Blog de terezamalcher_17966

“Parabéns pra você”

segunda-feira, 01 de novembro de 2021

Outubro é o mês de vários aniversários de pessoas amigas, inclusive do meu. Por estes dias, andei cantarolando “Parabéns pra Você”. Repentinamente, a letra me chamou a atenção por sua simplicidade e objetividade. Não ouso dizer que ela possua caráter literário, entretanto é uma composição de valor pelo significado que possui. Cantar “Parabéns pra Você” faz parte da cultura, além de ser uma forma de homenagear a trajetória existencial de uma pessoa, dado que cada ano vivido é uma conquista a ser respeitada. Ah!, não são todos que conseguem comemorar mais um ano de vida.

Outubro é o mês de vários aniversários de pessoas amigas, inclusive do meu. Por estes dias, andei cantarolando “Parabéns pra Você”. Repentinamente, a letra me chamou a atenção por sua simplicidade e objetividade. Não ouso dizer que ela possua caráter literário, entretanto é uma composição de valor pelo significado que possui. Cantar “Parabéns pra Você” faz parte da cultura, além de ser uma forma de homenagear a trajetória existencial de uma pessoa, dado que cada ano vivido é uma conquista a ser respeitada. Ah!, não são todos que conseguem comemorar mais um ano de vida.

Canta-se “Parabéns pra Você” pelos quatro cantos do país. É uma melodia festiva, ritmada pelo bater de palmas, movimentos corporais e cantada em grupo geralmente. Confesso que nunca tinha me dado conta da importância desta música, que expressa afetividade, esperança e desejo para que o aniversariante continue a realizar seus propósitos da vida.

Mas não é só isso que “Parabéns pra Você” me encanta. São as histórias da melodia e da letra. Mesmo distintas, perduraram no tempo e no espaço, desde a segunda metade do século XIX. Além de revelarem inteligência preciosa de quem as criou, foi composta por mulheres! A melodia tem origem na canção “Good Morning to All” composta pelas irmãs e professoras norte-americanas Mildred J. e Patty Hill em 1893, com a finalidade de criar uma canção para as crianças cantarem na entrada da escola. A composição foi registrada em 1893, o que gerou o pagamento de milhões de dólares em royalties. Em 1924 foi publicada num livro de Robert Coleman, “Celebrations Songs”, tendo o primeiro verso alterado para “Happy Birthday to You”, (Feliz Aniversário a Você).

No Brasil, a música começou a ser cantada em inglês em 1930. Em 1942, o compositor e radialista, Almirante, da Rádio Tupi, no Rio de Janeiro, organizou um concurso para selecionar uma letra harmônica com a música. O júri foi composto pelos Imortais da Academia Brasileira de Letras: Olegário Mariano, Cassiano Ricardo e Múcio Leão. Cerca de 5.000 pessoas participaram do concurso, tendo como vencedora a paulista de Pindamonhangaba, Bertha Celeste Homem de Melo.

“Parabéns a você,

Nesta data querida,

Muita felicidade,

Muitos anos de vida”

Com o passar do tempo, a música foi naturalmente ampliada pelo bordão:

“É pique, é pique. É pique, é pique, é pique!

É hora, é hora. É hora, é hora, é hora!

Rá-tim-bum!”

(o nome do aniversariante é repetido três vezes)

É possível que esse bordão tenha sido criado na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco pelos estudantes para animar as festas de aniversário.

Amei escrever esta coluna! Vou cantar com mais alegria ainda “Parabéns pra você.”

 

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

O soneto da Academia Friburguense de Letras

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Hoje, vou fazer uma homenagem ao patrono da Academia Friburguense de
Letras, Julio Salusse, autor de um dos sonetos mais lindos de todos os tempos,
publicado em vários países, um dos poemas mais declamados no final do século XIX e
início do século XX. “Cisnes...”.

A vida, manso lago azul algumas
Vezes, algumas vezes mar fremente,
Tem sido para nós constantemente
Um lago azul sem ondas, sem espumas,

Hoje, vou fazer uma homenagem ao patrono da Academia Friburguense de
Letras, Julio Salusse, autor de um dos sonetos mais lindos de todos os tempos,
publicado em vários países, um dos poemas mais declamados no final do século XIX e
início do século XX. “Cisnes...”.

