Blog de terezamalcher_17966

O universo virtual e a pandemia

terça-feira, 02 de junho de 2020

 

A pandemia causada pelo Covid-19 será um marco histórico. Talvez 2020 possa ser o início de uma nova era, um tempo mais evoluído em todos os sentidos, a começar pelo modo de conceber a vida no Planeta Terra e pelos cuidados pessoais. Os modos de produção, a convivência e as relações entre pessoas nos vários âmbitos da vida coletiva também foram tocados pela presença deste vírus. Enfim, em 2020 os povos estão buscando formas de sobreviverem ao isolamento e de estabelecerem modos de aproximação e interação. 

 

A pandemia causada pelo Covid-19 será um marco histórico. Talvez 2020 possa ser o início de uma nova era, um tempo mais evoluído em todos os sentidos, a começar pelo modo de conceber a vida no Planeta Terra e pelos cuidados pessoais. Os modos de produção, a convivência e as relações entre pessoas nos vários âmbitos da vida coletiva também foram tocados pela presença deste vírus. Enfim, em 2020 os povos estão buscando formas de sobreviverem ao isolamento e de estabelecerem modos de aproximação e interação. 

O universo virtual tem se mostrado como possibilidade inteligente e eficiente para promover o intercâmbio, a solidariedade e a produção econômica. O ambiente literário tem se reorganizado para atender as necessidades causadas pelo isolamento social, criando formas de proporcionar a troca entre leitores, escritores e estudiosos. Até porque a literatura nos salva ao preencher os espaços vazios deste momento, que são muitos.

As lives superam a necessidade de deslocamento das pessoas para assistirem, ao vivo, palestras, debates e encontros. Além de proporcionarem a economia de recursos e gastos, são instrumentos de aproximação, comunicação e divulgação. Tenho assistido lives que me são verdadeiras oportunidades de aprendizagem, que me possibilitam estar em contato com pessoas de quem gostaria de conhecer melhor o pensamento e a produção literária sem me afastar do conforto de casa. E mesmo se não tiver a possibilidade de estar virtualmente presente em tempo real, tenho a alternativa para assisti-las a qualquer momento ou quantas vezes eu quiser, uma vez que podem ser gravadas. Durante a pandemia foi possível confirmar as amplas viabilidades de mantermo-nos vivos e atuantes no ambiente literário e cultural. 

As videoconferências, através da transmissão simultânea de áudio e vídeo, são formas de cooperação e de comunicação interpessoal em tempo real uma vez que facilitam o compartilhamento de informações e ideias. As conferências, nestes tempos de pandemia, me proporcionaram o reencontro com um grupo de oficina literária da qual participei no passado. O grupo, composto por doze pessoas, voltou a se reunir, porém virtualmente. Além da alegria de estarmos nos vendo e ouvindo, voltamos a produzir, a trocar e a criticar textos, excelente prática a quem escreve. 

Nosso Clube de Leitura Vivências promoveu encontros virtuais através das videoconferências. Assim, continuamos a nos ver, ler e debater temas relevantes à leitura e significativos a este delicado momento. Temos lido os contos de Machado de Assis e descortinado em detalhes os meandros das histórias, bem como a atualidade dos fatos por ele imaginados. 

Como este modo virtual de estar junto nos conforta e anima!

A pandemia fez com que as oportunidades oferecidas pela internet não sejam mais práticas complementares às presenciais. Progressivamente ampliadas, apresentam a opção de a pessoa acessar, ficar e participar. Permite-nos trilhar novos caminhos. Ilumina nossa criatividade e motiva-nos para que enfrentemos os desafios de tecnologias pouco dominadas, aprimoremos aptidões literárias e tornemo-nos mais capazes para lidar com as riquezas do mundo virtual.

 

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A repetição das cigarras

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Participei de uma oficina literária por mais de dez anos, que estava direcionada à criação de textos. A vida fez com que cada um seguisse seu caminho, e nós nos afastamos com tristeza.  Mantivemos contato porque construímos uma relação de afeto. Nós nos gostamos e muito, principalmente do professor Márcio Paschoal, que nunca deixou de olhar por nós, como amigo e conselheiro.  Ah, a literatura une as pessoas, dizia uma amiga, também estudiosa das letras. 

Participei de uma oficina literária por mais de dez anos, que estava direcionada à criação de textos. A vida fez com que cada um seguisse seu caminho, e nós nos afastamos com tristeza.  Mantivemos contato porque construímos uma relação de afeto. Nós nos gostamos e muito, principalmente do professor Márcio Paschoal, que nunca deixou de olhar por nós, como amigo e conselheiro.  Ah, a literatura une as pessoas, dizia uma amiga, também estudiosa das letras. 

