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Será que somos civilizados?

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Neste início de ano, em plena pandemia e entre tantos acontecimentos,
também por estar estressada e triste, quis aprofundar meus laços afetivos e
literários com os animais. Logo, na primeira semana, adotei uma cachorrinha
abandonada na estrada. Como me fez bem cuidar dela, tive a sensação de
estar resgatando o mundo dos seus males. Duas semanas depois, foi um
encantamento por um cavalo que vive sozinho num terreno. Que vontade estou
tendo de trazê-lo para casa e fazê-lo feliz.
Dedico esta coluna aos animais também por querer conhecê-los mais e

Neste início de ano, em plena pandemia e entre tantos acontecimentos,
também por estar estressada e triste, quis aprofundar meus laços afetivos e
literários com os animais. Logo, na primeira semana, adotei uma cachorrinha
abandonada na estrada. Como me fez bem cuidar dela, tive a sensação de
estar resgatando o mundo dos seus males. Duas semanas depois, foi um
encantamento por um cavalo que vive sozinho num terreno. Que vontade estou
tendo de trazê-lo para casa e fazê-lo feliz.
Dedico esta coluna aos animais também por querer conhecê-los mais e
entender um pouco melhor meus sentimentos. Ao escrever, vou pesquisar e
avaliar minhas sensações a respeito deles; a literatura sempre oferece meios
para que possamos ampliar nossos conhecimentos e sentidos de vida.
O primeiro livro que abracei foi o de Silvia Othof, Os Bichos que Tive,
editora Salamandra, 18ª. edição, em que a autora relata sua relação com os
animais quando criança. Nas primeiras páginas, perguntas me invadiram: por
que as crianças estabelecem uma relação de afeto tão plena com os animais e
de tamanha beleza? Por que alguns adultos não percebem o modo como os
animais vivem, o que sentem e de que forma olham para a vida? Ah, os
animais têm uma percepção que não temos. Às vezes, penso que são anjos
que vêm à Terra buscar aprimoramento e cuidar de outros seres, como nós.
Lendo Sylvia, eu me dei conta de que os animais, ao participarem do
processo de formação do ser humano, oferecem importantes contribuições. A
criança que convive com animais tem algo de diferente das que não convivem.
Eles são companheiros e tanto podem nos ensinar, posto que possuem
especial sabedoria que exigem de nós acuidade mental para que possamos
perceber intenções significativas às nossas necessidades em suas atitudes e
reações. Quando meu marido infartou, o olhar da minha cachorra Vênus
brilhava de modo diferente, reluzia. Ela sentiu, antes de todos nós, que a saúde
dele estava correndo riscos. O cavalo, ao perceber que eu estava estressada e
de luto pelo meu filho que faria aniversário se aqui estivesse e por uma amiga
de infância que partiu, aproximou-se, levantou sua cabeça sobre o arame

farpado e encostou seu focinho em mim. O que me fez tão bem, trouxe-me
afeto e alegria. Beto adorava animais!
A belíssima história de Beleza Negra, clássico da literatura inglesa, escrito
por Anne Sewel, publicado em 1877, livro que esteve na estante da casa da
mamãe enquanto minha irmã e eu éramos crianças. Como a leitura me tocou!
É um relato autobiográfico de um cavalo que sofre inúmeras crueldades ao
longo de sua vida. O pior que, infelizmente, a história é, hoje, vivida por cavalos
em todos os cantos do mundo. Vou até relê-lo para me tornar mais humana.
Outra obra que busquei foi a de Lygia Bojunga, Os Colegas, 48ª. edição,
editado pela José Olympio, que conta a história de cachorros de rua, Virinha,
Latinha, Flor, Voz de Cristal que vivem num terreno baldio, ao lado de um
coelho e outros animais. A história me remete aos cachorros que andam em
bandos pelas ruas e campos, suas difíceis vidas, brincadeiras e rivalidades.
Eles têm uma vida socialmente silenciosa, pouco considerada por nós, seres
civilizados. Mas será que somos mesmo?
Por último, “fui acolhida” pelo Angel Dogs: Anjos de Quatro Patas, de
Allen e Linda Anderson, editado pela Giz Editorial, em 2008. É um livro que
mostra que os cachorros não são apenas companheiros, mas guias espirituais.
Acho muito difícil trazer o cavalo para minha casa, mas vou estar atenta a
ele, pronta para compartilhar afeto. A cachorrinha e o cavalo trouxeram vida ao
meu mês de janeiro. Que bom!

