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Ebulições

segunda-feira, 05 de abril de 2021

Nossas emoções são tantas que explodem dentro de nós a todo instante e vão se misturando, mesclando-se. Nem sempre conseguimos pinçá-las e identificá-las porque estamos inseridos em tantos contextos, diversos e conflitantes. Borbulhamos em contraditórios afetos que vão se fundindo e atritando-se. Somos a própria ebulição

Nossas emoções são tantas que explodem dentro de nós a todo instante e vão se misturando, mesclando-se. Nem sempre conseguimos pinçá-las e identificá-las porque estamos inseridos em tantos contextos, diversos e conflitantes. Borbulhamos em contraditórios afetos que vão se fundindo e atritando-se. Somos a própria ebulição

Hoje, Sexta-Feira Santa, dia 2 de abril, começo a escrever esta coluna me sentindo fervilhar com os sentimentos que envolvem a Páscoa e o livro que acabei de ler no Clube de Leitura Vivências, Brisa, segunda edição, de Ania Kitilla, que aborda a tragédia de 2011. Vivemos um árido tempo de pandemia, que não se compara ao que foi vivido há dez anos, mas traz, nesta Semana Santa, pelo segundo ano consecutivo, o vazio, causado pelo isolamento, quando normalmente era para se cultuar o encontro entre pessoas queridas. Vivemos um período que mescla o luto, a preocupação e a esperança. 

A leitura de Brisa foi iniciada em fevereiro. Lemos, uma vez por semana, a história entrelaçada de cinco personagens que vivenciaram a tragédia. Nos encontros virtuais do Clube Vivências, os participantes liam, em voz alta, com atenção e sensibilidade, capítulo a capítulo, frase a frase, parando com frequência para comentar as situações experimentadas pelos personagens e pelos sentimentos que emergiam em cada uma de nós.  As emoções decorrentes da pandemia se misturavam com as provocadas pela tragédia, através da leitura. Quando terminamos de ler Brisa, nesta terça-feira, dia 31 de março, o grupo estava impactado e profundamente emocionado. Ontem, quinta-feira, fizemos o fechamento da leitura, quando conversamos, também de modo virtual, com Ania. Segundo seu relato, o livro começou a ser construído na primeira noite da tragédia, a partir do espanto e do medo que sentiu.

Grande parte das leitoras do Clube estava na cidade no dia 11 de janeiro de 2011 e nos dias que se seguiram. Cada uma de nós teve uma experiência particular, entretanto, para todas, a realidade foi impactante, cruel e devastadora. Ao longo da leitura, os fatos, que se tornaram esquecidos com o passar do tempo, foram relembrados, como a angústia ao escutar o ruído do helicóptero de salvamento que sobrevoava os lugares, o espanto ao ver o desmoronamento de morros e a tristeza ao receber a notícia do falecimento de pessoas conhecidas. 

Ania escreveu Brisa com amadurecimento. Com lucidez, ela penetrou na alma do friburguense e revelou como viveram a terrível tragédia. Um dos personagens é uma cadela, Brisa, que foi revelada pela autora com maestria. O final do livro tem realismo, o que nos fez perceber de maneira mais contundente ainda como os personagens lidaram com as possibilidades concretas para resgatar suas vidas. 

A leitura sempre nos oferece a possibilidade de nos percebermos através dos personagens. Está aí a grande riqueza da literatura, que nos salva a cada texto que absorvemos.

A todos os instantes temos motivos para escrever, para compreender o que nos acontece e para superar infortúnios, medos e desafios. Como a vida é cheia deles! E, hoje, ainda com a experiência da leitura viva, nas vésperas da Páscoa, faço forças para que a esperança se sobreponha ao estresse da pandemia e me traga a certeza de retorno à rotina diária.

É o que desejo a todos. 

 

P.S.: A Academia Friburguense de Letras muito se orgulha de ter Ania Kitilla como Jovem Acadêmica.

 

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Interpessoalidade divina

segunda-feira, 29 de março de 2021

Existe algo melhor na vida do que ter avós que contem histórias aos netos? Que lhes ofereçam oportunidades de leitura? Que lhes coloquem em contato com expressões literárias, como peças de teatro ou filmes?

