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Conclave: a eleição do novo papa

terça-feira, 29 de abril de 2025

“Extra omnes”. A histórica fórmula em latim que marca o início do fechamento à chave da Capela Sistina será pronunciada pelo mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias na próxima quarta-feira, 7, de maio. Esse será o dia de início do conclave. A data foi definida na manhã desta segunda-feira, 28, pelos cerca de 180 cardeais presentes (pouco mais de 100 eleitores) reunidos na quinta Congregação Geral no Vaticano.

“Extra omnes”. A histórica fórmula em latim que marca o início do fechamento à chave da Capela Sistina será pronunciada pelo mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias na próxima quarta-feira, 7, de maio. Esse será o dia de início do conclave. A data foi definida na manhã desta segunda-feira, 28, pelos cerca de 180 cardeais presentes (pouco mais de 100 eleitores) reunidos na quinta Congregação Geral no Vaticano.

“Extra omnes”, portanto. “Fora todos” aqueles que não são admitidos na reunião dos cardeais convocados para eleger o próximo Pontífice da Igreja universal. Os purpurados eleitores, com menos de 80 anos de idade, ficarão isolados do resto do mundo dentro da Capela Sistina até a fumaça branca e o “Habemus Papam”, a outra famosa fórmula latina pronunciada da Loggia delle Benedizioni pelo cardeal protodiácono para anunciar ao mundo a escolha do novo Papa.

Não há previsão de conclusão, naturalmente, e entre os próprios cardeais eleitores há aqueles que esperam um Conclave curto, considerando também o Jubileu em andamento, e aqueles que, ao contrário, preveem tempos mais longos para permitir que os cardeais “se conheçam melhor”, tendo Francisco, em seus dez consistórios, agregado ao Colégio Cardinalício purpurados de todos os cantos do globo.

As normas da Universi Dominici Gregis

O cronograma para o início do Conclave é estabelecido pelas normas da constituição apostólica de João Paulo II, Universi Dominici Gregis, atualizada por Bento XVI com o Motu Proprio de 11 de junho de 2007 e com a mais recente de 22 de fevereiro de 2013. De acordo com a Constituição, o Conclave – do latim cum clave, que significa fechado à chave – começa entre o 15º e o 20º dia após a morte do Papa, depois dos Novendiali, os nove dias de celebrações em sufrágio do Pontífice falecido. Mais detalhadamente, a partir do momento em que a Sé Apostólica é legitimamente vacante, os cardeais eleitores presentes devem esperar 15 dias completos pelos ausentes, até um máximo de 20 dias, se houver motivos sérios. O Motu Proprio Normas nonnullas, além disso, dá ao Colégio de Cardeais a faculdade de antecipar o início do Conclave se todos os eleitores estiverem presentes.

Cardeais das partes mais distantes do mundo ainda são esperados em Roma nestes dias. Na Cidade Eterna, eles serão hospedados na Casa Santa Marta, a Domus do Vaticano onde Francisco decidiu morar, renunciando ao apartamento papal.

A missa “pro eligendo Pontifice” e a procissão para a Sistina

Na manhã da próxima quarta-feira, 7 de maio, todos concelebrarão a solene missa “pro eligendo Pontifice”, a celebração eucarística presidida pelo decano do Colégio Cardinalício, que convidará os irmãos a se dirigirem à Sistina à tarde com estas palavras: “toda a Igreja, unida a nós na oração, invoca constantemente a graça do Espírito Santo, para que seja eleito por nós um digno Pastor de todo o rebanho de Cristo”.

Dali, então, a evocativa procissão até a Capela Sistina, dentro da qual os cardeais entoarão o hino Veni, creator Spiritus e farão o juramento. Será necessária uma maioria qualificada de dois terços para eleger o Papa. Haverá quatro votações por dia, duas pela manhã e duas à tarde, e após a 33ª ou 34ª votação, no entanto, haverá um segundo turno direto e obrigatório entre os dois cardeais que receberam mais votos na última votação. Mesmo nesse caso, no entanto, sempre será necessária uma maioria de dois terços. Os dois cardeais restantes não poderão participar ativamente da votação. Se os votos para um candidato atingirem dois terços dos eleitores, a eleição do Papa será canonicamente válida.

Fonte: CNBB

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A última homilia do Papa Francisco no Domingo de Páscoa

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Nosso querido Papa Francisco fez a sua Páscoa na manhã da última segunda-feira, 21, mergulhado na luz da Páscoa de Cristo!

Rezemos, agradecidos a Deus pela sua vida de amor cristão, humildade e misericórdia e tão rica missão, com tantos frutos para a Igreja e para o mundo.

Transcrevemos aqui a homilia que Francisco escreveu para a celebração do Domingo de Páscoa.

“A noite está chegando ao fim e já começam a despontar os primeiros raios da aurora, quando as mulheres saem para o túmulo de Jesus. Caminham com passo incerto, olhar perdido e o coração

Nosso querido Papa Francisco fez a sua Páscoa na manhã da última segunda-feira, 21, mergulhado na luz da Páscoa de Cristo!

Rezemos, agradecidos a Deus pela sua vida de amor cristão, humildade e misericórdia e tão rica missão, com tantos frutos para a Igreja e para o mundo.

Transcrevemos aqui a homilia que Francisco escreveu para a celebração do Domingo de Páscoa.

“A noite está chegando ao fim e já começam a despontar os primeiros raios da aurora, quando as mulheres saem para o túmulo de Jesus. Caminham com passo incerto, olhar perdido e o coração

dilacerado de dor por aquela morte que lhes arrebatou o Amado. Mas tendo chegado lá, ao ver o túmulo vazio, invertem o rumo, mudam de estrada; abandonam o sepulcro e correm para anunciar

aos discípulos um percurso novo: Jesus ressuscitou e os espera na Galileia. Na vida destas mulheres, aconteceu a Páscoa, que significa passagem: de fato. Passam do caminho triste rumo ao

túmulo para uma corrida jubilosa até aos discípulos, a fim de lhes dizer não só que o Senhor ressuscitou, mas que há uma meta a alcançar imediatamente, a Galileia.