Como esta pandemia nos aquietou em casa, resolvemos nos reunir novamente, entretanto virtualmente. Que delícia! Voltamos a trocar nossas produções literárias, como fazíamos semanalmente. Decidimos, então, que, para o próximo encontro, iríamos criar textos sobre a compulsão.

Considerei o tema tão pertinente e contundente que resolvi trazê-lo aqui. Mas, antes de abordá-lo, devo dizer que as oficinas, das quais participei, contribuíram para que eu escrevesse com clareza, leveza e sutileza. Encontrei em todos os nossos encontros excelente aprendizado.

Então, me pus a pesquisar e a refletir sobre este momento de pandemia. Considerei que as mudanças que sofremos nesta época concorre para que desenvolvamos compulsões. O isolamento da convivência social e familiar, o medo que, em muitas circunstâncias, pode gerar o pânico individual e coletivo, estimulam para que o uso repetitivo de recursos se torne uma presença constante na maneira de pensar e de agir, como passar o álcool no cartão de crédito e no celular. Em tudo o que colocamos as mãos. O que era rotineiro se tornou exacerbado. 

Quem não acorda de manhã querendo saber das notícias de um vírus que teve o poder de parar o mundo, o país e a nossa vida? Com a ansiedade impulsionada pelo risco de adoecer e de morrer, não é possível perder uma informação. Muda-se, assim, de canal, percorre-se as mensagens, lê-se jornais e outras fontes virtuais. A informação fica misturada com o café da manhã e a vida doméstica. Somos levados, como um barco em busca de rumo, pelos meandros da pandemia, pelas incertezas das decisões, pelo desconhecimento das possibilidades futuras. A vida mergulha na imperfeição. A normalidade cai por terra, e o improvável se torna experiência frequente. Como a insegurança aprofunda os hábitos perfeccionistas, as gavetas e prateleiras ficam impecavelmente arrumadas. O que era costumeiro, agora, é um compromisso inadiável.    

Se éramos desavisados e tocávamos nos objetos na rua ou segurávamos em corrimões, agora não podemos encostar em nada. E as pessoas por quem temos afeto? Ah, não podemos mais delas nos aproximar. De uma hora a outra, ficamos frágeis e vulneráveis. O fato é que o álcool, a distância e as luvas se tornaram um amparo necessário. Vital. 

Ao se ter a impressão de que podemos ser infectados a qualquer momento, colocamos o termômetro para medir a temperatura, bem como testamos o olfato e o paladar. Desta forma, fizemos um ciclo de repetições, como a cigarra que repete seu canto. Recanta. Em todos os verões. 

Certamente, depois que a pandemia passar, poderemos ir além das paredes do isolamento. Mas será que vamos continuar girando pelas repetições? 

Espero que as tornozeleiras das compulsões não sejam difíceis de retirar. Como o canto das cigarras que silenciam depois do verão.     

 

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O Projeto Áudio Literário alça voo

segunda-feira, 18 de maio de 2020

O Projeto Áudio Literário nasceu, nestes tempos de pandemia, da criatividade e do empenho de Márcia Lobosco, coordenadora do Clube Vivências, que acontece nas terças-feiras na Academia Friburguense de Letras e na livraria Sabor de Leitura, às quartas-feiras. Os participantes do Clube leem poesias, crônicas, contos e até fabulas de escolha pessoal e são enviados diariamente, cada dia um texto, para os grupos do Clube do WhatsApp. 

O Projeto Áudio Literário nasceu, nestes tempos de pandemia, da criatividade e do empenho de Márcia Lobosco, coordenadora do Clube Vivências, que acontece nas terças-feiras na Academia Friburguense de Letras e na livraria Sabor de Leitura, às quartas-feiras. Os participantes do Clube leem poesias, crônicas, contos e até fabulas de escolha pessoal e são enviados diariamente, cada dia um texto, para os grupos do Clube do WhatsApp. 

As pessoas que frequentam estes grupos literários, do qual faço parte às terças-feiras, além de buscarem o prazer literário e o encontro com amigos, querem se tornar pessoas melhores, repensar valores e avaliar modos de conceber a vida. A partir destas premissas, durante este período de recolhimento, inclusive porque grande parte dos participantes tem idade superior a sessenta anos, Márcia se sentiu instigada a manter ativo o perfume literário e a compartilhá-lo com todas as participantes.

Os áudios chegam pontualmente às 10h, e nós temos de identificar a voz do leitor do texto, além de apresentar e trocar ideias que emergem durante o momento de escuta. O Projeto cativa e preenche os vazios que cada uma de nós sente durante o tempo de pandemia. Os áudios se tornaram, diariamente, um toque sensível de alegria, enternecimento e reflexão.