A vida, manso lago azul algumas
Vezes, algumas vezes mar fremente,
Tem sido para nós constantemente
Um lago azul sem ondas, sem espumas,

Sobre ele, quando desfazendo as brumas
Matinais, rompe um sol vermelho e quente,
Nós dois vagamos indolentemente,
Como dois cisnes de alvacentas plumas.

Um dia um cisne morrerá, por certo:
Quando chegar esse momento incerto,
No lago, onde talvez a água se tisne,

Que o cisne vivo, cheio de saudade,
Nunca mais cante, nem sozinho nade,
Nem nade nunca ao lado de outro cisne...

Julio Salusse nasceu na Fazenda do Gonguy, no atual município de Bom jardim,
em 1872, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1948. Cursou Direito, tornou-se promotor
público e exerceu atividades políticas em Nova Friburgo. Como escritor, publicou três
livros de poesias, “Nevrose Azul” (1894), em que “Cisnes” foi publicado, “Sombras”
(1901) e “Fitas Coloridas”. E uma novela, “A Negra e o Rei” (1927).

A beleza do soneto está na fidelidade, atitude valorosa daquele que tem
compromisso com quem ama, que expressa verdade em suas intenções, palavras e
ações, que jamais abandona a pessoa querida. Ah, como Saint-Exupéry tinha razão
quando falou da responsabilidade do gostar. O amor não pode ser banalizado, precisa
ser honrado em cada momento da relação.
Certa vez, na Fazenda Marambaia, Corrêas, região serrana do Rio de Janeiro, vi
um casal de cisnes negros nadando num lago. Os dois vagavam sobre as águas em
calmaria, sempre um ao lado do outro. Caso um se adiantasse, logo parava, olhava
para trás e aguardava o companheiro. Eles deslizavam silenciosamente, numa paz
encantada. Parceira. Eu recitava, em pensamento, o soneto de Salusse, não só para
tornar pleno aquele instante, mas para compreender o significado do
companheirismo. A poesia de Julio me mostrava, em cada verso, o espetáculo que eu
via naquele lago, uma paisagem serena, iluminada pelo sentimento daquelas aves
aquáticas, que tinham tanto a me ensinar.
“Cisnes” é mais do que uma poesia. É uma proposta de vida, um modo de
mostrar o acontecer da vida. Naquela manhã, em Corrêas, observei a simplicidade,
carregada de amor e consideração.
“Cisnes” precisa ser mais lido e declamado para adentrar os afetos, acalentar
desejos e reforçar valores. Não foi à toa que a Academia Friburguense de Letras elegeu
Salusse como patrono.

Aqui cabe uma observação: o cisne possui características especiais. Além de ser
uma ave belíssima, aquática e inteligente, representa o amor eterno, uma vez que
possui apenas um parceiro durante a vida, sendo-lhe fiel até a morte. É um animal
elegante e demonstra harmonia nos movimentos, inclusive quando voa. O
acasalamento começa com movimentos sensuais, principalmente no pescoço, quando
o macho e a fêmea unem suas cabeças, formando um coração.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Os mestres são como pássaros, espalham sementes!

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Hoje, 15 de outubro de 2021, acordei pensando que os verdadeiros mestres não
precisam de salas de aula, nem de púlpitos. Precisam de asas. São como pássaros,
passam a vida espalhando sementes.
Saint-Exupéry, meu mestre maior, era aviador e, pelos tantos céus que voou, foi
deixando sementes. Assim, quero abraçar os professores com os pensamentos dele,
tão ricos de humanidade.
. “Você é eternamente responsável por aquilo que cativou”. (do personagem do
livro “O Pequeno Príncipe”, traduzido por Ferreira Gullar).

