Blog de terezamalcher_17966

Ilusão e utopia

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Quinta-feira última, 27\01\2022, recebemos uma pérola no Clube Clássicos da Literatura, a Professora Glaucia Pereira Brito, que nos ofereceu uma palestra sobre Maria Firmina dos Reis (1822-1917), maranhense, primeira romancista brasileira,  esquecida durante décadas, cuja obra possui valor literário, histórico, cultural e social relevante.

Quinta-feira última, 27\01\2022, recebemos uma pérola no Clube Clássicos da Literatura, a Professora Glaucia Pereira Brito, que nos ofereceu uma palestra sobre Maria Firmina dos Reis (1822-1917), maranhense, primeira romancista brasileira,  esquecida durante décadas, cuja obra possui valor literário, histórico, cultural e social relevante.

Diante de uma apresentação impecável, suave e rica em detalhes a respeito da vida e da obra da escritora negra, viajamos na trajetória de uma inteligente mulher do século XIX, com uma escrita límpida, poética e reveladora da realidade brasileira da época, quando os negros, escravizados, eram prisioneiros das mais cruéis condições de sobrevivência. O Brasil está superando suas limitações para reconhecer e enaltecer a importância das contribuições que os negros trouxeram ao nosso país através do seu trabalho, suor e dor. É triste a discriminação que existe no Brasil, tradição cultural que ainda permeia a vida sobre seu solo.

Durante a exposição, falou-se rapidamente sobre a diferença nos modos com que autores constroem suas obras. Logo me reportei às primeiras aulas que assisti na universidade, quando estudei a obra do filósofo e pedagogo suíço, Pierre Furter, especialmente “Educação e Reflexão”, que tanto enriqueceu minha formação.

Depois da palestra, senti necessidade de pesquisar as diferenças entre ilusão e utopia, até porque fazem parte das nossas atividades mentais e emergem do contexto em que vivemos. As diferenças entre ambas são sutis e faz-se necessária a observação aguda dos modos de imaginar para distinguir uma da outra.

Tanto a utopia quanto a ilusão são processos criativos, porém a utopia possui a intenção de transformar a realidade concreta ao vislumbrar contextos perfeitos. Já a ilusão caminha em direção à fantasia e as representações mentais são configuradas de acordo com a realidade psíquica do sujeito. 

 As utopias tendem à permanência e são construídas como um projeto ou aspiração, enquanto a ilusão é transitória e fundamenta-se no pensamento mágico. A utopia é compromissada; a ilusão é livre. Ambas são inexistentes em sua concreticidade real e criadas através de narrativas, porém. 

A abordagem destes conceitos me aponta para estudos mais detalhados e amplos; por enquanto minhas reflexões são superficiais. Entretanto, eu me arrisco apontar para as obras de Márcia Medeiros, que nos oferece modos de ver e sentir a vida. Para o “O Pequeno Príncipe”, de Saint-Exupéry, uma obra que desvela a beleza da humanidade. Para as histórias do “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”, de Monteiro Lobato, um retrato de época do Brasil. 

Enfim, as pessoas deste planeta azulado, a safira do sistema solar, precisam da literatura através das múltiplas ilusões e utopias, criadas pelos sonhadores que desejam uma vida melhor.

 

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A literatura tem suas brevidades

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Nova Friburgo é uma cidade literária por essência. A inspiração brota
pelos seus vales, dança entre as árvores e é iluminada pelas estrelas. A
literatura está no ar, as ideias atravessam as pessoas que aqui criam suas
raízes; a literatura faz-se diversificada em diversos estilos. Eis que,
repentinamente, em nossas terras altas, surgiram os microcontos, que vieram
pelas mãos de Catherine Beltrão. Os textos mínimos se caracterizam por
mostrar a essência das coisas, para dizer o que é inerente a uma circunstância,
a algo ou a alguém.

