O primeiro texto que li quando comecei a cursar o mestrado em Educação, na PUC-Rio, foi o de Rubem Alves (1933 – 2014), escritor, psicanalista, educador e teólogo. Ele dizia que tinha um caderno em que fazia anotações das suas ideias, das situações que vivenciava ou observava. Era um texto simples que li com facilidade e prazer. Não tinha palavras complexas, mas tudo o que ali estava escrito ficou borbulhando em meus pensamentos.
Notícias de Nova Friburgo e Região Serrana

Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
De um modo geral, a biografia é um gênero literário não ficcional que narra a vida de alguém, mostrando sua história, os acontecimentos importantes decorrentes de conquistas, desafios e polêmicas. Abrange também suas opiniões, valores, crenças e atitudes. Enfim, é um gênero que contém registros a respeito dos modos como o biografado colaborou e participou da sua época. Aborda pessoas notáveis na arte, na política, nos esportes e na comunidade. Ou não.
Confesso que gostaria de ser poeta, ser capaz de pinçar palavras na Língua Portuguesa e colocá-las nos versos com delicadeza e simplicidade. Sempre que leio uma poesia fico pensando nas ideias contidas nas palavras porque a poesia gosta de conversar baixinho, fazendo quase um cochicho; ela não fala alto, nem faz discursos. Apenas quer se chegar para deixar um registro no leitor que percebe o valor de um poema. Em cada verso existe uma afetividade profunda, provavelmente porque o poeta não consegue expressá-la de outra forma que não seja através da escrita de um poema.
Mas que desafio? Nem criança, nem adolescente, o pré-adolescente está no meio de passagens, que decorrem dos processos de deixar de ser criança e começar a tornar-se adolescente. Um turbilhão de mudanças físicas, hormonais, cognitivas, emocionais, sociais e centros de interesse invadem sua experiência existencial. Tudo vai acontecendo com rapidez e concomitância, dando-lhe a sensação que o mundo está girando mais rápido e ele não consegue dar conta das mudanças.
Noutro dia escutei uma conversa no cabelereiro entre duas conhecidas, tipo fofoca de trabalho, quando, de repente, o assunto foi parar em aviso prévio. Aviso prévio! Palavra que eu estava buscando fazia dias para dar um título à uma crônica em que venho sentindo vontade de abordar: a efemeridade. Uma ideia forte, que faz a gente estremecer porque é o fato irrefutável presente em todos os dias da vida.
Escrever. Errar. Corrigir. Guardar o texto na gaveta. Reescrever. Assim é o processo de criação literária; o escritor vai refazendo o texto sucessivas vezes até considerá-lo pronto. Esta é a norma para quem escreve.
E a gente acorda, vai falando porta afora e escutando o blá-blá-blá quotidiano, vai trabalhando, estudando e discursando, vai lendo e escrevendo, fazendo declarações de amor e tanto mais, sem pensar que estamos inseridos na vida através da língua, o nosso português. Que não é somente falado no Brasil, mas em mais outros países, como Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Até na China, na Região Administrativa de Macau.
Entre uma leitura e outra, já que tenho o hábito de ler dois livros ao mesmo tempo, percebo, a cada vez que recomeço a ler, as diferenças nos modos de pensar, na cultura em que os autores estão inseridos. É enriquecedor notar como as ideias mudam no tempo, no espaço e na individualidade de cada escritor. De fato, a leitura de Dostoiévski tem me feito respirar um tempo maior.
Na madrugada de 30 de maio de 2025, os ventos sopraram sobre a cidade, bateram, com delicadeza, nas janelas dos trovadores que amanheceram festejando a trova, uma tradição poética e literária que nasceu na Idade Média, em Portugal. Assim começou a LXVI edição dos Jogos Florais de Nova Friburgo que realizou atividades diversas, como a recitação dos versos, premiação e encontros acalorados. Foram três dias de júbilo, em que os trovadores, vindos de vários lugares do Brasil, se confraternizaram, fazendo a cidade vibrar.
Ao passar na Genipapo Livraria, conversei com a livreira, Maria Fernanda, sobre ecologia, e ela me indicou o livro “Maneiras de Ser: Animais, plantas, máquinas: a busca por uma inteligência planetária”, escrito pelo jornalista inglês James Bridle. O tema imediatamente me interessou porque somos partes integrantes da natureza, tanto quanto uma árvore, uma pedra e um tigre.