A retroescavadeira que começou a atuar nesta segunda-feira, 15, no entorno do antigo Colégio Modelo, na Rua General Osório, chamou a atenção de muitos friburguenses, que vêm manifestando, nas redes sociais, preocupação com o futuro do prédio histórico. No entanto, o imóvel de 1867, onde funcionou também a Santa Casa de Misericórdia antes de se tornar estabelecimento de ensino, não só vai ser preservado, como será protagonista do novo empreendimento que surgirá no local, misturando contemporaneidade e respeito ao passado.
Segundo explicou ao jornal A VOZ DA SERRA,o engenheiro Murillo Figueira, diretor da construtora Engeprimus, o futuro Edifício Sílvio Ruiz será um empreendimento misto de lojas, salas e apartamentos em forma de U, envolvendo “respeitosamente” o prédio tombado do colégio, desativado desde 2019. O projeto, que teve todas as licenças aprovadas no governo passado, inclui estacionamento e entradas aos pedestres tanto pela Rua General Osório quanto pela Avenida Santos Dumont, às margens do Rio Bengalas.
Tombado pelo município, o prédio do Modelo passará por obras de restauro minuciosas e terá a cor original, em amarelo, recuperada, substituindo o azul que marcou o centenário colégio. Suas linhas neoclássicas serão refletidas nos vidros espelhados do complexo de sete pavimentos que será construído, dentro do gabarito da área.
Preocupação com legado
“Nossa intenção, acima de tudo, é a preservação do patrimônio da cidade e deixar um legado para as gerações futuras, para os nossos netos. O prédio do antigo colégio será restaurado, requalificado e reintegrado ao espaço público como no início do século passado”, garantiu Murillo.
Segundo o arquiteto James Lawrence Vianna, que assina o projeto, o prédio do Modelo é um marco por sua volumetria com duas alas, laterais, beiral pronunciado, duas águas e escada central. Ao ser utilizado como colégio, porém, o imóvel passou por várias adaptações, ganhando a partir dos anos 70 os anexos sem valor histórico que agora estão sendo demolidos. Além disso, o belo casarão deixou de ser avistado desde o rio.
Segundo a historiadora Janaína Botelho, antes de se estabelecer no prédio da Santa Casa, em 1968, o Colégio Modelo ocupava inicialmente, de aluguel, uma área de mais de dez mil metros quadrados do antigo Hotel Leuenroth. Após um misterioso incêndio nesse hotel, em janeiro de 1934, o colégio ainda se transferiu para o Hotel Rio Branco, antigo Hotel Internacional, na Praça do Suspiro.
Gestão não suportou inadimplência
Em novembro de 2019, Regina Côrtes Teixeira, uma das cinco membros da família Côrtes à frente do Colégio Modelo, recebeu A VOZ DA SERRA para falar sobre o momento mais triste da história da instituição: o encerramento das atividades no fim daquele mesmo ano em que completou 100 anos. O Modelo tinha então 315 alunos.
Emocionada, Regina explicou que, por um ideal de família, o Modelo sempre foi acessível a diversas classes sociais. O principal motivo para o fechamento, segundo Regina, foi o alto índice de inadimplência, numa situação que permaneceu crítica por mais de um ano.
“A lei acaba beneficiando o mau pagador. A família que hoje deve à escola pode matricular o aluno em outra. Se ficar inadimplente lá também, o aluno vai para outra escola. É claro que os alunos não têm culpa”, lamentou ela na época.
Uma escola humanista
Segundo Judith Côrtes Teixeira, irmã de Regina, o Modelo nasceu em Cordeiro, em 19 de março de 1919, e foi transferido para Nova Friburgo em 1926. Os fundadores foram o professor Carlos Domingues Côrtes e sua esposa Zélia, que, como suas irmãs, alfabetizavam pessoas simples numa rústica mesa de quintal.
Inovador, o Colégio Modelo abrigou o 1º Tiro de Guerra, com formação militar e escolar para jovens; o primeiro grupo de escoteiros; criou séries preparatórias para o Colégio Pedro II, do Rio; difundiu os esportes para os ambos e sexos; educou pela arte, com aulas de dança, moda, música, teatro e cinema; fundou a primeira faculdade de ciências contábeis de Friburgo; ofereceu profissionalização a normalistas e contadores.
Preocupou-se com inclusão quando nem existia legislação para tal, oferecendo gratuidade para desportistas, bolsas por meritocracia e descontos para alunos de baixa renda. Acolhia portadores de necessidades especiais, alunos casados, separados e mães solteiras. Sempre repudiou qualquer discriminação, preconceitos ou perseguições, lembrou Judith.
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