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O amor é lindo

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Ah! O amor é lindo, não é mesmo? Vocês ainda se emocionam com uma história bonita e genuína em que almas se encontram? Eu sigo achando uma maravilha. Aquece o coração, dá cor às coisas, enche a vida de esperança. Por trás da aparente simplicidade das sutilezas do amor, há uma das maiores verdades que podemos experimentar: ele é lindo, mesmo! Não porque seja perfeito, até é justamente na imperfeição que ele floresce.

Ah! O amor é lindo, não é mesmo? Vocês ainda se emocionam com uma história bonita e genuína em que almas se encontram? Eu sigo achando uma maravilha. Aquece o coração, dá cor às coisas, enche a vida de esperança. Por trás da aparente simplicidade das sutilezas do amor, há uma das maiores verdades que podemos experimentar: ele é lindo, mesmo! Não porque seja perfeito, até é justamente na imperfeição que ele floresce. Não está na cena de cinema em que tudo se encaixa, mas no gesto pequeno de quem se lembra do seu café preferido, na mensagem que chega, em meio a um dia cansativo, no abraço que não cobra nada em troca, na demonstração de se estar junto para o que der e vier. Está no sorriso frouxo, no toque que aquece, na presença que preenche, na admiração recíproca, na partilha emocionada, na torcida diária e no desejo de se estar perto. O amor se faz no detalhe, no cuidado quase imperceptível, no olhar que enxerga além da superfície.

É lindo porque nos humaniza. Em um tempo em que tanto se fala em produtividade, em metas, em números, o amor nos devolve ao que é essencial: sentir. Ele nos lembra que a real conquista passa pelo afeto, que não somos máquinas, que não viemos ao mundo apenas para cumprir agendas, mas para construir encontros. O amor, em todas as suas formas, é um exercício de presença — um “estou aqui” silencioso, mas transformador.

O amor também é lindo porque não se limita a romances. Está na amizade que atravessa décadas, na família que segura as pontas quando o chão parece sumir, na comunidade que se organiza para apoiar quem precisa. Está também no amor-próprio, quando finalmente reconhecemos o nosso valor e nos tratamos com a delicadeza que sempre oferecemos aos outros.

É lindo porque resiste. Mesmo depois das perdas, das decepções e das despedidas, o amor insiste em reaparecer. Ele tem uma força de renascimento que desafia a lógica: ainda que o coração esteja ferido, um novo afeto sempre encontra espaço para brotar. Talvez seja esse o maior milagre — a capacidade de, apesar das cicatrizes, acreditar de novo.

O amor é lindo porque nos coloca em movimento. Nos empurra para fora do egoísmo, amplia nossos horizontes, nos convida a ver o outro não como ameaça, mas como espelho e companhia. É nele que aprendemos generosidade, paciência, compaixão. Não é fácil — exige escolhas, renúncias, disposição para ouvir e recomeçar. Mas é justamente esse esforço que o torna tão valioso.

E, se é verdade que tudo na vida é transitório, o amor talvez seja a forma mais bonita de eternidade. Porque ele se prolonga na memória, na marca que deixa em quem passa por nós. Um gesto de amor pode atravessar o tempo e continuar sustentando alguém muito depois da nossa ausência.

O amor é lindo porque nos lembra de que, no fundo, ninguém quer apenas vencer ou acumular. Todos buscamos, de maneiras diferentes, um lugar seguro para ser quem somos — e isso só se encontra no afeto verdadeiro. O amor é a raiz que nos prende ao chão e a asa que nos leva além. Então, sim, o amor é lindo. Não como slogan, mas como certeza vivida. Ele não precisa de aplausos, de palco, nem de poesia rebuscada. O amor é lindo porque é real, porque está nas frestas da vida, porque insiste em nos salvar todos os dias.

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Boa vontade

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Acreditar no ser humano até que ele demonstre que não é digno da sua confiança. Ter boa vontade até que reste comprovado que o destinatário das suas ações não é tão digno assim de recebê-las. Ter a intenção de ajudar, sem requisitar nada em troca (nem nas entrelinhas das segundas intenções). Dar de verdade, doado, porque sim. Sem dívida moral para acertar depois. Compartilhar prosperidade, sem contabilizar os créditos que sua boa ação pode te proporcionar. Fazer sem esperar retorno. Ensinar com a intenção de que aprendam. Aprender com a intenção de aprender mesmo.

Acreditar no ser humano até que ele demonstre que não é digno da sua confiança. Ter boa vontade até que reste comprovado que o destinatário das suas ações não é tão digno assim de recebê-las. Ter a intenção de ajudar, sem requisitar nada em troca (nem nas entrelinhas das segundas intenções). Dar de verdade, doado, porque sim. Sem dívida moral para acertar depois. Compartilhar prosperidade, sem contabilizar os créditos que sua boa ação pode te proporcionar. Fazer sem esperar retorno. Ensinar com a intenção de que aprendam. Aprender com a intenção de aprender mesmo.

