Blog de terezamalcher_17966

Um brinde com champagne em taças de cristal

segunda-feira, 09 de novembro de 2020

É gratidão sentir vontade de homenagear pessoas que deixaram, ao
longo de suas vidas, através de sentimentos, ideias e realizações, riquezas
para nossas vidas e cidade. Faço questão de brindar, então, com champagne
em taça de cristal, os artistas da literatura que escreveram significativas
palavras em forma de poesia ou prosa.
Nova Friburgo deveria colocar placas com versos dos trovadores
friburguenses nas curvas da Serra da Boa Viagem, bem como espalhá-las em
suas praças e esquinas, cantos e recantos. Quando comento com alguém que

É gratidão sentir vontade de homenagear pessoas que deixaram, ao
longo de suas vidas, através de sentimentos, ideias e realizações, riquezas
para nossas vidas e cidade. Faço questão de brindar, então, com champagne
em taça de cristal, os artistas da literatura que escreveram significativas
palavras em forma de poesia ou prosa.
Nova Friburgo deveria colocar placas com versos dos trovadores
friburguenses nas curvas da Serra da Boa Viagem, bem como espalhá-las em
suas praças e esquinas, cantos e recantos. Quando comento com alguém que
a capital mundial da trova está no Estado do Rio de Janeiro, no município de
Nova Friburgo, praticamente ninguém tem conhecimento deste fato tão
interessante, quanto relevante. Poucos sabem que Nova Friburgo é o lugar
sagrado dos trovadores, inclusive o próprio friburguense! Um tamanho absurdo
que me faz tremer de indignação. Por quê? Não paro de me perguntar.
Ah, meus amigos leitores, temos um passado literário viçoso. Sabiam que
as ruas do centro da cidade guardam os passos de Machado de Assis, de
Carlos Drummond de Andrade e Casimiro de Abreu? Os ares que circulam
pelos seus vales estão cheios palavras, deixadas pelos tantos escritores que
nasceram ou passaram tempos em nossas montanhas e deixaram valiosos
legados literários, o que faz nascer, ano a ano, novos escritores no seio
friburguense. Mesmo aqueles que não são filhos da terra e foram adotados
pela região. Como eu, por exemplo.
A vida é passageira. Quem viveu e deixou algo para as gerações futuras,
que seja simples ou breve, deve ser reconhecido e homenageado. A nossa
identidade, enquanto pessoa ou povo, é feita de passado, de histórias que
podem ser contadas, de lembranças de pessoas que nos trazem orgulho e
admiração. Não somos oriundos de uma geração espontânea. Temos um
passado a preservar. Hoje é um bom dia para fazê-lo.
O mundo foi feito através dos ideais e da ação humana. A literatura,
através dos seus estilos, não somente os registrou, como os alicerçou. Nossos
antepassados nos ofereceram as bases para que nós continuemos suas obras.

Sempre inacabadas. Por assim serem, as gerações seguintes abraçam seus
ideais e vão dando prosseguimento aos empreendimentos da humanidade. Dia
a dia. Atualizando as causas do passado. Renovando.
Deixo, aqui, as vozes dos trovadores friburguenses. Quem sabe, eles
lancem sementes para a gestação de novos escritores.

Rico eu sou, mesmo sem ouro
E da riqueza, dou provas,
— eis aqui o meu tesouro:
Minha sacola de trovas.
(JG de Araújo Jorge)

É poesia sempre nova
Cultivada com amor
Se você gosta de trova
Pode ser um trovador
(Rodolfo Abbud)

Eu não ouço teus conselhos
Mas, quando fala a razão,
Meus pecados, de joelhos
Imploram por teu perdão
(Dilva Maria de Moraes)

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Que falta o abraço e o beijo estão nos fazendo!