Existe algo melhor na vida do que ter avós que contem histórias aos netos? Que lhes ofereçam oportunidades de leitura? Que lhes coloquem em contato com expressões literárias, como peças de teatro ou filmes?

Noutro dia fui aos correios e encontrei uma querida amiga, Liminha, que acabava de enviar uma caixa cheia de revista em quadrinhos para os dois netos que moravam fora do país, na Alemanha. Ela me disse que todos os meses enche uma caixa com revistas para eles lerem e não ficarem distantes da língua portuguesa. Além de ser um gesto de amor, sua atitude revela a sensível percepção de que a leitura é fonte de prazer.

A presença dos avós é eterna na vida dos netos. Depois que os avós partem, tornam-se invisíveis, deixando intactas nos netos lembranças das experiências que vivenciaram. Minha mãe, vez em quando, me diz que sou parecida com minha avó Vera. Pensando bem, trago em meus gostos e hábitos a maneira que ela foi, o que me faz extremamente bem. Na verdade, minhas três avós me deixaram legados que me caracterizam, como vivenciar a literatura. Ambas eram leitoras e contadoras de histórias.

Os avós possuem papéis diferentes dos pais na vida dos netos pelos cuidados, carinhos e até mimos com que têm para com as crianças, jovens ou mesmo adultos. São aconchegantes e possuem especial poder de compreensão. Ah, como são dadivosos. Qual adulto que não se lembra das histórias que seus avós contavam? Quais avós que não contam as histórias que escutavam dos seus avós quando crianças? A vida se repete, e os avós perpetuam a fartura de afeto, tão importante à construção da identidade individual. O amor é vital.

Os avós, enquanto contadores de histórias, desempenham papéis relevantes na sociedade, na família e na formação do caráter da criança. Os avós cumprem a prazerosa função de distrair os netos com histórias, apesar de muitos desconhecerem o valor da contação, enquanto tradição milenar na perpetuação dos valores, haja vista que as fábulas tinham, na antiguidade, a função de formar e preservar comportamentos. 

Os avós são narradores da vida! As narrativas que fazem aos netos contêm tradições, quase embrionárias, da civilização, além de aprofundar laços familiares. Ao contarem histórias de família, trazem os referenciais dos antepassados. Há avós que são verdadeiros biógrafos. 

O sentimento de orgulho que uma pessoa tem pela sua família, pelo o que seus antepassados fizeram e pelo legado que deixaram para as gerações atuais, dá sentido à existência e norteia os objetivos de vida. As memórias são preservadas na sequência de gerações quando a relação entre avós e netos é intermediada pela contação de histórias e narrativas. Como é um lugar, uma nação e uma pessoa sem passado? 

A oralidade é o modo mais fácil de contar histórias e transmitir narrativas. Não foi assim que a Ilíada, contada por Homero, chegou aos nossos dias? Quando ocorre na relação entre avós e netos, o momento é banhado de afeto e desenhado pela descontração. É um contato humano enriquecedor pela troca de olhares, calor físico, sorrisos, fala cuidada e escuta atenta. É uma interpessoalidade divina.

 

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Louvável seja o livro!

segunda-feira, 22 de março de 2021

“Quem não lê, aos 70 anos terá vivido só uma vida: a sua. Os que leem terão vivido cinco mil anos. Ler é uma imortalidade de trás para a frente”.

“Quem não lê, aos 70 anos terá vivido só uma vida: a sua. Os que leem terão vivido cinco mil anos. Ler é uma imortalidade de trás para a frente”.

Esta semana uma amiga, Carmem, com quem estou constantemente em contato, me enviou este pensamento, que é do célebre escritor Umberto Eco. Então, refleti a respeito dos benefícios que a leitura traz a uma pessoa. Cada um tem seus gostos e preferências, e a busca pela leitura deve ser orientada pelo prazer de ler, pela satisfação de perceber a vida em outras perspectivas e ampliar as possibilidades de compreensão da existência humana e da natureza. Os livros embalam nossos pensamentos e sonhos, ocupando de modo saudável o tempo que temos para relaxar, atraindo nossa atenção quando estamos aguardando a vez, ou até mesmo quando estamos num transporte. Estou cansada de ver leitores mergulhados na leitura em ônibus, metrôs e aviões. Sou um deles, para confessar um dos meus hábitos.