O encontro com o Ressuscitado é lá. O renascimento dos discípulos, a ressurreição do seu coração passa pela Galileia. Entremos também nós neste caminho dos discípulos, que vai do túmulo à Galileia. As mulheres — diz o Evangelho — “foram ao túmulo” (Mt 28,1). Pensam que Jesus se encontra no lugar da morte, e que tudo tenha acabado para sempre. Às vezes acontece-nos, também a nós, pensar que a alegria do encontro com Jesus pertence ao passado, enquanto aquilo que o presente nos dá a conhecer são sobretudo túmulos selados: os túmulos das nossas desilusões, amarguras e desconfianças, os túmulos do “não há mais nada a fazer”, “as coisas não vão mudar nunca”, “melhor aproveitar o dia a dia” porque “do amanhã não sabemos nada”.

Também nós, se fomos provados na dor, oprimidos pela tristeza, humilhados pelo pecado, amargurados por algum fracasso ou pressionados por alguma preocupação, experimentamos o gosto amargo do cansaço e vimos a alegria apagar-se no coração.

Às vezes notamos simplesmente o peso de levar adiante a vida cotidiana, cansados de arriscar pessoalmente contra uma espécie de “muro de borracha” de um mundo onde parecem prevalecer sempre as leis do mais astuto e do mais forte. Outras vezes sentimo-nos impotentes e desanimados perante o poder do mal, os conflitos que dilaceram as relações, as lógicas baseadas no cálculo e na indiferença que parecem governar a sociedade, o câncer da corrupção — e há tanta — a propagação da injustiça, os ventos gélidos da guerra.

Mais ainda, talvez nos tenhamos confrontado com a morte, ao roubar-nos a doce presença dos nossos queridos ou tocar-nos pela doença ou nas calamidades, e facilmente caímos como vítimas da desilusão. Assim, por estas ou outras situações — cada um de nós conhece as suas —, os nossos caminhos detêm-se perante túmulos e nós ficamos imóveis chorando e lamentando-nos, repetindo, sozinhos e impotentes, os nossos “porquês”. Aquela cadeia de “porquês” ...

Ao contrário, as mulheres na Páscoa não ficam paralisadas diante de um túmulo, mas — diz o Evangelho — “afastando-se rapidamente do sepulcro. cheias de temor e grande alegria, as mulheres correram a dar a notícia aos discípulos” (28, 8) Levam a notícia que mudará para sempre a vida e a história: Cristo ressuscitou! (28, 6). E, ao mesmo tempo guardam e transmitem a recomendação do Senhor, o seu convite aos discípulos, ou seja, que partam para a Galileia, porque lá o verão (cf.28. 7) Mas, irmãos e irmãs, perguntamo-nos hoje: que significa ir para a Galileia? Duas coisas: a primeira, sair da clausura do Cenáculo partindo para a região habitada pelos gentios (cf Mt 4, 15).

Sair do escondimento para se abrir à missão, escapar do medo para caminhar rumo ao futuro. A segunda — e isto é maravilhoso —. voltar às origens, porque precisamente na Galileia é que tudo começara. Lá o Senhor encontrará e chamará pela primeira vez os discípulos. Portanto, ir para a Galileia e voltar à graça primordial, é readquirir a memória que regenera a esperança, a “memória do futuro” com que fomos marcados pelo Ressuscitado.”

Fonte: Liturgia Semana Santa 2025 - CNBB

 

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Eu sou a videira, vós sois os ramos

terça-feira, 15 de abril de 2025

"Eu sou a Videira, vós sois os ramos" (João 15, 5). Não basta balançar os ramos, levá-los para casa. Não somente aclamar o Senhor com o louvor, com o Hosana.  É preciso ser um ramo enxertado à Videira que é Cristo. Enchermo-nos da seiva da Sua graça, para crescermos espiritualmente e darmos frutos. E frutos que permaneçam, diz Jesus. Não unicamente testemunhar Sua entrada em Jerusalém, mas deixar que Ele entre no triunfo do amor em seu coração, ensinando-lhe o despojamento e a bondade do verdadeiro Reino do Pai.

"Eu sou a Videira, vós sois os ramos" (João 15, 5). Não basta balançar os ramos, levá-los para casa. Não somente aclamar o Senhor com o louvor, com o Hosana.  É preciso ser um ramo enxertado à Videira que é Cristo. Enchermo-nos da seiva da Sua graça, para crescermos espiritualmente e darmos frutos. E frutos que permaneçam, diz Jesus. Não unicamente testemunhar Sua entrada em Jerusalém, mas deixar que Ele entre no triunfo do amor em seu coração, ensinando-lhe o despojamento e a bondade do verdadeiro Reino do Pai.

Se não estivermos ancorados no Senhor, alimentados por Ele, não conseguiremos cumprir a nossa missão de ser sal da terra e luz do mundo, perseverantes como peregrinos da esperança, missionários da caridade, propagadores da fé, promotores da justiça e da paz.

Não adianta só participar da santa ceia e ter os pés lavados pelo Mestre da humildade. É necessário levantar-se, com o impulso da conversão, vestir o avental da simplicidade e do amor ao próximo e lavar também os pés dos irmãos, no espírito de serviço fraterno, testemunhado pelo Salvador, como Ele nos convoca a fazer (cf. João 13,14-15; 34) "Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei". A comunhão do Seu corpo e do Seu sangue deve nos conduzir igualmente à comunhão e fraternidade com todos, edificando o corpo sagrado da Igreja, no vínculo da paz, do Espírito, mantendo sua unidade, sem cisões, como a túnica inconsútil do Redentor, na diversidade dos dons, ministérios e carismas (cf. Efésios 4, 1-16).