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Estou escrevendo esta coluna na quarta-feira, 21 de outubro, motivada pelo
cronista friburguense Zuenir Ventura. Geralmente, escrevo-a nos finais de semana,
pois criei o hábito de pensar no tema que vou abordar e do modo como vou fazê-lo
durante os dias de branco. Como a literatura nos toca de diferentes formas, um bom
cronista sabe como fazê-lo com veemência.
Hoje, ao ler sua coluna no jornal O Globo, intitulada Carência de Afeto, senti sua
dor por não abraçar seus netos e tantas outras pessoas guardadas em seu afeto. Sua

Estou escrevendo esta coluna na quarta-feira, 21 de outubro, motivada pelo
cronista friburguense Zuenir Ventura. Geralmente, escrevo-a nos finais de semana,
pois criei o hábito de pensar no tema que vou abordar e do modo como vou fazê-lo
durante os dias de branco. Como a literatura nos toca de diferentes formas, um bom
cronista sabe como fazê-lo com veemência.
Hoje, ao ler sua coluna no jornal O Globo, intitulada Carência de Afeto, senti sua
dor por não abraçar seus netos e tantas outras pessoas guardadas em seu afeto. Sua
crônica me remeteu a de Martha Medeiros, Dentro de um Abraço, publicada em maio
de 2012, nesse mesmo jornal, quando afirmou que o melhor lugar do mundo para se
morar é dentro de um abraço.
O afeto é o sol que aquece e ilumina a vida. Tem que ser sentido e vivenciado.
Entretanto, neste momento pandêmico, estamos privados de externá-lo através do
beijo e do abraço, as mais genuínas expressões da afetividade. Hoje, estão sendo
substituídos pelos acenos, toque de cotovelos e de punhos. Não se pode mais abrir os
braços e acolher quem gostamos no peito para trocar energias afetivas. Ah, não se
abraça amigos faz tempo! Sorte que o brasileiro é criativo e, rapidamente, aprendeu a
deslocar o afeto para gestos distantes.
O Beijar, o abraçar, até o modo de olhar são reparadores dos males que nos
adoecem. Na energia do amor, as pessoas se engrandecem e tornam-se poderosas
para conquistar seus destinos. A cada dia, buscamos diferentes formas para substituir
a aproximação dos corpos que tanto nos aquece a alma.
A vida começa no amor. Seja no sexo, seja na gestação. É preciso amar ao
extremo um filho para gestá-lo, carregá-lo no ventre ao longo de nove meses, para
fazê-lo pessoa ao longo de muitos anos. O amor tem concretude; não é abstrato. É
significado através de atos, atitudes. Os cães expressam com maestria seus afetos e
nos ensinam que só é preciso sentir o gostar para expressar o querer bem.

Noutro dia, beijei minha mãe com um passeio de carro. Como ela gostou, apesar
das máscaras, álcool e janelas abertas, e sentiu-se por mim beijada e abraçada. Ofereci
um lanche especial à minha filha, regado a vinho, conversas e risos. O gostar tem a
suavidade da borboleta que pousa sobre a mata para se aquecer ao sol.
Nesta crônica, Zuenir também se referiu à pesquisa de Anselmo Góes que
constatou: o que as pessoas mais sentem falta nestes tempos é do abraço. Somos
seres de relações. A proximidade traz segurança, esperança e alegria.
Espero que esta pandemia faça o planeta expandir e aprimorar os sentimentos
humanos. O Corona Vírus nos mostrou que não somos coisificados e que temos sangue
quente correndo nas veias. Que bom!

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Aceno aos professores

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

No dia 15 de outubro brindamos os mestres. Nesta coluna literária, peço
licença para saudá-los, mesmo quatro dias depois. Ser professor não é uma
tarefa de facilidades, é um desafio diário estar diante de turmas repletas de
alunos, inclusive os de tenra idade que ainda não sabem o motivo pelo qual
estão sentados diante de uma pessoa que diz e mostra o que eles devem ser e
fazer. Não é uma atividade simples de realizar, precisa de cuidados,
planejamento, execução e avaliação; apenas um gesto ou uma palavra do