Hoje, 15 de outubro de 2021, acordei pensando que os verdadeiros mestres não
precisam de salas de aula, nem de púlpitos. Precisam de asas. São como pássaros,
passam a vida espalhando sementes.
Saint-Exupéry, meu mestre maior, era aviador e, pelos tantos céus que voou, foi
deixando sementes. Assim, quero abraçar os professores com os pensamentos dele,
tão ricos de humanidade.
. “Você é eternamente responsável por aquilo que cativou”. (do personagem do
livro “O Pequeno Príncipe”, traduzido por Ferreira Gullar).
. “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos”.
. “Se você quer construir um navio, não chame as pessoas para juntar madeira ou
atribua-lhe tarefas e trabalho, mas sim ensine-os a desejar a infinita
imensidão do oceano”.
. “Se queres compreender a palavra “felicidade”, indispensável se torna entendê-
la como recompensa e não como fim”.
. “Sempre há outra chance, uma outra amizade, um outro amor. Para todo fim,
um recomeço”.
. “A verdadeira solidariedade começa onde não se espera nada em troca”.
. “Nada é pequeno no amor. Quem espera as grandes ocasiões para provar a sua
ternura, não sabe amar”.
. “Na vida não existem soluções. Existem forças em marcha: é preciso criá-las e,
então, a elas seguem-se as soluções”.
. “O futuro você não pode prever, mas permitir que ele aconteça”.
. “As pessoas são solitárias porque constroem muros ao invés de pontes”.

. “O futuro não é o lugar aonde estamos indo, mas um lugar que estamos
criando. O caminho para ele não é encontrado, mas construído, e o ato de fazê-lo
muda tanto o realizador quanto o destino”.
Para finalizar, penso que os professores que “passam por nós, não vão sós.
Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

O silêncio do rosto

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

A coluna da semana anterior, baseada no texto “O Espelho”, de Guimarães Rosa, contido no livro “Primeiras Estórias”, foi-me intensa, mais ainda pela leitura do livro “As Meninas”, de Lygia Fagundes Teles, no Clube de Leitura Vivências. As leituras me causaram quase um transtorno quando uma ideia me rondou a semana, instigando-me a refletir e a pesquisar sobre rostos. Meu travesseiro sabe disso... 

A coluna da semana anterior, baseada no texto “O Espelho”, de Guimarães Rosa, contido no livro “Primeiras Estórias”, foi-me intensa, mais ainda pela leitura do livro “As Meninas”, de Lygia Fagundes Teles, no Clube de Leitura Vivências. As leituras me causaram quase um transtorno quando uma ideia me rondou a semana, instigando-me a refletir e a pesquisar sobre rostos. Meu travesseiro sabe disso... 

O rosto tem a expressividade do jardim, que mostra como é cuidado, as vidas que guarda, as lágrimas sorvidas por suas terras e os sonhos percebidos pelas abelhas ao colherem o néctar das flores. O jardim fala através do silêncio. O rosto também. Caso o ser que nele habita oculte algo, acaba sendo denunciado através de um trejeito. Os olhos de lince são investigadores competentes, e, diante deles, rosto algum consegue ser dissimulado por longo tempo.

O espelho reflete o rosto que está à sua frente com todas as rugas que o revelam. As rugas não têm o que contar? A personagem Ana Clara, do romance “As Meninas”, tem um rosto marcado pelas tragédias que passou que fizeram com que as mágoas, os infortúnios e as perversidades que sofreu definissem sua fisionomia. Pelo menos no início da leitura não é possível vislumbrar a limpidez do seu rosto e a alma que o reveste. 

A maestria de Guimarães Rosa e de Lygia Fagundes Teles consegue nos dizer que o rosto é a síntese de uma existência. Até na morte é capaz de continuar a falar e a exclamar. 

Os rostos são desafiadores aos artistas. As expressões dos rostos pintados nas telas “Moça de Brinco de Pérola”, Johannes Wermeer, “O Almoço dos Banqueiros”, Renoir, e “Os Retirantes”, Portinari, revelam os sentimentos das pessoas representadas nas imagens. 

 No “Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, o rosto é capaz de revelar a não aceitação da passagem da vida e dos valores que humanizam a existência. Tomado por uma vaidade extrema e desejoso da juventude eterna e prazerosa, Dorian vende sua alma ao diabo para que, em vez dele, seu retrato envelheça e desapareça. Seu desejo é realizado. Sua imagem envelhece, registrando os traços ruins que vão marcando especialmente seu rosto, que vai ficando tão terrível que ele não suporta vê-lo. 

As transformações do rosto confirmam que nascemos, crescemos e morremos. Que somos responsáveis pelas decisões e caminhos que trilhamos. Que podemos ser movidos pela esperança. Que temos possibilidades e limitações.

