Blog de paulafarsoun_25873

Gênio da lâmpada

sexta-feira, 19 de julho de 2024

     Em algum momento da vida a gente se depara com aquele sonho de criança de encontrar o gênio da lâmpada mágica com a possibilidade de fazer três pedidos. Lembro-me de ouvir desejos como “todo chocolate do mundo”; “férias o ano inteiro”; “vídeo game novo”; “ não precisar tomar banho”; “morar perto dos amigos”; “que papai noel existisse” e etc.

     Em algum momento da vida a gente se depara com aquele sonho de criança de encontrar o gênio da lâmpada mágica com a possibilidade de fazer três pedidos. Lembro-me de ouvir desejos como “todo chocolate do mundo”; “férias o ano inteiro”; “vídeo game novo”; “ não precisar tomar banho”; “morar perto dos amigos”; “que papai noel existisse” e etc.

            As crianças um dia crescem e os milagres pretendidos por nós, adultos, ganham outra dimensão. Aproveitei a deixa e fiz uma singela “pesquisa de campo” com algumas pessoas que encontravam-se perto da tela do Aladdin naquele momento: “quais seriam seus três pedidos?”. Agreguei uma dificuldade à pergunta: “ – responda sem pensar”. E ouvi, curiosa e atenta, as suas respostas. E foram justamente elas que me levaram à novas reflexões.

            Percebi dentro daquele contexto em que estávamos, que ninguém demandaria do gênio a paz mundial, alimentos orgânicos para todos, preservação do meio ambiente ou liberdade. Que desperdício. Alguém precisaria pugnar por esses milagres, não? Felizmente, o amor entrou no rol de pedidos. Ninguém falou sobre amor pela humanidade ou por amar a todos os seres. As respostas foram assim: “encontrar o amor esse ano”; “ser feliz no amor”; “não sofrer por amor”; “finalmente ter sorte no amor”. Percebi que relacionamento importa e muito, a ponto de valer pelo primeiro dos três quaisquer pedidos no mundo.

            O que também não me surpreendeu foram os pedidos ligados à parte material e financeira; “ganhar na mega sena”; “quitar minhas dívidas”; “comprar meu apartamento”; “ficar rico sem trabalhar”. As respostas foram mais ou menos essas. De fato, é uma preocupação de muitas pessoas.

            Diante da realização no amor e o dinheiro no bolso com as contas pagas, fiquei ansiosa pelos próximos últimos pedidos. Bem, devo dizer alguns deles optaram por viagens, uma delas desejou aumentar a família, um quis a tão sonhada felicidade e outros desejaram amenidades.

            A brincadeira passou, mas a reflexão permaneceu, afinal de contas, quem não começa um ciclo de ano novo pensando mais, planejando mais e sonhando mais? Considerando que o milagre dos três pedidos não passa de uma ficção e não acontecerá com ninguém, o que cada um deles está efetivamente fazendo para alcançar os objetivos não tão milagrosos assim? O que fazem e melhoram em si como pessoas para atraírem o amor verdadeiro? O quanto se esforçam e trabalham para realizarem conquistas financeiras? É bom pensarmos nisso e também sobre a razão de sermos egoístas a ponto de gastarmos nossos desejos emanados para o universo com propósitos tão-somente individuais e não coletivos também.

            E você, quais os três desejos que transformariam sua vida seriam feitos ao gênio da lâmpada mágica? Sejam vocês, ou melhor, sejamos nós os nossos próprios realizadores de sonhos.

 

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Nova etapa

sexta-feira, 12 de julho de 2024

Mesmo quando a maré está mansa, não significa que mansa para sempre permanecerá. Basta o sopro do tempo, o rebolar das correntezas, a inspiração da deusa do mar e as ondas vêm. É o movimento natural. Não existe maré calma eterna. Existe vai e vem da natureza, reboliço dos ventos, e logo a onda vem. Nós não escolhemos seu tamanho, não dimensionamos seu perigo, nem prevemos sua velocidade.

Mesmo quando a maré está mansa, não significa que mansa para sempre permanecerá. Basta o sopro do tempo, o rebolar das correntezas, a inspiração da deusa do mar e as ondas vêm. É o movimento natural. Não existe maré calma eterna. Existe vai e vem da natureza, reboliço dos ventos, e logo a onda vem. Nós não escolhemos seu tamanho, não dimensionamos seu perigo, nem prevemos sua velocidade. Elas chegam e nossas escolhas passarão por estarmos dentro ou fora do mar, condicionarmos nosso fôlego, aprendermos a nadar, aguçarmos nossa sensibilidade para identificarmos eventual perigo, domarmos o espírito aventureiro, ou controlarmos o medo.