Nova Friburgo é uma cidade literária por essência. A inspiração brota
pelos seus vales, dança entre as árvores e é iluminada pelas estrelas. A
literatura está no ar, as ideias atravessam as pessoas que aqui criam suas
raízes; a literatura faz-se diversificada em diversos estilos. Eis que,
repentinamente, em nossas terras altas, surgiram os microcontos, que vieram
pelas mãos de Catherine Beltrão. Os textos mínimos se caracterizam por
mostrar a essência das coisas, para dizer o que é inerente a uma circunstância,
a algo ou a alguém.
Aqui vou me preocupar com os fundamentos dos microcontos e não com
a técnica de fazê-los. Interessante que, ao elaborar esta coluna, minhas
pesquisas me conduzem a reflexões inesperadas, e, hoje, comecei com uma
frase de Graciliano Ramos. “A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar, como
ouro falso: a palavra foi feita para dizer.” Pensando na amplitude do conceito
de revelar fui até a janela e observei as árvores ao redor da minha casa e, mais
uma vez, constatei que em tudo há histórias, até na pequena rama da árvore
que acolhe um ninho de passarinhos ou na lagarta prestes a entrar no casulo
para se transformar em borboleta. Ah, a vida é feita de fatos! Quando contados
são reveladores e descortinam o acontecer.
E aí, nesse estilo literário minimalista, surge o grande desafio ao escritor:
buscar a essência das coisas, descobrir a palavra que mostra o que é. Filosofia
pura. Comecei, então, a percorrer alguns caminhos teóricos e encontrei Lacan.
Somos feitos de palavras! Inclusive, apenas uma palavra pode nos definir. Ao
construirmos um texto mínimo, de alguma forma, estamos desvelando nossas
palavras primeiras. As essenciais. Eu sou.
Escrever é um ato de coragem e sensibilidade. Reiner Maria Rilke disse
que é preciso buscar na alma as ideias. Na verdade, as histórias são contadas
com brevidade, não precisam de rococós. Por isso, talvez, os contos mínimos
retratem a inteligência dos sábios, aqueles que conseguem descrever em
poucas palavras, sob um ponto de vista, a realidade dos fatos; sempre
histórica.

Acredito que se façam microcontos em qualquer lugar, até na cadeira do
dentista, desde que a sensibilidade e a percepção do essencial sejam
captadas, quando o escritor possa ser capaz de retirar os excessos encruados
na ideia primeira. É um estilo literário de brevidade estonteante em que o texto
se desapega do supérfluo e do extravagante, detendo-se na simplicidade e na
sutileza. Na espiritualidade.
As histórias são baseadas nos fatos, porém são imateriais por excelência.
Estão numa dimensão em que a busca pelo significado das coisas acaba por
se conectar com os sentimentos e valores universais.
Para finalizar, arrisco meu primeiro nanoconto. Quando terminei de
escrever, encontrei Deus.

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Eles gostam de ler!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Sim, senhores, as crianças e os jovens gostam de ler!
Fiz, mais uma vez, esta constatação ao desenvolver uma oficina na
Biblioteca do SESC para um grupo de jovens, quando abordei a relação do
autor com o leitor, o processo criativo da escrita e os benefícios que a leitura
oferece.
Foi uma atividade agradável e todos demonstraram interesse. Ao longo
da oficina, observei que alguns participantes do grupo liam mais de um livro por
vez, como também a maioria conhecia os autores citados pelos colegas.