Uma amiga nossa e participante do Clube, Miriam Ribeiro, voluntária do Projeto Viva e Deixe Viver, que tem a finalidade de contar histórias a crianças em hospitais, levou o Áudio Literário a ser compartilhado no Hospital Federal da Lagoa, no Jardim Botânico, Rio de Janeiro. Funcionários, pacientes e acompanhantes logo aderiram e passaram a escutá-los. A notícia foi recebida com grande emoção por nós, os leitores, principalmente por saber que pessoas que estão doentes, seus acompanhantes e funcionários teriam acesso à poesia, aos contos e às crônicas, bem como teriam a oportunidade de conhecer textos de autores sensíveis à vida, como Fernando Pessoa, Clarice Linspector, Rubem Braga, dentre outros. Mais do que um acalento aos que sofrem e realizam trabalhos em ambiente hospitalar, os áudios estimulam os pacientes a continuarem sua luta pela vida, bem como os acompanhantes e funcionários a empregarem seus esforços no amparo aos doentes. A seguir, um médico do Hospital de Oncologia do Rio de Janeiro solicitou que os áudios fossem ouvidos pelos respectivos pacientes nos momentos em que recebessem a medicação, como meio de amenizar o mal-estar.

  Mais uma vez, vejo que a literatura está tão próxima de nós, de cada pessoa em sua experiência existencial, sem discriminar. É uma notável guardiã e difusora de ideias, capaz de tornar o leitor hospedeiro dos textos, que o abraça e mostra novos horizontes. Com um quê de solidariedade, mostra que escritores e leitores são membros de uma mesma comunidade. A comunidade humana do Planeta Terra.

Os que escrevem e os que leem para outros emitem amor à vida. Aquele que ouve demonstra humildade. E o texto pode ser comparado à aurora boreal que ilumina e aponta caminhos.

Nós, que vivemos de alguma forma a literatura, não podemos nos fechar em bolhas literárias. É preciso dar asas às ideias e aos feitos, fazê-los voar mundo afora. A literatura tem magnitude. É imensa. Tem beleza.

Que os Áudios Literários adentrem os espaços, que se façam presentes e alcancem a alma das pessoas.

 

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Carta às mães

terça-feira, 12 de maio de 2020

Às Mães

Sei que esta carta só vai chegar na segunda-feira em suas mãos, depois da comemoração do seu dia, uma vez que minha coluna é publicada neste dia da semana. Através da homenagem que tenho vontade de fazer, quero abraçar a pessoa que guarda em seu peito o amor maior, o maternal. A quem o faz transbordar todos os dias do ano com generosidade. 

Às Mães

Sei que esta carta só vai chegar na segunda-feira em suas mãos, depois da comemoração do seu dia, uma vez que minha coluna é publicada neste dia da semana. Através da homenagem que tenho vontade de fazer, quero abraçar a pessoa que guarda em seu peito o amor maior, o maternal. A quem o faz transbordar todos os dias do ano com generosidade. 

Certamente, está direcionada às mulheres. Pode ser aos homens, talvez. Provavelmente aos avós. Na verdade, quero reverenciar as pessoas que, por livre arbítrio, decidiram cultivar esta sublime afetividade, entretanto, muitas vezes, difícil de viver. Não restam dúvidas de que o amor é espontâneo, porém experimentá-lo em sua plenitude é uma opção, sempre renovada ao longo dos anos.  

Este é o dia de agradecimento ao seu olhar atento, ao jeito habilidoso que tem nas mãos para fazer, concertar ou ajeitar os tantos objetos e miudezas que fazem parte da vida. Aos modos de nos cuidar. Ah, como as mães penteiam bem e sabem resolver os problemas quotidianos e tantos outros mais complicados. É o dia em que se vai admirar a voz aveludada e firme daquelas pessoas que querem o melhor para uma outra e para a qual fazem o impossível. São mais do que amigas, são mais do que irmãs. São mães. Verdadeiras mestras que carregam em suas células a sabedoria milenar, sendo capazes de notar, num golpe de olhar, sem trisar, o que o semblante do seu filho quer dizer. Que percepção possuem! São como leoas que assistem suas crias e defendem-nas com vigor, tomando providências, das simples às mais extremas, para afastar os riscos que as ameaçam.

Além de serem tomadas pelo sentimento de preservação, até exacerbados, as mães não contam as noites em claro que passaram, acalentando os filhos em seus colos, controlando suas febres e esquentado suas barrigas quando têm cólicas. Em cada esquina, encontramos mães velhas que acolhem filhos grisalhos. Em cada rua, sabemos de mães que cuidam dos netos, até dos bisnetos. Em cada lugar, há mães que veem seus filhos partirem para o universo.    

Neste domingo, quero me lembrar dos primeiros sons que escutei da minha mãe; seus passos, respiração, risos e espirros. Dos sapatos dela que calcei. Das broncas que me deu. Da vida que tivemos. 