A onda pode ser uma marola ou chegar com a força de um tsunami, sei lá, quem vai saber? Seja o que for, precisamos estar preparados para as mudanças que podem acontecer no minuto seguinte da vida. E que podem ser ótimas, mesmo se fáceis não forem.

Gosto de comparar a vida com a natureza, pois ao observarmos carinhosamente essa engrenagem divina maravilhosa, nos damos conta de que somos parte de tudo isso e não seus senhores soberanos.

Encarar desafios pode ser um treinamento grandioso de superação. Há um enorme prazer embutido nesse exercício contínuo de superarmos a nós mesmos. Quão sem graça seria a existência se a vida fosse um marasmo contínuo do início ao fim. Bom, acredito que isso sequer seria uma opção já que querendo ou não, o dia a dia é repleto de novos desafios.

Por que não acolher cada um deles como uma nova chance, uma oportunidade premiada, um grande negócio a ser feito? Transformar o medo pelo novo por motivação para seu encontro pode ser transformador. Ao invés de vislumbrarmos a muralha amedrontadora que pode estar por vir, podemos escolher avistar o belo oceano na condição mais linda que o Universo pode ofertar.

Fácil não é. Mas nossa postura diante de um desafio vai gerar uma energia que pode ser positiva ou negativa, a depender de como estamos acolhendo esse movimento da vida. Abdicações, renúncias, esforço... preparação. Preparar-se para a execução da nova etapa. E durante todo o processo é aconselhável o treinamento do sentimento de gratidão, pois certamente se estamos diante de desafios, é sinal de que estamos vivos e em atividade, o que já merece nosso mais profundo agradecimento.

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Quebra-cabeça

sexta-feira, 05 de julho de 2024

            Melhor viver sem trapaça. Observando com o olhar de pessoa leiga os eventos da natureza, consigo, ainda que mais ou menos, perceber uma lógica, o sentido da lei de causa e efeito. Embora sinta dó, assimilo que o predador e a presa tenham entre eles uma questão de sobrevivência, de subsistência para resolverem. O consolo para além da questão do ciclo natural da vida é a certeza de que os animais agem por instinto e não por intenção de fazer um mal. O quebra-cabeça se encaixa.

            Melhor viver sem trapaça. Observando com o olhar de pessoa leiga os eventos da natureza, consigo, ainda que mais ou menos, perceber uma lógica, o sentido da lei de causa e efeito. Embora sinta dó, assimilo que o predador e a presa tenham entre eles uma questão de sobrevivência, de subsistência para resolverem. O consolo para além da questão do ciclo natural da vida é a certeza de que os animais agem por instinto e não por intenção de fazer um mal. O quebra-cabeça se encaixa.

            No entanto, quando os animais envolvidos nessa relação de caça e caçador são os humanos, não consigo assimilar. A começar, nós, humanos, somos munidos de inteligência e raciocinamos sobre nossos atos. Não precisamos nos alimentar uns dos outros. A disputa por espaços pode seguir uma linha da boa convivência. De fazer a coisa certa, ainda que essa definição não seja unânime. Nem equânime. Somos seres gregários que aprendemos ao longo dos séculos que regras são necessárias para que os limites individuais sejam respeitados. Com o passar do tempo, desenvolvemos a capacidade de nos organizarmos enquanto sociedade e nos estabelecemos detentores de direitos e obrigações. Há leis que nos resguardam, pois sem elas, seria bem mais difícil entendermos tais limites, prerrogativas e deveres.

            Pois bem. E o que temos feito com isso? Quem ensinou aos homens e mulheres que para alcançar um objetivo, “permite-se” o jogo sujo, a clássica pisada na cabeça do outro para galgar o degrau de cima? Não era para ser assim, honestamente.

            Fazendo uma analogia com a natureza, realmente observamos em se tratando dos animais, são feitas emboscadas para abocanhar as presas, que alguns chegam sorrateiramente para atacar, que outros ficam à espreita aguardando a oportunidade ideal para abocanhar o alvo. Vemos a aranha preparar a armadilha para acolher o inseto em sua teia. O animal de maior porte muitas vezes utilizando de seu privilégio da força para atacar o menor. E vice e versa. A ligeireza e a sagacidade de alguns animais pequenos os leva à conquista de objetivos grandiosos.

