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A nossa língua, nosso bem maior

Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
E a gente acorda, vai falando porta afora e escutando o blá-blá-blá quotidiano, vai trabalhando, estudando e discursando, vai lendo e escrevendo, fazendo declarações de amor e tanto mais, sem pensar que estamos inseridos na vida através da língua, o nosso português. Que não é somente falado no Brasil, mas em mais outros países, como Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Até na China, na Região Administrativa de Macau.
Sim. No Brasil, o português é o nosso bem maior. “Quem não se comunica, se trumbica”, ditado popular que expressa: quem não domina a sua língua tem dificuldades de interagir e está cercado de limitações.
Mas quem sabe sobre a nossa língua? Ora, pois sim, o português veio de longe, veio além-mar, que se originou no latim vulgar, falado pelas classes populares do antigo Império Romano. O latim foi a base para a formação de vários idiomas, como o português, o espanhol, o italiano, o francês e o romeno, que em seu conjunto são chamados de romance ou romanço. Também pertencem a esse grupo o catalão, o galego, o sardo e o romanche (falado na Suíça).
Conversando com uma amiga e poetisa a respeito, constatei que falar bem o português é uma dignidade para o brasileiro. A comunicação, verbal e escrita, é o nosso maior patrimônio pessoal e cultural. Perde-se a noção de tempo ao escutar uma pessoa falando bem o português como Mia Couto, cujo conhecimento da língua e fluência são tão profundos, que ele fala com simplicidade, possibilitando a compreensão daqueles que o ouvem.
O domínio da língua pátria é uma das mais complexas capacidades cognitivas que construímos ao longo de toda uma vida, começando na convivência com a família, amigos e com uma infinidade de pessoas com quem trocamos afetos, ideias e informações, com os processos de aprendizagem e com a leitura, que seja em livros, revistas, jornais, filmes etc. Quem chega aos cem anos, de certo, ainda vai aprender o português. Que seja, ao menos, uma gíria, um modo de construir frases e de se expressar com mais clareza.
A comunicação é a maior prioridade que temos para sobreviver no quotidiano, expandir capacidades, inclusive, dominar áreas do conhecimento exato, como, por exemplo, a física e a matemática.
Soube que Guimarães Rosa valorizava o estudo de línguas, como português, alemão, francês, espanhol, italiano, russo, sueco, holandês, latim e grego porque, através das quais, ele poderia conhecer melhor a própria língua, a portuguesa. Foi tal domínio que o permitiu escrever “Grande Sertão: Veredas”, repletos de palavras criadas por ele, os famosos neologismos, como “ensimesmudo”, descreviver, velhouco.
O universo virtual reverte os valores da língua. Hoje, tem-se a utilizado com tantas abreviações e substituições por imagens que reúnem múltiplos sentidos, que sua riqueza e beleza têm sido prejudicadas. O pior, a qualidade da comunicação e de expressão estão se apequenando. O emprego do “OK” guarda significados valiosos que ficam nas esferas subliminares, às vezes, pouco percebidas.
Nossa língua é tão linda... Deveria ser admirada como uma estrela guia.
Cada vez mais, usa-se o português de qualquer forma e modo descuidado. De certo, é uma língua que exige conhecimentos aprofundados por quem a escreve, lê, fala e ouve decorrentes da sua ortografia, morfologia, gramática, sintática e semântica. Não é por menos que a grade curricular prevê o ensino da Língua Portuguesa em, pelo menos, 12 anos da escolaridade.
Habitamos na língua materna, a casa que nos faz humanos e ser o que somos: brasileiros!
“Natureza é divina, e ela não é divina...
Se falo dela como um ente
É que para falar dela preciso usar da linguagem dos homens
Que dá personalidade às cousas,
E impõe nome às cousas.”
Fernando Pessoa

Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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