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Tempo de faxina

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Buscando ideias para escrever a coluna desta semana, pensei numa amiga, Patrícia Mellodi, cantora e compositora, que compôs uma deliciosa música, Faxina Geral. Considero a letra uma poesia sobre o tempo de passagem, em que fechamos um capítulo da nossa história e recomeçamos outro. 

Buscando ideias para escrever a coluna desta semana, pensei numa amiga, Patrícia Mellodi, cantora e compositora, que compôs uma deliciosa música, Faxina Geral. Considero a letra uma poesia sobre o tempo de passagem, em que fechamos um capítulo da nossa história e recomeçamos outro. 

O início do ano é tempo de ajeitar os copos na cristaleira, dar um jeito nas gavetas e arrumar o baú de guardados. É tempo de varrer a casa, de tirar as teias de aranha e limpar a sujeira debaixo do tapete. Janeiro é o mês em que se coloca a vida em dia para começar o ano, um novo tempo, que tem ares carregados de esperanças. 

Principalmente neste ano de 2021, depois de tudo o que vivemos no ano passado, precisamos abrir um novo diário. Aí, meu amigo, é bom tirar as cracas que ficaram encruadas em nós para fazermos a roda da vida girar.

Toda vez que escuto a música da Patrícia, sinto vontade de me virar pelo avesso. Sua música me é um estímulo para ir além e superar dificuldades, que, comumente, são as grandes e as pequenas pedras que me machucam os pés. Como dou tropeços e topadas!

Deixo, então, aqui, a letra de Faxina Geral para motivar a todos a pegarem as flanelas e engraxarem os sapatos.

 

FAXINA GERAL

Vou fazer uma faxina

Botar a casa em ordem

Dar uma geral

No meu coração

Vou dar um fim na poeira

Lavar com mangueira

A recordação

Descongelo a geladeira

Dou tudo o que é teu

Mudo a roupa de cama

Troco a cor das paredes

Eu armo uma rede

Acendo um incenso

Incendeio o colchão

Abro todas as janelas

Acendo uma vela

Faço uma oração

Pra Santo Antônio

E num baby-doll de cetim

Pronta pra só dizer sim

Com a casa da alma lavada

Escancaro o portão

 

Que é pra ver se vem

Um novo amor

Que é pra ver se sou

Feliz outra vez

 

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O grande encontro

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

São raros os momentos na vida em que nos deparados com a verdade,
em que sentimos que somos invadidos pela constatação de fatos, que, muitas
vezes e naturalmente, negamos reconhecê-los como realidades presentes em
nossa história de vida. Um desses raros momentos é o da morte. Ninguém
consegue mentir na hora de findar.
A maioria das pessoas, como eu, não gosta de pensar nesta última etapa
da vida, nos minutos finais. A médica Ana Claudia Quintana Arantes, autora do
livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, editado pela Casa da Palavra,

São raros os momentos na vida em que nos deparados com a verdade,
em que sentimos que somos invadidos pela constatação de fatos, que, muitas
vezes e naturalmente, negamos reconhecê-los como realidades presentes em
nossa história de vida. Um desses raros momentos é o da morte. Ninguém
consegue mentir na hora de findar.
A maioria das pessoas, como eu, não gosta de pensar nesta última etapa
da vida, nos minutos finais. A médica Ana Claudia Quintana Arantes, autora do
livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, editado pela Casa da Palavra,
em 2016, através de uma escrita leve e cativante, por incrível que pareça,
coloca-nos frente a frente com a premissa: a única certeza de que temos na
vida é que vamos morrer um dia. Com vasta experiência e estudiosa em
Cuidados Paliativos, prática da medicina que, segundo a Organização Mundial
de Saúde, consiste na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar
que objetiva a melhora da qualidade de vida de pacientes e de seus familiares
diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e do alívio
do sofrimento.
Ah, a literatura nos salva durante a vida, do nascer ao morrer. Esse livro
tem me mostrado que estar preparado para o derradeiro momento é um modo
de findar com dignidade. Ler, pensar, falar e escrever a respeito é um ato de
coragem e de amor a si. Não é um gesto de autoconsolo, mas um modo
amadurecido de refletir sobre a vida, ou seja, uma avaliação sobre as decisões
que tomamos e como as realizamos. A vida é única. O tempo passa e não
retorna. Cada dia acordamos para um dia diferente. O modo como vamos
morrer será a síntese de tudo o que vivemos.