E assim a ordem natural das coisas vai acontecendo. E vejamos: nessa lógica que a olhos nus parece dar certo, não há ninguém raciocinando, não há a matéria, o dinheiro como objetivo, os sentimentos de ganância, poder, egoísmo, soberba, passam longe.

            Mas, e conosco, seres humanos? Temos o privilégio da inteligência, a capacidade de discernimento, somos naturalmente semelhantes entretanto, fazemos um uso discutível da força, da capacidade intelectual, do poder de transformar o mundo para melhor. Ao mesmo tempo em que descobrimos cura de doenças, criamos bombas atômicas, poluímos os rios, sacrificamos animais, desenvolvemos a violência, desrespeitamos o espaço do outro, desqualificamos o colega para ocupar seu espaço, mentimos, nos corrompemos, utilizamos a máquina pública para fazer o mal, para enriquecer ilicitamente, humilhamos os outros.

            Nossas armadilhas são ofensivas. Nossas presas são os seres que deveríamos amar - e proteger, como as espécies animais fazem com os seus. Utilizamos nossa fábrica de sentimentos para fomentar a ira, o materialismo, a competitividade, a inveja, a ganância, o egoísmo. Quando começamos a errar? E até quando vamos continuar errando? Esse plural me incomoda, e só o utilizo por pertencer a essa grande “espécie” de animais humanos. Do jeito que as coisas estão, estou quase pedindo para me “incluírem fora dessa”.

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Faz sentido pra você?

sexta-feira, 28 de junho de 2024

            “A vida é um sopro”. Como essa frase faz sentido. Quando o “combo” reflexivo que envolve as dores das perdas, do medo do que poderia ter sido e não foi, da consciência de que a vida passa, de fato, muito rápido, que o tempo realmente não volta e que todos aqueles conselhos de avós que ouvimos quando crianças nada mais são do que a expressão da vida real com a qual invariavelmente nos deparamos, muitas vezes pensamos: precisamos ser felizes. Hoje.

            “A vida é um sopro”. Como essa frase faz sentido. Quando o “combo” reflexivo que envolve as dores das perdas, do medo do que poderia ter sido e não foi, da consciência de que a vida passa, de fato, muito rápido, que o tempo realmente não volta e que todos aqueles conselhos de avós que ouvimos quando crianças nada mais são do que a expressão da vida real com a qual invariavelmente nos deparamos, muitas vezes pensamos: precisamos ser felizes. Hoje.

            O conceito de felicidade é tão flutuante e complexo, quanto relativo. É típico imaginarmos que “com saúde está tudo ótimo”. Viver sem dor, não enfrentar um diagnóstico triste nem tampouco um tratamento difícil, estar com todas as taxas indicadas no exame de sangue em dia, vida transcorrendo perfeitamente, sem nenhuma enfermidade é, de fato, uma existência à beira de um oásis. Contudo, pergunto: basta ter saúde plena para que o indivíduo se sinta verdadeiramente feliz?

Quantas pessoas em perfeitas condições de saúde reclamam noite e dia da ausência de dinheiro, amor, da beleza, do dia cinza, do amigo que não respondeu à mensagem, do sapato que não comprou, daquilo que não fez e não tem, da comparação com todo mundo e sentem-se infelizes? A perspectiva é completamente diferente quando a pessoa encontra-se acamada, por exemplo.

            Uma pessoa feliz que vive em plena paz e harmonia, consegue direcionar mais energia a alguns setores de sua vida do que uma outra que viva o conflito todos os dias em sua vida. Há quem tenha tudo e sinta um vazio completo. Há quem não possua materialmente nada e se sinta preenchido de tudo o que faça sentido. Ser feliz é também uma escolha, cujo ponto de partida pode ser justamente agradecer por aquilo que já se tem. E não me refiro a coisas materiais, propriamente.

Qual seria o pacote ideal de desejos? Nesse universo compelido pelas redes sociais em que consumimos diariamente a felicidade alheia de forma escancarada, para todos os gostos, o desafio parece ser ainda maior. Se a metade vazia do copo, a razão daquele estado de espírito da tristeza for a falta do amor, a solidão, a sensação de distanciamento de um par para amar, com alguns cliques e a expressão do amor se fará na tela do celular ou do computador. Felicidade alheia. Se é a prosperidade o valor mais almejado da vez, também as redes sociais podem se encarregar de apresentar diversas formas de que o dinheiro não deixou de circular, de que as pessoas estão consumindo, investindo, viajando, realizando. Se basta o físico ideal, a aprovação no concurso, o acesso à determinada universidade, a aquisição e um carro novo, seja o que for, as redes sociais também podem fomentar o desejo e afastar o indivíduo da realidade da sua própria vida.