Quem lê amplia o poder de reflexão e argumentação. Torna-se mais capaz de interagir com as situações, vislumbrar outras oportunidades e planejar a vida com sabedoria. Certa vez, assisti uma palestra na biblioteca do SESC-NOVA FRIBURGO, em que a palestrante expunha o valor da leitura para jovens alunos. Percebi que eles gostavam de ler, o encantamento que sentiam com os personagens e como apreciavam os momentos em que se deixam levar pelo enredo das histórias. Entretanto, eles se queixavam de que não tinham livros disponíveis. Ou seja, os leitores de qualquer idade sofrem com a falta de oportunidades de leitura!

Mas há os que as possuem e não leem, uma vez que, provavelmente, gastam, cada vez mais, o tempo com os aplicativos virtuais de relacionamento. É certo que vivemos num mundo interativo, a internet é um veículo potente de comunicação e não podemos nos abstrair do universo virtual; temos de sobreviver no mundo civilizado! Mas é preciso ter amadurecimento para reconhecer os limites de uso e ser ciente de que nos livros encontramos fontes de ideias, prazer e de cultura. Quem lê tem o mundo nas mãos porque é alimentado por histórias e fatos, tem riqueza interior porque é abastecido por valores, tem vocabulário porque vivencia a língua em sua amplitude de emprego. Além do mais, cada leitura nos oferece algo de extraordinário que nos toca e nos faz ser diferente. Ah, as biografias!, como nos permitem conhecer a vida de pessoas corajosas, talentosas e sensíveis às questões relevantes, que modificaram a história.

Ler é poder adentrar diferentes universos culturais de tempos e espaços distintos. É viajar no tempo. E, por mais incrível que pareça, meu caríssimo amigo, os textos antigos têm atualidade. A premissa, o que não está na Bíblia, está em Shakespeare, é verdadeira, uma vez que os mitos, as lendas e as histórias de povos estão descritas em textos, em cada palavra, em cada frase, mostrando as relações de causa e efeito, os motivos das vitórias e derrotas, dos ideais, dos erros e acertos.  Inclusive, as múltiplas faces do caráter.

Ora pois, o livro não é uma caixa de surpresas e de magias?

 

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A lei do retorno

segunda-feira, 15 de março de 2021

O Dia Internacional da Mulher me fez pensar nas personagens femininas, figuras significativas, que foram capazes de sair das páginas dos livros e adentrar na vida quotidiana. Às vezes, eu me pergunto, por que um sujeito fictício, que nasceu no imaginário de um autor, é capaz de exercer influência marcante nas pessoas? Sem carne e osso, uma figura humana que possui apenas uma função delineada em uma determinada história, pode ser percebida como uma pessoa e convier abstratamente na vida social e cultural. Tornar-se, inclusive, modelo; um referencial.

O Dia Internacional da Mulher me fez pensar nas personagens femininas, figuras significativas, que foram capazes de sair das páginas dos livros e adentrar na vida quotidiana. Às vezes, eu me pergunto, por que um sujeito fictício, que nasceu no imaginário de um autor, é capaz de exercer influência marcante nas pessoas? Sem carne e osso, uma figura humana que possui apenas uma função delineada em uma determinada história, pode ser percebida como uma pessoa e convier abstratamente na vida social e cultural. Tornar-se, inclusive, modelo; um referencial. Qual mulher que não tem um pouco de Penélope e Sherazade? Mesmo com as transformações que vêm ocorrendo na vida sexual, estas personagens guardam a essência feminina. Qual mulher que não sabe utilizar seus poderes com agudeza e inteligência para atingir seus objetivos? E o que se pode dizer da lealdade, da paciência e da capacidade de esperar de uma mulher com relação à pessoa amada? Quem não tem uma Julieta dentro de si, capaz de lutar por um amor impossível?

Talvez por sermos pessoas incompletas, carecemos, ao longo de nossos dias, de conceitos, representações e características que nos façam ter a sensação de completude, que nos tornem mais potentes perante à vida, mais felizes diante das diversidades existenciais e da fragilidade humana. Talvez por sermos efêmeras e termos a certeza de que findamos, as personagens, em suas perfeições, nos desviam desta constatação, e nos fazem sentir um tanto mais onipotentes ante aos infortúnios. Talvez por necessitarmos de referenciais para construirmos sentidos para nossa vida, que vão se transformando a cada dia.. Ah, como precisamos deles! 

