Quando pensamos nas mazelas das guerras, pensamos nas mortes de vidas inocentes, na perda de monumentos históricos e talvez até na aniquilação de ecossistemas inteiros. Mas diante de tanto terror e destruição, não é comum ver pessoas refletindo sobre esse tema através da lente da crise climática atual e da necessidade de cumprirmos acordos globais de redução das emissões dos gases do efeito estufa.
As atividades que envolvem todo o complexo industrial militar e suas guerras são grandes emissoras desses mesmos gases que são, há décadas, temas de acordos internacionais que visam garantir a redução deles na atmosfera. Como todos os acordos do clima são não vinculativos, ou seja, são voluntários, há muita defasagem nos relatórios de emissões anuais dos países participantes, especialmente no setor militar.
Entretanto, através de informações públicas os cientistas calculam que a pegada de carbono desse setor chegue a 5.5% do total global — que equivale ao setor de aviação civil e de carga, tão vilanizado em tempos de consciência climática. Por isso, podemos afirmar que para cada guerra e conflito bélico existe um custo climático pago por todo o planeta, a curto, médio e longo prazo.
Talvez você tenha a sensação que toda vez que lê ou escuta uma notícia envolve conflitos em geral e talvez não seja só sensação. De acordo com o Global Peace Index, vivemos o maior número de conflitos concomitantes desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com 56 conflitos armados e 92 países envolvidos.
Não precisa saber muito de clima ou geopolítica para entender que a meta de temperatura se tornou incerta antes mesmo do início da guerra da Rússia e Ucrânia e dos ataques sistemáticos contra Gaza. Agora, com o início da ofensiva de Israel contra o Irã, estarão as metas climáticas mais ameaçadas do que nunca? E como isso irá reverberar nas negociações climáticas internacionais como a Conferência das Partes (COP) da ONU que acontecerá aqui no Brasil, em Belém-PA, a partir de 10 de novembro?
Continuaremos discutindo mais sobre esses temas nas próximas colunas.
(Foto: Divulgação Isabela Braga)
(*) Isabela Braga é bióloga e cientista climática
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