No dia 15 de outubro brindamos os mestres. Nesta coluna literária, peço
licença para saudá-los, mesmo quatro dias depois. Ser professor não é uma
tarefa de facilidades, é um desafio diário estar diante de turmas repletas de
alunos, inclusive os de tenra idade que ainda não sabem o motivo pelo qual
estão sentados diante de uma pessoa que diz e mostra o que eles devem ser e
fazer. Não é uma atividade simples de realizar, precisa de cuidados,
planejamento, execução e avaliação; apenas um gesto ou uma palavra do
professor pode influenciar a existência de outro, o aluno.
O professor precisa encontrar dentro de si e aprimorar o olhar do mestre,
nunca resignado, sempre atento e amoroso. Tem de saber empregar um tom
de voz a cada momento; ele é um exímio ator ante seus aprendizes que são
seduzidos para conhecer a vida do planeta e aprender desde os fatos da
gramática à dispersão da luz. Para desenvolver as mais específicas
habilidades físicas e capacidades cognitivas.
Hoje o professor não recebe o devido reconhecimento. A começar pela
sua formação, salário, condições para realizar o trabalho, transporte e muito
mais. Por serem resistentes, resilientes e insistentes, atravessaram séculos e
milênios cumprindo o fazer de ensinar. E, assim, vão continuar. Se o amor não
sustenta o trabalho que realiza, ele deixa de ser um mestre para ser alguém
que apenas ensina, um mero cumpridor de obrigações. Isso porque a ação docente
é um ato consciente e responsável, fundamentado pelos valores humanos.
Dermeval Saviani, filósofo e pedagogo brasileiro afirmou em seu livro
Educação - Senso Comum à Consciência Filosófica que “O trabalho educativo
é o ato de produzir, direta ou indiretamente, em cada indivíduo singular, a
humanidade que é produzida historicamente e coletivamente pelo conjunto de
homens”. Ou seja, ser professor é hominizar.
Não basta ensinar fatos objetivos. Ser professor é capacitar o aluno para
que ele aprenda a desenvolver suas capacidades. É uma pessoa de ética,
discernimento e de percepção, tríade que faz uma pessoa colaborar para que
outra tenha inteireza e caráter.

Parabéns, professores! Que o universo os ilumine para que a vida
humana neste planeta, a safira do sistema solar, tão rica em biodiversidade e
beleza, seja preservada e aprimorada.

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Perfumes do tempo

terça-feira, 13 de outubro de 2020

A vida é feita de momentos, são pedaços de tempo que vão compondo nossa história, e a memória os vai guardando, como se os depositasse em gavetas cheias de caixinhas. Depois que os vivemos, parece que são realçados quando os assentamos nas lembranças. Repentinamente, eles surgem e ressurgem, trazendo perfume e flores para o dia. Na semana passada, senti o cheiro de rosas e vou trazê-las aqui. 

A vida é feita de momentos, são pedaços de tempo que vão compondo nossa história, e a memória os vai guardando, como se os depositasse em gavetas cheias de caixinhas. Depois que os vivemos, parece que são realçados quando os assentamos nas lembranças. Repentinamente, eles surgem e ressurgem, trazendo perfume e flores para o dia. Na semana passada, senti o cheiro de rosas e vou trazê-las aqui. 

A literatura une as pessoas, untando momentos e recordações, fazendo-os deslizar com suavidade pelos pensamentos e relacionamentos. Cria identidades e laços afetivos porque a criatividade encanta, as histórias envolvem e a realidade abordada pela literatura atrai.   

Tenho uma amiga, Glória, que me ligou há uns vinte anos, dizendo que haveria um concurso de histórias infantis e que eu deveria participar. Sempre gostei de escrever, e ela sabia disso. Fiz a inscrição no concurso, comecei a escrever três contos e enviei. Meus textos não foram selecionados, mas descobri o prazer de imaginar aventuras e transformá-las em histórias. E, desde então, não parei mais. Dois destes contos já foram publicados: Um Cão Cheio de Ideias e Aventureiros da Serra. 

Glória sempre esteve presente na minha empreitada literária, participando dos eventos e conversando a respeito do meu aprendizado e experiência como escritora, o que embelezou mais ainda nossa amizade.

Depois que o mundo foi invadido pelo Corona Vírus, ela de novo me informou a respeito de um concurso, Tempo Partido, que consistia na elaboração de uma carta em que o participante relatasse a qualquer pessoa como estaria vivenciando esta época pandêmica. Os textos selecionados comporiam uma coletânea, que seria publicada. Não produzi um texto. Entretanto, ela participou e foi selecionada. Tão logo soube do resultado, enviou-me uma mensagem, contando a novidade com a carta anexada, que fora dedicada a um sobrinho, escrita com suavidade e objetividade. 

Sua mensagem abriu minha gaveta de lembranças, o que me fez viajar pelo tempo passado, desde a primeira vez que havia me ligado para falar de um concurso. Como num filme, revi como fui me fazendo escritora. Há dias que sou expectadora de mim, o que me está me dando ideias para passos futuros.