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

(Poema Tabacaria de Álvaro de Campos – Fernando Pessoa)

Nosso poeta, através do seu heterônimo, revela a essência da existência
humana na primeira estrofe de “Tabacaria”: somos seres em permanente
realização.
Na proximidade da morte, as dimensões espiritual e emocional dominam
a consciência. É o grande encontro. Não é um momento de abandono, nem de
deterioração. Mas de cura.
Quando partimos deixamos nossas gavetas cheias. Não levamos malas
carregadas de materialidades. Neste momento, podemos nos tornar heróis
quando temos a possibilidade de perceber grandezas: a nossa, a do outro e a
da natureza.
A literatura ao nos oferecer a possibilidade de compreender o processo
de morte com sabedoria, nos abre os olhos para lidar com a vida de modo
diferente, para observar o que nossas decisões têm nos oferecido e para
constatar o que temos possibilidades de ser e de fazer.

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Aos sobreviventes

segunda-feira, 04 de janeiro de 2021

Faço desta coluna uma carta aos sobreviventes, posto que assim me sinto. Sobrevivi à tragédia de 2011 e termino 2020 com saúde.

Acordei em 2021 com a paz dos náufragos que se deitam sobre a areia e descansam, olhando as nuvens que se movimentam no céu. Durante o café da manhã, Robson Crusoé, Malu Mulher, Jean Valjean e tantos outros personagens passearam pelo meu imaginário como conselheiros da manutenção da vida. Foi uma bela companhia.

Ah, a literatura nunca deixa de nos assistir! Cura-nos da estupidez. 

Faço desta coluna uma carta aos sobreviventes, posto que assim me sinto. Sobrevivi à tragédia de 2011 e termino 2020 com saúde.

Acordei em 2021 com a paz dos náufragos que se deitam sobre a areia e descansam, olhando as nuvens que se movimentam no céu. Durante o café da manhã, Robson Crusoé, Malu Mulher, Jean Valjean e tantos outros personagens passearam pelo meu imaginário como conselheiros da manutenção da vida. Foi uma bela companhia.

Ah, a literatura nunca deixa de nos assistir! Cura-nos da estupidez. 

Em dez anos, os friburguenses enfrentaram a tragédia de 2011, o Covid19, fatalidades e outros infortúnios. Agora, estamos ante 2021. Deveras prontos! Sempre que ando pelas ruas da cidade, vejo o friburguense fazer a vida com esperança. Apesar dos desafios, durante este tempo, quase 3. 650 dias, o destino desafiou a coragem e a força de superação da população. 

Penso que os dias iniciais de 2021 sejam propícios para compreendermos os acontecimentos que marcaram esta época. Seria bom que nos sentemos confortavelmente para assistir ao filme deste tempo, quando teremos a oportunidade de avaliar nossos feitos, erros e acertos. Será um momento de reconhecimento e amadurecimento. Afinal, fomos protagonistas e vivenciamos o acontecer de batalhas, derrotas e vitórias. Participamos do fazer histórico.  

Sim, senhor, como dizia Alice, a vida é uma aventura! É por esta razão que os escritores criam histórias de superação por todos os cantos do mundo, começando por Hilíada. Uma história sem enfrentamentos e superações não tem atrativo ao leitor, muito menos ao escritor para compô-la. Estes anos, enfim, nos exigiram raça, principalmente 2020 que mudou radicalmente e abruptamente nossos modos de viver. De fato, assumimos a posição de vanguarda no jogo da vida. Em todos os episódios desafiadores tivemos que buscar a criatividade para superarmos dificuldades. Fomos notabilizados por nossas realizações! 

Que possamos nos sentar à mesa com Fernando Pessoa nas mãos e pensar em 2021 com lucidez para superarmos nossas fraquezas.

Deixo, aqui, uma das suas sábias frases para reflexão.

 “Afasta-te da ignorância e da ilusão também. Vira o rosto às decepções do mundo; desconfia dos teus sentidos; eles te mentem. Mas dentro do teu corpo – escrínio das tuas sensações – procura no impessoal o Homem Eterno; e, tendo-o procurado, olha para dentro; tu és Buda”.

(Os Dois Caminhos, em a Voz do Silêncio, ed. Civilização Brasileira, 1997)

 

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Entre mulheres, palavras e orvalhos

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Vou aqui relatar uma interessante experiência literária que tive recentemente. Com todas as dificuldades que enfrentamos neste ano de 2020, a literatura, mais uma vez nos mostrou seu poder de superação. É a expressão humana que está constantemente pronta a ir além. De apontar para horizontes, mesmo quando as nuvens carregadas retiram do nosso olhar o encontro da paisagem com o céu. É a arte que se aventura ao vazio, preenchendo-o com palavras cuidadas por pensamentos inquietos e mãos sensíveis. É o culto à beleza humana que nunca se esgota, mesmo nos tempos de pandemia.

