A pouco mais de dois meses do início da Conferência em Belém, a diplomacia climática está a todo vapor. No início da semana, o presidente da COP, André Corrêa do Lago, enviou a sexta carta à comunidade internacional, mas desta vez com foco em temas que, embora estejam fora da agenda formal das negociações, são vitais para o seu sucesso. Para isso, ele antecipou as consultas com as delegações governamentais, defendendo a eficácia de uma abordagem transparente para questões de alto perfil político e impasses em discussões técnicas.
Com prazo de entrega até fevereiro, apenas 27 dos 198 países da Convenção do Clima enviaram suas metas climáticas (NDCs) ao secretariado da UNFCCC. Infelizmente, a maioria delas, incluindo as do Brasil, Noruega e Japão, são insuficientes para conter o aumento da temperatura global dentro da meta de Paris. O caso mais preocupante é o Canadá, que retrocedeu em suas metas, enquanto o do Reino Unido se destacou com metas mais ambiciosas, comprometendo-se a reduzir em 91% as emissões de gases do efeito estufa.
Embora as NDCs sejam voluntárias, o Acordo de Paris prevê que a cada cinco anos o secretariado realizará um balanço delas para produzir um relatório-síntese. Esse documento indicará nosso progresso em relação à meta de 1.5-2 ºC e a lacuna que precisa ser fechada. Originalmente, a síntese seria publicada em outubro, antes do início das negociações, mas o atraso no envio e a insuficiência de dados podem prejudicar o andamento e o resultado final da COP.
Outro ponto abordado na carta, e que é fonte de grande polêmica, é o financiamento climático de US$1,3 trilhão anuais para países em desenvolvimento que dependem desses recursos para se engajarem em ações climáticas ambiciosas. Essa é uma questão recorrente nas COPs, pois os países ricos têm demonstrado resistência em contribuir de forma justa, considerando sua responsabilidade histórica na crise climática.
Além desses pontos, a carta destaca outros objetivos que, embora não façam parte da agenda formal, são considerados essenciais. Entre eles estão a meta de triplicar a capacidade global de energia renovável, dobrar a taxa média anual de eficiência energética, zerar o desmatamento até o final desta década e eliminar progressivamente os combustíveis fósseis dos sistemas de energia. Este último ponto enfrenta grande rejeição por parte dos países produtores de petróleo e plástico.
As ações antecipadas da presidência brasileira da COP demonstram uma forte vontade de negociar para superar os obstáculos que podem impedir que esses temas alcancem soluções durante as duas semanas de negociações formais. Nas próximas semanas, as consultas governamentais terão uma primeira sessão online, seguida por dois encontros presenciais: um em Nova Iorque em setembro e outro em Brasília em outubro. Para aqueles que acompanham os preparativos, esta última semana foi capaz de renovar as esperanças para as negociações de novembro e reacender a ambição por um acordo que marque a Conferência de Belém.
(*) Isabela Braga é bióloga e cientista climática. Escreve nas edições de fim de semana
Deixe o seu comentário