Aí, senti com clareza como a amizade desvela possibilidades e fertiliza canteiros. Bem como tive a certeza de que a magia da literatura existe.

 

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Caderno de anotações

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

 

Acabando de ler a biografia da Hebe Camargo, logo mergulhei na de
Leonardo da Vinci, escrita por Walter Isaacson, o mesmo biógrafo de Steve
Jobs. É enriquecedor conhecer a vidas das pessoas, saber quem foram, o que
fizeram e como mudaram a história. Leonardo deixou contribuições
significativas para diversas áreas do conhecimento, como a medicina, a
aviação, a engenharia. Foi um grande amigo da humanidade ao criar bases
científicas para o futuro e obras de arte com perfeição.

 

Acabando de ler a biografia da Hebe Camargo, logo mergulhei na de
Leonardo da Vinci, escrita por Walter Isaacson, o mesmo biógrafo de Steve
Jobs. É enriquecedor conhecer a vidas das pessoas, saber quem foram, o que
fizeram e como mudaram a história. Leonardo deixou contribuições
significativas para diversas áreas do conhecimento, como a medicina, a
aviação, a engenharia. Foi um grande amigo da humanidade ao criar bases
científicas para o futuro e obras de arte com perfeição.


Não poderia deixar de falar da sua beleza e porte físico, generosidade e
capacidade de se relacionar com pessoas, desde as autoridades de Milão aos
atores de teatro, desde arquitetos renomados de Florença aos militares. Era
um homem encantador e encantado com as formas, movimentos e fenômenos
da natureza, como o voo dos pássaros. A pesquisa para a descoberta do
conhecimento lhe era maravilhosa e tomou conta da sua vida.


Ao longo da leitura pude saber que ele registrou seus estudos em mais de
7.000 páginas. Como nos séculos XV e XVI o papel era raro e custoso, ele
aproveitava ao máximo os espaços das folhas e, em muitas, misturava poesia
com astronomia, pintura com engenharia e tantos mais registros, que se
tornaram verdadeiras enciclopédias. Bill Gates adquiriu por US$ 30,8 milhões
de dólares um manuscrito de Leonardo, uma vez que se sente por ele
inspirado, dado a tenacidade de Da Vinci para investigar, mesmo sem ter sido
reconhecido em vida como artista e cientista. Tanto é que consta em sua última
página o registro da frase “A sopa está esfriando.”


Ele tinha o hábito de portar um pequeno caderno pendurado na cintura
em que fazia as anotações. Leonardo era um exímio observador, chegando ao
ponto de perceber o movimento das quatro asas da libélula; quando duas se
abaixavam, as outras se elevavam. Walter Isacsoon considerou que a
genialidade de Leonardo era consequência da curiosidade incessante, da
persistente capacidade de observar os detalhes, do seu árduo trabalho de
pesquisar e registrar os fenômenos e fatos da natureza, como da anatomia
humana e animal, da mecânica e do universo. Da vontade obsessiva para

propor soluções aos problemas com os quais se deparava. Nada ficava
despercebido ao seu olhar, como o cenário de uma apresentação teatral em
que criou mecanismo para os atores voarem durante a apresentação.
Eis que a biografia de Leonardo nos oferece grandes aprendizados.

Um
deles é observar, o outro é anotar. Quantas fatos, palavras e frases nos tocam
e, rapidamente, caminham para o esquecimento? O que podemos falar
daquele momento em que acordamos e uma ideia nos transborda, mas a
perdemos imediatamente? Ah!, nunca mais a resgatamos.


A inteligência é feita de ideias. As melhores surgem de repente e
desaparecem no ar. Eu, particularmente, sou mestre em perdê-las. Acredito
que se as registrasse, minha memória seria mais colorida e rica em detalhes.
Quem sabe, cuidando de um bloco de anotações, poderei ser uma escritora
melhor.