Estamos inseridos em tramas, tecendo histórias diárias, tais quais as personagens, que, na verdade nos representam. Sempre. Da mesma forma que são os personagens que compõem uma história, nós somos as protagonistas da nossa. Da mesma forma que são os autores que usam do livre arbítrio para construir suas histórias, nós nos utilizamos deste mesmo direito para fazermos a nossa. Assim, o que nos une às personagens são a liberdade e a determinação de, em todo momento, ir em frente ou colocar o ponto final. 

Então, desta forma, podemos, nós, mulheres, adentrarmos nas páginas dos livros, como Edith Piaf e Frida Kahlo. Ou melhor dizer, de qualquer forma, somos nós que inspiramos os autores a construírem as personagens. Tão belas, tão intrigantes e instigantes. A vida vai para a história, que retorna tocando e transformando vidas. Temos, assim, a lei do retorno. 

 

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Ah, se você me emprestasse seu sonho...

segunda-feira, 08 de março de 2021

Certa vez, imaginei entrar num quarto pequenino pela fechadura. Durante a madrugada, tão misteriosa, fui carregada por um vento que passava entre os móveis do quarto, querendo se aproximar daquele homem, ainda jovem, de cabelos encaracolados e rosto sereno. E belo. Que parecia estar tendo um sono enfeitado por coloridos sonhos. A curiosidade balançou minha alma, quando uma surpreendente vontade de desvendar seus sonhos tomou conta de mim, uma admiradora da sua obra. Eu me perguntava baixinho para não o acordar: quais são as imagens que dançam por trás dos olhos de um inglês?

Certa vez, imaginei entrar num quarto pequenino pela fechadura. Durante a madrugada, tão misteriosa, fui carregada por um vento que passava entre os móveis do quarto, querendo se aproximar daquele homem, ainda jovem, de cabelos encaracolados e rosto sereno. E belo. Que parecia estar tendo um sono enfeitado por coloridos sonhos. A curiosidade balançou minha alma, quando uma surpreendente vontade de desvendar seus sonhos tomou conta de mim, uma admiradora da sua obra. Eu me perguntava baixinho para não o acordar: quais são as imagens que dançam por trás dos olhos de um inglês? o que se passa pela imaginação de um professor de matemática? Eu sabia que suas ideias fantásticas iriam tornar perenes, ocupando importantes espaços nas estantes das casas e livrarias das cidades, nas bibliotecas dos bairros, nas universidades e escolas, nas empresas de todo o planeta para provocar reflexões nos funcionários. Ele teve tamanha sutilidade e inteligência ao escrever que suas frases guardam enigmas, e curiosos vão passar anos e anos tentando desvendá-las. Seus sonhos mágicos se transformarão em textos cheios de simbolismos, mostrando personagens que se aventuram no País das Maravilhas, cheios de inusitadas situações. Cento e cinquenta anos depois de publicada, sua obra vai pertencer ao universo dos clássicos e suas brincadeiras vão continuar a ser graciosas às crianças, já tão acostumadas à modernidade cibernética. Mas os adultos para entendê-las, vão precisar interpretar seus significados. Há quem possa explicá-las? Mesmo estando adormecido num tempo passado do século XIX e com jeito de criança, ele e seus personagens vão conquistar a imortalidade com uma criativa trama que sempre terá atualidade. Sua obra foi inspirada por uma linda menina, Alice Pleasance Lidell, que o motivou a criar histórias feitas de palavras simples para desafiar a psicanálise, a política e a religiosidade. E encantar as crianças. Charles Lutwidge Dodgson, conhecido como Lewis Caroll, continua a dormir serenamente na madrugada, num quarto minúsculo, enquanto eu era tomada por um espírito inquieto e investigativo. Até que, repentinamente, um coelho apressado surgiu e esbarrou na xícara de chá, derrubando-a e deixando-a cair no chão. Mas o escritor só despertou com os gritos da Rainha de Copas que mandava cortar a cabeça de todos. E, eu, como intrusa, para não perder a minha, saí do quarto de mansinho junto com um feixe de luz. E, cá estou eu, pedinte de um sonho. Ainda. 