Se biológica ou não, mãe se define pelo velar, mesmo que não haja presença física, mas na sensação apaziguadora e confortante que habita no coração de seu filho, dando-lhe a certeza de que onde estiver dele cuidará. Pela pessoa a quem se pode buscar em qualquer hora; nas difíceis e prazerosas, nas arrastadas e movimentadas.

Salve, as mães! Os anjos que nos acolheram para que fôssemos a pessoa que somos. Que encontraram a felicidade em nos criar, apesar do trabalho que demos. Apesar das chaves que perdemos, dos copos que quebramos e das janelas que pulamos.

É tão bom dizer: mamãe.

 

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Textos védicos, antiquíssimos e atuais

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Nestes tempos de pandemia, a literatura tomou conta dos momentos nossos de quietude, e, assim, tive a interessante experiência de voltar a ser ouvinte de histórias. Quando criança eu as escutava de minhas avós, como também nos discos, que me eram colocados em vitrolas antigas. Minha avó Minussa ou Minuça, até hoje não sei se o nome dela era escrito com ç ou ss, contava longas histórias em capítulos, todas as noites, às 20h, na época em que havia “blecaute” (as luzes da cidade do Rio de Janeiro eram desligadas). Eu me sentava com as pernas cruzadas e a escutava a perder o tempo.

Nestes tempos de pandemia, a literatura tomou conta dos momentos nossos de quietude, e, assim, tive a interessante experiência de voltar a ser ouvinte de histórias. Quando criança eu as escutava de minhas avós, como também nos discos, que me eram colocados em vitrolas antigas. Minha avó Minussa ou Minuça, até hoje não sei se o nome dela era escrito com ç ou ss, contava longas histórias em capítulos, todas as noites, às 20h, na época em que havia “blecaute” (as luzes da cidade do Rio de Janeiro eram desligadas). Eu me sentava com as pernas cruzadas e a escutava a perder o tempo.

Com a pandemia, um primo me indicou as histórias védicas, o Mahabharata, contadas em português. São mais de 300 capítulos. Coloquei o fone de ouvido e me pus a escutá-las. E, deste modo, comecei a conhecer a milenar Cultura Védica.

A literatura védica é a primeira do mundo, que foi manuscrita antes da civilização egípcia, grega ou mesopotâmica. Surpreendentemente atuais, seus escritos guardam todos os aspectos da vida, enquanto matemática, física quântica, medicina, arquitetura. As artes e o yoga. Os temas relativos à ciência e a espiritualidade estão contidos nestes manuscritos, como a teoria da relatividade, o cálculo da velocidade da luz, a idade da Terra, a lei do carma, os conceitos de alma e de consciência, a teoria da reencarnação. Dentre outros.

Cientistas, filósofos e estudiosos buscam nesta literatura a exatidão e a perfeição do conhecimento e do pensamento. A leitura dos Vedas expressa a busca da qualidade da consciência que existe em nós porque esses escritos têm a chave da sabedoria. Outras culturas, como a Maia, encontraram fundamentos nesta literatura.

Antes da escrita, os versos védicos eram transmitidos por tradição verbal e foram compilados há mais de cinco mil anos. O Mahabharata é um dos manuscritos, dentre outros que trazem a essência do conhecimento Vedas, escritos em Sânscrito, língua ancestral do Nepal e da Índia.

O Mahabharata contém a tradição, a beleza e as características da civilização védica, que guarda o conhecimento da natureza livre do ser humano, que respeita e valoriza da verdade absoluta, que preconiza a contribuição de cada pessoa para a sociedade e os padrões de comportamento pacíficos e não violentos. Essas histórias revelam a essência do sujeito, enquanto ser completo. Os Vedas propõem um estilo de vida que tem como propósito a maturidade emocional, enquanto resultado do crescimento físico e do cuidado para com a saúde, do domínio sobre si mesmo a partir do entendimento da própria mente, do desapego, do questionamento e do conhecimento puro para que a pessoa possa buscar seus objetivos na vida.

A cultura védica valoriza, enquanto busca pela maturidade emocional, a união entre duas pessoas, ou seja, o casamento, de modo que o prazer e a construção da família sejam preservados.

Escutá-las têm-me sido um aprendizado. Tenho a impressão de que, ao mergulhar na sabedoria milenar, vou começar a me preparar para a próxima vida.

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Toque literário em tom acetinado

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Depois que a pandemia nos tomou de assalto, fazendo o quotidiano entrar em crepúsculo, tirando-nos a possibilidade de uma vida possível e com largas fronteiras, a literatura surge mansamente, fazendo-nos uma visita diária e matinal. Como as ideias não poupam pessoas dotadas de criatividade, Márcia Lobosco, coordenadora e criadora do Clube de Leitura Vivências, nos traz textos literários, contos, crônicas ou poesias.

