Trocar fralda, dar mamadeira, montar um enxoval e passear de carrinho são cenas comuns da maternidade. Porém, nas redes sociais, esses gestos bem ganhando outros protagonistas além das crianças: os bebês reborn que são bonecos ultrarrealistas de silicone, que imitam recém-nascidos em cada detalhe, e se torna “filhos” simbólicos de mulheres adultas que compartilham rotinas de cuidado e afeto na web.
De acordo com dados do Google Trends analisados pela Sala Digital, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking global de interesse pelos bebê reborn nos últimos cinco anos. Entretanto, pode-se dizer que o auge das buscas não foi agora. Foi em 2020, em plena pandemia, quando muita gente buscava formas de lidar com a solidão, a ansiedade e o luto.
Os vídeos com bonecos hiper-realistas também fazem sucesso no YouTube e TikTok, muitas vezes confundindo internautas desavisados — e gerando milhares de comentários entre o encanto, o estranhamento e a dúvida: “é boneco ou é bebê de verdade?”
O que é um bebê reborn
Bebês reborn são bonecos feitos à mão, com pintura e modelagem hiper-realistas. Eles têm pele com textura de bebê, cílios implantados, dobrinhas, veias, peso e até cheirinho. Cada um é único, e muitas vezes, batizado e recebido com enxoval completo.
Alguns compram como item de coleção. Outros, por motivos terapêuticos. Entre os usos mais relatados estão a ajuda no enfrentamento de traumas, perdas gestacionais ou até quadros de ansiedade e depressão.
Casos de grande repercursão nas redes
Em março deste ano, o assunto veio à tona após o padre Fábio de Mello ter “adotado” uma boneca americana com Síndrome de Down, como forma de tributo à sua mãe, Ana Maria de Melo, que faleceu em 2021, aos 83 anos. O religioso costumava levar bonecas para presentear a mãe, e agora encontrou uma forma simbólica de manter esse gesto de carinho.
Um bebê reborn virou objeto de disputa entre um casal, relatou a advogada Suzana Ferreira pelas redes sociais. Em um vídeo, a advogada contou que foi procurada por uma "mãe" de bebê reborn para defender o direito à guarda da boneca. No vídeo, publicado na última segunda-feira ,12, em suas redes sociais, Suzana contou que atendeu uma mulher em seu escritório que queria "regulamentar" a situação de sua bebê reborn.
Segundo ela, a mulher afirmou que havia constituído uma família, na qual a boneca fazia parte. Mas, como o relacionamento não deu certo, o ex-companheiro insistiu em ficar com a bebê pelo apego emocional. Ainda segundo Suzana, durante o atendimento, a mulher afirmou que outra boneca não solucionaria a questão devido ao apego emocional que tem pela bebê.
Ao portal de notícias G1, Suzana contou que recusou o caso, pois "não é possível regulamentar a guarda de uma boneca". Mesmo assim, a advogada afirmou que ofereceu ajudar a mulher apenas na disputa pela rede social da bebê que, segundo ela, é uma causa legítima.
Apego emocional e reconhecimento institucional
Em meio às questões ligadas aos bonecos ultrarrealistas, os vereadores do município do Rio de Janeiro aprovaram no último dia 7, em segunda discussão, o projeto de lei 1.892/2023, que prevê a inclusão do Dia da Cegonha Reborn no calendário da capital fluminense. De acordo com a justificativa da proposta, que aguarda aprovação ou veto do prefeito Eduardo Paes, o dia seria uma homenagem às artesãs que criam bonecos realistas de bebês, chamadas cegonhas.
Aprovado às vésperas do Dia das Mães, o projeto menciona que "o nascimento de um bebê é um momento singular na vida de uma mulher, e não é diferente para as mamães reborn, porém, os seus filhos são enviados por cegonhas". Segundo o vereador carioca Vitor Hugo (MDB), autor da proposta, o objetivo do projeto foi homenagear um grupo de mulheres que o procurou. Se a lei for sancionada, o dia do bebê reborn na capital do estado será celebrado em 4 de setembro.
Segunda a psicanalista Maysa Balduíno em uma entrevista aol G1, pontuou que é difícil pensar o que patrocina a condição das mães de bebês reborn. “Arrisco dizer que cada caso é um caso”. Maysa disse que não auxilia um paciente enlutado usando bonecas, mas reconhece que existem várias abordagens terapêuticas.
Segundo ela, o medo da morte faz parte do dia a dia de quem se torna mãe e é preciso ter muita coragem e esperança para ser mãe. “Quando recebo notícias sobre os bebês reborn, tenho a impressão de que, para algumas pessoas, deve ser um alívio: um bebê sem vida, mas extremamente vivo para quem se sente mãe. Uma condição mais lúdica do que a de uma mãe de um bebê humano mortal”, destacou a psicanalista.
* Reportagem da estagiária Laís Lima baseada em informações dos portais G1, Metropoles e Band News. Supervisão de Henrique Amorim
Deixe o seu comentário