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As biografias, um aprendizado para ser e fazer

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Gosto das biografias porque são originais, até hoje não li uma semelhante à outra; a experiência individual é inédita, tal qual a impressão digital. Os biógrafos penetram nos meandros do quotidiano dos seus biografados e vão desvendando quem foram, o que fizeram e por que tornaram-se significativos ao seu tempo, o que nos permite, inclusive, conhecer a história por outros vieses.                                                            

Gosto das biografias porque são originais, até hoje não li uma semelhante à outra; a experiência individual é inédita, tal qual a impressão digital. Os biógrafos penetram nos meandros do quotidiano dos seus biografados e vão desvendando quem foram, o que fizeram e por que tornaram-se significativos ao seu tempo, o que nos permite, inclusive, conhecer a história por outros vieses.                                                            

Acabei de ler a biografia de Hebe Camargo pela Amazon e fiquei emocionada. Não somente pelo modo como ela encarava a vida e seus desafios, mas porque assistia frequentemente aos seus programas. A hora da Hebe era a hora da Hebe. O que me atraia naquela mulher exuberante foi o modo como admirava as pessoas e ria. Ela ria sempre. Certamente, foi uma vivente e, como todos nós, teve seus desafios e agruras. Não foi perfeita. Porém não trapaceou e traiu os amigos. Soube ganhar dinheiro sem se corromper. Hebe tinha positividade, sobrevoava as dificuldades e aprendia a conquistar seu espaço no país a cada dia.   

Hebe participou da história do Brasil e do mundo, levando ao seu programa personalidades que contribuíram para a ciência, esportes, artes e outras áreas da produção humana, como Christiaan Barnard, cirurgião Sul-Africano que realizou o primeiro transplante de coração. Foi uma mulher que esteve no centro do movimento da vida com esperança, levando alegria a muitos. Tinha um fã clube imenso, e dele, eu fazia parte. 

A leitura de sua biografia deixou sua trajetória em aberto e fiz um curso de como viver com intensidade e otimismo. Aprendi e reaprendi que temos de jogar a bola para frente e chutar à gol. Sem imposturas. Ah, não vale a pena ficar em lamentos pelos cantos. Se há perdas em determinados momentos, há ganhos em outros, o importante é nadar a favor e contra a corrente até o final dos nossos dias. Ela fez isso. Trabalhou até suas possibilidades físicas permitirem, apresentando seu programa rindo, enfeitada por joias que adquiriu com recursos próprios. Acenou adeus com alegria.

Eu ia lendo sua biografia e vendo vídeos no YouTube, o que me ofereceu possibilidades de interpretar os fatos através dos bastidores. É interessante conhecer a história através de outros pontos de vista.

Entretanto, algo me entristeceu. Nesta leitura, eu me reencontrei com tantas pessoas das quais era fã, e que não estão mais aqui, como Bibi Ferreira e Edith Piaf. Ah, a vida é curta e rápida. Não parei de pensar que se as pessoas criativas, inteligentes e estudiosas vivessem mais poderiam deixar maiores legados, como Leonardo da Vinci, Braguinha e Rousseau.

Depois que acabei de ler, abracei aquele livro que havia me contado a história da Hebe. Por querer ser um pouco como ela. Por ter prazer em vê-la amar a vida.

 

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Cadê o autor?

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Eu já estava querendo escrever sobre este assunto faz tempo. Há vinte anos, fiz a montagem de peças de teatro como produtora e dramaturga. Na época, notei que nos cartazes e nos anúncios todos os integrantes tinham seus nomes em destaque, como o diretor, os atores, o figurinista. E o autor?, seu nome era o menos destacado, normalmente colocado sob título em tamanho da fonte reduzido. Às vezes, até no final do cartaz. Nos letreiros, raramente.  Eu me perguntei várias vezes porque tamanha discriminação? Afinal de contas, se não houvesse a criação e o trabalho do autor, a peça não existiria.

Eu já estava querendo escrever sobre este assunto faz tempo. Há vinte anos, fiz a montagem de peças de teatro como produtora e dramaturga. Na época, notei que nos cartazes e nos anúncios todos os integrantes tinham seus nomes em destaque, como o diretor, os atores, o figurinista. E o autor?, seu nome era o menos destacado, normalmente colocado sob título em tamanho da fonte reduzido. Às vezes, até no final do cartaz. Nos letreiros, raramente.  Eu me perguntei várias vezes porque tamanha discriminação? Afinal de contas, se não houvesse a criação e o trabalho do autor, a peça não existiria. Intrigada, para não dizer indignada, levantei a questão com outras pessoas envolvidas nas peças, que chegaram a discursar sobre a importância dada ao nome, e o primeiro argumento era para atrair o público. “Se o autor não é conhecido, não tem sentido evidenciá-lo, além do que não há espaço disponível para ter o nome do autor aumentado. De fato, o teatro e o cinema são resultados de um trabalho de equipe, se falta o autor, o iluminador ou mesmo o figurinista o espetáculo fica comprometido. Como também a produção precisa de recursos para custear o local de apresentação, a montagem e toda a equipe envolvida. 