Sim, senhores, as crianças e os jovens gostam de ler!
Fiz, mais uma vez, esta constatação ao desenvolver uma oficina na
Biblioteca do SESC para um grupo de jovens, quando abordei a relação do
autor com o leitor, o processo criativo da escrita e os benefícios que a leitura
oferece.
Foi uma atividade agradável e todos demonstraram interesse. Ao longo
da oficina, observei que alguns participantes do grupo liam mais de um livro por
vez, como também a maioria conhecia os autores citados pelos colegas.
Alguns tinham orgulho de falar sobre o livro preferido e ficavam animados
quando havia outro colega que já o tinha lido. E o debate ia longe. As meninas
tinham preferência por romances; os meninos, por aventuras.
Além do mais, consideraram importante a leitura dos clássicos, inclusive
um deles assumiu o compromisso de buscá-los. Logo, os demais concordaram.
Que beleza!
Percebi que eles falavam com desenvoltura e não cometiam erros de
Português. Ao terminar o trabalho, tive uma sensação de alegria misturada com
paz ao ver um pedacinho do nosso Brasil querendo cultura e conhecer mais
sobre o mundo e a vida. Foi um momento de esperança.
A criança e o jovem querem ter acesso ao livro. Quando têm um livro
aberto na frente dos olhos, sentem o prazer de ler, querem conhecer a obra do
autor e o próprio.
Mas o acesso ao livro, na maioria das vezes, não é fácil. E quem pode
oferecê-lo? A família, a escola, o governo, clubes, associações. Enfim, há
âmbitos da sociedade que podem fazê-lo. Mesmo assim, o acesso é pequeno,
ainda pouco valorizado.
Noutro dia, conversando com uma vizinha que tinha um bebê, soube que
ela já estava fazendo uma biblioteca para a filha. O melhor estímulo que uma
criança pode ter para ler é conviver com a leitura em casa, vendo os pais
lendo, conversando a respeito e reconhecendo o valor dos livros.
Conheci, certa vez, a Jurema ou a Ju, uma bibliotecária. Muito ativa e
criativa, ela fez de uma pequenina sala o melhor espaço da escola; um lugar
gostoso de estar, instigante e cheio de novidades, aonde os alunos iam com

prazer, gostavam das atividades que ali eram realizadas e falavam da Ju com
sorrisos e os olhos brilhando.
Quando se quer, há meios de oferecer o livro ao leitor infantil e juvenil.
Eles, por sua vez, sabem fazer bom uso da leitura.
Pois é...

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Novos tempos para a AFL

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

A Academia Friburguense de Letras, Casa de Salusse, lugar de literatura,
ideias e convivência, ganha, em 2022, ares renovadores: novos acadêmicos e
diretoria. A diretoria será representada por Maria Janaína Botelho Corrêa,
Presidente; Wander Lourenço, Vice-Presidente; Alfredo José Henrique, Diretor
Cultural; e Irapuã Guimarães, Secretário. O Conselho Fiscal será composto por
mim, Ordilei Alves da Costa e Catherine Beltrão. Os novos acadêmicos são
Juçara Valverde, Alfredo José Henrique e Catherine Beltrão. Ainda tem a

A Academia Friburguense de Letras, Casa de Salusse, lugar de literatura,
ideias e convivência, ganha, em 2022, ares renovadores: novos acadêmicos e
diretoria. A diretoria será representada por Maria Janaína Botelho Corrêa,
Presidente; Wander Lourenço, Vice-Presidente; Alfredo José Henrique, Diretor
Cultural; e Irapuã Guimarães, Secretário. O Conselho Fiscal será composto por
mim, Ordilei Alves da Costa e Catherine Beltrão. Os novos acadêmicos são
Juçara Valverde, Alfredo José Henrique e Catherine Beltrão. Ainda tem a
alegria de acolher a jovem Camilla Poubel para o Anexo Jovem.
A cerimônia teve a honra de receber o Prefeito de Nova Friburgo, Johnny
Maycon, os representantes da Banda Euterpe Friburguense, Jorge Carvalho,
da Secretaria de Educação, Márcia Machado, e da Acianf, Roosevelt Consy.
É bom renovar, encher a Academia de propostas e abrir outras janelas.
Mas não podemos esquecer dos esforços da diretoria anterior, que, num
período de recesso forçado pela pandemia, cuidou de estruturar melhor sua
sede através de melhorias realizadas pelo Presidente Robério José Canto,
como o conserto do telhado, pintura interna e recuperação da entrada. Nossa
Casa não ficou literariamente adormecida, reuniu as poesias do seu patrono no
livro “Cisnes e outros poemas de Julio Salusse”. Além de realizar palestras de
cunho literário e histórico.
A AFL, aos 74 anos, está viva, com luzes acesas e portas abertas, o que
nos impulsiona a fazer mais, atrair pessoas que gostam de guardar palavras e
ampliar a cultura literária nesta cidade. Nova Friburgo, logo depois que foi
criada, já emanou tendências literárias. Além de ser lugar festivo e cultural,
desde seus remotos tempos, de acordo com as pesquisas da atual presidente,
em seu discurso, foi enriquecida pelos clubes literários, como o Club Minerva,
fundado em 1891, bem pelos periódicos, como o Beija-Flor, criado em 1895,
que publicava poesias, contos e comentários sobre eventos culturais da cidade.
A AFL, situada à Praça Presidente Getúlio Vargas e guardada por leões,
está diante de mais um biênio com tarefas importantes a realizar.