 

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O Estado e a literatura infantil. Por acaso, vocês sabem aonde o Coelho foi?

segunda-feira, 01 de março de 2021

Será que posso afirmar que a literatura é patrimônio do Estado, tanto quanto a língua usada? Volta e meia, eu me deparo com esta questão porque a literatura se utiliza da palavra como instrumento de expressão da cultura. Este é um tema essencial da expressão de um povo, dado que a literatura revela um tempo histórico, político, social e cultural. A literatura, através dos seus diferentes estilos, aborda fatos, revela acontecimentos e avalia tendências de um momento. Possui riqueza artística, exigindo do seu criador tantos cuidados como os dos designers de joias.

Será que posso afirmar que a literatura é patrimônio do Estado, tanto quanto a língua usada? Volta e meia, eu me deparo com esta questão porque a literatura se utiliza da palavra como instrumento de expressão da cultura. Este é um tema essencial da expressão de um povo, dado que a literatura revela um tempo histórico, político, social e cultural. A literatura, através dos seus diferentes estilos, aborda fatos, revela acontecimentos e avalia tendências de um momento. Possui riqueza artística, exigindo do seu criador tantos cuidados como os dos designers de joias. Não é produzida de qualquer jeito. Principalmente a literatura infantil, que não é historinha para criancinhas. É, sim, a composição literária que adentra o imaginário universal para encantar, em sua primeira finalidade, e mostrar à criança o mundo concreto em que ela vive.

Em cada obra literária há saberes relevantes a serem preservados, a infantil tem um sentido enriquecido pelo desenvolvimento do gosto pela leitura. Aliás, a literatura guarda em suas linhas a sedução ao prazer de ler. Quem lê quer conhecer mais para compreender melhor a vida. Quem lê pretende ampliar seus horizontes para aprimorar seus objetivos de vida. Estes sentidos estão presentes nas obras literárias, construídas em tempos e lugares diferentes. Alice no País das Maravilhas é uma obra sábia; dos oito aos oitenta anos, cada capítulo oferece ao leitor fontes para degustação e reflexão. Isso se pode dizer da milenar obra As Mil e Uma Noites. Ah, será que não precisamos, vez em quando, ter a sutil inteligência de Sherazade? Tenho vontade de me aprofundar em uma obra clássica de literatura infantil e trazer algumas reflexões aqui. Diariamente, em cada lugar, há um Chapeuzinho Vermelho sendo seduzido pelo Lobo Mau. Quem não vai num evento e se depara com um Grilo Falante?  Quem não guarda um Pequeno Príncipe dentro de si?

O escritor e sua obra precisam ser minimamente apoiados pelo Estado, através de salas de leituras nas escolas, bibliotecas nos bairros, concursos e programas de produção literária, distribuição de livros pelas prefeituras, feiras e festas literárias. Especialmente a literatura infanto juvenil. Não se desenvolve hábitos de leitura através de discursos, mas de exemplos. Pais leitores criam filhos leitores. Professores leitores formam alunos leitores. 

Quem lê, conhece muito bem aquele Coelho apressado e supõe aonde ele vai. Por falar nele, o Gato de Botas acabou de passar por aqui. E vou atrás dele para... Ah, boba serei se ficar comendo mosca.  

 

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Um fortuito aperto de mãos entre a literatura e a medicina

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Como a literatura é eclética! Imagino que o escritor seja como um colhedor de flores que seleciona e reúne plantas de vários espécimes para fazer arranjos e compor os ambientes em que vivemos, melhorando nossos modos de ser e de viver. Como toda arte, a literatura tem a perspicácia dos caçadores de esmeralda. Como toda a ciência, a medicina tem o espírito investigativo de Sherlock Holmes, que tudo precisa saber para resolver, além de ter nas mãos a divindade do tratamento e da cura.

Como a literatura é eclética! Imagino que o escritor seja como um colhedor de flores que seleciona e reúne plantas de vários espécimes para fazer arranjos e compor os ambientes em que vivemos, melhorando nossos modos de ser e de viver. Como toda arte, a literatura tem a perspicácia dos caçadores de esmeralda. Como toda a ciência, a medicina tem o espírito investigativo de Sherlock Holmes, que tudo precisa saber para resolver, além de ter nas mãos a divindade do tratamento e da cura. A literatura e a medicina são dois prismas da atividade humana que carregam a nobreza dos deuses do Olimpo.