Depois que a pandemia nos tomou de assalto, fazendo o quotidiano entrar em crepúsculo, tirando-nos a possibilidade de uma vida possível e com largas fronteiras, a literatura surge mansamente, fazendo-nos uma visita diária e matinal. Como as ideias não poupam pessoas dotadas de criatividade, Márcia Lobosco, coordenadora e criadora do Clube de Leitura Vivências, nos traz textos literários, contos, crônicas ou poesias.

Cada uma das participantes do Clube escolhe e lê um texto em voz alta pelo áudio do WhatsApp. Diariamente, um toque literário vem a nós, através das vozes das participantes do Clube, tão bem cuidadas, que chegam a ganhar tons acetinados.

Dia a dia, a novidade vai se tornando rotina. Rotina macia e terna. Acolhedora. Quando o relógio vai chegando perto das dez horas, todas do Clube já se preparam para sentir a literatura invadir a alma através de uma voz conhecida e amiga. Quem vai ler hoje? Qual autor escolhido? Que texto será? O tempo que antecipa à leitura é marcado por perguntas. É uma sensação que nos leva à infância ante os presentes colocados na árvore de natal que gerava uma curiosidade sem fim. Ah, a surpresa era uma das melhores sensações que o presente poderia nos oferecer.

Nestes tempos de pandemia, principalmente para os que fazem parte dos grupos de risco, que ficam aquietados em seus cantos, este breve momento surge como um brinde à vida. Durante os poucos minutos em que um texto é lido, na voz de alguém, que tão bem conhecemos o formato das mãos e a cor dos olhos, tudo é esquecido. As preocupações se esvaziam e ficamos como sentados na beira da calçada, admirando e refletindo a respeito do sentido das palavras escutadas, se em prosa ou em verso.

Depois daquele momento acetinado, o dia, para cada uma de nós, ganha uma cor, com tonalidade reforçada pelos comentários, reflexões, trocas de impressões. E, assim, recebemos um toque de suavidade e de presença de pessoas amigas, mesmo que de modo virtual.

A Academia Friburguense de Letras, por iniciativa do nosso mestre maior, Robério José Canto, vai adotar a leitura, como forma, também, de propiciar aos acadêmicos fazerem uma visita literária entre si. Será mais uma conversa literária entre bons amigos.    

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Nesta Páscoa

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Sentimento urgente

                                              Clarice Linspector

Saudade é um pouco como fome
Só passa quando se come a presença
Mas, às vezes, a saudade é tão
profunda que a presença é pouco
Quer-se absorver a outra pessoa toda
Essa vontade de um ser o outro para
uma unificação inteira
É um dos sentimentos mais
urgentes que a vida tem

 

Sentimento urgente

                                              Clarice Linspector

Saudade é um pouco como fome
Só passa quando se come a presença
Mas, às vezes, a saudade é tão
profunda que a presença é pouco
Quer-se absorver a outra pessoa toda
Essa vontade de um ser o outro para
uma unificação inteira
É um dos sentimentos mais
urgentes que a vida tem

 

Escrevo esta coluna no domingo de Páscoa, inspirada pela poesia de Clarice, a sábia escritora nossa, brasileira. A saudade sobrevoa este dia, marcado pelo isolamento que abraça nossos sentimentos.

O Covid 19 está mudando o mundo, reafirmando o movimento da vida que vai se fazendo e refazendo ao acontecer, se esperado ou não. O acontecer desta Páscoa foi inesperado e exigiu o distanciamento entre pessoas como forma de preservar a vida e como expressão do desejo que o outro sobreviva ao Corona vírus, esta terrível ameaça viral. Ah, como este sentimento diferente nos invadiu ante a impossibilidade de participar daqueles momentos de encontro presenciais entre familiares e amigos, característicos desta época do ano. A distância se tornou a possibilidade de amar e respeitar.

Mas não deixou de haver a aproximação virtual entre as pessoas, tão afetiva, quanto a presencial. Se, ao mesmo tempo, o sentimento de tristeza e vazio tomou conta de nós, a sensação de enternecimento preencheu a ausência, através das mensagens e conversas.

O prazer de saborear o chocolate não foi maior do que a responsabilidade de preservar a saúde. Amanhecemos neste domingo de Páscoa, pensando em todos que não estão presentes e tudo o que vivenciarmos terá o sabor da falta.

Sei que esta coluna está triste. Mas faço questão de terminá-la com um toque de esperança, acenando a bandeira branca e orando o Pai Nosso, traduzido do aramaico, que está escrito numa pedra de mármore branca, no Monte das Oliveiras, em Jerusalém.

 

Pai-Mãe, respiração da vida,
Fonte do som, ação sem palavras, Criador do Cosmos!
Faça sua Luz brilhar dentro de nós, entre nós e fora de nós
Para que possamos torná-la útil.

Ajude-nos a seguir nosso caminho,
Respirando apenas o sentimento que emana do Senhor...