Vou aqui relatar uma interessante experiência literária que tive recentemente. Com todas as dificuldades que enfrentamos neste ano de 2020, a literatura, mais uma vez nos mostrou seu poder de superação. É a expressão humana que está constantemente pronta a ir além. De apontar para horizontes, mesmo quando as nuvens carregadas retiram do nosso olhar o encontro da paisagem com o céu. É a arte que se aventura ao vazio, preenchendo-o com palavras cuidadas por pensamentos inquietos e mãos sensíveis. É o culto à beleza humana que nunca se esgota, mesmo nos tempos de pandemia.

Participei da coletânea Juntas e Diversas Contos, organizada por Márcia Lobosco, que reúne contos inéditos, escritos exclusivamente por mulheres, ilustrados com os sensíveis traços, também femininos. No início do processo de produção textual, nos momentos de inspiração, eu me lembrei de um texto escrito, guardado há mais de vinte anos, que ficava perambulando entre outros na minha pasta verde de páginas rascunhados. Foi uma das minhas primeiras tentativas de escrever um conto, que consistia no registro de uma memória, em que narrei o dia em que descobri o meu primeiro fio de cabelo branco. Foi uma relíquia que retirei daquele baú que todo mundo tem em que são repousados nossos melhores diamantes. Repousados porque a todo instante podem voar, ganhar novas formas e descobrir outros abrigos. E foi isso o que aconteceu. O texto em papel amarelado, escrito à mão, provavelmente com Caneta Bic, foi habitar num livro atual. Recebeu adornos e maquiagem. Ficou pronto para se apresentar ao leitor.

Ao ler os contos da coletânea, entrei em contato com a sensibilidade e a intuição feminina de cada uma das autoras, porém não tanto diferente uma das outras, até naqueles escritos em estilo ficcional. Ah, a mulher, não posso compará-la a nenhum outro ser que não seja mulher. Talvez porque pressinta que o feminino tenha o poder de perceber a alma de todos os seres que habitam neste planeta, inclusive das montanhas, que foram o mote do livro. Será que nossas montanhas são femininas? A palavra já é. Entretanto a rocha, coberta pela mata, é um ser feminino? Acredito que sim. Porque delas emanam uma tal emoção, uma tal empatia para com as pessoas que vivem em suas terras, que suscitam tamanha inspiração, ternura e receptividade. Porque acolhem e alimentam os mais variados tipos de vida.

Qual a mulher friburguense que não tem a firmeza de uma Catarina? O poder de purificar como as águas que nascem nos picos e nas encostas do Caledônia? A fertilidade de suas florestas? A dor das queimadas? Ah, as montanhas e nós mulheres friburguenses nos encontramos, nesta coletânea, entre palavras e orvalhos, e mostramos a resiliência que guardamos no ventre. Nossos textos viajaram do presente ao passado, encontraram-se com pessoas que já se transformaram em estrelas, refizeram caminhos e escalaram montanhas. Foi uma relação prazerosa. Mas tinha outro jeito de ser?

Esta experiência nos fez montanha. Com certeza. E se alguém assim me chamar, vou sentir orgulho das florestas que habitam meu corpo e dlos rios que correm em minhas veias.

 

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O cotidiano sob os olhos do cronista

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Ao pegar o livro de crônicas do nosso professor de português Robério José Canto, O Dia em que o Trem não Chegou, sua última publicação, em que ele reúne crônicas publicadas, tive o prazer de me deliciar com seus textos, tão bem escritos. Ah, como ele sabe usar o humor e a ironia com maestria! Para compô-lo, além do mais, é preciso ter o domínio da nossa língua, tão complexa e delicada, mesmo que romântica. 

Ao pegar o livro de crônicas do nosso professor de português Robério José Canto, O Dia em que o Trem não Chegou, sua última publicação, em que ele reúne crônicas publicadas, tive o prazer de me deliciar com seus textos, tão bem escritos. Ah, como ele sabe usar o humor e a ironia com maestria! Para compô-lo, além do mais, é preciso ter o domínio da nossa língua, tão complexa e delicada, mesmo que romântica. 