Faço questão de terminar esta coluna abraçando nossos antecessores
porque, hoje, tudo o que há e acontece entre suas paredes é fruto do trabalho
e dos esforços daqueles se dedicaram à causa literária em Nova Friburgo e
que construíram uma Casa para guardar escritores e amantes das letras.
Parabéns, Academia Friburguense de Letras!
Nós amamos você.

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Tempo de guardar e ser guardado

segunda-feira, 03 de janeiro de 2022

 

Guardar

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.

 

Guardar

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.

Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:

Para guardá-lo:

Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.

Gosto desse poema de Antônio Cícero. Gosto de guardá-lo em meus
pensamentos e, sempre quando olho ou toco algo que me sensibiliza, recito-o
baixinho, só para escutar. É bom resguardar o que nos enriquece ou que nos
faz ser o que somos. São bens que não podem ser esquecidos ou perdidos.
Está sobre minha escrivaninha um peso que era da Dona Lourdes, uma
vizinha a quem estimava e que faleceu com quase cem anos. Sua filha, Leda,
pediu para que eu escolhesse algo da casa da mãe para guardar de
recordação. Escolhi um peso de vidro com flores desenhadas ao fundo, na
certeza de que a energia da Dona Lourdes me iluminaria quando estivesse
produzindo textos ou fazendo qualquer outra coisa. Ela me incentivava nas
conversas quando tomávamos um cafezinho com bolo ou biscoito em sua sala.

Sempre que conversávamos, admirava sua firmeza de opinião, inteligência e
consideração pelas pessoas. Ah, eu era uma delas.
Guardo em vários cantos do meu quarto os bilhetes que recebi da
mamãe, da minha filha e de amigos. Enquadrei alguns, como um que escrevi
para mamãe, quando tinha oito anos, em que lhe ofereci meu coração de
criança. E da minha filha em que me deseja amor. Um está do lado do outro,
bem na minha frente.
Estou cercada de guardados!
Assim, movendo meu olhar entre minhas relíquias, espero que em 2022
possamos cuidar dos nossos guardados e fazer tantos outros. E sermos
guardados pelos 360 dias que vão nos acolher.

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A troca de afetos no final de ano

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Hoje vou falar da literatura que acontece na vida, das palavras que não
são escritas, mas ditas espontaneamente, dos gestos que não são descritos,
porém expressos com naturalidade. A literatura corre pelos meandros das
relações afetivas entre os seres deste planeta azulado, a safira do sistema
solar.
Nesta época do ano, a afetividade está aflorada e manifesta de formas
diferentes. O olhar e o sorriso ganham um brilho especial, os braços parecem
ficar maiores para acolher o outro e os beijos mais estalados. Os acenos mais