O fazer da arte é um trabalho que tem de ser valorizado; todos os envolvidos precisam ser remunerados. Jamais pode ser encarada como um passatempo ou uma diversão, é um processo economicamente produtivo. Mesmo assim nenhuma justificativa sustenta o não reconhecimento do autor como criador da obra apresentada.

O cinema e o teatro fazem a concretização do texto literário, dando vida aos personagens, vivificando as cenas. O livro valoriza o autor, dá ênfase ao seu nome, à sua vida literária porque guarda em suas páginas o texto para ser degustado pela leitura. É a fusão do autor com sua obra. O teatro e o cinema, aqui incluo os filmes e as séries na televisão, possuem universos amplos e que envolvem equipes diversificadas. A produção do livro, neste sentido, é mais barata. Logicamente, não o estou subestimando. Longe disso. O autor por um custo bem menor constrói um texto e edita o livro, mesmo se computar suas horas de trabalho. Já as produções cinematográficas e teatrais são caríssimas. Certa vez, a encenação exigia que o chão do palco fosse coberto por uma borracha grossa para que os atores não escorregassem e caíssem em cena. Entre as tiras de borracha deveria ser passada uma fita crepe reforçada com cola dos dois lados para que as borrachas não corressem. Elas custavam o cachê de um ator. Enfim, são os ossos do ofício. .

A meu ver, o argumento que apresento não justifica o fato de o nome do autor ficar em segundo plano.  De fato, como disse anteriormente, as apresentações precisam arrecadar os valores necessários para custearem a obra encenada. Pois se o produtor não tomar todas as precauções necessárias, ele termina a temporada com dificuldades financeiras. E o autor não corre tamanho risco, a não ser que ele seja o produtor.

Enfim, é uma questão a ser refletida.   

 

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Salve a FLIM 2020!

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

 

 

Hoje estou passando o sábado diante do celular, acompanhando a Festa
Literária de Santa Maria Madalena, em sua 11ª. edição que, neste ano, devido
à pandemia, está sendo realizada virtualmente. Apresentando muitas festas em
uma só, a FLIM, habitualmente, reúne lançamentos de livros e homenagens à
autores, palestras e mesas redondas, apresentações musicais e teatrais,
vendas de livros e conversas pelos cantos da cidade. As edições passadas
deixaram registros na história fluminense por reunir atividades relevantes à
literatura que tanto beneficiaram a cultura da região. Faço questão de ressaltar
que a FLIM faz parte do calendário do Estado do Rio de Janeiro por ser uma
das melhores do país.


É um evento que reconhece os esforços de todos os envolvidos com a
literatura. Ao propiciar o encontro entre escritores, leitores, editores e agentes
educativos, esta festa cria um clima de gratidão entre eles. Ao escritor por estar
diante de leitores que admiram sua obra; ao leitor por sentir a presença de um
autor que o tocou e promoveu mudanças em seus modos de perceber e lidar
com a vida; ao editor por produzir o livro, difundi-lo e fazê-lo circular no mundo,
aos agentes educativos por visualizarem possibilidades de incentivo à leitura e
atividades em sala de aula.
Como esta edição tem caráter virtual, os autores e leitores estão tendo a
oportunidade de se abraçarem através das telas dos seus celulares e
computadores. Não é um acolhimento de concretude real, mas através do
universo imaginário individual, carregado de energias afetivas sinceras e de
esperanças. Os esforços dos organizadores da FLIM não deixaram que a
pandemia cancelasse um evento tão importante e permitiram que as
dificuldades pessoais momentâneas fossem amenizadas ao oferecerem um
espaço interessante aos amantes das letras.
Nova Friburgo e a Academia Friburguense de Letras se fizeram presentes
na 11ª. edição através de seus escritores, editores e dinamizadores, que
tiveram a oportunidade de mostrar seus trabalhos na área da literatura, através
de livros, projetos e apresentações.