 

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

As confidências entre o espelho e nós, os refletidos

segunda-feira, 04 de outubro de 2021

Já disseram que aquilo que não está na Bíblia, está em Shakespeare. Eu
acrescentaria que também está em Guimarães Rosa. No seu conto-crônica, “O
Espelho”, contido no livro “Primeiras Estórias”, editora Nova Fronteira, Rosa revela a
maestria de escritor e filósofo através das reflexões a respeito do que o espelho pode
ou não mostrar a quem se posiciona diante dele. Sua inteligência e domínio da Língua
Portuguesa constroem um texto raro, capaz de desvendar almas. Ah, a alma do

Já disseram que aquilo que não está na Bíblia, está em Shakespeare. Eu
acrescentaria que também está em Guimarães Rosa. No seu conto-crônica, “O
Espelho”, contido no livro “Primeiras Estórias”, editora Nova Fronteira, Rosa revela a
maestria de escritor e filósofo através das reflexões a respeito do que o espelho pode
ou não mostrar a quem se posiciona diante dele. Sua inteligência e domínio da Língua
Portuguesa constroem um texto raro, capaz de desvendar almas. Ah, a alma do
espelho diante de uma pessoa!, que experiências pode proporcionar a este vivente?
Quais mistérios estão contidos numa lâmina de vidro? O espelho nada mais é do
que uma superfície que reflete o raio luminoso numa direção em vez de absorvê-lo ou
espalhá-lo em várias direções. Os raios que partem de vários pontos de um objeto e
incidem sobre seu plano refletor convergem para outros pontos com precisão. Diante
do espelho, a pessoa se vê com notável exatidão.
O espelho reflete o rosto e o corpo, as feições e os trejeitos de uma pessoa. Mas
como será que são percebidos por ela? Que fidelidade pode ter consigo diante da
própria imagem? De acordo com o olhar de quem se observa, o espelho pode mudar
de caráter, ser bom ou ruim, impróprio ou companheiro. Quantos segredos pode
guardar de um rosto? Quantas vezes foi quebrado num ato de fúria? Ou mesmo
beijado. Quem já não sorriu ou chorou ao ver-se numa figura irreal, dotada de
extraordinária verdade?
Olhar-se frente a frente pode ser um desafio, tão difícil quanto estar diante de
uma tribuna inquisidora. O espelho é imparcial e silencioso. Revelador, porém. É
tácito. Não requer interlocutores, nem professores para dizer verdades a quem está se
vendo através dele. Não é falso, sorrateiro ou enganador. Nem tão pouco juiz. Tem
lealdade com a realidade, apenas. A traição, entretanto, está no olhar. Por maior
intenção que tenha para ocultar sentenças, o espelho surpreendentemente deflagra as
resoluções inquestionáveis impostas pela vida. Ai, pode promover a reflexão de
valores e opiniões.

As fraquezas humanas fazem o olhar ficar viciado, vendo o que é conveniente ou
não. Os olhos podem se acostumar com o inverso e com o vazio. Ah, a visão tem
precariedades, deve-se duvidar dela, portanto. Sempre e principalmente diante do
espelho. Por que os animais negam a ver-se no espelho? O espelho reflete a alma de
um ser, vestido por um corpo, e nós, os humanos, não conseguimos ou não queremos
percebê-la. Será que temos medo de notar as deformações que guardamos por trás
das aparências?
Só conseguimos nos ver quando somos visíveis, e o espelho, apenas o espelho,
nos proporciona esse encontro frente a frente. O defrontar-se. Talvez seja arrepiante
permitir o enfrentamento da alma do espelho com a nossa, quando haverá a grande e
autêntica confidência. E o olhar, enfim, poderá se tornar infinito.
“O Espelho”, de Guimarães Rosa, nos espeta com considerações irrefutáveis.
Apenas uma coluna não é suficiente para abordar o que ele nos diz nesse texto divino.
Vou dar continuidade na próxima semana. Bons ventos literários a todos!

