Por trás dos potes coloridos nas prateleiras das farmácias, dos antes e depois impressionantes no Instagram e dos vídeos no TikTok com promessas de corpos definidos em poucas semanas, existe uma indústria bilionária: a de suplementos alimentares. O uso de substâncias como whey protein, creatina, colágeno, multivitamínicos e cápsulas para emagrecimento explodiu nos últimos anos, impulsionado, em grande parte, pelas redes sociais e pelo desejo de resultados rápidos — seja na balança, na academia ou no espelho. Mas a pergunta que precisa ser feita é: esse consumo todo é realmente necessário?
(Foto: Camila do Almo)
Para a nutricionista Camila do Almo, a resposta é simples, embora muitas vezes ignorada: “Os suplementos são indicados e recomendados quando a alimentação por si só não dá conta de suprir todas as necessidades nutricionais do nosso organismo.” Isso pode acontecer em diferentes contextos — desde deficiências de vitaminas e minerais, até fases específicas da vida, como a gestação, quando há aumento da demanda nutricional. Em pessoas com condições clínicas como a anemia, por exemplo, a suplementação pode ser essencial para a recuperação da saúde.
Outro grupo que pode se beneficiar dos suplementos, segundo Camila, são os praticantes de atividades físicas intensas, que buscam melhorar o desempenho ou acelerar a recuperação muscular. “Suplementos como a creatina ou os carboidratos em gel, ou pó, por exemplo, podem ajudar na recuperação, no ganho de massa muscular e no rendimento nos treinos, principalmente quando a alimentação sozinha não dá conta de suprir toda a demanda energética e nutricional do paciente.”
Ainda assim, a nutricionista reforça que qualquer indicação deve ser feita com acompanhamento profissional, levando em conta a rotina, os hábitos alimentares e, principalmente, exames laboratoriais. O que funciona para um, pode ser desnecessário ou até prejudicial para outro.
A influência das redes sociais e o culto ao corpo
O aumento do consumo de suplementos — especialmente entre jovens e frequentadores de academias — não pode ser dissociado do papel das redes sociais na construção de padrões estéticos e na popularização de produtos sem respaldo técnico. “Acredito que uma das maiores influências hoje em dia sejam as redes sociais. Muita gente na internet mostra resultados rápidos e associa o uso de suplementos a isso, o que acaba criando uma pressão de que precisamos consumir algo para alcançar o corpo ideal”, explica Camila.
O problema, segundo ela, é que muitos desses produtos são divulgados sem embasamento científico, sem recomendação adequada e, pior, como se fossem soluções universais. Essa homogeneização ignora o fato de que cada organismo tem necessidades distintas — o que pode ser benéfico para uma pessoa, pode não surtir efeito ou até fazer mal a outra.
E mais: a ideia de que suplementos são sempre seguros porque “não são remédios” é equivocada. “Usar sem necessidade ou em doses erradas pode gerar intoxicação por excesso de vitaminas e minerais, desequilíbrios nutricionais que podem gerar alguns sintomas e até interação com medicamentos, atrapalhando na eficácia de ambos.”
Dá para ter resultados só com alimentação?
Sim, garante Camila. “Com certeza. Suplemento é a cereja do bolo para quem já está com uma alimentação equilibrada e saudável.” Para a especialista, é perfeitamente possível atingir os mesmos resultados de ganho de massa muscular, perda de peso ou melhora no desempenho físico apenas com uma dieta balanceada, planejada de forma adequada às necessidades individuais. “Suplementar só faz sentido quando a comida não está conseguindo dar conta das nossas necessidades sozinha, como em casos de ingestão insuficiente, restrições alimentares ou maior demanda, por exemplo.”
Esse alerta é especialmente importante em tempos de promessas milagrosas. A ideia de que um pó ou cápsula pode substituir refeições, eliminar gordura localizada ou transformar corpos da noite para o dia é sedutora, mas ilusória. O corpo humano não responde a fórmulas mágicas. O que realmente funciona, a longo prazo, é uma alimentação equilibrada, prática regular de atividades físicas e acompanhamento profissional.
E os suplementos da moda: são todos seguros?
Produtos como whey protein, creatina, colágeno hidrolisado e os populares multivitamínicos ocupam o topo das vendas nas lojas especializadas. Mas mesmo eles, que, em geral, são considerados seguros, não estão livres de riscos se usados indiscriminadamente. “Eles geralmente são seguros, mas não significa que servem para todo mundo”, alerta Camila.
No caso dos multivitamínicos, o consumo sem necessidade pode trazer prejuízos importantes. “Eles geralmente têm várias vitaminas e minerais que, muitas vezes, já estão em níveis adequados no corpo. O excesso pode atrapalhar a absorção de outros nutrientes e até interferir no efeito de alguns medicamentos.”
O que considerar antes de suplementar
Diante de tanta informação (e desinformação), a recomendação da nutricionista é clara: antes de tomar qualquer suplemento, procure um nutricionista ou médico. Uma avaliação profissional cuidadosa, com base em exames de sangue e no estilo de vida do paciente, é a única forma segura e eficaz de decidir se a suplementação é necessária, e, em caso positivo, qual o produto ideal, em que quantidade e por quanto tempo.
É importante lembrar que o mercado de suplementos alimentares é, acima de tudo, uma indústria — e como toda indústria, tem interesses comerciais. Isso não significa que os produtos sejam ruins ou perigosos por definição, mas que o consumo deve ser crítico e bem informado.
“Suplementos não são vilões, mas também não são milagrosos”, resume Camila. “Eles têm sua função, seu papel e sua importância, mas precisam ser usados com responsabilidade.”
Em tempos de culto ao corpo e performance, onde os resultados rápidos parecem mais valiosos do que a saúde a longo prazo, vale lembrar: o equilíbrio ainda é a melhor fórmula.
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