            No fundo, para muitos ainda há de chegar um dia em que se perceberá que a felicidade, aquela felicidade mesmo, com f maiúsculo, não se compra, não se posta, não se vende. Felicidade genuína não se faz com marketing. Se faz com experiências. Com sentimentos. Com o rastro de luz que carregamos conosco ao longo da nossa vida. Que as expectativas da sociedade não existem para serem necessariamente atendidas. Que não apenas em par é possível vivenciar e vivificar o amor. Dá para ser ímpar. E ser feliz! Amor próprio, sabe?

A felicidade real é a busca nem sempre sã, nem vã. Mas necessária. O ser feliz nem sempre é possível. Mas não há beco sem saída que resista a uma expectativa de felicidade. Felicidade não deixa de ser também uma escolha. É um ato político por si só. Que precisa ser vivido, e não noticiado. Isso faz sentido pra você?

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Bom investimento

sexta-feira, 21 de junho de 2024

            Ele resolveu investir em si mesmo. Pensou sobre como começar. Resolveu, então, traçar o ponto de partida a começar por suas reflexões. Quis pensar na estratégia. Tentou entender-se. Inevitável. Autoconhecer-se antes de tudo. Como se diz, para quem sequer sabe aonde chegar, qualquer lugar pode ser o destino. Ele queria caminhos. Mergulhou, então, no universo quase desconhecido de saber mais sobre o que deveria saber. Atentou-se em buscar o que queria fazer. Esbarrou no desconhecimento sobre quem ele era. Enganou-se por subestimar a profundidade de seus anseios

            Ele resolveu investir em si mesmo. Pensou sobre como começar. Resolveu, então, traçar o ponto de partida a começar por suas reflexões. Quis pensar na estratégia. Tentou entender-se. Inevitável. Autoconhecer-se antes de tudo. Como se diz, para quem sequer sabe aonde chegar, qualquer lugar pode ser o destino. Ele queria caminhos. Mergulhou, então, no universo quase desconhecido de saber mais sobre o que deveria saber. Atentou-se em buscar o que queria fazer. Esbarrou no desconhecimento sobre quem ele era. Enganou-se por subestimar a profundidade de seus anseios

            Certo estava de prosseguir. Por instante sentiu-se em um beco sem saída, percurso sem volta. Mas decidiu se conhecer melhor, afinal, seria ele próprio o destinatário de todo o investimento projetado, não poderia apostar todas as fichas no desconhecido. Não queria ser a “zebra” da própria vida. Estava disposto a afundar, se preciso fosse. Resistiria de toda forma. Estava esperançoso por descobrir as asas imaginárias que o possibilitassem voar. Já amava o voo (tanto quanto a metáfora).

            Nesse processo, como investidor, percebeu que seus lucros seriam maiores se cuidasse muito bem do seu principal patrimônio, a que apelidou de templo. Referia-se à sua própria saúde. Ao seu corpo físico, mental, espiritual. Concluiu que a mola mestra da máquina, sua mente, estava mal da engrenagem. Enferrujada, em mal estado de funcionamento. Seria ela o início do processo. Começou a aplicar em seus cuidados. O retorno foi rápido. Estava certo de seu propósito e prosseguiu. O equilíbrio pretendido passava pela reforma interior e exterior. Mãos à obra. Logo percebeu que deveria concentrar em si os esforços da reforma, pois só ele se empenharia no nível desejado e conhecia bem o projeto.

            Feliz com o resultado, templo em equilíbrio, resolveu transmutar seu olhar sobre o mundo e sobre o outro. Fomentou práticas altruístas e quanto mais útil ao bem do próximo se tornava, mais se deparava com uma sensação até então inédita, que começou a desconfiar que fosse a tal felicidade. Ao olhar-se no espelho, o semblante ranzinza cedia espaço para um sorriso leve que despertava até uma vontade estranha de continuar sorrindo.

            Decidiu incrementar suas habilidades. Investir em conhecimento, aprimorar suas habilidades mais técnicas, ler bons livros, priorizar contatos com pessoas a quem admirava. Foi certeiro. O retorno veio à galope. E quanto mais cuidava do seu templo e desenvolvia suas habilidades, mais satisfeito estava por ter feito um bom negócio.  Mudou até seu conceito de riqueza. Sentiu-se detentor de um super poder, voltou a acreditar em si, enxergou seu potencial e percebeu-se habitante de um belo templo, cujas energias sentia-se de longe. Renasceu. Foi o melhor investimento de sua vida.

