Menos é mais

Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

sexta-feira, 06 de junho de 2025

Outro dia me vi parada no meio do corredor de casa, celular numa mão, um copo d’água na outra, sem saber ao certo o que tinha ido buscar. O corpo ali, presente. A cabeça, lotada. A alma, inquieta. Um apito de notificação, um aviso de reunião, uma mensagem que ainda não respondi, um conteúdo que talvez eu devesse ver. Tudo isso em segundos.

É como se vivêssemos dentro de uma sala cheia de vozes, telas, alertas e exigências. Uma verdadeira enxurrada de informações nos atravessa o tempo todo – e, curiosamente, não é raro terminarmos o dia, exaustos, desinformados e com a incômoda sensação de que estamos sempre devendo algo.

O volume de dados que consumimos diariamente é maior do que qualquer geração antes da nossa ousaria imaginar. Estamos a um toque de saber o que acontece no outro lado do mundo, mas muitas vezes não conseguimos escutar nem a nós mesmos.

Eis o desafio: não saber silenciar o ruído externo ao mesmo tempo em que a voz interior não consegue ser ouvida. E quando a mente não descansa, o corpo cobra. Com ansiedade. Insônia. Falta de foco. Impaciência. E, tantas vezes, com um desânimo que não sabemos nomear.

Eu mesma me vi tantas vezes tentando acompanhar tudo: as notícias, as atualizações de trabalho, os grupos de família, as lembranças mostradas pelo google no meu smartphone, os memes, os vídeos inspiradores, os estudos, os textos — e, ao fim, só queria poder não ver mais nada. Me dei conta de que não precisamos saber de tudo, o tempo todo. Precisamos, sim, cuidar do que chega até nós. Fazer uma espécie de curadoria afetiva daquilo que consumimos.

Pode parecer banal, mas criar pequenos momentos de silêncio, de pausa e até de tédio, tem sido, para mim, um ato de resistência. Um respirar mais fundo. Um dizer “não” para o excesso e “sim” para a presença.

Tem horas que desligar o celular é o maior ato de autocuidado. E, quando possível, desligar também as cobranças invisíveis, as urgências que não são nossas, os ruídos que não dizem respeito ao que importa de verdade.

A vida pede atenção. Mas não aquela atenção difusa, que se espalha em mil abas abertas na cabeça. Pede presença. Daquela que nos devolve o tempo, a calma e o olhar demorado para o que realmente vale a pena.

Se puder, hoje, feche um pouco os olhos. Ouça o que há por dentro. Desligue o que te distrai. Às vezes, o que nos salva é exatamente o que conseguimos deixar de lado.

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Paula Farsoun

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Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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