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

O jornal é fonte de pesquisa

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Uma amiga, Mariane Vieira, doutoranda da USP, na área de História da
Educação, me procurou, esta semana, para saber como poderia fazer uma
pesquisa no jornal “A Voz da Serra” para obter dados importantes ao curso que
realiza. Seu contato me fez pensar na riqueza do jornal, enquanto fonte de
pesquisa da história local.
Mais uma vez, nesta coluna, faço questão de ressaltar que o jornalismo e
a pesquisa histórica são estilos literários imprescindíveis ao desenvolvimento
político, social, cultural e humano. Os textos oriundos dessas áreas, quando

Uma amiga, Mariane Vieira, doutoranda da USP, na área de História da
Educação, me procurou, esta semana, para saber como poderia fazer uma
pesquisa no jornal “A Voz da Serra” para obter dados importantes ao curso que
realiza. Seu contato me fez pensar na riqueza do jornal, enquanto fonte de
pesquisa da história local.
Mais uma vez, nesta coluna, faço questão de ressaltar que o jornalismo e
a pesquisa histórica são estilos literários imprescindíveis ao desenvolvimento
político, social, cultural e humano. Os textos oriundos dessas áreas, quando
bem elaborados e acessíveis ao público leitor e pesquisador, promovem a
melhoria das condições de vida.
O jornal é um periódico que tem um incansável olhar para os fatos da
cidade, reunindo informações detalhadas sobre o dia a dia, que vão sendo
registradas, divulgadas e arquivadas. Cumpre a função social de informar,
contribuindo para que cada um dos seus habitantes aprimore seus modos de
viver e de ser cidadão. Bem como colabora com as formas com que a cidade
acolhe sua gente.
O jornal escrito, tal como é o “A Voz da Serra”, diariamente apresenta
crônicas e artigos que, além de informar, mostram as múltiplas faces do
pensamento de jornalistas, de pessoas que detém conhecimentos
especializados e da própria população a respeito de assuntos pertinentes aos
fatos locais e não locais. O jornal está atento ao mundo, sempre em movimento
e mutação.
O pesquisador é um incansável investigador. Movido pela curiosidade,
quer saber cada vez mais, ir além nos registros dos fatos presentes e
passados, uma vez que os passados possibilitam melhor compreensão do
presente. O hoje contém a síntese do ontem no universo dos acontecimentos
em suas contradições, mudanças e permanências.
Quando elaborei minha Dissertação de Mestrado, em 1985, na PUC-RJ,
pesquisei sobre passagem da 4ª. para a 5ª. série do 1º. grau. Para

compreendê-la precisei ir aos tempos da colonização em que os ensinos
primário e secundário foram estruturados, como também aos dos ensinos
técnico e universitário. O que me permitiu concluir que diversas dicotomias
políticas, econômicas e culturais da história da organização educacional no
Brasil se faziam presentes no quotidiano daquelas séries. Atualmente a
estrutura escolar apresenta novas configurações, porém, acredito que ainda o
ensino escolar privilegie o acesso à universidade em detrimento ao ensino
técnico.
Faço questão de ressaltar que a pesquisa da história local faz parte do
saber construído pela civilização humana. É uma significativa ferramenta para
a análise crítica da realidade. Somos seres contextualizados. Quanto mais a
conhecemos e compreendemos, melhor nela podemos intervir.
Que bom que temos jornais que abraçam pesquisadores dedicados!

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

A quarta capa e a produção do mel

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Esta coluna vai me respaldar para escrever a quarta capa do livro de uma
amiga e escritora que me presenteou com esta oportunidade. O convite para
participar de uma obra literária é uma reverência ao convidado, um
reconhecimento às suas qualidades literárias e pessoais. Não são seus belos
olhos, muito menos seu agradável sorriso que vão fundamentar o delicado
convite, mas os valores e as capacidades literárias que ele desenvolveu a
longo do tempo com esforços e dedicação.
***

Esta coluna vai me respaldar para escrever a quarta capa do livro de uma
amiga e escritora que me presenteou com esta oportunidade. O convite para
participar de uma obra literária é uma reverência ao convidado, um
reconhecimento às suas qualidades literárias e pessoais. Não são seus belos
olhos, muito menos seu agradável sorriso que vão fundamentar o delicado
convite, mas os valores e as capacidades literárias que ele desenvolveu a
longo do tempo com esforços e dedicação.
***