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Um expresso, por favor

sexta-feira, 14 de junho de 2024

Dia desses o cansaço brotava pelos poros. Semblante taciturno, aspecto de melancolia, postura encurvada. Todo mundo vive esse dia. E os conselhos surgiam na mesma velocidade que o sono: “você precisa comer”, “precisa dormir”, “precisa relaxar”, “precisa viajar”, “precisa se cobrar menos”, “ser menos ansiosa”, “gastar menos tempo no celular”, “se preocupar menos com os outros”, “dar o melhor de si dentro das suas possibilidades”, “entender que há limites”. Etc, etc, etc.

Dia desses o cansaço brotava pelos poros. Semblante taciturno, aspecto de melancolia, postura encurvada. Todo mundo vive esse dia. E os conselhos surgiam na mesma velocidade que o sono: “você precisa comer”, “precisa dormir”, “precisa relaxar”, “precisa viajar”, “precisa se cobrar menos”, “ser menos ansiosa”, “gastar menos tempo no celular”, “se preocupar menos com os outros”, “dar o melhor de si dentro das suas possibilidades”, “entender que há limites”. Etc, etc, etc.

Creio que nessas horas, muitos saibam como a xícara de um bom café pode ser um grande aliado. Foi então que lancei mão desse parceiro algumas vezes naquele dia. E a conta chegava: “você está bebendo muito café”, “café faz mal para o estômago”, “assim não vai dormir”, “não vai conseguir descansar”. Ok. Há um limite orgânico para desfrutar dos prazeres do café em um mesmo dia.

Que tal então lançar mão do prazer do chocolate? Aquele pedacinho depois do almoço, para adoçar a vida. E logo vem a sociedade cobradora indagar porque não o chocolate amargo. Ok, sigamos. Pausa para rir um pouco no grupo dos amigos pelo celular. E lá vem: “olha a postura”, “por isso o pescoço dói”, “você não desconecta, não consegue relaxar”. Tudo bem. De volta ao trabalho. Glorioso trabalho. E lá vem: “você trabalha muito”, “não consegue fazer uma pausa”, “não vai dar conta”, “precisa descansar”.

A sociedade cobradora adora ainda cobrar a conta dos acontecimentos. Já perceberam? Tudo já foi avisado, já foi alertado, já foi dito e já foi feito. Não sobra nada.  Aliás, tudo já é sabido, logo, não se precisa aprender mais nada. Nada como ser uma pessoa sã e observadora em meio a tudo isso. A ebulição dos fatos, os nervos à flor da pele, os ânimos inflamados e tanta gente cuidando menos de si e mais das vidas dos outros, nos mínimos e menos importantes detalhes.

No final das contas, no final do dia, ter um bom trabalho, poder desfrutar das xícaras de café quente, rir no grupo dos amigos e ter pessoas que se importam conosco é uma grande alegria. Viva a nossa gente cobradora. Quanto à sociedade sabe tudo, deixa pra lá. Pra agora, um café expresso e um pedaço de chocolate (meio amargo), por favor!

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Lapso

quinta-feira, 06 de junho de 2024

Em meio a um compromisso, uma reunião, pautas complexas, conversas à todo vapor e eis que um abismo se abre na mente que parece vazia de tudo e cheia de nada. Acontece. Um encontro muito esperado, tantos sentimentos por dizer, muita coisa a partilhar e eis que as palavras somem e os pensamentos embaralham, como resultado, um nada a dizer. Acontece. Uma aula a ser dada, pontos relevantes a ser enfatizados, tudo preparado. E eis que na hora, não se lembra de nada. Dá "um branco". Um lapso. Acontece. Faz parte da vida.

Em meio a um compromisso, uma reunião, pautas complexas, conversas à todo vapor e eis que um abismo se abre na mente que parece vazia de tudo e cheia de nada. Acontece. Um encontro muito esperado, tantos sentimentos por dizer, muita coisa a partilhar e eis que as palavras somem e os pensamentos embaralham, como resultado, um nada a dizer. Acontece. Uma aula a ser dada, pontos relevantes a ser enfatizados, tudo preparado. E eis que na hora, não se lembra de nada. Dá "um branco". Um lapso. Acontece. Faz parte da vida.