Esta coluna foi inspirada pela vasta obra de Augusto Cury. Além de ser médico psiquiatra, com doutorado em Psicologia Multifocal pela Flórida Christian University, é professor, conferencista, pesquisador e escritor, um dos mais vendidos autores no mundo sobre a inteligência humana. Ao transitar com desenvoltura entre o romance e a autoajuda, ele aproxima estes gêneros literários com a finalidade de exaltar o funcionamento da mente humana e estabelecer relações entre o uso das suas capacidades e as formas de viver. Em sua obra, ele descreve o funcionamento da mente nos livros de autoajuda, como no Código da Inteligência, e mostra nos romances a experiência existencial, como Prisioneiros da Mente. O que, a meu ver, pode ser interessante ao leitor de seus livros, que tem a possibilidade de conhecer e visualizar os pressupostos por ele apresentados em perspectivas diferentes.

Muito me preocupa a literatura de autoajuda sem o respaldo da ciência, construída a partir da visão empírica, que se baseia na experiência pessoal. Fundamentada no rigor dos estudos científicos, a obra de Augusto Cury merece nosso respeito. 

 O mundo civilizado foi construído pela inteligência do homem. As realizações ou feitos foram consequência do modo como as capacidades intelectuais foram usadas ao longo da história. Em todos os momentos houve discrepâncias e dualidade de sentidos, a vida civilizada não seguiu de modo linear em direção à preservação da vida e ao respeito à individualidade. Infelizmente. 

O que tinham de especial os homens que contribuíram para o aperfeiçoamento das condições de vida como Leonardo Da Vinci, Sabin e Sócrates? Seria curiosidade, amor à vida, capacidade de pesquisar e discernir? Fizeram autópsia no cérebro de Einstein e não encontraram diferenças com os cde outras pessoas. 

Nas profundezas do quotidiano de cada um, a inteligência é fator preponderante para a conquista da qualidade de vida, especialmente das relações interpessoais. Tenho certeza de que para conquistá-la é bom compreendermos melhor como configuramos nossa mente a cada instante do dia e de que forma usamos as capacidades que possuímos.

 

Alguns livros de Augusto Cury:

. Pais Brilhantes e Professores Fascinantes;

. Nunca Desista dos Seus Sonhos;

. Você é Insubstituível;

. O Futuro da Humanidade:

. O Código da Inteligência;

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A música carnavalesca esbanja literatura

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Não é porque estamos em tempos de pandemia que o carnaval vai se encolher pelas frestas da cidade como um refugiado, que procura pequenos espaços para eclodir em vida. Ah, o carnaval é solene! Triunfa nas ruas como uma festa popular que inunda cidades do planeta há séculos. No Brasil, chegou nos tempos coloniais e se enraizou. Entretanto, neste ano de 2021, como forma de preservar a saúde, o carnaval vai vibrar no brasileiro de outras formas, já que seu coração bate no ritmo do bumbo. Mesmo os que não brincam nos blocos, mas cantarolam, movimentando os pés ou as mãos ao som do samba. 

Não é porque estamos em tempos de pandemia que o carnaval vai se encolher pelas frestas da cidade como um refugiado, que procura pequenos espaços para eclodir em vida. Ah, o carnaval é solene! Triunfa nas ruas como uma festa popular que inunda cidades do planeta há séculos. No Brasil, chegou nos tempos coloniais e se enraizou. Entretanto, neste ano de 2021, como forma de preservar a saúde, o carnaval vai vibrar no brasileiro de outras formas, já que seu coração bate no ritmo do bumbo. Mesmo os que não brincam nos blocos, mas cantarolam, movimentando os pés ou as mãos ao som do samba. 

O espírito carnavalesco vai além da liberdade, do prazer e do gingado. Pousa como um colibri na inspiração dos autores das letras de carnaval, que buscam no quotidiano do povo e na história motivos para criarem poemas que vão se eternizar nas melodias. O samba é um símbolo relevante do carnaval, que surgiu na cidade do Rio de Janeiro, no Estácio. O primeiro samba gravado no Brasil foi Pelo Telefone, em 1917, cuja letra foi criada por Mauro de Almeida. Até hoje é cantado nos cortejos e blocos carnavalescos.