Eu diria que a crônica é como um estalo, tal qual o estouro de uma bola de inflar, que expõe um momento do cotidiano de um lugar. Que mostra de maneira inteligente o que está acontecendo sob o ponto de vista de um observador atento e minucioso. Talvez o cronista seja o escritor que mais precise de feeling para captar como as pessoas estão vivendo e reagindo, experimentando esperanças e fazendo o acontecer. Entre o abrir e o fechar de olhos, o cronista nota algo para refletir e comentar. É um ser em busca de motivos para sentir-se inserido e justificar suas inquietações. Fazer-se escritor. Pode ser um fato corriqueiro, porém revelado com criatividade e arte. Seu trunfo é a capacidade que possui de transformar o que já é sabido em algo interessante, de revelar um ponto de vista com sabedoria, como um gato debaixo de uma janela pode ser uma situação divina ao cronista, tal qual considerou nosso professor Robério em sua publicação anterior. 

A palavra crônica vem do latim chronica, que significa a narração a respeito de um acontecimento, respeitando a ordem dos fatos. A crônica nasceu na antiguidade, surgiu quando os reis precisavam de ter ciência dos fatos, das transações e dos conflitos; era um relato minucioso dos acontecimentos feito por um enviado. É um estilo literário que se caracteriza por uma narrativa curta, que não se detém com profundidade em um tema. Hoje, é um texto publicado em revistas e jornais.

Há leitores que apontam a crônica como sua leitura preferida, talvez por ser o cronista um filósofo, um pensador do seu tempo, que conversa de modo informal com pessoas da sua geração. Robério proseia sobre as verdades do Brasil com sutileza, sobre a vida, trazendo à tona fatos inusitados de tempos e lugares diferentes, bem como capta os mínimos detalhes da vida, enriquecendo-os com ditos populares. 

É um livro que pode ser lido com a tranquilidade dos pombos, uma vez que o leitor tem a prerrogativa de escolher os textos sem se preocupar com a sequência para, depois, deitar-se sob as nuvens da tarde e pensar, dormitar, ler...        

 

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O Impressionismo, a eterna dúvida e Tom Jobim

segunda-feira, 07 de dezembro de 2020

Dando continuação às reflexões que tive ao assistir, no YouTube, o Curso de Imersão: “Vincent e Pablo, dois gigantes do século XIX e XX”, apresentado por Catherine Beltrão. A arte se movimenta no tempo, transformando suas expressões, mostrando o modo de pensar e de viver de uma época. Este tema me faz lembrar a visita que fiz ao museu de Van Gogh, em Amsterdã, quando passei uma manhã inteira observando suas obras, percebendo a sensibilidade com que ele captava as imagens da vida, a serenidade com que distribuía as cores na tela, principalmente o branco e o amarelo.

Dando continuação às reflexões que tive ao assistir, no YouTube, o Curso de Imersão: “Vincent e Pablo, dois gigantes do século XIX e XX”, apresentado por Catherine Beltrão. A arte se movimenta no tempo, transformando suas expressões, mostrando o modo de pensar e de viver de uma época. Este tema me faz lembrar a visita que fiz ao museu de Van Gogh, em Amsterdã, quando passei uma manhã inteira observando suas obras, percebendo a sensibilidade com que ele captava as imagens da vida, a serenidade com que distribuía as cores na tela, principalmente o branco e o amarelo. No Impressionismo e no Pós-Impressionismo, as cores são simbólicas; são suaves e iluminam a cena, são incisivas e reveladoras da intimidade. 

Sempre busquei compreender as relações entre a literatura e a arte. O Curso de Imersão me ofereceu motivos mais instigantes ainda para mergulhar na pesquisa e na observação dos momentos históricos. O Pós-Impressionismo foi uma tendência artística que se manifestou na passagem do século XIX para o XX, que mudou a história da arte de um modo geral e nos transformou, fazendo-nos direcionar os olhos para nossas próprias impressões, como forma de autoconhecimento e libertação. O pensamento passou a valorizar a intimidade da pessoa, o seu mundo interior, a autopercepção. O Brasil amadureceu; deixou de ser colônia e tornou-se independente. Há uma interação sutil entre a arte e a história, na medida em que a literatura, sendo capaz de alicerçar o modo como se concebe a realidade sócio-econômica-política e cultural, exerce influência nas decisões e ações que determinam os rumos de uma nação. Tudo está interligado. Não há movimentos espontâneos e distintos, principalmente depois do advento da impressão tipográfica, no século XV. A edição de textos em grande escala favoreceu a expansão do inconsciente coletivo que se expressa através da arte. A força criativa faz parte da essência humana, e a literatura, enquanto arte da palavra, ganhou, então, poder incalculável. 