Hoje vou falar da literatura que acontece na vida, das palavras que não
são escritas, mas ditas espontaneamente, dos gestos que não são descritos,
porém expressos com naturalidade. A literatura corre pelos meandros das
relações afetivas entre os seres deste planeta azulado, a safira do sistema
solar.
Nesta época do ano, a afetividade está aflorada e manifesta de formas
diferentes. O olhar e o sorriso ganham um brilho especial, os braços parecem
ficar maiores para acolher o outro e os beijos mais estalados. Os acenos mais
vibrantes. Até as lágrimas deixam-se correr facilmente pelas faces.
Os afetos contornam a vida através de um esforço esperançoso para que
as coragens e as disposições nos animem frente aos desafios do tempo que
estão por vir. Nos últimos dias do ano, há questões pendentes a serem
resolvidas, acenos de despedidas, relações a serem comemoradas e
resgatadas, motivos para celebrar a vida. É um tempo de finalização ante o
novo ano que vai chegar.
Tenho sentido isso nas trocas de mensagens de Natal, já que os cuidados
com a saúde nos exigem certa distância. As emoções, mesmos que tocadas
pelo Covid-19, explodem constantemente em nossos afetos. Ah, somos seres
de sentimentos, cercados por tantos outros, como os animais e as plantas.
Somos uma vida dentre tantas que fazem os sentimentos borbulharem do
nascer ao pôr-do-sol.
O vermelho vibrante, como a intensidade do sangue, surge nas
mensagens às pessoas queridas, possibilitando a troca de bons afetos e
desejos. É prazeroso construir, enviar e receber mensagens. Os cartões de
Natal, encaminhados pelos correios, deixaram de existir faz tempo, os virtuais
tomaram conta da internet porque as pessoas continuam a sentir necessidade
de trocar afetos neste final de ano. É um intercâmbio que alimenta a alma
porque nos faz sentir amados. Os modos de amar estão sendo modificados
pela modernidade, mas o amor ainda não pereceu. Continua a manter-se vivo,

pronto para interagir, enquanto força que revitaliza nossas energias e fortalece
nossos elos com a vida. Salva-nos!
O Natal se caracteriza por uma energia forte que emana do interior de
cada ser vivo. Os animais também fazem parte do Natal, tal qual as plantas.
Inclusive o pinheiro e a rena são símbolos marcantes deste tempo.
Que neste final de ano, a troca de afetos seja como um óleo que unte
nossas forças para trilharmos os caminhos de 2022.

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Todavia

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Lendo a biografia de Woody Allen eu me deparei com uma afirmação que
é contrária ao que tenho lido e escutado ao longo de anos. “Você pode viver
até os cem anos se abandonar todas as coisas que fazem com que você queira
viver até os cem anos.” Parei, olhei para o teto revirando os olhos em várias
direções, mas sem nada ver, apenas pensando. De repente, minhas ideias se
aproximaram da letra do samba, gravado por Zega Pagodinho, “Deixa a vida
me levar”.
Essas proposições trazem toques de sabedoria porque a vida tem

Lendo a biografia de Woody Allen eu me deparei com uma afirmação que
é contrária ao que tenho lido e escutado ao longo de anos. “Você pode viver
até os cem anos se abandonar todas as coisas que fazem com que você queira
viver até os cem anos.” Parei, olhei para o teto revirando os olhos em várias
direções, mas sem nada ver, apenas pensando. De repente, minhas ideias se
aproximaram da letra do samba, gravado por Zega Pagodinho, “Deixa a vida
me levar”.
Essas proposições trazem toques de sabedoria porque a vida tem
grandezas que os projetos individuais não conseguem vislumbrar e abraçar em
maior profundidade. Se somos seres de decisões e, de fato, somos, estamos
diariamente direcionando nossos destinos, na maioria das vezes, às rédeas
curtas. Ora veja, se deixamos a vida nos levar, nossos canais perceptivos se
abrem e captam outras possibilidades, como largar os afazeres, tomar um
sorvete durante a tarde e deixar-se levar pelo prazer daquele instante.
A letra desse samba (na verdade, sua autoria não é do Zeca Pagodinho,
e sim do sambista Serginho Meriti) tem preciosidades. Olhem isso. Todo
mundo canta o refrão da música, recita a estrofe diversas vezes,
principalmente quando a melodia dá para entrar na nossa cabeça e nos faz
cantarolar. Porém, meus amigos, não sabemos do restante da letra. Ficamos
fixados em poucos versos e deixamos escapar outros que podem nos ser
proveitosos. “Confesso que sou\ de origem pobre\ mas meu coração é
nobre\Foi assim que Deus me fez\.... Sou feliz e agradeço\Por tudo que Deus
me deu.
Naquele momento em que rodopiei meu olhar pelo teto, talvez quisesse
saber o que a vida me deu de presente e eu não valorizei. Nem reconheci.
Estou sempre preocupada no que tenho que fazer, entretanto não penso no
que eu não tenho de fazer, o que poderia muito me acrescentar.
Não sei se vocês perceberam, estou substituindo a conjunção “mas” por
outras. Por que não costumo usar “todavia”, “contudo”? Se depois de uma