O chefe da polícia

Pelo telefone

Mandou me avisar

Que com alegria

Não se questione

Para brincar

Os desfiles de escolas de samba são puxados pelo samba-enredo, de modo que todos os integrantes seguem cantando, dançando e interpretando um tema, dando estilo e alegria ao desfile. São poesias que contam histórias, fazem reverência às personalidades que construíram ou ainda constroem a vida de um lugar. Que mostram fatos culturais que influenciam modos de ser e de fazer de um povo. Enfim, é uma construção literária que envolve pesquisa, ritmo musical e, acima de tudo, o amor ao carnaval.

O Clube Vivências, organizado por Márcia Lobosco, está brindando este carnaval com a leitura de sambas-enredos, lidos e interpretados pelas participantes. Além de ser um momento delicioso, ao lê-los e escutá-los diariamente percebemos a beleza dos seus versos, a mensagem que engrandece a vida, as pessoas e o lugar. Ela nos faz a cada interpretação beber a expressão carnavalesca numa das mais alegres fontes literárias.

 

Samba-enredo da Mangueira 1986

Caymmi Mostra ao Mundo o que a Bahia e a Mangueira Têm

 

Tem xim-xim e acarajé

Tamborim e samba no pé

 

Mangueira vê nos céus dos orixás

O horizonte rosa no verde do mar

A alvorada veste a fantasia

Pra exalar Caymmi e a velha Bahia ô ô ô

Quanto esplendor

Nas igrejas soam hinos de louvor

E pelos terreiros de magia

O ecoar anuncia o novo dia

Nessa terra fascinante

A capoeira foi morar

 

O mundo se encanta

O mundo se encanta

Com as cantigas que fazem sonhar

Com as cantigas que fazem sonhar

 

Lua cheia

Leva a jangada pro mar

Oh! sereia

Como é belo teu cantar

Das estrelas

A mais linda está no gantois

Mangueira berço do samba

Caymmi a inspiração

Que mora no meu coração

Bahia terra sagrada

Iemanjá, Iansã

Mangueira super campeã

 

Para finalizar, deixo a deliciosa poesia da marchinha de carnaval, Máscara Negra, de Zé Keti.

Tanto riso, oh quanta alegria

Mais de mil palhaços no salão

Arlequim está chorando pelo amor da

Colombina

No meio da multidão

 

Foi bom te ver outra vez

Tá fazendo um ano

Foi no carnaval que passou

Eu sou aquele pierrô

Que te abraçou

Que te beijou, meu amor

Na mesma máscara negra

Que te esconde o teu rosto

Eu quero matar a saudade

Vou beijar-te agora

Não me leve a mal

Hoje é carnaval

 

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Trova, a borboleta que pousa em nossa alma

terça-feira, 09 de fevereiro de 2021

Nesta semana, andando com tranquilidade pela Praça Getúlio Vargas, observei,
mais uma vez, as trovas presas aos postes, colocadas em 2018, quando a cidade de
Nova Friburgo comemorou 200 anos. Que lindeza literária! As trovas são delicadas
meninas que dançam pelos vales da nossa cidade. Mas, depois deste momento de
orgulhoso encanto, fui tomada por uma sensação quase oposta, carregada pela
pergunta: por que o friburguense não valoriza suas conquistas, sua história e sua

Nesta semana, andando com tranquilidade pela Praça Getúlio Vargas, observei,
mais uma vez, as trovas presas aos postes, colocadas em 2018, quando a cidade de
Nova Friburgo comemorou 200 anos. Que lindeza literária! As trovas são delicadas
meninas que dançam pelos vales da nossa cidade. Mas, depois deste momento de
orgulhoso encanto, fui tomada por uma sensação quase oposta, carregada pela
pergunta: por que o friburguense não valoriza suas conquistas, sua história e sua
gente? Parece que há uma indiferença reinante, um certo desleixo com o passado, que
nos presenteia todos os dias com realizações que mudaram as circunstâncias de
épocas passadas, os modos de pensar, de viver e criar. Enfim, não fazemos parte de
uma geração espontânea, somos, sim, a síntese de todas as construções realizadas, de
modo que o passado se faz presente em todos os momentos da atualidade.
Nova Friburgo é o Berço dos Jogos Florais desde 1960! Quem sabe que
anualmente a cidade reúne e premia trovadores de vários estados do Brasil e países do
mundo? Enquanto cidade da trova acolheu grandes artistas da palavra poética, como
JG de Araújo Jorge, hoje continua sendo embelezada por Elisabeth Souza Cruz,
presidente da União Brasileira de Trovadores, Sérgio Bernardo e outros trovadores.
Da mesma forma que Nova Friburgo foi criada por um Decreto Real, por Lei
Municipal recebeu o título de Cidade da Trova em 2004. Trova é literatura, é uma
composição poética de quatro versos de sete sílabas, que traz a voz do povo, revela
sentimentos nobres, brinca com as situações de vida, recita o amor, a tristeza e o
sonhar. A trova desperta a vontade de viver, estimula boas reflexões sobre as relações
humanas e mostra que a vida tem a beleza do beija-flor. É a borboleta que pousa em
nossa alma e nos enleva.