... Nosso Eu, no mesmo passo, possa estar com o Seu
Para que caminhemos como Reis e Rainhas
Com todas as outras criaturas.
Que o Seu e o nosso desejo, sejam um só, em toda a Luz,
Assim como em todas as formas, em toda existência individual,
Assim como em todas as comunidades...

... Faça-nos sentir a alma da Terra dentro de nós,
Pois, assim, sentiremos a Sabedoria que existe em tudo.
Não permita que a superficialidade
E a aparência das coisas nos iluda,
E nos liberte de tudo aquilo que impede nosso crescimento...

... Não nos deixe ser tomados pelo esquecimento
De que o Senhor é o Poder e a Glória do mundo,
A canção que se renova de tempos em tempos e que a tudo
embeleza.

Possa o Seu amor ser o solo onde crescem nossas ações.

Que assim seja

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Reflexões sobre o tempo

segunda-feira, 06 de abril de 2020

Com a tão repentina chegada do Corona Vírus, as paredes serenam e não mais limitam a vontade irresistível de ultrapassá-las. Aos poucos, vão se tornando resignadas companheiras durante o isolamento, ficando solidárias a este modo de estar solitário. Tão silenciosas como o tempo que circula entre elas, que não mais transpassa suas estruturas rígidas, deixando pensamentos, emoções e afazeres bailarem nos espaços vazios. O tempo se torna inexistente como, de fato, é. A quietude das paredes, então, passa a mostrar a verdade que as pessoas fazem questão de não perceber: o tempo não existe.

Com a tão repentina chegada do Corona Vírus, as paredes serenam e não mais limitam a vontade irresistível de ultrapassá-las. Aos poucos, vão se tornando resignadas companheiras durante o isolamento, ficando solidárias a este modo de estar solitário. Tão silenciosas como o tempo que circula entre elas, que não mais transpassa suas estruturas rígidas, deixando pensamentos, emoções e afazeres bailarem nos espaços vazios. O tempo se torna inexistente como, de fato, é. A quietude das paredes, então, passa a mostrar a verdade que as pessoas fazem questão de não perceber: o tempo não existe.

Aristóteles afirmou que o homem precisou criar os calendários, as horas e os minutos para evitar o caos, mas os animais não usam relógios porque não sentem necessidade em organizar seus dias; eles o vivem. Ah, os pirilampos ficam fosforescentes ao anoitecer e não precisam de alarmes que lhes avisem que está na hora de se apagarem; o nascer do sol lhes é suficiente. As cigarras, ao sentirem o calor do verão, cantam operetas nas árvores. A Dama-da-Noite exala perfume quando as estrelas enfeitam o céu.

Esse vírus nos fez retirar a palavra tempo do vocabulário porque agora sentimos o jeito dos momentos pelo o que sentimos e fazemos. Para alguns pode ter o ritmo do sapateado, para outros o som do canto do rouxinol. Ainda há quem sinta o sabor do azedo quando o vivenciam. A vida se realiza no vai e vem do acontecer, como a espuma do mar que desaparece na areia. Nada se repete e tudo se faz de novo. Acordamos para um amanhecer diferente e nunca comemos a mesma torta de maçã.

A vida acontece do brilho da lua cheia ao quarto minguante, como a gota d´água que brota na nascente e rio abaixo vai, deslizando em corredeiras, despencando em cachoeiras, batendo em pedras, descansando em poços. Até no mar desaguar. 

A ciranda da vida roda sem pedir consentimentos. Cada um vai sendo e fazendo sua história. Com o gosto de mel ao de fel, cada um vai regando suas hortas, trabalhando nas colheitas, temperando e degustando as refeições.

O covid 19 nos mostra que em qualquer instante pode haver uma caixa de surpresa. Nestas épocas de pandemia, quando a tampa abriu, escutamos os ruídos do trovão. Mas, amanhã, queremos ver os raios de sol.  


 

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Assim não dá para continuar

segunda-feira, 30 de março de 2020

Faz tempo que li o Ponto de Mutação (1982), de Fritjof Capra, filósofo e
escritor austríaco. Também autor de O Tao da Física (1975). Eu me lembro
que, na época, o livro, bastante debatido pelas suas inéditas ideias, aborda as
mudanças intensas que o planeta vem sofrendo. Sua obra é influenciada pelo I
Ching, O Livro das Mutações, que descreve, através dos oráculos, a dinâmica
entre Yang e Yin. A força da energia de yang, o masculino e ativo, certamente
muito mal utilizada, construiu os métodos de dominação e exploração que