dificuldade, fizer questão de empregar “todavia”, vou me deparar com a
esperança, com a luz no final do túnel. Quero me chamar Tereza Todavia! Por
que não?
Não poderia deixar de me lembrar da poesia “Instantes”, de autoria de
Nadine Stair, que vai ilustrar o meu sentimento de apenas querer viver.
Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima, trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito,

relaxaria mais. Seria mais tolo ainda do que tenho sido.
Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvete e menos lentilha.

Teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata
e produtivamente cada minuto da vida:
claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver,
trataria de ter somente bons momentos.

Porque, se não sabem, disso é feito a vida, só de momentos;

não percam o agora.
Eu era um desses que nunca ia
a parte alguma sem um termômetro,

uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um paraquedas;

se voltasse a viver viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver,

começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,

contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças,

se tivesse outra vida pela frente.

Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.

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Você escreve “historinhas” ou “livrinhos” para crianças?

segunda-feira, 06 de dezembro de 2021

Volta e meia eu me deparo com essa pergunta: você escreve “historinhas”
ou “livrinhos” para crianças? Um arrepio me vai dos pés à cabeça. Os textos
infantis com valor literário são extremamente difíceis e delicados de serem
construídos, e quem escreve para crianças e jovens precisa considerar alguns
fatores relevantes.
É razoável que o escritor infanto-juvenil tenha em mente que as histórias
direcionadas a esse grupo de leitores tenham caráter literário por excelência.
Quero dizer que não podem ser mescladas por intenções pedagógicas, nem

Volta e meia eu me deparo com essa pergunta: você escreve “historinhas”
ou “livrinhos” para crianças? Um arrepio me vai dos pés à cabeça. Os textos
infantis com valor literário são extremamente difíceis e delicados de serem
construídos, e quem escreve para crianças e jovens precisa considerar alguns
fatores relevantes.
É razoável que o escritor infanto-juvenil tenha em mente que as histórias
direcionadas a esse grupo de leitores tenham caráter literário por excelência.
Quero dizer que não podem ser mescladas por intenções pedagógicas, nem
tendenciosas, como por questões raciais, políticas ou religiosas. Mesmo tendo
consciência de que tais questões possam se fazer presentes na construção da
trama, elaborar um texto com intenções pré-definidas direciona a história a
determinados caminhos, o que pode comprometer sua qualidade literária. Se o
sentimento do escritor está delineado pelo universo indígena, a história dos
personagens índios e não índios deve ser elaborada de acordo com a
inspiração, afetos e intuições do autor.
De fato, ao respeitar os princípios literários, os textos podem ser lidos por
pessoas de todas as idades, épocas e lugares. A literatura é universal. Porém,
se para tocar mais especificamente o público infantil, a idade deve ser
considerada, até porque o leitor tem seus centros de interesse condizentes
com a experiência de vida e escolaridade. Gostaria de trazer, como exemplo,
as obras “Pinóquio”, “Alice no País da Maravilhas”, “Cinderela”, populares
contos de fadas populares que sobreviveram ao tempo. Será que as histórias
de Monteiro Lobato cairão no esquecimento? Permanecerão vivas aos olhos de
diversificados leitores? E a “Bolsa Amarela” de Lygia Bojunga?
Outro aspecto a ser ponderado é a linguagem. O leitor não tem que ser
seduzido para mergulhar na leitura? Será que uma criança de oito anos vai se
interessar por textos que empreguem vocabulários mais complexos, que lhe
exijam níveis de entendimento mais amplos? Como Guerra e Paz, de Tolstói?
Dom Casmurro, de Machado de Assis? Não é mais fácil um leitor adulto ter
vontade de ler “O Gato e o Escuro”, de Mia Couto, do que uma criança se

