Há quem torça o nariz assim que as temperaturas caem e os ventos frios anunciam a chegada do inverno. Há quem conte os dias para o retorno do calor, como se o frio fosse um inimigo incômodo a ser vencido, suportado com cobertores e queixas. Mas eu proponho outra lente: e se, em vez de resistir, a gente acolhesse o inverno? E se, em vez de sobreviver a ele, a gente escolhesse vivê-lo?
Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana

Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
Todo dia somos bombardeados de frases prontas e pressuposições padronizadas sobre o que é a vida e a forma adequada de viver. Uma dessas frases que circulam por aí, entre aspas, como se bastassem três ou quatro palavras de efeito para explicar o mundo é simplesmente: “seja forte”. Assim. Seca. Curta. Imperativa. Como quem diz: acorda, escova os dentes e resolve a vida.
Outro dia me vi parada no meio do corredor de casa, celular numa mão, um copo d’água na outra, sem saber ao certo o que tinha ido buscar. O corpo ali, presente. A cabeça, lotada. A alma, inquieta. Um apito de notificação, um aviso de reunião, uma mensagem que ainda não respondi, um conteúdo que talvez eu devesse ver. Tudo isso em segundos.
Para a construção de uma obra nova, devemos preparar o terreno, cuidar da limpeza do local, criar o ambiente ideal, promover as adaptações que se fizerem necessárias. Na verdade, essas medidas são mesmo fundamentais. Mas a metáfora dessa ideia é a que me leva a pensar. Não sobre obras, mas sobre pessoas.
Passamos muito tempo de nossas vidas construindo ideias sobre os outros. E o tanto que nos enganamos é algo grandioso. Creio que não somos tão bem-sucedidos nessas obras. Inevitavelmente, nos equivocamos. Erramos o cálculo. Confundimos a perspectiva. Mudamos o projeto.
Há um tipo de silêncio que não incomoda. Soa inofensivo. Parece mais leve, fluido. Chega a ser cobiçado. Beira um privilégio. Há quem se dedique por esse objetivo, estar em silêncio, alcançar uma ausência de ruído que fomenta a sensação de paz. Não me refiro ao silêncio que pesa, que invade o ambiente depois de um conflito ou que toma tudo e todos depois de uma notícia triste. É outro.
Lya Luft escreveu: “E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que se conseguir fazer”. Sim. Que o melhor seja feito dentro das possibilidades existentes. E que novos horizontes ampliem as possibilidades para que mais bem feito ainda possa ser feito adiante.
Costumo dizer que o critério qualitativo se sobrepõe quase sempre ao quantitativo quando falamos em relações humanas. Quanto mais afeto melhor? Sim. Quanto mais pessoas para amar e partilhar a vida, melhor? Sim. Mas isso não vale pra tudo. Não temos como dar conta de sermos bons amigos para centenas. Acho que é quase humanamente impossível.
Diante de um enorme desafio sem precedentes, questionou-se a um jovem se ele iria encará-lo, ao que ele respondeu de forma óbvia que sim. Ele não era de se curvar às barreiras. Havia aprendido que ser forte também é uma questão de treinamento, de aprimoramento. Habitava nele uma força interior que impulsionava a energia para a execução e a transposição de qualquer obstáculo.
“De tanto pensar tudo, não consigo pensar em nada”. “Penso tanto que não tenho tempo para pensar”. “Minha mente está cheia, porém está um tanto vazia”. “Tudo sei, mas não sei de nada”. São sensações do momento. Não minhas (não apenas). De muita gente. As coisas estão profundamente rasas. Inteiramente partidas. Constantemente voláteis. Densamente esparsas. Apertadas de tão largas. Entupidas de nada. Estamos vivendo tempos contraditórios. A começar pela mente.
A moça estava com os olhos cheios d’água, com um semblante triste e o corpo contraído. Dava para ver que não estava bem. Só não sabia o que ela tinha. Resolvi perguntar... afinal de contas, quem sabe não poderia ajudar de alguma forma. Aproximei-me e indaguei: “O que você tem? Está passando mal? Precisa de algo que eu possa auxiliar?”. E a resposta foi: “Não, obrigada por perguntar. O que eu tenho é dor de alma”.