possível. Da tecnologia à humanidade, somos nós que vamos trilhá-los e dominá-los.

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Tereza Cristina Malcher Campitelli

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Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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