Não basta beijar a cruz e chorar emocionado pela Paixão do Deus feito homem que morreu para lavar nossos pecados. É nosso dever de amor, continuar Sua missão, encarnando-nos também na realidade dos nossos irmãos a serem resgatados num mundo de egoísmo, injustiças e degradação, assumindo as suas cruzes, como bons cirineus, dando da mesma forma a vida por eles. "Não há maior amor do que dar a vida pelos irmãos"(João 15,13; 1João 3,16).

Não somente ouvir a Palavra, acompanhando os passos do horto das Oliveiras, dos açoites, do julgamento injusto, do caminho do Calvário, no encontro com Maria, a Mãe das dores, do sofrimento da cruz, da morte, do sepultamento e ressurreição do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Ele nos olha no fundo da alma e nos diz em silêncio amoroso: "Sigam-me. Eu farei de vocês pescadores de homens" (Mateus 4,19-20). Devemos ser esta Palavra viva anunciando ao mundo a salvação que custou tanto, o sangue, a vida, o sacrifício do Príncipe da Paz, o nosso amado Jesus Cristo.

Encontrarmo-nos intimamente com o Senhor como naquele diálogo de segundos infinitos com os olhos da Mãe, permitir que Ele nos transforme, nos restaure, nos ilumine, nos fortaleça com a Sua graça, nos libertando totalmente, para sermos os seus discípulos iluminadores e transmissores da Sua Ressurreição. 

Sigamos o Mestre e Senhor, como Maria, a discípula fiel, a Mãe do sim e do serviço missionário, com plena entrega, gerando também o Cristo para o mundo. Enchamos o coração deste Amor maior do dar a própria vida, Amor mais forte do que a morte, que nos revitaliza a esperança da renovação de todo a sociedade, de sua também ressurreição para uma vida verdadeiramente feliz e plena, na vontade de Deus, já sepultados os homens velhos do pecado e do mal e renascidos os homens novos da Graça da Redenção.

Abençoada Semana Santa a todos!

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo

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Fênix – Renascer das cinzas

terça-feira, 08 de abril de 2025

Quando as trevas parecem prevalecer, brilha a Luz de Cristo, tesouro valiosíssimo transportado no vaso de argila da nossa pobre e medíocre natureza. Ele como o sol nos toca misteriosamente com sua força suave, nos fortalecendo e fazendo renascer as fibras morrentes de nossa humanidade ressequida. Uma poderosa chama que interiormente nos sustenta: a  esperança, uma virtude sobrenatural, teologal, repleta do Esperado, luminosa graça de resiliência amorosa que fez o apóstolo Paulo exclamar: "Tudo posso n'Aquele que me fortalece" ( Filipenses 4,13)

Quando as trevas parecem prevalecer, brilha a Luz de Cristo, tesouro valiosíssimo transportado no vaso de argila da nossa pobre e medíocre natureza. Ele como o sol nos toca misteriosamente com sua força suave, nos fortalecendo e fazendo renascer as fibras morrentes de nossa humanidade ressequida. Uma poderosa chama que interiormente nos sustenta: a  esperança, uma virtude sobrenatural, teologal, repleta do Esperado, luminosa graça de resiliência amorosa que fez o apóstolo Paulo exclamar: "Tudo posso n'Aquele que me fortalece" ( Filipenses 4,13)

O vaso de barro não é a última palavra, de onde vem a desesperança, a desconfiança, a fragilidade e sensação de impotência, a angústia ou desistência covarde e omissa, a insensibilidade ou indiferença. Não. A última palavra é do conteúdo, do Poder extraordinário que traz vida à natureza humana cercada de morte, de fora e de dentro. De fora, das opressões, perseguições, injustiças, tentações, destruições e degradações, da lógica da exclusão do mundo. De dentro, da desumanização provocada pela desfiguração do pecado, corrupção e desgaste interior. Mas do Espírito que vem em socorro de nossas fraquezas vem a fortaleza, a unção, a iluminação da Sabedoria Superior, a Vida maior que eleva e renova todas as coisas.

E o apóstolo pergunta com total segurança: "Se Deus é por nós, quem será contra nós?"... "O que nos separará do Amor de Deus?. "A tribulação ou a angústia, a perseguição ou a fome, a nudez, o perigo, a espada?... E o próprio apóstolo responde: "Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores por aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do Amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Romanos 8,31-39).

O mesmo Mestre das nações, na experiência forte de sua conversão afirma: "Por isso, por amor a Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois quando sou fraco, então é que sou forte" (2 Coríntios 12,10). Por que diz isso o grande apóstolo? Porque ele sabe por certeza mística que quando nós nos enchemos de nós mesmos pelas vaidades dos sucessos, do êxito, das conquistas de nossas capacidades, fechamos o espaço para a ação de Deus. Aí fala e age o homem orgulhoso que quase se sente um deus, desprezando a graça e a vontade de Deus.

Quando nos sentimos fracos e assumimos a nossa fraqueza humildemente, diante das dificuldades e obstáculos, sofrimentos ou oposições, nos entregamos confiantes ao Poder transformador de Deus. Aí Deus fala e age, fortalecendo a nossa frágil e vacilante estrutura, nos enriquecendo com a sua Luz de infinita Sabedoria, na resistência invencível de sua misericordiosa graça. Damos abertura para o Senhor da obra missionária realizar o que é o Seu plano e não insistimos nos nossos projetos pessoais, tantas vezes desencontrados dos desígnios do Salvador e que se desgastam por si mesmos.