Com orgulho, apresento saudações à FLIM por todas as lembranças que
me trouxe neste sábado. Ao assistir os vídeos, sinto reforçar minha
responsabilidade de cidadã. Quero dizer que o escritor, nesta época de
recolhimento e preocupação, não pode deixar de cumprir seu ofício, uma vez
que cada palavra colocada no papel poderá contribuir para a superação deste
momento tão cheio de incertezas e apreensões.

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Uma mesa para dois

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Nestes tempos pandêmicos de recolhimento, tenho tido a oportunidade de
mergulhar mais profundamente na literatura, como leitora, pesquisadora e
escritora. Tem-me sido um tempo de aprimoramento. Quando a vida da cidade
começou a retomar suas atividades, fui jantar num restaurante. Até comovida
pelo retorno à vida social, fiz questão de ficar apreciando o lugar. Embora já
conhecido, parecia que era a primeira vez que estava ali, tudo me era
novidade. Eu estava debutando.
Próximo à minha mesa, havia duas ocupadas por casais. Observando

Nestes tempos pandêmicos de recolhimento, tenho tido a oportunidade de
mergulhar mais profundamente na literatura, como leitora, pesquisadora e
escritora. Tem-me sido um tempo de aprimoramento. Quando a vida da cidade
começou a retomar suas atividades, fui jantar num restaurante. Até comovida
pelo retorno à vida social, fiz questão de ficar apreciando o lugar. Embora já
conhecido, parecia que era a primeira vez que estava ali, tudo me era
novidade. Eu estava debutando.
Próximo à minha mesa, havia duas ocupadas por casais. Observando
com discrição para não ter um olho literário inconveniente, notei que eles
estavam vivendo situações diferentes. Em uma mesa reinava o silêncio, os dois
pouco se olhavam e estavam voltados para a comida. A outra estava coberta
de gestos alegres e vozes animadas. Geralmente, são ambientes propícios
para acolher ocasiões especiais na vida de casais, seja um primeiro encontro,
uma comemoração, depois de um momento íntimo. É um lugar de conversa,
troca de ideias e lazer. Também de ajustes, desacertos e finalizações.
Suas paredes guardam recordações surpreendentes. Se fossem
registradas haveria uma coleção de livros com histórias inéditas. Se
observarmos bem, tudo o que ali acontece é uma sucessão de metáforas. A
vida é intencional. Nada é feito ao acaso. Freud, que já bem estudou os atos
falhos, descreveu com maestria a ação proposital inconsciente. A mente
humana não descansa, capta incansavelmente os desejos que brotam, que vão
e voltam do inconsciente ao consciente. Ficam em evidência nos sonhos,
depois, se escondem nos meandros da mente, mas estão sempre prontos a
surgir com novas roupas e fantasias. Nosso pensamento é uma alegoria
criativa e sincera. Geralmente não queremos expô-los, entretanto os
comportamentos, as atitudes e, principalmente, estes atos são traidores;
ninguém gosta de se revelar. A grande maioria dos quais é inconsciente.
Enquanto aguardava o prato, comecei a refletir sobre esta questão e
constatei que tudo o que acontece numa mesa para dois tem sentido. A
começar pelo modo como a pessoa se prepara para ir ao restaurante. Há sempre opções variadas, desde o pentear do cabelo, a escolha dos sapatos e
da roupa. E o perfume? Ao bom observador, os detalhes podem ser
considerados como metáforas. Inclusive os trejeitos faciais e corporais. Até a
maneira de andar revela um propósito.
De fato, é um lugar fértil ao escritor. Se ele pretende buscar ideias para
um romance no estilo tragédia ou comédia, não precisa dar voltas na cidade.
Basta ir a um restaurante, de preferência frequentado por um público
compatível com o tema que se quer abordar, ficar algum tempo saboreando um
bom vinho ou uma cerveja gelada e deixar a vida acontecer. Ah, a vida é o
melhor palco a uma plateia exigente; o acontecer espontâneo naturalmente vai
revelando as miscelâneas das relações, os embates e tristezas, as aberrações
e os encontros inesquecíveis.
A minha primeira saída me foi um aprendizado quando percebi estar num
laboratório de inspiração.

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Escritoras e aventureiras

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

O que me alentou nestes tempos pandêmicos foram os filmes que assisti em casa, a maioria na Netiflix, que oferece séries interessantes ao telespectador. Eu acabava de ver uma e começava outra. Tendo de ficar recolhida em casa, eu me dividia entre leituras e filmes. Redescobri assuntos que tinham ficado na minha infância, até mesmo num passado recente, como a astronomia e as aventuras. Busquei filmes de aventuras, estilo que há tempos não me interessava especialmente.

