Após a realização de uma audiência pública na Câmara Municipal para prestação de contas da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), relativa ao primeiro quadrimestre de 2025, o vereador Marcos Marins (PSD) divulgou na tarde desta sexta-feira, 30, um relatório que traz um dado alarmante: dos 8.122 pacientes internados no Hospital Municipal Raul Sertã, no ano passado, 1.152 morreram, o que resulta numa taxa de mortalidade hospitalar de 14,18%, percentual superior à média nacional estabelecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que é de 4,5%.
A média de mortalidade estadual é de 7,1%. Os dados foram compilados pelo próprio vereador a partir de informações passadas por servidores da SMS de Nova Friburgo, durante a audiência pública que durou cerca de quatro horas.
Marins chama atenção para o fato de um em cada sete pacientes internados no Raul Sertã, em 2024, não ter sobrevivido. A maior parte dos óbitos teve como causa infecções generalizadas.
“Para efeito de comparação, em zonas de guerra, como nos hospitais de campanha montados em meio a conflitos armados recentes, como na Síria, Ucrânia e na Faixa de Gaza, a mortalidade hospitalar costuma variar entre 8% e 12% para casos gravíssimos, mesmo sob ataques e com recursos escassos. Isso significa que, mesmo sem bombas, tiros ou destruição física, o hospital municipal de Nova Friburgo apresenta números de mortes similares ou até mesmo superiores aos de hospitais sob bombardeios”, observou o vereador em seu relatório.
Justificativas infundadas para o caos
A revelação dos dados consolidados de 2024 levou Marins a concluir que a grande crise que o Hospital Raul Sertã enfrenta nos últimos anos não deve mais ser justificada pelo fato da unidade absorver pacientes de Nova Friburgo e de, pelo menos, oito municípios vizinhos do Centro-Norte fluminense.
“Isso revela um problema crítico de gestão hospitalar, estrutura, protocolos e qualidade do cuidado, que não pode ser atribuído apenas à demanda de fora da cidade, mas sim à forma como o hospital vem sendo gerido atualmente”, destacou o vereador observando a ausência do secretário municipal de Saúde, Gabriel Wenderroschy, na audiência pública.
De acordo com Marins, o secretário participou apenas da abertura da audiência, na manhã da última quinta-feira, com uma explanação de aproximadamente cinco minutos e, em seguida, ausentou-se alegando outros compromissos referentes à pasta.
A prestação de contas da Saúde também não despertou interesse da maioria dos vereadores (só cinco compareceram), nem mesmo da sociedade friburguense. Somente uma usuária do SUS participou. Ela disse que soube da audiência através de reportagens de A VOZ DA SERRA e sustentou que é mais vítima do caos na saúde pública de Nova Friburgo por ter aguardado por mais de um ano pelo agendamento de um procedimento médico em um posto de saúde.
Diante da enorme demora, a paciente desistiu, e só foi chamada dois anos depois, a ponto de já nem lembrar mais qual era o exame solicitado, em meio a tantos outros que também precisava e não foram realizados devido a ineficácia do sistema de saúde do município.
“O argumento das autoridades de saúde de que o alto número de idosos em Nova Friburgo também justificaria a elevada taxa de mortalidade no Raul Sertã não se sustenta diante dos dados nacionais. Mesmo em cidades com perfis populacionais mais envelhecidos ou em hospitais especializados no atendimento a idosos, a taxa média de mortalidade hospitalar gira entre 6% e 8% — significativamente inferior aos 14,18% registrados em 2024, no Raul Sertã”, frisou Marcos Marins.
O que diz a prefeitura
Sobre a denúncia do vereador, A VOZ DA SERRA solicitou à prefeitura o posicionamento da Secretaria de Saúde que enviou à nossa redação a seguinte nota:
“A Prefeitura de Nova Friburgo, por meio da Secretaria de Saúde, esclarece que os dados de óbitos do Hospital Municipal Raul Sertã apresentados durante a audiência pública não podem ser comparados a outras médias de forma isolada e sem o devido contexto, como foi feito pelo vereador.
Para realizar qualquer tipo de comparativo relacionado à mortalidade hospitalar, é fundamental observar alguns critérios técnicos essenciais. Primeiramente, é necessário identificar qual foi a fonte de dados utilizada para a consolidação das informações apresentadas. Também é imprescindível especificar o período da consulta e a faixa etária dos pacientes considerados, já que indicadores de mortalidade variam significativamente conforme o perfil etário e a presença de comorbidades.
Além disso, é preciso esclarecer se os dados se referem a residentes de Nova Friburgo ou se englobam pacientes de outros municípios. O Hospital Municipal Raul Sertã é referência regional e atende uma ampla demanda da região serrana, o que significa que muitos pacientes internados não pertencem ao município. Portanto, não se pode atribuir os óbitos exclusivamente à população friburguense sem esse recorte. Por fim, qualquer interpretação de indicadores como taxa de mortalidade exige conhecimento técnico em epidemiologia, sendo necessário cuidado e responsabilidade na divulgação de informações que envolvem saúde pública.”
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