Sem Deus, sem estarmos totalmente entregues e enxertados à Videira que é Cristo( cf João 15), não vamos muito longe, nosso gás acaba, nossas forças se extinguem, nossas boas intenções de descoloram e talvez se esgotem com a não correspondência ou as rejeições. Os ramos, se desligados do Senhor, por mais bonitos, viçosos, com belos frutos e flores, em pouco tempo secam, se desencantam, fenecem, perdem a cor e o sabor. Faltarão, com certeza, o frescor, o perfume suave e forte da graça divina, a unção da Vida que brota do Coração Sagrado de Jesus, fonte inesgotável de vigor, amor e alegria, o regozijo de que nos fala São Paulo. Ele é a seiva que nos alimenta, nutre a nossa perseverança, na certeza da fé na vitória do Cristo Ressuscitado. "Se morremos com Cristo, temos fé que com Ele viveremos" ( Romanos 6,8). Morrer para o homem velho do pecado, da maldade, do egoísmo e renascer para o homem novo da graça, da luz, do amor ao próximo, com o amor de Deus( cf. Efésios 4,22-24).

Um mito grego cantado pelo poeta Hesíodo, de raízes egípcias como afirma o historiador Heródoto, nos fala de uma ave, a Fênix, que quando velha e cansada ateia fogo sobre o seu próprio ninho e renasce de suas próprias cinzas. Os padres da Igreja, primeiros escritores cristãos, como S. Clemente Romano, Tertuliano e Lactâncio, aproveitaram a sua rica simbologia, associando-a à ideia da imortalidade, no prenúncio da paixão, da Ressurreição de Cristo e do renascimento espiritual, fundamento da mística cristã, os cristãos configurados em Cristo, numa vida nova que jorra para a eternidade, como se apresenta, especialmente, no Novo Testamento: "Eu sou a Ressurreição e a vida; quem crê em mim , ainda que esteja morto viverá; e quem vive e crê em mim, jamais morrerá" ( João 11,25-26). E como podemos ver em mais alguns textos paulinos: "Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo!" (2 Coríntios 5,17); Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós andemos em novidade de vida " ( Romanos 6,4-14). Isto ficou gravado na iconografia cristã primeva - a fênix renascida , símbolo do Cristo Ressuscitado e de sua vida nova.

Uma boa inspiração que nos pode recordar, nesta quaresma e já próxima Semana Santa, esta nossa missão de sempre recomeçar na fé em Cristo, no enfrentamento de todos os desgastes, de nos entregarmos totalmente confiantes nas mãos do Senhor, renascendo do fogo do seu amor, nos renovando a cada dia, transformando as cinzas dos nossos pecados, limites e fraquezas em uma ave altaneira e forte, chamada ao vôo maior da graça, do horizonte de Deus, na elevação da vida dos irmãos. 

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo

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Tempo de conversão pessoal, comunitária e pastoral

terça-feira, 01 de abril de 2025

A quaresma é um tempo litúrgico da Igreja de 40 dias de preparação para a Páscoa, que se torna propício para uma reflexão mais aprofundada sobre a nossa vida espiritual, para nos arrependermos de nossos pecados e nos reaproximarmos da graça de Deus, numa conversão pessoal, social e pastoral.

A volta à unidade com Deus e com a própria consciência

A quaresma é um tempo litúrgico da Igreja de 40 dias de preparação para a Páscoa, que se torna propício para uma reflexão mais aprofundada sobre a nossa vida espiritual, para nos arrependermos de nossos pecados e nos reaproximarmos da graça de Deus, numa conversão pessoal, social e pastoral.

A volta à unidade com Deus e com a própria consciência

O afastamento de Deus, a falta de oração, a vaidade, a confiança demasiada nas próprias forças e capacidades, a frieza e indiferença ao projeto de Deus. Tudo isso faz com que nos percamos em nossos próprios planos e interesses e coloquemos pouco a pouco a Palavra de Deus em segundo lugar. Aí servimos não mais ao Senhor, mas a nós mesmos. Sem a referência da verdade de Deus, nos desfiguramos, desintegramos nossa personalidade, quebramos a nossa integridade, desrespeitamos a nossa dignidade, violamos a nossa própria consciência.

É preciso voltar à comunhão com Deus, com humildade, pela entrega na oração, agradecendo pelos dons e capacidades, bebendo da misericórdia divina, harmonizando o coração, reequilibrando a razão interior para ser verdadeiro discípulo e missionário, com a dignidade de filhos de Deus, reluzente, com uma só face, na paz de quem segue o Mestre que é o Caminho, Verdade e Vida. Peçamos perdão ao Senhor por nos afastarmos da Sua Luz e nos enfraquecermos. Por nos distanciarmos da Sua Força e nos enchermos de trevas e confusão. Por nos desintegrarmos, sem a Sua verdade, enchendo-nos de mentiras e justificativas para nossas vaidades.

A volta à unidade com os irmãos

Quando nos fechamos a Deus, perdemos a nossa referência ética, nos escravizamos ao nosso próprio egoísmo e queremos virar o centro de tudo, relativizando os princípios morais, conforme a nossa conveniência. Isto, é claro, nos afasta também dos outros. Pois, sem vermos Deus como Pai, já não os vemos como irmãos, mas simplesmente como "concorrentes" que devem ser derrotados. Ou por nos sentirmos maiores ou melhores, os vemos apenas como peças manipuladas para o aumento do nosso Poder, do nosso Prazer ou nosso Dinheiro.

Esta tríplice idolatria já é acusada na 3ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (Celam) em Puebla, em 1979. E a realidade de uma multidão de excluídos e da indignidade da miséria de muitos lázaros no continente latino americano, com enormes desigualdades sociais, já havia sido apontada na II Conferência em Medellin, em 1968. Tudo fruto da ambição, da soberba, da falta de amor ao próximo, pela falta de amor a Deus e de reconhecimento de sua vontade como verdade da ética pessoal e social.