debruçar sobre “Um Rio Chamado Tempo, uma casa Chamada Terra” do
mesmo autor? Belíssima obra, por sinal.
Como foi desafiador para Andrea Viviana Taubman escrever “Meu Amigo
Partiu”, que conta a história de um menino que perdeu seu melhor amigo.
Quando escrevi “Aventureiros da Serra”, conto infantil que aborda o câncer
infantil, fiz um delicado trabalho de escrita para adequar a linguagem ao leitor
juvenil.
Quem escreve para crianças e jovens tem responsabilidades, dado que a
literatura infanto-juvenil influencia a formação do caráter, os processos de
amadurecimento e construção de identidades, os padrões de convivência e
conduta. Não se escreve de qualquer forma um tema que venha à mente. É
importante ter critérios com o que se vai e como contar para alguém que está
começando a aprender a viver.
Será mesmo a literatura infantil feita de livrinhos e historinhas?
Ou resultado de um projeto literário sério, criterioso e cuidadosamente
trabalhado?

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Em busca pelo sentido da vida

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Ao acabar de ler “Anna Kariênina”, de Liev Tolstói, no Clube de Leitura
Clássicos da Literatura, várias questões nos sensibilizaram e inquietaram.
Baseada nas reflexões que fizemos a respeito dos personagens,
especialmente de Konstantin Liévin, a busca pelo sentido da vida me instigou
ao longo da narrativa.
O romance “Anna Kariêrina” foi considerado por Dostoievski uma
verdadeira obra de arte. Como Liev Tolstói foi profundo conhecedor da alma
humana e por estar passando por momentos difíceis, como a perda de três dos

Ao acabar de ler “Anna Kariênina”, de Liev Tolstói, no Clube de Leitura
Clássicos da Literatura, várias questões nos sensibilizaram e inquietaram.
Baseada nas reflexões que fizemos a respeito dos personagens,
especialmente de Konstantin Liévin, a busca pelo sentido da vida me instigou
ao longo da narrativa.
O romance “Anna Kariêrina” foi considerado por Dostoievski uma
verdadeira obra de arte. Como Liev Tolstói foi profundo conhecedor da alma
humana e por estar passando por momentos difíceis, como a perda de três dos
treze filhos e diante da doença da esposa, ele não mediu esforços para refletir
sobre o sentido da vida durante a construção do texto. Foi uma busca que
abrangeu a análise do bem e do mal, modos de viver, conceitos relacionados à
família, ao amor e à morte.
A história, então, foi sendo tecida com maestria. Por intermédio dos
personagens, o autor referiu-se aos conceitos e crenças pessoais, bem como
às transformações, quase imperceptíveis, que vão acontecendo a uma pessoa
na medida em que ela vai modificando suas atitudes na vida quotidiana. Tolstói
chega perto de nós quando mostra o quanto é sensível e complexo o processo
de entender a vida. O texto tem atualidade.
Essa busca tem um valor incomensurável para nós. A cada dia é um
conhecimento que vamos construindo ao longo dos afazeres, relacionamentos
e embates que as circunstâncias existenciais nos apresentam. Somos os
construtores dos nossos destinos. Ah, quanto a isso não há a menor dúvida.
Mas é preciso pensar. Buscar respostas às próprias indagações. É uma
angustiante procura em que nos perdemos em tantos caminhos e veredas,
entramos e saímos deles com frágeis convicções muitas vezes.
Passar a existência deparando-se com problemas e buscando soluções
por um lado pode ser a causa de assombros de uma pessoa. Porém são nas
situações mais difíceis e desafiadores que vislumbramos novas ideias e nos
percebemos com mais humanidade. É preciso ir além.

Nessa busca, as questões espirituais não passam despercebidas.
Independentemente da doutrina, as religiões respeitam a ética, que são
padrões de comportamento e de respeito, conceitos que resguardam a
preservação da vida, a convivência e a realização do trabalho.
Eu suponho que Liev Tolstói tenha escrito “Anna Kariêrina” para tentar
compreender o sentido da própria vida. E, nós, os leitores, buscamos nesse
romance entender a nossa própria.