O livro é vestido por quatro capas. A primeira é o cartão de visitas. A
segunda é a parte oposta à primeira capa. A terceira é o lado oposto à
contracapa. A última é a quarta capa. Particularmente, gosto da segunda e da
terceira, chamadas de guarda, que possuem a função de grudar as capas ao
miolo e podem ser lisas ou ornamentadas com desenhos e estampas, que
encantam o leitor quando folheiam o livro. Em todos os livros que editei, cuidei
dessas capas com cuidados especiais.
A quarta capa ou a contracapa faz parte da vestimenta do livro, que
desfila em vários ambientes reais, como vitrines de livrarias, prateleiras de
bibliotecas e estandes de feiras literárias. Em ambientes virtuais, como sites,
bibliotecas e livrarias. Uma obra literária tem que percorrer os caminhos do
mundo para ser lida por diferentes pessoas e em culturas distintas. São
histórias e ideias que não podem ficar esquecidas ou guardadas, devem
fomentar novos pensamentos, fazeres e transformações. Os livros modificaram
as civilizações e atualizam a cada dia os modos de ser e fazer. São fontes
inesgotáveis de mutação.
Cada obra literária deve seduzir e cativar o leitor, que é sujeito único.
Quando exposta, o leitor vai ter vontade de conhecê-la de imediato,
observando sua capa para ter ciência do autor, do assunto, sempre contido no
título e na apresentação gráfica, da editora, do ilustrador e de outras questões
mais. A seguir, invariavelmente, detendo-se na quarta capa, em que o autor ou

alguém por ele escolhido, vai informar a respeito da obra, indicar o público-alvo
a que se destina, apresentar uma sinopse e fazer reflexões a respeito da obra
de modo que o leitor seja tocado em seus centros de interesse e tenha vontade
de adquiri-la para lê-la, presenteá-la, usá-la como fonte de pesquisa.
O texto da quarta capa deve ser suscinto, claro e objetivo. Não deve
confundir o leitor, uma vez que várias informações num curto espaço atordoam,
e o essencial acaba sendo ofuscado pelo irrelevante. Não deixa de ser uma
forma de divulgar a obra, ao apresentar uma avaliação positiva do texto e até
mesmo da ilustração.
O texto da quarta capa pede zelo de quem o escreve pelas necessidades
de concisão, criatividade e harmonia que exige. Em poucas linhas, através de
uma leitura agradável e atraente, deve conter a essência da obra. Quando
elaborado por um convidado, contém um olhar diferente do autor.
Se é o autor ou não, quem o escreve deve ter a presteza das abelhas que
retiram o néctar das flores, desprezam os micro-organismos e produzem o mel.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Flores partidas

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Faz algum tempo que gostaria de escrever sobre a violência contra a
mulher, tema delicado, doloroso de ser tocado, triste realidade que atinge a
pessoa do sexo feminino. A decisão de fazê-lo foi motivada pelo artigo
“Percepções de Mulheres a Respeito do Estupro Marital”, escrito pela minha
amiga de oficina literária, a jornalista Juliana Maria Lanzarini, que foi aprovado
para o 1º. Congresso CRIM/UFMG: Gênero, Femininos e Violência. Como
também pelas Oficinas de Formação para Apoio a Mulheres em Situação de

Faz algum tempo que gostaria de escrever sobre a violência contra a
mulher, tema delicado, doloroso de ser tocado, triste realidade que atinge a
pessoa do sexo feminino. A decisão de fazê-lo foi motivada pelo artigo
“Percepções de Mulheres a Respeito do Estupro Marital”, escrito pela minha
amiga de oficina literária, a jornalista Juliana Maria Lanzarini, que foi aprovado
para o 1º. Congresso CRIM/UFMG: Gênero, Femininos e Violência. Como
também pelas Oficinas de Formação para Apoio a Mulheres em Situação de
Violência. A vontade de escrevê-lo foi respaldada pela sua intenção de “ampliar
a percepção do tema a fim de garantir os direitos das mulheres.” Da qual
compartilho.
Inicialmente, gostaria de esclarecer que os textos que abordam pesquisas
científicas são considerados literários. Este artigo está fundamentado em
pressupostos teóricos e utiliza-se do survey como metodologia de coleta de
dados com 40 mulheres respondendo a um questionário com cinco perguntas
que abordam o tema, que recebeu criterioso trabalho analítico.
Os pressupostos teóricos refletem o estupro no contexto da violência
doméstica, apontada no artigo como violência machista. Nesta coluna vou me
deter no fato de a mulher reagir e não se submeter a atos perversos,
egocêntricos e desrespeitosos do homem que se considera capaz para
determinar os padrões de comportamento da relação. A questão relevante é o
modo banal e natural de como a violência contra a mulher é percebida pelo
grupo social, pelo homem e por ela mesma. As diferentes formas de violência
contra a mulher não podem passar percebidas como tal, não podem ser aceitas
no contexto doméstico, meio social e explicadas a partir de considerações
fugazes. Quem sofre a violência não deve minimizar as experiências aversivas
que causam sofrimento físico, deterioração psicológica, humilhação moral e
feminicídio.
O fator mais grave da violência é a reincidência devido à construção de
um padrão crônico de agressão, tanto de quem a pratica, como de quem a
recebe. A violência doméstica pode causar a morte e ser, desse modo,
considerada um ato de caráter homicida. A mulher que a sofre vai perdendo a