Também o fechamento em si mesmo, nos torna insensíveis à cultura dos outros, nos achando "superiores", na autoidolatria de nossa linguagem, nossas expressões e valores, querendo impô-los aos irmãos. É o caso das discriminações culturais, étnicas, por motivos físicos, sociais etc... Menospreza-se o negro, o indígena, o pobre, a pessoa com deficiência. E estamos, muitas vezes, bloqueados no coração e na razão para a inculturação do Evangelho, ou seja, a evangelização a partir das "sementes do Verbo", das riquezas e valores próprios do Bem de cada cultura, na autêntica promoção humana. Sobre isto nos fala a IV Conferência de Santo Domingo, em 1992. Na linha do discipulado missionário, a partir de Cristo, modelo perfeito de amor e doação ao próximo, o qual deve provocar em nossas comunidades uma verdadeira conversão pastoral, como apresenta a V Conferência de Aparecida, em 2007. 

Peçamos perdão ao Senhor e mostremos a Ele que queremos voltar à unidade com os nossos irmãos, na solidariedade, no amor fraterno que nos leva a uma autêntica opção preferencial pelos mais pobres e o abandono de todas as vaidades e ambições. Queremos ser discípulos missionários, despojados de toda ilusão de poder, de toda embriaguez dos prazeres e de todo apego ao dinheiro. Queremos compreender os valores de cada cultura, de cada irmão, com a humildade e a compaixão de Cristo, aproveitando de cada realidade as sementes divinas espalhadas na Sabedoria da criação, livres de toda soberba, preconceito ou sentimento de superioridade em relação aos outros.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo

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Quaresma: tempo de conversão ecológica

terça-feira, 25 de março de 2025

O pecado do homem de virar as costas para Deus, criou desordem não só na consciência, na integridade pessoal, não só na convivência social e relacionamento com o próximo, gerando desigualdades e injustiças, mas também causou um desequilíbrio na sua própria relação com a natureza.

O pecado do homem de virar as costas para Deus, criou desordem não só na consciência, na integridade pessoal, não só na convivência social e relacionamento com o próximo, gerando desigualdades e injustiças, mas também causou um desequilíbrio na sua própria relação com a natureza.

O ser humano, saindo da harmonia do Criador, perdeu também o senso de respeito e integração com a casa natural. As agressões cresceram à vegetação, às águas, aos animais, ao ar, à camada de ozônio, aos ecossistemas. Do egoísmo cego surge um galopante desmatamento, uma inconsciente degradação do solo, queimadas, poluição volumosa, contaminando e comprometendo os recursos hídricos, envenenando o ar, com a maior incidência de raios solares e o aquecimento global. Avança a caça irracional, a pesca predatória, causando a extinção das espécies e a desorganização, o desequilíbrio ecológico.

Ao mesmo tempo, crescem as guerras e a exploração do homem pelo homem, gerando mortes, genocídios, aumentando a pobreza e a miséria. É o pecado de quem olha só para o seu interesse e para o seu imediato lucro ou vantagem, com a extração das riquezas naturais, não se importando com os danos ao meio ambiente e consequentemente aos seres humanos.

Todos estes vários cenários estão indicados com profundidade e riqueza na Encíclica Social do Papa Francisco , a Laudato Si, que completa dez anos e na Exortação Laudate Deum, alertando para a crise climática e a urgência de uma conversão ecológica, como também em diversas campanhas da fraternidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), especialmente a deste ano, com o tema "Fraternidade e Ecologia Integral”, recordando e conscientizando que é preciso preservar o que é de todos, a casa comum, a água, a terra, os biomas, especialmente a Amazônia e, no centro da Ecologia, o ser humano, totalmente integrado a ela, os indígenas, as populações ribeirinhas, os quilombolas, os pobres e miseráveis, os privados dos bens naturais, sedentos e famintos, os excluídos do sistema capitalista materialista, que devem ser resgatados e promovidos em sua dignidade de imagem e semelhança de Deus, filhos do Criador, irmãos do Redentor, templos do Espírito Santo.

É necessário criar uma generalizada consciência de responsabilidade ecológica, como um ato de conversão, de volta à sintonia com o Plano da criação, no respeito à ordem natural. Preservar a imensa riqueza da biodiversidade. Combater as agressões diversas. Promover a educação ambiental, como valorização e defesa da vida e da saúde de toda a comunidade social. Saber cuidar como o nosso irmão São Francisco da irmã Natureza, tendo todos os homens como irmãos, como sagrado sinal da bondade e graça do Deus-Amor. Celebramos também os 800 anos da composição do belíssimo "Cântico das Criaturas" (1225), entoado com a poesia e o extraordinário testemunho de caridade deste grande santo: "Louvado sejas, meu Senhor".

É importante protegermos a Amazônia grande reserva de vida da humanidade. Mas, também, devemos identificar as "nossas amazônias" bem perto de nós, na nossa cidade e região, os rios, as bacias, as matas, os impactos ambientais de empreendimentos industriais, comerciais, habitacionais, muitas vezes desastrosos, as campanhas que devemos fazer para manter a casa comum com todo equilíbrio para a vida e saúde de todos, numa visão mais ampla social, política e cultural.

Peçamos perdão ao Senhor pelas vezes em que nos omitimos na defesa da vida e da ordem natural, causando assim um grande mal a tantos irmãos, permitindo que a morte prevalecesse. Pelas vezes em que mesmo praticamos destruição ao meio ambiente, desperdiçando os recursos, colaborando com projetos irresponsáveis no sentido ecológico. Pelas vezes em que nos esquecemos do ser humano, não valorizando e protegendo a sua dignidade e vida desde a concepção até a morte natural, não lutando por seus direitos e integridade, ficando indiferentes às suas dores e necessidades.