Passando pelo corredor do ônibus, a mochila esbarra na bolsa de outro passageiro, aquela situação constrangedora. Cai a carteira derruba o celular, se ajeita, respira e segue viagem. Quem nunca passou por isso? O garçom, equilibrando a bandeja do restaurante, copos, pratos, talheres, garrafas, se descuida e deixa cair tudo no chão. Acontece. Aquele furo dado, pessoas confundidas, abraço no amigo errado, a frase fora de hora, o papel entregue por engano. Coisas assim, tão cotidianas e às vezes embaraçosas, acontecem o tempo todo. Por mais desagradáveis que sejam e algumas vezes poderiam ter sido evitadas, acontecem.

Não é rara a vivência de embaraços desse tipo. Mas ultimamente, algo que vem sobressaindo em situações assim é a reação desproporcional de muitas pessoas a esses acontecimentos do dia a dia. Que somos seres reativos, sabemos. No entanto, há reações que a olhos nus parecem exageradas. Como se a barra de equilíbrio mudasse de lado. Um esbarrão sem querer no meio de uma rua cheia de gente pode resultar em gritos descompensados. Xingamentos. Uma brincadeira fora de hora pode ser estopim para o fim de uma "amizade". Um pisar em falso pode render uma agressão.

Penso que às vezes falta leveza. Complacência. Há um peso nos semblantes, ira nos olhares. Impaciência no ar. Espíritos armados, prontos para uma resistência a qualquer movimento tido por fora da curva. Frases atravessadas, impregnadas de raiva. Uma hora vem uma reação destemperada. Um grito. Às vezes, até um tiro. Infelizmente. Coisas cotidianas têm se transformado em ameaças à paz e ao bom convívio. É como se cada um de nós estivesse por trás de uma faixa amarela, da qual não se pode aproximar sob pena de se atritar com quem por ela se protege.

A autopreservação é necessária. Mas parece que nos esquecemos de decodificar os limites da tolerância, do respeito e da boa convivência. Pode parecer exagero, mas creio que devemos estar atentos às coisas simples desse cotidiano que se apresenta cheio de nuances e pessoas imperfeitas convivendo nesse mistério da vida, compartilhando um lugar comum no Planeta Terra, com missões nem sempre claras. Separar o joio do trigo. Entender que essa gente estabanada, sem jeito, que deixa o objeto cair, que troca nomes sem querer, que tem lapsos de memória em uma reunião, pode ser apenas gente que corre o tempo todo, que convive com uma sobrecarga de afazeres ou simplesmente anda cambaleando por aí.

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O que cabe em 30 dias?

sábado, 01 de junho de 2024

Cabe uma vida? Cabe a mudança de vida? Cabe a efemeridade da vida? Cabe! Proponho uma reflexão a cada um dos leitores. Do último mês pra cá, quantas coisas aconteceram? Provavelmente, muitas. Quantos reencontros? Quantas despedidas? Quantos abraços? Como foi sentir esperança? Brindar com alguém querido? Fazer planos? Viajou? Fez algum prato especial para incrementar o cardápio? Saboreou alguma iguaria de dar água na boca? Contraiu Influenza? Se afligiu? Está preocupado por alguém? E a rinite, voltou? Como foram os dias de calor fora de época? Sentiu medo? Se emocionou?

Cabe uma vida? Cabe a mudança de vida? Cabe a efemeridade da vida? Cabe! Proponho uma reflexão a cada um dos leitores. Do último mês pra cá, quantas coisas aconteceram? Provavelmente, muitas. Quantos reencontros? Quantas despedidas? Quantos abraços? Como foi sentir esperança? Brindar com alguém querido? Fazer planos? Viajou? Fez algum prato especial para incrementar o cardápio? Saboreou alguma iguaria de dar água na boca? Contraiu Influenza? Se afligiu? Está preocupado por alguém? E a rinite, voltou? Como foram os dias de calor fora de época? Sentiu medo? Se emocionou? Se despediu de alguém? Prometeu cuidar da saúde? Refez votos com seu amor? Está procurando um amor? Pretende estudar mais? Quer mais equilíbrio para sua vida? Quanta vida cabe em nossos dias! E como as coisas mudam rápido. Este é um fato com o qual precisamos lidar.

A vida se mostra efêmera todos os dias, não é? Por isso, nunca me pareceu tão sábio o básico conselho de aproveitarmos cada segundo e vivermos o dia de hoje com a plenitude que ele merece. Devemos gozar das boas companhias, desempenhar nossas funções com presença e realmente desfrutar do dia de hoje.