Para melhor entender este movimento, vale a pena compreender o Impressionismo, enquanto arte que revela o instante, as impressões sensoriais e o psicológico. Neste contexto, surge no Brasil, Machado de Assis!, presenteando-nos com a obra-prima Dom Casmurro, cujo romance penetrou de tal forma no âmago do personagem que foi capaz de trazer para a vida real sua cruel dúvida, que até hoje, ninguém conseguiu chegar à conclusão se Bentinho foi traído por Capitu ou não. Está eternizada.

Estou diante de um tema sedutor e interminável. Vou continuar a ler a respeito, escutando Tom Jobim, nosso grande maestro, que bebeu nas águas do Impressionismo para compor suas obras. 

 

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Arte

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Assisti, no YouTube, o Curso de Imersão: “Vincent e Pablo, dois gigantes
do século XIX e XX”, apresentada por Catherine Beltrão, engenheira que
mergulhou no universo artístico, especialmente na pintura e na literatura,
autora do projeto Artenarede. A Imersão é um curso de curta duração e possui
um objetivo específico. Assim sendo, esta se constitui em duas palestras sobre
Vincent Van Gogh e Pablo Picasso, suas vidas, obras e contextualização
histórica da época em que viveram.
Como nos momentos iniciais nos foram apresentados conceitos

Assisti, no YouTube, o Curso de Imersão: “Vincent e Pablo, dois gigantes
do século XIX e XX”, apresentada por Catherine Beltrão, engenheira que
mergulhou no universo artístico, especialmente na pintura e na literatura,
autora do projeto Artenarede. A Imersão é um curso de curta duração e possui
um objetivo específico. Assim sendo, esta se constitui em duas palestras sobre
Vincent Van Gogh e Pablo Picasso, suas vidas, obras e contextualização
histórica da época em que viveram.
Como nos momentos iniciais nos foram apresentados conceitos
interessantes sobre arte, fui tomada por várias reflexões e decidi apresentá-las
aqui. Até porque considero que o fazer desta coluna é uma construção
artística, posto que a arte é um universo criativo infinito do qual a literatura faz
parte, enquanto arte da palavra, escrita ou falada.
Ao escutar as apresentações iniciais do curso, imediatamente refleti sobre
a indissociável relação entre o autor e sua obra, independentemente da área
artística, enquanto resultado de uma entrega que eu diria embrionária. A arte é
gestada. Da ideia ao produto, há um processo intenso em que a inspiração é
transformada, através de uma delicada cadeia de produção criativa. Digo
cadeia porque há um entrelaçamento contínuo entre um momento e outro do
processo criativo. Cada obra é resultado de atos únicos. Nem mesmo o próprio
autor consegue reproduzi-los. Aqui, confesso que nunca consegui escrever um
texto de modo idêntico ao outro. Por isso, salvo-o no computador para não o
perder para sempre.
Não restam dúvidas que o artista já nasce com um potencial criador
especial. Entretanto, ele também possui uma história vinculada à arte. É no
âmago dessa experiência existencial que a capacidade criadora vai aflorando,
aos poucos, dia a dia, sendo resultado da vontade e da dedicação ao
aprimoramento dos próprios interesses, tendências e habilidades. O fazer da
arte é resultado de um contínuo e sensível processo de conhecer e de
experimentar. Muitas vezes, sofrido. Aliás, como tudo na vida.

A literatura possui identidade com todas as formas artísticas, capazes de
interpretar a realidade a partir de pontos de vista específicos. Ou seja, uma
mesma circunstância de vida pode ser decantada por expressões distintas,
como pela pintura e pelo texto literário.
A arte acompanha as tendências do tempo, através de movimentos que
possuem ideais similares aos do momento histórico, como o pós-
impressionismo, no século XIX, em que Vincent Van Gogh encontrou sua
expressão. Na literatura, tivemos grandes autores como James Joyce e
Virgínia Wolf, que escreveram obras-primas. Este movimento, especialmente,
retrata o cotidiano, além de evidenciar o pensamento e as emoções do
personagem. Estes artistas da palavra influenciam o modo como escrevo, uma
vez que seus textos invadem, com profundidade, a experiência diária. Tal qual
Virgínia Wolf aborda os “Músicos de Rua” num ensaio afinado com as
dificuldades desses profissionais, que não possuem condições de se
apresentarem em palcos estruturados como nos teatros. E, principalmente,
“Mrs. Dalloway”, romance que narra um dia na vida de Clarissa Dalloway. Em
“Ulisses”, James Joyce, também narra o dia de Leopold Bloom. Eu sempre
consulto o terceiro capítulo, em que o pensamento repartido e discrepante do
personagem é descrito, o que me respalda a desenvolver as cenas dos meus
livros.
As íntimas relações da literatura com a pintura nos oferecem um campo
de pesquisa inesgotável. Deste modo, na próxima coluna, pretendo dar
continuidade ao tema.