O que me alentou nestes tempos pandêmicos foram os filmes que assisti em casa, a maioria na Netiflix, que oferece séries interessantes ao telespectador. Eu acabava de ver uma e começava outra. Tendo de ficar recolhida em casa, eu me dividia entre leituras e filmes. Redescobri assuntos que tinham ficado na minha infância, até mesmo num passado recente, como a astronomia e as aventuras. Busquei filmes de aventuras, estilo que há tempos não me interessava especialmente. Por sugestão de amigos, comecei a assistir a série britânica -americana Outlander, baseada na saga literária A Viajante do Tempo, cuja narrativa épica funde o romance histórico, o drama e a aventura numa sequência de fatos elaborada com desenvoltura, continuidade e originalidade. Como sempre faço, tão logo sou tomada pelo interesse, quase abduzida pela obra, a bisbilhotice me assola e quero saber de tudo: quem é o autor, os atores, o diretor, curiosidades e outras coisas mais. Assim, tenho prazer imenso em mergulhar no universo em que a ficção é produzida, desde a criação do texto até a transposição para a película exibida na televisão. 

Para minha surpresa, quem criou e ainda está escrevendo a obra é uma mulher, a americana Diana Gabaldon. Já são oito volumes publicados, numa coleção planejada para dez volumes. Confesso que não prestei atenção de imediato na autoria da série quando comecei a assisti-la. Até porque, infelizmente, os autores têm seus nomes expostos nos créditos do filme de modo diminuído ante os autores ou diretores. Depois de acompanhar os primeiros capítulos, pensei que tivesse sido criada por um homem devido as cenas de enfrentamento e batalhas, muitas vezes de grande crueldade. Entretanto quando soube da autoria da série, observei a sensibilidade e delicadeza de outras cenas que mostravam relações de afeto, entre familiares, amantes e amigos. Então, notei claramente a presença do toque feminino.

Tanto a autora da obra literária, quanto a produção da série, em termos de cenário, figurino, adereços e ambientação, foram e são cuidadosos ao respeitarem as características da época, o que denota a realização de uma pesquisa histórica detalhada e ampla, uma vez que a protagonista, ao tocar numa pedra, viaja no tempo e vai para parar na Escócia em meados do século XVIII. Como a série ainda está sendo escrita e produzida, desde a primeira temporada revela um trabalho de equipe brilhante, respaldado no compromisso de honrar o texto literário.

O que mais me chamou a atenção foi o fato de Diana Gabaldon imaginar um universo ficcional que tanto desperta o interesse masculino. A emancipação feminina ao longo do tempo tem permitido que a mulher explore cada vez mais suas capacidades, indo além do convencional sem medo e pudor. Tal libertação é importante no ato da criação literária, uma vez que sentimentos assim, guardados em instâncias inconscientes, bloqueiam a construção de textos. A superação de intolerâncias amplia as capacidades humanas de criação e realização; é a transformação evolutiva que dá novas cores à arte literária. 

Além do mais, a percepção feminina da vida e das relações humanas trazem um quê de docilidade à obra que tem caráter épico. Como fez a autora britânica J.K. Rowling em Harry Portter, quando concebeu um menino de 11 anos, aprendiz de bruxo, que enfrenta desafios quase invencíveis.

Essa série também me tocou porque gosto de escrever aventuras, o que já fiz em dois livros: Um Cão Cheio de Ideias, ed. Paulinas, 2007, e Aventureiros da Serra, RHL Livros, 2012. Foi ótimo por ter tido contato com a obra de Diana Gabaldon nesta pandemia que me despertou a vontade de mergulhar no mundo da ficção mais uma vez. 

As aventuras são sedutoras ao escritor, mas exigem trabalho de pesquisa, criatividade e perspicácia. Quando escrevi Aventureiros da Serra até largura de rio medi.  

Que as escritoras sejam iluminadas e tenham coragem para presentearem o mundo com diversão, conhecimento e valores.

 

P.S.: Ah, por favor, não quero ser feminista nesta coluna, mas tenho orgulho de reverenciar a presença da mulher na literatura.

 

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