vivacidade ao experimentar a morbidade contida em cada agressão, que seja
verbal, física ou moral. A violência doméstica assassina a mulher em vida, tira-
lhe as cores dos dias.
A mulher retroalimenta a relação agressiva quando perdoa e não atribui
aos atos que atingem e destroem sua integridade física, psicológica e moral o
verdadeiro valor. Quando não denuncia aos órgãos competentes. Quando não
se afasta da relação. Quando deixa de se amar e não se considera pessoa
digna de ser respeitada.
Deixar de ser agredida é uma decisão de foro íntimo. Somente ela pode
assumir uma postura decente e coerente com a humanidade que existe em sua
pessoa. Somente ela pode decidir dar continuidade a sua história de vida
interrompida por um insensato agressor, saindo de uma doentia relação da
qual é parte interativa.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Fake News agridem a literatura

segunda-feira, 06 de setembro de 2021

Fake News viraram moda. Viralizaram. Tornaram-se espalhafatosas fantasias na
Internet. Vestiram-se das mais estranhas notícias e comentários para ganhar mundo.
Fizeram-se a voz da mentira. Utilizaram-se da literatura para desfilar através de
mensagens ou reportagens. Ganharam as luzes negras das intenções maldosas.
Fake News possuem a cor da imprensa marrom que, intencionalmente, têm a
finalidade de lançar falsas notícias, disseminar boatos e desinformar. Para
conquistarem espaço na mídia e adquirirem força de convencimento, nutrem-se dos

Fake News viraram moda. Viralizaram. Tornaram-se espalhafatosas fantasias na
Internet. Vestiram-se das mais estranhas notícias e comentários para ganhar mundo.
Fizeram-se a voz da mentira. Utilizaram-se da literatura para desfilar através de
mensagens ou reportagens. Ganharam as luzes negras das intenções maldosas.
Fake News possuem a cor da imprensa marrom que, intencionalmente, têm a
finalidade de lançar falsas notícias, disseminar boatos e desinformar. Para
conquistarem espaço na mídia e adquirirem força de convencimento, nutrem-se dos
mais recursos sedutores. Usam o jornalismo literário que busca na arte da literatura
sua expressão.
A literatura jornalística não é ficcional. Revela a realidade a partir de uma
observação minuciosa dos fatos. Está fundamentada em técnicas de captação, redação
e edição jornalística e, mesmo sendo escrita por um jornalista e refletindo a visão
particular do seu autor, está comprometida com a retratação verídica da realidade.
Os meios de comunicação impressos têm papel destacado na vida do país, como
também no dia a dia das pessoas, sempre atentas aos acontecimentos das inúmeras
áreas da atividade humana, suas realizações, impasses e impedimentos. São poucos os
alienados que não buscam informações para se tornarem diariamente membros
participantes da vida coletiva. O cidadão precisa estar ciente dos contextos nos quais
está inserido neste planeta mutante. Itinerante.
O jornalismo literário busca ser o mais verídico possível. O jornalista, ao construir
o texto, pode recorrer à riqueza imaginativa para torná-lo atraente ao leitor,
escrevendo-o com vivacidade, reflexão e estilo, apresentando-lhe o momento histórico
através de reportagens, crônicas, ensaios.
As Fakes News são perigosas; destroem pessoas, projetos e realizações. Revelam
algumas das piores características maléficas que possam existir no ser humano:
egoísmo, inveja, narcisismo, perversidade, astúcia. Quem produz Fake News não se