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Os clássicos da literatura sintetizam o passado

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Faço parte de um grupo de leitura, Clássicos da Literatura, coordenado
por Márcia Lobosco. Estamos lendo Razão e Sensibilidade, a primeira obra
escrita pela escritora inglesa Jane Austen (1775-1817), publicada em 1811. O
romance nos traz questões existenciais, que nos desafiam com frequência, a
começar pelo título, que nos remete à dinâmica sentimento-pensamento-ação,
motivando-nos a olhar para esta dialética, que rege nossos movimentos, desde
o momento em que o temos nas mãos. Inegavelmente, é uma reflexão

Faço parte de um grupo de leitura, Clássicos da Literatura, coordenado
por Márcia Lobosco. Estamos lendo Razão e Sensibilidade, a primeira obra
escrita pela escritora inglesa Jane Austen (1775-1817), publicada em 1811. O
romance nos traz questões existenciais, que nos desafiam com frequência, a
começar pelo título, que nos remete à dinâmica sentimento-pensamento-ação,
motivando-nos a olhar para esta dialética, que rege nossos movimentos, desde
o momento em que o temos nas mãos. Inegavelmente, é uma reflexão
relevante à conquista da qualidade de vida, uma vez que abrange o modo
como tomamos nossas decisões e como as concretizamos.
É uma obra que aborda a história de uma família composta por quatro
mulheres e, especialmente, evidencia a relação entre duas irmãs. Mesmo com
um pouco mais de duzentos anos de vida, é uma leitura atualmente buscada,
tendo, inclusive, sido adaptada para o cinema, tal qual outras de sua autoria.
Ainda estou nas primeiras cem páginas e percebo que a natureza
humana atual não ganhou novos vieses. É a mesma! Certamente, a vida no
século XVIII foi pintada com as cores do passado; o enredo construído pela
autora mostra uma realidade muito diferente da que vivemos. Hoje, o feminino
foi atualizado pelas conquistas da mulher, pelas relações econômicas e de
produção, que provocaram mudanças significativas no âmbito cultural ao longo
do tempo. No tempo de Jane Austen, as mulheres usavam saias armadas e
montavam em cavalos; hoje, usam calças jeans e têm motos. Entretanto, a
resiliência, a sensibilidade e a capacidade de superação são características
que desde sempre permearam sua sobrevivência.
A literatura, por sobrevoar a existência do homem no Planeta Terra, por
mergulhar nos meandros da alma humana e do acontecer, tem o poder de
revelar o ser e o fazer, o desejar e o realizar, o nascer e o morrer. A literatura
faz, pois, a síntese dos modos de viver que sobrevive, ou seja, as obras
clássicas não perecem ao toque de recolher. São incisivas e têm a sublime
capacidade de mostrar com objetividade e arte as mazelas e as nobrezas
presentes em todos nós.

A qualquer momento, o texto literário pode ser interpretado em sentidos
diversos. Porém, em qualquer um deles, é possível compreender como as
civilizações construíram este mundo. Eu, particularmente, gosto de entender
em que terrenos minha geração fincou suas raízes, até porque, hoje, nós,
mulheres, trazemos resquícios do tempo em que Razão e Sensibilidade foi
escrito.
Jane Austen foi uma escritora romântica, que morreu jovem, aos 42 anos.
Dedicou sua vida à literatura e produziu obras relevantes em que realçou
sentimento feminino e a sociedade da época. Através de uma narrativa leve,
crítica e sutil, deixou uma obra que enriquece a literatura inglesa, como
Orgulho e Preconceito, Palácio das Ilusões, Amor e Amizade. A escritora fez
uma obra prazerosa de se ler em livro e de se assistir em filmes.

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Haverá surpresas no café da manhã?