Faz tempo que li o Ponto de Mutação (1982), de Fritjof Capra, filósofo e
escritor austríaco. Também autor de O Tao da Física (1975). Eu me lembro
que, na época, o livro, bastante debatido pelas suas inéditas ideias, aborda as
mudanças intensas que o planeta vem sofrendo. Sua obra é influenciada pelo I
Ching, O Livro das Mutações, que descreve, através dos oráculos, a dinâmica
entre Yang e Yin. A força da energia de yang, o masculino e ativo, certamente
muito mal utilizada, construiu os métodos de dominação e exploração que
devastam o planeta e reprime o Yin, o feminino, criativo e intuitivo. Tal dinâmica
estruturou um modo de pensar que provocou o desmatamento, a poluição, a
escravidão humana e animal. O momento que vivemos hoje, marcado pela luta
do mundo contra um microscópico organismo, o coronavírus, o Covid 19, está
fazendo com que as cidades do planeta parem e as pessoas se recolham, é
decorrente deste modo de conceber a vida humana na Terra.
Mais do que nunca, acima de divergências políticas, interesses
econômicos e guerras, este minúsculo vírus exige uma ação conjunta de todos
os povos para eliminar a sua ação devastadora, que coloca em risco a
existência humana no planeta, principalmente a dos idosos.
A compreensão da vida requer uma perspectiva ampla. Entretanto, hoje,
este entendimento tende a ser simplificado e repartido. A força da modernidade
nos induz a tê-lo, mesmo que seus propósitos, veiculados pelos quatro cantos
da Terra, ainda possam ser divergentes desta premissa. O planeta, os povos, a
natureza são indissociáveis; tudo está intimamente interligado. Nada é
individualizado; tudo está suscetível à dinâmica do todo, fazendo-se necessário
conhecer profundamente as formas de existências físicas e naturais em sua
totalidade.
Hoje, caminhando pela mata, o pensamento de Capra me fez pensar nos
modos como a natureza vem preservando a vida há milhares de anos. A
natureza sabe proteger cada vida sua. É sábia quando a folha de uma árvore
não cai imediatamente no solo quando morre; há um tempo para se desprender
do galho e tombar no chão. Por sua vez, a terra a absorve, deixando-se

adubar. Os frutos são comidos pelos passarinhos, cujas sementes, através das
fezes, germinam o solo. Cada gota de orvalho umedece a terra, penetra no
solo e alimenta o lençol freático. As matas ciliares protegem os rios, enquanto
suas águas regam a vegetação que as protegem. O bater das asas de uma
borboleta interfere em todo o ambiente natural. Tudo tem sentido e harmonia.
A natureza é de uma imensa simplicidade. Porém conhecê-la decorre de
um saber sofisticado que tem por finalidade exercer interferências na política,
na economia e nos modos de viver dos povos. É um domínio intelectual que,
de todo e qualquer modo, tem de estar voltado para o bem-estar da população.
E nem sempre isso acontece.
A construção deste saber é responsabilidade das ciências. É dos
governantes o compromisso para com ações respeitosas, sejam políticas,
econômicas, ideológicas ou religiosas. Cabe a cada um dos habitantes da
Terra a preservação da vida, seja humana, animal e vegetal. Inclusive a dos
seres brutos, como as montanhas e rochas.
Infelizmente, a vida humana do planeta ainda não está educacionalmente
preparada para adequar-se à natureza que o acolhe. Certamente, este
momento será um aprendizado. Além de sofrido, custará a vida de muitos,
especialmente daqueles que ainda possuem uma experiência e um saber a
transmitir aos mais novos.
Inesperadamente, o momento de mutação invadiu os horizontes. Ao
admirar um passarinho pousar numa exuberante folha de uma samambaia do
mato, entendi que o surgimento deste vírus é mais uma sábia maneira da
natureza nos dizer que assim não dá para continuar.
Salve Fritjof Capra!

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

É tempo de mudar a roupa

terça-feira, 24 de março de 2020

A letra da música O Dia Em Que a Terra Parou, mesmo sendo veiculada pelos quatro cantos da internet, nos oferece motivos para refletir. Escrita em 1977, há 33 anos, Raul Seixas, por quem tenho admiração, principalmente pela inteligência e sagacidade, descreveu o momento em que vivemos, sem atribuir a um vírus, o COVID-19, a causa de fazer o mundo parar. Da criatividade à premonição, da vidência à profecia, não há como determinar porque nosso músico-poeta criou essa obra.

A letra da música O Dia Em Que a Terra Parou, mesmo sendo veiculada pelos quatro cantos da internet, nos oferece motivos para refletir. Escrita em 1977, há 33 anos, Raul Seixas, por quem tenho admiração, principalmente pela inteligência e sagacidade, descreveu o momento em que vivemos, sem atribuir a um vírus, o COVID-19, a causa de fazer o mundo parar. Da criatividade à premonição, da vidência à profecia, não há como determinar porque nosso músico-poeta criou essa obra.

Entretanto, a ideia de versatilidade me toma a atenção. Neste momento, em que todos precisam respeitar o isolamento social, ficando em suas casas, a pluralidade de interesses e de capacidades se tornam características relevantes à personalidade das pessoas.