Queiramos a conversão total, não só um ponto ou outro. Busquemos a libertação integral, a salvação do homem todo, até porque não se pode separar uma postura da outra. É na mudança da mentalidade e atitude fundante da estrutura pessoal que iremos reformar e transformar o social, num espírito de comunhão e integração com toda a natureza criada. No respeito ao Plano do Criador e seguindo o modelo do Salvador, no sopro do Espírito.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler da Diocese de Nova Friburgo

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O encontro com Cristo no deserto

terça-feira, 18 de março de 2025

Vivemos num mundo agitado, com muita pressa, desgaste das pessoas, barulho e movimentos de interesse e produção para ganhar dinheiro, poder e prazer. Somos atacados por todos os lados por propagandas, marketing, poluições visuais e sonoras, notícias sobre violência, injustiças, mortes e maldades. A era da informação vai mergulhando os seres humanos num jogo quase inconsciente de conexões, compartilhamentos, aprisionamentos tecnológicos que isolam a pessoa, afastando-a de um verdadeiro "encontro" com o outro.

Vivemos num mundo agitado, com muita pressa, desgaste das pessoas, barulho e movimentos de interesse e produção para ganhar dinheiro, poder e prazer. Somos atacados por todos os lados por propagandas, marketing, poluições visuais e sonoras, notícias sobre violência, injustiças, mortes e maldades. A era da informação vai mergulhando os seres humanos num jogo quase inconsciente de conexões, compartilhamentos, aprisionamentos tecnológicos que isolam a pessoa, afastando-a de um verdadeiro "encontro" com o outro. O próprio pastoreio e a espiritualidade podem ficar perdidos e abandonados em meio a tanto sufocamento de atividades, planejamentos e saturação de material midiático.

É necessário romper este ritmo frenético e inquieto, ansioso e angustiado, que no fundo reflete um vazio na alma. É preciso silenciar dentro do coração o sentido mais profundo de ser e de viver nesta missão terrestre. Fazer uma importante quaresma existencial, numa atitude prolongada de reflexão, oração, contemplação e gratuidade. Rezar... há quanto tempo não paro para, calmamente, sem olhar para o relógio, ficar em oração? Meditar a Palavra de Deus, saboreando sua força e sua sabedoria, alimentando o espírito com a confirmação da graça do Senhor, fortalecendo-me para dizer não ao mal e praticar sempre as boas obras do Reino?

Este é um bom tempo - a quaresma -, uma ótima oportunidade para pararmos e olharmos para dentro de nós mesmos e percebermos o que deve mudar para sermos mais felizes, nos conformando com a "imagem e semelhança" divina que está gravada em nós, desde a criação e com a dignidade de filhos de Deus que nos foi transmitida pelo sacrifício redentor de Jesus Cristo, lavando-nos de todo pecado e nos abrindo as portas da salvação eterna.

Somente no encontro com o nosso eu, dentro de nós, no diálogo com o rosto amigo do Senhor, é que conseguiremos descobrir a nossa identidade mais pura e verdadeira, sem maquiagens, sem protocolos, sem máscaras. A nossa pessoa autêntica, amada infinitamente por Deus e pronta, segura também para amar o próximo com este Amor gratuito. Um retiro. Isto mesmo. Precisamos de uma pausa de quando em quando na caminhada e na luta da vida para nos recompormos espiritualmente, recarregar a bateria do ideal, da missão impulsionada por Cristo, preparando a grande Páscoa do Redentor na nossa história.

Então, estaremos mais aptos para servir como Jesus serviu. Com total entrega e profunda caridade. Tomando a dianteira nos gestos e atos de misericórdia e doação pelos irmãos, especialmente os mais marginalizados e feridos, os mais frágeis e excluídos, os que passam fome do pão material e espiritual, como fez o próprio Senhor, na missão conjunta pelo Bem de todos, no cuidado com a Casa comum, a Ecologia integral, colocando no centro a vida e a dignidade humana, como nos propõe neste ano a Campanha da Fraternidade.

A partir do exemplo amoroso e libertador de Jesus Cristo, devemos assumir a nossa participação na construção de uma família social mais justa e solidária, onde a cidadania não esteja separada da santidade, mas ao contrário seja a sua consequência e sinal, prefigurando a cidadania do céu, onde, definitivamente, não haverá desigualdades, nem exploração do homem pelo homem, nem violações de direitos, nem discriminações, nem qualquer outro tipo de pecado pessoal nem corporativo ou social. A paz, a verdade e a justiça do Reino de Deus se abraçarão, plantadas já aqui, muitas vezes no deserto das máquinas ou numa selva de manequins. Mas nunca devemos abandonar o cajado e nem perder a alegria do anúncio do Evangelho revitalizador, com a graça do Senhor.  Esforcemo-nos cada vez mais, nesta conversão pessoal, comunitária, pastoral e "ecológica" para servir mais e melhor à comunicação transformadora do Coração Misericordioso de Cristo.

 Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça, chanceler da Diocese de Nova Friburgo

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Início da quaresma: mensagem do Papa para o Brasil

terça-feira, 11 de março de 2025

“Queridos irmãos e irmãs do Brasil. Com este dia de jejum, penitência e oração, iniciamos na última quarta-feira de cinzas, 5, a Quaresma deste Ano Jubilar da Encarnação. Nesta ocasião, desejo manifestar a minha proximidade à Igreja peregrina nessa nação e felicitar os meus irmãos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pela iniciativa da Campanha da Fraternidade, que se repete há mais de 60 anos e que neste ano tem como tema "Fraternidade e Ecologia Integral" e como lema a passagem da escritura na qual, contemplando a obra da criação, "Deus viu que tudo era muito bom" (cf.

“Queridos irmãos e irmãs do Brasil. Com este dia de jejum, penitência e oração, iniciamos na última quarta-feira de cinzas, 5, a Quaresma deste Ano Jubilar da Encarnação. Nesta ocasião, desejo manifestar a minha proximidade à Igreja peregrina nessa nação e felicitar os meus irmãos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pela iniciativa da Campanha da Fraternidade, que se repete há mais de 60 anos e que neste ano tem como tema "Fraternidade e Ecologia Integral" e como lema a passagem da escritura na qual, contemplando a obra da criação, "Deus viu que tudo era muito bom" (cf. Gn 1.1).