Uma conhecida me relatou esses dias tudo o que aconteceu na vida dela de um tempo para cá. A dinâmica foi intensa realmente. A família dela teve a alegria de um nascimento e a tristeza de uma despedida. Ela foi demitida em um mês e contratada por outra empresa no mês seguinte. De lá pra cá, uma sobrinha dela bateu com o carro. Ela, que pensava ter escapado do vírus da gripe, disse que está há duas semanas sofrendo agora com a Influenza. Lembra do emprego novo que ela conseguiu? Já foi dispensada antes mesmo de começar, pois não pôde iniciar suas funções laborais no dia combinado em razão dos sintomas gripais.

Todas essas estórias me foram contadas em um rápido encontro virtual e me fizeram refletir bastante ao desligar a chamada. E ela autorizou que estivessem nesta coluna uma mensagem clara sobre a importância de valorizarmos cada dia, cada momento, pois as circunstâncias mudam a todo instante.

E esta é uma mensagem que gostaria de registrar para vocês. Mesmo já imbuídos pela rotina e preocupações, pela maré de anseios e informações por todos os lados, pela vida multitarefas, é importante refletirmos sobre estarmos efetivamente presentes em tudo o que fazemos, em tudo o que vivermos. Presença. Que sejamos e estejamos presentes.

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Saudade boa

quinta-feira, 23 de maio de 2024

            Outro dia escrevi aqui o tanto que sentir saudade dói. Não há uma dor física que possa ser comparada. É algo que vem lá de dentro, das profundezas da alma, do fundo do coração. Saudade tem suas nuances. Pode nos mover em várias direções. Tem poder de ser mola propulsora para diversas ações. Saudade nos leva ao choro no travesseiro, no banho, na rua, em todo lugar. Conduz a lágrima de canto de olho que insiste em cair quando toca aquela música, quando olhamos aquela paisagem, quando fitamos uma foto. Muitas vezes, é o que nos derruba. É o sufoco sem conforto. A dor sem remédio.

            Outro dia escrevi aqui o tanto que sentir saudade dói. Não há uma dor física que possa ser comparada. É algo que vem lá de dentro, das profundezas da alma, do fundo do coração. Saudade tem suas nuances. Pode nos mover em várias direções. Tem poder de ser mola propulsora para diversas ações. Saudade nos leva ao choro no travesseiro, no banho, na rua, em todo lugar. Conduz a lágrima de canto de olho que insiste em cair quando toca aquela música, quando olhamos aquela paisagem, quando fitamos uma foto. Muitas vezes, é o que nos derruba. É o sufoco sem conforto. A dor sem remédio. O grito sem ruído. Outras vezes, é a motivação que nos eleva, a inspiração que nos guia, o amor que preenche o invisível.

            Hoje seria um dia propício para falar de saudades, pois tudo o que provoca as minhas, são de estima constante. Logo, todo dia é dia quando se tem do que e de quem sentir saudade – ao meu ver, uma dádiva. Mas é também um momento de falar do oposto. Da saudade daquilo que podemos suprir, das pessoas que podemos abraçar, do reencontro com familiares que chegam de longe, das memórias afetivas que podemos revisitar. Ah! É inenarrável o prazer de estar junto novamente, de refazer os votos e os planos, de sentir o cheiro familiar, o aconchego que tem morada certa.

            Quais os limites desse sentimento sem limite? Vale a redundância da pergunta para refletirmos sobre o que fazemos com o tempo que temos ao lado de tudo aquilo que quando ausente, nos faz nostálgicos. Os sentimentos realmente atravessam fronteiras, ultrapassam todas as balizas físicas e imagináveis. Um ente querido vivendo na China continua sendo o ente querido. Esse é o ponto. O que nos faz transcender às barreiras materiais merece nosso tempo, o foco e a direção de nossas vidas. Com amadurecimento e pitadas de autoconhecimento, o sentimento de saudade que não pode ser saciada e daquela que podemos suprir de alguma maneira, pode se tornar um grande aliado.

            E se temos a chance de criar novas oportunidades em encontro a tudo o que nos é caro e deixará saudade, que sejamos gratos pela oportunidade e que saibamos cuidar de cada momento novo dessa vida que às vezes sorri para a gente. Privilégio é poder reviver aquilo que nos faz bem. Viver momentos novos, com temperos especiais. Construir a existência sabendo definir o que merece toda a nossa energia e o que vale a pena deixar passar. Sabedoria. Deixar ir e escolher o que deve ficar. Saudade pode ser um bom critério. Do que já foi. Do que é. Do que estar por vir.