Foi decidido que todos devem se aquietar em seu canto por um tempo, provavelmente longo. Fala-se em seis meses. Ou quatro. Que sejam três; de noventa a cento e oitenta dias. De 2.210 horas a 4.420 horas, mais precisamente. Ah, como será preciso buscar o bem-estar nesse tempo e encontrar formas de torná-lo útil. Não há receitas para sugerir o que as pessoas devem fazer; cada um tem de buscar outros modos de fazer o dia.  

Resolvi pesquisar em Freud algumas ideias, especificamente na obra O Mal-Estar na Civilização. A primeira que achei, em apenas o virar de uma página, foi a de que é saudável expandir a capacidade de observar o mundo que nos cerca; olhar para as estrelas, reparar no verde da natureza, até no formato das unhas das mãos. Tudo pode nos sugerir pontos de partida para o restabelecimento de uma rotina diferente.

Estamos acostumados com a ordem o que nos impele à repetição de hábitos; como, onde e quando as coisas devem ser feitas, evitando ao máximo as oscilações e hesitações. Estou acostumada a fazer o café numa cafeteira de ágata azul. Se não for exatamente nesta minha cafeteira, vou estranhar, a ponto de prejudicar o prazer que tenho em fazê-lo e saboreá-lo. 

A organização de vida em determinados padrões é benéfica, confortável e segura, além de poupar energias físicas e psíquicas. Quem gosta de lidar com dificuldades? A sociedade nos exige e nos educa para que não sejamos negligentes e que respeitemos modelos que prezam pela limpeza, pela beleza e pela organização. Imagine um saguão de um edifício comercial com quatro portas de elevador que transportam cem pessoas ou mais, num espaço de dez minutos. Se não houver filas organizadas, haverá o caos, empurra-empurra, brigas e outras situações estressantes.

Quem vai afirmar que as filas não são importantes? 

Entretanto, agora, com este vírus que pegou o mundo desprevenido, precisamos buscar outras formas de viver em nossos cantos. De fazer novas filas. Vamos reconfigurar este nosso lugar delimitado para passarmos um tempo. Além do que, teremos a oportunidade para descobrirmos um pouco melhor quem somos e como queremos viver os dias que temos pela frente.

Sei que será preciso ter abertura de pensamento e curiosidade aguçada para construirmos diferentes modos de colocar nossa vida em prática. Agora não é época para teorias e divagações. É, sim, um tempo de mudar a roupa. 

Deixo, para terminar, a letra da música do nosso Raul, O Dia em que a Terra Parou. Como todas suas obras, cada verso contém uma riqueza de ideias extravagantes. Mas a vida é assim.

 

Essa noite eu tive um sonho

De sonhador

Maluco que sou, eu sonhei

Com o dia em que a Terra parou

Com o dia em que a Terra parou

 

Foi assim

No dia em que todas as pessoas

Do planeta inteiro

Resolveram que ninguém ia sair de casa

Como se fosse combinado em todo

O planeta

Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém

 

O empregado não saiu pro seu trabalho

Pois sabia que o patrão também não tava lá

Dona de casa não saiu pra comprar pão

Pois sabia que o padeiro também não tava lá

E o guarda não saiu pra prender

Pois sabia que o ladrão, também não tava lá

E o ladrão não saiu pra roubar

Pois sabia que não ia ter onde gastar

No dia em que a Terra parou (êê)

No dia em que a Terra parou (ôô)

No dia em que a Terra parou (ôô)

No dia em que a Terra parou

 

E nas igrejas nenhum sino a badalar

Pois sabia que os fiéis também não tavam lá

E os fiéis não saíram pra rezar

Pois sabiam que o padre também não tava lá

E o aluno não saiu pra estudar

Pois sabia que o professor também não tava lá

E o professor não saiu pra lecionar

Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar

 

No dia em que a Terra parou (ôôô)

No dia em que a Terra parou (ôôô)

No dia em que a Terra parou (uuu)

No dia em que a Terra parou

 

O comandante não saiu para o quartel

Pois sabia que o soldado também não tava lá

E o soldado não saiu pra ir pra guerra

Pois sabia que o inimigo também não tava lá

E o paciente não saiu pra se tratar

Pois sabia que o doutor também não tava lá

E o doutor não saiu pra medicar

Pois sabia que não tinha mais doença pra curar

 

No dia em que a Terra parou (oh, heah)

No dia em que a Terra parou (ôôô)

No dia em que a Terra parou (eu acordei)

No dia em que a Terra parou (acordei)

No dia em que a Terra parou (justamente)

No dia em que a Terra parou (eu não sonhei acordado)

No dia em que a Terra parou (êêê)

No dia em que a Terra parou

No dia em que a Terra parou

 

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