Com a Campanha da Fraternidade, os bispos do Brasil convidam todo o povo brasileiro a trilhar, durante a Quaresma, um caminho de conversão baseado na Carta Encíclica Laudato Si', que publiquei há quase dez anos, em 24 de maio de 2015, e que senti necessidade de complementar com a Exortação Apostólica Laudate Deum, de 4 de outubro de 2023.

Nestes documentos, quis chamar a atenção de toda a humanidade para a urgência de uma necessária mudança de atitude em nossas relações com o meio ambiente, recordando que a atual «crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior» (Laudato Si', 217). Neste sentido, o meu predecessor de venerável memória, São João Paulo II, já alertava que era «preciso estimular e apoiar a "conversão ecológica", que tornou a humanidade mais sensível» (Audiência, 17 de janeiro de 2001) ao tema do cuidado com a casa comum.

Por isso, louvo o esforço da Conferência Episcopal em propor mais uma vez como horizonte o tema da ecologia, junto à desejada conversão pessoal de cada fiel a Cristo. Que todos nós possamos, com o especial auxílio da graça de Deus neste tempo jubilar, mudar nossas convicções e práticas para deixar que a natureza descanse das nossas explorações gananciosas.

O tema da Campanha da Fraternidade deste ano expressa também a disponibilidade da Igreja no Brasil em dar a sua contribuição para que, durante a COP 30 do próximo mês de novembro, que se realizará em Belém, no Pará, no coração da querida Amazônia, as nações e os organismos internacionais possam comprometer-se efetivamente com práticas que ajudem na superação da crise climática e na preservação da obra maravilhosa da Criação, que Deus nos confiou e que temos a responsabilidade de transmitir às futuras gerações,

Desejo que esse itinerário quaresmal dê muitos frutos e nos encha a todos de esperança, da qual somos peregrinos neste Jubileu. Faço votos que a Campanha da Fraternidade seja novamente um poderoso auxílio para as pessoas e comunidades desse amado Brasil no seu processo de conversão ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e de compromisso concreto com a Ecologia Integral.

Confiando estes votos aos cuidados de Nossa Senhora Aparecida, concedo de bom grado a Bênção Apostólica a todos os filhos e filhas da querida nação brasileira, de modo especial àqueles que se empenham no cuidado com a casa comum, pedindo que continuem a rezar por mim.”

Roma, São João de Latrão, 11 de fevereiro de 2025, memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes.

 

Papa Francisco

Fonte: Vaticano

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Ancorados na esperança

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Papa Francisco: 2025 – Ano Jubilar

Última parte 

Papa Francisco: 2025 – Ano Jubilar

Última parte 

Capítulo 21: “Então, que será de nós depois da morte? Com Jesus, além deste limiar, há a vida eterna, que consiste na plena comunhão com Deus, na contemplação e participação do seu amor infinito. Tudo o que agora vivemos na esperança, vê-lo-emos então na realidade. A propósito, escreveu Santo Agostinho: «Quando me unir a Vós com todo o meu ser, não existirá para mim em lado algum dor e tristeza. A minha vida será uma vida verdadeira, totalmente cheia de Vós». Então, o que caraterizará tal plenitude de comunhão? O ser feliz. A felicidade é a vocação do ser humano, uma meta que diz respeito a todos.

Mas, o que é a felicidade? Que felicidade esperamos e desejamos? Não uma alegria passageira, uma satisfação efêmera que, uma vez alcançada, volta sempre a pedir mais, numa espiral de avidez em que o espírito humano nunca se encontra saciado, antes sente-se cada vez mais vazio. Precisamos de uma felicidade que se cumpra definitivamente naquilo que nos realiza, ou seja, no amor, para se poder dizer já agora: sou amado, logo existo; e existirei para sempre no Amor que não desilude e do qual nada e ninguém me poderá separar. Recordemos ainda as palavras do Apóstolo: «Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, Senhor nosso» (Rm 8, 38-39).

22. Outra realidade ligada à vida eterna é o juízo de Deus, quer no termo da nossa existência quer no fim dos tempos. Muitas vezes a arte tentou representá-lo – pensemos na obra-prima de Michelangelo, na Capela Sistina –, atendo-se à concepção teológica da época e transmitindo um sentimento de temor a quem o observa. Se é justo preparar-se com viva consciência e seriedade para o momento que recapitula a existência, ao mesmo tempo é necessário fazê-lo sempre na dimensão da esperança, virtude teologal que sustenta a vida e nos permite não cair no medo.

O juízo de Deus, que é amor (cf. 1 Jo 4, 8.16), só poderá basear-se no amor, especialmente naquele que tivermos, ou não, praticado para com os mais necessitados, nos quais Cristo, o próprio Juiz, está presente (cf. Mt 25, 31-46). Trata-se, portanto, de um juízo diferente do juízo dos homens e dos tribunais terrenos; deve ser entendido como uma relação de verdade com Deus-amor e consigo mesmo dentro do mistério insondável da misericórdia divina.

A Sagrada Escritura afirma a este respeito: «Tu ensinaste o teu povo que o justo deve ser amigo dos homens, e deste a teus filhos uma boa esperança, porque, após o pecado, dás a conversão (…), para que, ao sermos julgados, esperemos misericórdia» ( Sab 12, 19.22). Como escreveu Bento XVI, «no momento do Juízo, experimentamos e acolhemos este prevalecer do seu amor sobre todo o mal no mundo e em nós. A dor do amor torna-se a nossa salvação e a nossa alegria».