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Olhar com humor para a vida

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Quando comecei a escrever, tinha um pouco mais de quarenta anos. Já
não era menina e tinha a nítida impressão de que precisava ser aprendiz das
palavras. Pelo menos neste aspecto, eu tinha amadurecido. Resolvi, então,
fazer oficinas literárias para me capacitar a compor textos. Ao descobrir meu
gostar pela literatura infantil, pensei que o humor me seria útil. Entrei numa
oficina de humor e, até hoje, dela participo. Ainda tenho o que aprender. Mas
ainda não sei contar piada. Na verdade, sou um fracasso, e ninguém, ao

Quando comecei a escrever, tinha um pouco mais de quarenta anos. Já
não era menina e tinha a nítida impressão de que precisava ser aprendiz das
palavras. Pelo menos neste aspecto, eu tinha amadurecido. Resolvi, então,
fazer oficinas literárias para me capacitar a compor textos. Ao descobrir meu
gostar pela literatura infantil, pensei que o humor me seria útil. Entrei numa
oficina de humor e, até hoje, dela participo. Ainda tenho o que aprender. Mas
ainda não sei contar piada. Na verdade, sou um fracasso, e ninguém, ao
menos, finge que ri. Mesmo assim valorizo o humor pela leveza que oferece
aos textos, dado que escrever dando graça ao enredo tem sutilezas
interessantes, que, agora, depois de tantos anos de esforços, consigo ter
alguma espontaneidade. Não sou escritora que se debruça sobre uma página
em branco decidida a escrever humor. O engraçado vai surgindo naturalmente,
sorrateiramente, pincelando com graça a narrativa.
Estou lendo a “A Autobiografia de Woody Allen” e tenho me divertido com
seu modo de encarar a vida. Por mais patética que seja a situação relatada, ele
acrescentou um toque de humor às situações em que viveu. Ah!, ele teve,
desde criança, um olhar bem-humorado para a vida. A alegria o tornou
vitorioso. Mas estamos falando de um gênio. A literatura sempre foi a dama de
ouro dos seus interesses, tornando-se autor dos roteiros dos seus filmes.
Assisti a todos.
Outra questão relevante é que ele foi um aluno inadaptado nas escolas
pelas quais passou, e, sua mãe, frequentadora assídua das salas de direção.
Imaginem Woody Allen nos bancos escolares, cheio de limitações e regras de
comportamento? Sua genialidade brincava com as imperfeições das
instituições de ensino. “Eu não roubava notas; fazia apostas”. Sua visão de
mundo, irônica e inteligente, encontrou nas piadas seus primeiros caminhos
como escritor.
A piada se constitui por uma história que possui um final engraçado,
capaz de provocar risos em quem a escuta. São Tomás de Aquino disse que é
preciso brincar durante a vida. Rir torna os dias mais sutis e gostosos de serem

vividos, uma vez que o riso hidrata o cérebro e desaquece as tensões do
quotidiano. Inclusive, o senso de humor educa e pode ser um modo eficiente
de mostrar ao outro a melhor forma de ser e de fazer. Se as salas de aula
fossem enriquecidas pelo humor, haveria mais cientistas, humanistas e artistas
trazendo melhorias para o nosso quotidiano.
Neste final de semana, pretendo mergulhar na “A Autobiografia de Woody
Allen”. Além do que eu possa me beneficiar como escritora, vou aprender com
sua genialidade, seu modo inteligente de experimentar a vida.
Deixo aqui algumas de suas frases como um presente de segunda-feira.
“Noventa por cento do sucesso se baseia simplesmente em insistir”.
“A liberdade é o oxigênio da alma”.
“Você pode viver até os cem anos se abandonar todas as coisas que
fazem você viver até os cem anos”.
“A realidade é dura, mas ainda é o único lugar onde se pode comer um
bom bife”.

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