Longe de ser invasão,
Ser dependência ou acinte,
Tu és amor, a razão
Para o meu dia seguinte

Elisabeth Souza Cruz, Jogos Florais 2020

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O voo do livro infantil

segunda-feira, 01 de fevereiro de 2021

Faz tempo que não escrevo sobre a literatura infantil. Lendo alguns textos
e entrevistas de Ricardo Azevedo, mestre em Letras e doutor em Teoria
Literária, escritor e ilustrador, autor de aproximadamente cem livros de
literatura infantil, como Nossa rua tem um problema (1993), Dezenove poemas
desengonçados (1998) e Se eu fosse aquilo (2014), editados pela Ática, fui
carregada por ideias iluminadas sobre o escrever para crianças.
Tenho a impressão de quem escreve para crianças tem vontade de

Faz tempo que não escrevo sobre a literatura infantil. Lendo alguns textos
e entrevistas de Ricardo Azevedo, mestre em Letras e doutor em Teoria
Literária, escritor e ilustrador, autor de aproximadamente cem livros de
literatura infantil, como Nossa rua tem um problema (1993), Dezenove poemas
desengonçados (1998) e Se eu fosse aquilo (2014), editados pela Ática, fui
carregada por ideias iluminadas sobre o escrever para crianças.
Tenho a impressão de quem escreve para crianças tem vontade de
despertar a própria capacidade de imaginar. Também de dar as mãos ao
pequeno leitor e convidá-lo a passear pelo imaginário através de enredos
criativos, sensíveis e divertidos. É uma viagem em que o escritor e o leitor
interpretam os sentidos da vida, cada um ao seu modo e ao seu ponto de vista,
a partir de esforços para compreender as coisas deste mundo permeado por
diferenças, por situações, muitas vezes, ambíguas e incompatíveis com o ser
criança. Inclusive destrutivas. Os passos nos caminhos em que a fantasia
colore a realidade devem ser livres. Leves e desprendidos de preconceitos.
Porém respeitosos, responsáveis e equilibrados pelos valores humanos. Que
belo passeio pode-se dar no mundo maravilhoso de Alice no País das
Maravilhas, tão bem imaginado por Lewis Carol. O que se pode encontrar nas
As Aventuras de Pinóquio, guiada pelas ideias de Carlo Collodi? O que será
possível descobrir no O Sítio do Pica-Pau Amarelo, de Monteiro Lobato? Ah,
são tantas deliciosas viagens ao universo da imaginação!
O sentido da vida, as circunstâncias e as coisas deste mundo são
reveladas através dos livros, de modo que a realidade em que o leitor está
imerso é mostrada de modo lúdico. A literatura não é conclusiva, nem fonte de
lições. É vida e mais vida, a maior mestre de todos os tempos.
A individualidade da criança é preponderante aos olhos do escritor, que
jamais escreve para si. Um grande sedutor? Talvez tenha de sê-lo, bem como
hábil para transformar sua história num portal à reflexão de questões
relevantes, para inserir a criança no universo inquietante do pensamento

construtivo e fazê-la viajar pelos meandros do imaginário infantil. A literatura
infantil não pode ser depreciada ao âmbito das historinhas e dos livrinhos.
O livro infantil tem de voar mundo afora, carregando em suas páginas
ideias uivantes e coloridas. Fazedoras de homens valorosos.

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