interessa pelo bem comum, pela superação das dificuldades de um lugar, de um país.
Não tem altruísmo, nem senso inteligente. Produz textos sensacionalistas e vulgares.
Para finalizar quero aplaudir Moacyr Scliar (1937-2001), imortal da Academia
Brasileira de Letras, que escrevia a coluna Cotidiano Imaginário na Folha de São Paulo,
desde 1990 até pouco antes da sua morte, em 2011. Ele buscava, em sua coluna, uma
história que pudesse ser reveladora da condição humana. Semanalmente escrevia
textos belíssimos e sensíveis à realidade social da classe média urbana no Brasil,
fazendo mergulhos no cotidiano e utilizando a linguagem do povo.

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

A mentira e a fantasia

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Na semana passada, no Clube de Leitura Vivências, organizado por
Márcia Lobosco, quando debatíamos questões emergentes da leitura do livro
Quase Memória, de Carlos Heitor Cony, surgiu um tema que ainda não tinha
parado para refletir: as diferenças entre a mentira e a fantasia.
Estamos situados na realidade concreta, porém a percebemos de modo
subjetivo. A realidade não é tomada tal como é, mas interpretada, o que nos
oferece uma compreensão particular dos fatos. Lembro-me da carta do escritor

Na semana passada, no Clube de Leitura Vivências, organizado por
Márcia Lobosco, quando debatíamos questões emergentes da leitura do livro
Quase Memória, de Carlos Heitor Cony, surgiu um tema que ainda não tinha
parado para refletir: as diferenças entre a mentira e a fantasia.
Estamos situados na realidade concreta, porém a percebemos de modo
subjetivo. A realidade não é tomada tal como é, mas interpretada, o que nos
oferece uma compreensão particular dos fatos. Lembro-me da carta do escritor
ao Mário Prata ao Ministro da Educação no final do século passado, quando
uma crônica sua, As Meninas-Moça, foi utilizada no Vestibular, como prova de
interpretação. Para seu espanto, ele respondeu as oito perguntas e errou
todas! Ou então em Max Weber que afirmou que a realidade pode ser tomada
a partir da vários pontos de vista. A investigação científica tem condições de
desvelar a veracidade dos fatos depois de um processo investigatório intenso,
a partir de critérios definidos e confiáveis.
É importante definir cada uma para ser possível estabelecer uma razoável
diferença entre elas, uma vez que não é fácil entender em que instância nosso
processo reflexivo possa estar situado. A realidade é o que existe. Um
conceito tão simples, todavia polêmico, na medida em que a realidade pode ser
interpretada a partir de desejos pessoais, negações ou transfigurações.
A mentira é uma proposição falsa, enganosa e fraudulenta a respeito dos
fatos. Uma tentativa de convencer outra pessoa a aceitar o que não é
verdadeiro; é fundamentada em interesses pessoais. Segundo ditos populares,
uma só mentira destrói mil verdades e uma mentira repetida várias vezes torna-
se verdade.
A fantasia é construída no imaginário, enquanto capacidade para criar
ideias, fatos e imagens fictícios ou irreais. Como a vida não nos basta e a todo
instante precisamos de algo mais, construímos processos imaginários criativos,
que envolvem idealizações e devaneios. Podemos dizer que o processo de
evolução das civilizações foi decorrente da capacidade criativa humana, e
gostaria de caracterizá-la como a safira do pensamento, enquanto instância em

que a inteligência mergulha na realidade para observá-la, criticá-la e
transformá-la.
No limite entre dois ápices, realidade e fantasia, circula a literatura.
Fernando Pessoa ilustra o caráter da literatura no poema Autopsicografia.

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só as que ele não tem.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entender a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

A literatura, se mentirosa, demonstra o frágil caráter de quem a produz.
Mas ao transitar entre a fantasia e a realidade construiu as mais dignas obras
literárias como Dom Casmurro, Crime e Castigo, O Pequeno Príncipe, dentre
milhares de outras.
Espero que cada vez mais o espaço entre o real e o imaginário seja
ampliado e não corra o risco de ser diminuído pelos meios virtuais de
comunicação.
Salve Shakespeare, Miguel de Cervantes, Marcel Proust!

Publicidade
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.