Por conseguinte, o juízo diz respeito à salvação na qual esperamos e que Jesus nos obteve com a sua morte e ressurreição. Visa abrir ao encontro definitivo com Ele. E, como em tal contexto não se pode pensar que o mal cometido permaneça oculto, o mesmo precisa ser purificado, para nos permitir a passagem definitiva ao amor de Deus.

Compreende-se, neste sentido, a necessidade de rezar por aqueles que concluíram o caminho terreno: uma solidariedade na intercessão orante que encontra a sua eficácia na comunhão dos santos, no vínculo comum que nos une em Cristo, primogênito da criação. Assim, a Indulgência Jubilar, em virtude da oração, destina-se de modo particular a todos aqueles que nos precederam, para que obtenham plena misericórdia.”

Fonte: Bula “Spes non Confundit”

Vaticano

Papa Francisco

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Papa Francisco: 2025 – Ano Jubilar

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Parte 6

 

Ancorados na esperança

Parte 6

 

Ancorados na esperança

Capítulo 18. “A esperança forma, juntamente com a fé e a caridade, o tríptico das «virtudes teologais», que exprimem a essência da vida cristã (cf. 1 Cor 13, 13; 1 Ts 1, 3). No dinamismo indivisível das três, a esperança é a virtude que imprime, por assim dizer, a orientação, indicando a direção e a finalidade da existência crente. Por isso, o apóstolo Paulo convida-nos a ser «alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração» (Rm 12, 12). Assim deve ser; precisamos de transbordar de esperança (cf. Rm 15, 13) para testemunhar de modo credível e atraente a fé e o amor que trazemos no coração; para que a fé seja jubilosa, a caridade entusiasta; para que cada um seja capaz de oferecer ao menos um sorriso, um gesto de amizade, um olhar fraterno, uma escuta sincera, um serviço gratuito, sabendo que, no Espírito de Jesus, isso pode tornar-se uma semente fecunda de esperança para quem o recebe. Mas qual é o fundamento da nossa esperança? Para o compreender, é bom deter-nos nas razões da nossa esperança (cf. 1 Ped 3, 15).

19. «Creio na vida eterna»:  assim professa a nossa fé, e a esperança cristã encontra nestas palavras um ponto fundamental de apoio. De fato, «é a virtude teologal pela qual desejamos (…) a vida eterna como nossa felicidade». O Concílio Ecumênico Vaticano II afirma: «Se faltam o fundamento divino e a esperança da vida eterna, a dignidade humana é gravemente lesada, como tantas vezes se verifica nos nossos dias, e os enigmas da vida e da morte, do pecado e da dor ficam sem solução, o que frequentemente leva os homens ao desespero».  Enquanto, em virtude da esperança na qual fomos salvos, vendo passar o tempo, temos a certeza que a história da humanidade e a de cada um de nós não correm para uma meta sem saída nem para um abismo escuro, mas estão orientadas para o encontro com o Senhor da glória. Por isso vivemos na expectativa do seu regresso e na esperança de vivermos n’Ele para sempre: é com este espírito que fazemos nossa aquela comovente invocação dos primeiros cristãos com que termina a Sagrada Escritura: «Vem, Senhor Jesus!» ( Ap 22, 20).

20. Jesus morto e ressuscitado é o coração da nossa fé. São Paulo, ao enunciar este conteúdo em poucas palavras (usa só quatro verbos), transmite-nos o «núcleo» da nossa esperança. «Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras; apareceu a Cefas e depois aos doze» (1 Cor 15, 3-5). Cristo morreu, foi sepultado, ressuscitou, apareceu. Por nós, passou através do drama da morte. O amor do Pai ressuscitou-O na força do Espírito, fazendo da sua humanidade as primícias da eternidade para a nossa salvação.

A esperança cristã consiste precisamente nisto: face à morte onde tudo parece acabar, através de Cristo e da sua graça que nos foi comunicada no Batismo, recebe-se a certeza de que «a vida não acaba, apenas se transforma», para sempre. Com efeito, sepultados juntamente com Cristo no Batismo, recebemos n’Ele, ressuscitado, o dom duma vida nova, que derruba o muro da morte, fazendo dela uma passagem para a eternidade.

E se diante da morte, dolorosa separação que nos obriga a deixar os nossos entes queridos, não é possível qualquer retórica, o Jubileu oferecer-nos-á a oportunidade de descobrir, com imensa gratidão, o dom daquela vida nova recebida no Batismo, capaz de transfigurar o seu drama. É significativo repensar, no contexto jubilar, como este mistério foi compreendido desde os primeiros séculos da fé. Durante muito tempo, por exemplo, os cristãos construíram a pia batismal em forma octogonal, e ainda hoje podemos admirar muitos batistérios antigos que mantêm esta forma, como em São João de Latrão na cidade de Roma. Indica que, na fonte batismal, se inaugura o oitavo dia, isto é o da ressurreição, o dia que ultrapassa o ritmo habitual, marcado pela cadência semanal, abrindo assim o ciclo do tempo à dimensão da eternidade, à vida que dura para sempre: esta é a meta para a qual tendemos na nossa peregrinação terrena (cf. Rm 6, 22).

O testemunho mais convincente desta esperança é-nos oferecido pelos mártires que, firmes na fé em Cristo ressuscitado, foram capazes de renunciar à própria vida da terra para não trair o seu Senhor. Temo-los em todas as épocas e são numerosos – e talvez mais do que nunca nos nossos dias – como confessores da vida que não tem fim. Precisamos de conservar o seu testemunho para tornar fecunda a nossa esperança.

Estes mártires, pertencentes às diferentes tradições cristãs, são também sementes de unidade, porque exprimem o ecumenismo do sangue. Durante o Jubileu desejo ardentemente que não falte uma celebração ecuménica para evidenciar a riqueza do testemunho destes Mártires.”

Fonte: Bula “Spes non Confundit”

Vaticano

Papa Francisco

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