A cidade é delapidada sem que haja reação de seus habitantes

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 30 de julho de 2025

A casa onde morou o Dr. Raul Sertã, segundo informações apuradas, foi vendida para a rede de fast food McDonald´s e, provavelmente, vai ser transformada em mais uma lanchonete do grupo. Pobre cidade de Nova Friburgo que assiste inerte a delapidação de seu patrimônio histórico. O tradicional clube de Xadrez, um referencial na cidade, por muitos anos, vai ser demolido para dar lugar a mais um empreendimento residencial. Literalmente, a cidade desceu da sela para a cangalha, sem que a população movesse uma vírgula, cobrando de seus vereadores, uma posição em defesa do seu patrimônio. Foi em função disso que cunhei a frase de que o maior inimigo de cidade é o próprio friburguense.

Essa cidade tem história, que aos poucos vai sendo esquecida, engolida pela ganância de construtores e aproveitadores. Veja o bucólico bairro do Cônego, com seu trânsito caótico, em função da autorização da construção de condomínios, que brotam do solo como verdadeiras ervas daninhas. Some-se a isso a falta de educação dos que chegam de fora, trazendo as mazelas de suas cidades, parando em fila dupla e, muitas vezes, tripla, prejudicando o direito de ir e vir das pessoas. Há muito, nesse maldito estado, abandonou-se o conceito básico de que o direito de uma pessoa termina quando começa o da outra.

Nova Friburgo era uma cidade atraente, com sua população provinciana, mas educada; no inverno, as pessoas se vestiam bem e comparava-se a Av. Alberto Braune com a Av. XV de Novembro, em Curitiba, famosa por seus edifícios históricos, lojas e restaurantes, onde, na estação fria, as pessoas faziam questão de se vestirem bem. Hoje, na Alberto Braune, depois da invasão de Friburgo, principalmente da baixada fluminense, bermudão, chinelão e camisetas regata é o que mais se vê. A poluição sonora e visual é uma constante e o trânsito um transtorno. O que é pior, não se vê por parte do poder público nenhum tipo de ação, seja por campanhas educativas, seja por fiscalização e punição. O que acontece em frente ao Super Pão é uma visão escancarada da falta de civilidade da população e da inépcia do poder público.

Mas, voltando ao início dessa matéria, não teria sido mais adequado para a cidade, que o poder público desapropriasse aquela área ou a comprasse, com o auxílio do BNDES, para transformá-la numa área cultural e de lazer? A criação de um museu histórico da cidade, como já foi sugerido em comentários, no Facebook, num artigo publicado pela historiadora Janaína Botelho. Um outro comentário que faz sentido, é esse: “Friburgo está igual a um queijo suíço. Terrenos desmatados e imóveis derrubados por todo lado... McDonald's? Continua uma ideia ruim...”

E pensar que a família Sertã está incorporada, em definitivo, à história de Friburgo. Vejamos parte da sua importância: Uma instituição beneficente foi fundada no dia 28 de abril de 1918 sob o nome de Associação de Caridade de Nova Friburgo que tinha como provedor o engenheiro Farinha Filho.  Em 1º de maio de 1921 passa a ser denominada de Benemérita Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Nova Friburgo. Na gestão do provedor Acácio Borges, o empresário Raul Sertã doa à instituição um terreno, no final da Rua General Osório, no valor de 120 contos de réis, a maior doação até então recebida. Nesse terreno foi edificado o Hospital Santo Antônio, também chamado de Hospital Regional de Nova Friburgo, hoje Hospital Raul Sertã, com instalações iniciais bem mais modestas do que as atuais. A Irmandade da Santa Casa da Misericórdia administrava esse hospital. As irmãs da Ordem de São Vicente de Paulo auxiliavam na hotelaria do hospital preparando as refeições e lavando a roupa dos pacientes. Na realidade, Raul Sertã era médico e foi ele que fundou a primeira casa de saúde particular da cidade.

Creio que Raul Sertã deve estar dando cambalhotas, em seu túmulo, ao ver o imóvel construído pelo seu pai, o português Antônio Lopes Sertã, ser transformado num ponto comercial. O atual prefeito teria dado uma importante contribuição para a cidade e para suas futuras campanhas eleitorais, se tivesse contribuído para um melhor aproveitamento desse imóvel, principalmente na área cultural. 

Infelizmente, a sina de Nova Friburgo continua em marcha. O passar inexorável do tempo a destruir sua memória. Talvez, fosse hora de sua população acordar e lutar pela preservação do que restou da sua memória.

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