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Redes de Solidariedade

sábado, 18 de maio de 2024

Nossa querida cidade, Nova Friburgo, celebrou na última quinta-feira, 16, mais um ano de vida. No último fim de semana, o cantor friburguense Benito di Paula esteve aqui para participar dos festejos. E paralelamente a isso, estamos testemunhando uma catástrofe no Rio Grande do Sul que nos remete a sentimentos conhecidos e vividos por nós, de tristeza, medo, desolamento, perdas, luto, revolta, solidariedade, empatia e tantos outros. Que situação difícil e desoladora!

Nossa querida cidade, Nova Friburgo, celebrou na última quinta-feira, 16, mais um ano de vida. No último fim de semana, o cantor friburguense Benito di Paula esteve aqui para participar dos festejos. E paralelamente a isso, estamos testemunhando uma catástrofe no Rio Grande do Sul que nos remete a sentimentos conhecidos e vividos por nós, de tristeza, medo, desolamento, perdas, luto, revolta, solidariedade, empatia e tantos outros. Que situação difícil e desoladora!

Lembrei-me que o cantor, conhecido pela canção “Homem da Montanha”, nos apresentou no início do ano de 2011, após a tragédia climática que nos assolou e vitimou milhares de friburguenses, a canção ‘Me ajude a salvar a montanha que chora”. Lembro-me de ter ouvido, chorado, me identificado e fortalecido com aquelas palavras. A letra dizia em um de seus trechos: “sou homem da montanha, nunca tive sofrimento, é duro ver o meu povo sofrendo. Por Deus eu peço e venho pedir agora, me ajude a salvar a montanha que chora”. Acho que este foi o desejo de todos nós.

Naquele contexto, tive a oportunidade de escrever um texto para A VOZ DA SERRA que recebeu título similar ao nome da música. Foi uma dor inenarrável sermos obrigados a acreditar que o mundo caiu sobre nossas cabeças. Dor pior foi aceitar que tantas pessoas se foram, tantas casas ruíram, tantos bens construídos com o esforço de uma vida inteira se destroçaram, que tantos sonhos se perderam. Um turbilhão de emoções inimagináveis se embaralhou em nossos corações. Um sentimento que parecia apenas ser realmente captado, verdadeiramente sentido na raiz por nós que somos friburguenses de corpo, alma e coração e que podíamos sentir aquela imensa tristeza em um contexto de pertencimento, de dentro para fora. A dor da perda de vidas, a dor da necessidade de reconstruir tudo o que virou lama em poucos minutos, a dor de ver nosso povo chorando. E a dor de não sabermos como seria o dia de amanhã.

Em meio à desolação e ao desespero instalados desde o dia 11 de janeiro de 2011, percebi um amor que eu já conhecia, mas que até então era imensurável: o amor pelo lugar em si, pela terra, pela cidade e tudo o que constava dela. A solidariedade, a união, a cumplicidade e o amor ao próximo deram lição ao mundo! O caos da região serrana ofuscou as maldades e trouxe à tona os sentimentos mais nobres dos seres humanos. Tudo isso fez renascer a esperança por um mundo melhor.

O cenário mudou. Andar pela cidade requereu muita força para que o desespero não impedisse de ver adiante. Muita tristeza nos olhos das pessoas. Ninguém não perdeu nada. Todos perdemos muito. Uns mais, outros menos, mas todos perdemos. É realmente duro ver o cenário marrom, os bombeiros, o exército, a polícia, os caminhões de donativos, tratores, corpos, os voluntários andando por toda parte. No céu muito helicópteros; na praça, um hospital; nos rios, entulhos; nas montanhas, rasgos de terra. E por todos os cantos: solidariedade!

Treze anos depois, comemoramos mais um 16 de maio em outras circunstâncias. Mas nossos irmãos choram no Sul. E essa dor, também é nossa. Mais uma vez, vemos desespero, tristeza, medo, desamparo, incertezas ao mesmo tempo em que redes incríveis de solidariedade nos levam a ter esperança nos seres humanos. Novamente, o cenário desolador ocupa os noticiários e milhares de pessoas encontram-se sem casa, sem chão, sem aconchego, sem agasalho, sem paz, sem quase nada. Muitos perderam a vida. Não podemos, em hipótese alguma, ignorar tamanha dor. Façamos nossa parte da forma como pudermos inclusive para transbordarmos a solidariedade anteriormente por nós recebida. A união faz a força, sim! 

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