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Escrevi este texto há uns quinze anos. Entretanto, para mim, continua a ser
atual, pois me deparo com as questões que nele apresento quando escrevo.
Como esta coluna é para alimentar o leitor e o escritor, decidi trazê-lo aqui. Posto
que é interessante ao leitor conhecer as agruras que o escritor sofre ao produzir
um texto a ser degustado pelo leitor. Posto que para o escritor é saudável refletir
um pouco mais sobre o ato de escrever, que se constitui num desafio constante
porque as ideias nos rondam, cutucam e são insistentes, porém apresentam-se

Escrevi este texto há uns quinze anos. Entretanto, para mim, continua a ser
atual, pois me deparo com as questões que nele apresento quando escrevo.
Como esta coluna é para alimentar o leitor e o escritor, decidi trazê-lo aqui. Posto
que é interessante ao leitor conhecer as agruras que o escritor sofre ao produzir
um texto a ser degustado pelo leitor. Posto que para o escritor é saudável refletir
um pouco mais sobre o ato de escrever, que se constitui num desafio constante
porque as ideias nos rondam, cutucam e são insistentes, porém apresentam-se
de modo confuso, descontinuado e contraditório. Os personagens aparecem
repartidos, escondidos em sombras e indefinidos. Durante o processo criativo,
vamos aos extremos e, quase simultaneamente, mergulhamos em incertezas e
saboreamos o néctar dos deuses. Somente quando superamos os medos que
nos recheiam e conseguimos escutar a nossa voz narrativa com nitidez,
conseguimos “literar”. Para inventar, descobrir e ir além dos limites é preciso
assumir nossas idiossincrasias e deixarmos de ser marionetes das opiniões
alheias.

***

Sempre suspeitei que começar é mais difícil do que terminar. Nada é pior
para um escritor do que estar diante de linhas vazias! O vazio é
assustador, é uma ausência que faz com que tudo o que esteja à volta perca o
sentido. Quando a busca pelo novo se torna faminta, ele sente as ideias
germinarem em suas entranhas.
Deixo os dedos dedilharem o texto, letra por letra, como se pudesse,
assim, descobrir onde as ideias estão fincando suas raízes, os canais que minha
alma encontra para se alimentar. É difícil e sofrido escutar a minha voz, que é
única neste vasto mundo ruidoso. De repente, uma energia me leva no tempo e
me faz vislumbrar o passado. Sinto os personagens que criarei me transportarem
para seus mundos.
As linhas vazias gritam, querendo me sugerir algo. Um suspense?  A
sensação de amor me invade. Um conto romântico? Uma história que

começa com tudo perfeito. A beleza dos corpos, a sedução e a força das cores
pincelam um ambiente. Os momentos de despedida são intensos e atiçam minha
criatividade. Um sobressalto quebra o devaneio. Um crime? O texto tem que falar,
as frases devem surpreender. Como é difícil abrir os braços ao leitor e
aconchegá-lo. Não sei quem é a pessoa do leitor. Pode ser um só, como tantos.
Nada posso explicar, nem concluir; quem deve fazê-lo não sou eu. Ainda não
consigo saber dos motivos. Não tenho com quem compartilhar esta
responsabilidade. Estou só. Suspiro.
É um mote sem pé e cabeça, um plano que começa a se desenhar. Por que
não falar do dia a dia? Uma tragédia? Não, as passagens são fortes. Apenas um
delito? As livrarias, os cinemas, os jornais, as revistas e as conversas de esquina
estão lotados de violações, e eu escreverei somente mais uma?! Tenho que
tomar cuidado com os clichês. O vulgar é fácil de imaginar; o difícil é mostrar o
quotidiano com maestria.
Pode ser uma comédia...O humor sempre ajuda.
Os personagens precisam nascer. Ângela me passeia na memória, a
personagem que Clarice Lispector, num de seus últimos livros, “Um
sopro de vida”, que foi por ela delineada ponto por ponto. Levei quatro horas para
ler o livro de Clarice. Quanto tempo ela levou para construir Ângela? Escrever é
assim. Levamos uma eternidade para elaborar um capítulo, e o leitor o devora em
minutos.
Será um crime sem morte? Uma calúnia? Quais serão os personagens?
Eles terão de aparecer no branco do papel e se apresentar a mim. Terão de me
seduzir, me fazer apaixonar por eles a tal ponto que possa deixá-los criar o
próprio contexto de suas existências. Serão dois jovens como Mário e Adélia?
Um padre e uma cigana? E Dul!? Gostei do apelido. Terá ele a alma de Iago ou
de Pierrot? De Medeia ou de Alice? O branco me cutuca, fazendo-me mergulhar
mais uma vez no vazio. Quem são vocês?
Já é madrugada e estou exausta! Os personagens me farão companhia
na mesa do café da manhã. Que surpresas me trarão? Será que me servirão
panquecas doces com pimenta?

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