Nem tudo vale dinheiro, nem tudo vale crédito, nem tudo vale nota na escala de valores de uma pessoa. Aliás, as coisas mais importantes da vida, nem coisas são. Frase repetida, mas cheia de razão.

Sabe quando alguém é honesto com você e chega a te comover? Quando você recebe um presente como demonstração de gratidão, sem interesse? Quando você é tão bem tratado que fica com vontade de levar aquele bem feitor da gentileza para casa? Quando as pessoas são tão solícitas que chegam a te constranger? Quando te oferecem colo e acalento e você não consegue nem aceitar? Quando te fazem tão bem que você chega a se emocionar? Quando as intenções das pessoas são genuinamente tão boas que chegamos a desconfiar? Então. Quando o lado bom da força transborda, por vezes fica até difícil conseguir lidar. Estranha realidade.

Por que dificultar a vida das pessoas à toa? Para quê criar obstáculos desnecessários? Por que se fazer temer para receber o respeito de alguém? Estamos na era da Luz. Nem todos os pingos dos “is” precisam estar milimetricamente em cima dos “is”. Cadê a flexibilidade? O jogo de cintura? O “borogodó”? Cadê a leveza? Le-ve-za.

Não estou me referindo aos jeitinhos, às trapaças, ao desejo de enganar as pessoas. Pelo contrário. Quero falar das pessoas que por pureza de espírito, por intenções positivas, fazem por amor, acreditam pela crença de que as pessoas podem ser verdadeiras, dão por dar, recebem por receber, e por aí vai. Essa lógica que deveria ser mais natural entre nós, humanos.

Pessoas não são números. Pais não estão sempre certos. Professores não sabem tudo. Desempregados não são malandros. Estrangeiros não vivem melhor. Relacionamentos não são sempre perfeitos. Trabalho não é martírio. Políticos não são todos corruptos. Todos os milionários não são felizes. Percebem?

Às vezes acho que estamos vivendo de exceções. Isso me inquieta. A pirâmide às vezes me parece invertida. A base, a massa, a maioria, deve ser composta pelo lado bom da força. Se me falam algo, acredito. Por que tenho que imaginar que a pessoa está mentindo? Se me tratam com gentileza, retribuo. Por que deveria imaginar que a intenção por trás dos gestos afáveis estão enrustindo uma intenção diversa? Se me pedem e eu posso fazer, eu faço. Por que deveria me recusar a ajudar alguém?

É tão comum escutarmos conselhos do tipo: “ não fique disponível”, “ a regra é não”, “não caia nessa conversa fiada”, “ não perca seu tempo ajudando”, “ faça o mínimo necessário”, “ não acredite nessas boas intenções”, “duvide até do espelho”, “não conte nada para ninguém”. Andamos tão armados. Tão fechados. Tão individualizados. Complexo. Talvez mais difícil fosse ser diferente disso.

Hoje em dia estamos sendo julgados, filmados, gravados, registrados. São tantos dedos apontados, tantas mentes fazendo juízo de valor sobre nossa postura. São tantas opiniões preconcebidas sendo extraídas exclusivamente das postagens das redes sociais, de uma fala isolada, de uma atitude excepcional em um dia ruim, de uma fofoca, de uma impressão negativa. Isso dificulta as relações mais naturais, mais reais, mais verdadeiras, com mais partilha e menos julgamento, com mais essência e menos forma. Será que o lado bom da força está enfraquecendo?

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Sorria, você está sendo filmado

sexta-feira, 08 de agosto de 2025

Vivemos em uma era em que o olhar alheio se tornou tão comum quanto a própria respiração. Câmeras nos prédios, nos semáforos, nas lojas, nos aplicativos de entrega. Tudo registra tudo, e nós, muitas vezes, seguimos adiante como se nada estivesse acontecendo.

“Sorria, você está sendo filmado”, dizem os avisos em letras pequenas, discretas, quase imperceptíveis. Mas seria possível sorrir de verdade quando se sabe que cada gesto, cada passo, cada expressão pode estar sendo guardada, catalogada e analisada?   

Vivemos em uma era em que o olhar alheio se tornou tão comum quanto a própria respiração. Câmeras nos prédios, nos semáforos, nas lojas, nos aplicativos de entrega. Tudo registra tudo, e nós, muitas vezes, seguimos adiante como se nada estivesse acontecendo.

“Sorria, você está sendo filmado”, dizem os avisos em letras pequenas, discretas, quase imperceptíveis. Mas seria possível sorrir de verdade quando se sabe que cada gesto, cada passo, cada expressão pode estar sendo guardada, catalogada e analisada?   

O paradoxo é cruel: queremos segurança, queremos praticidade, mas pagamos um preço alto demais. Nossa privacidade, essa velha companheira que sempre foi nossa, está desaparecendo aos poucos, e quase nunca percebemos. Aceitamos contratos longos de termos de uso, damos permissão para aplicativos acessarem nossas vidas, e, no fim, pouco sabemos sobre quem realmente nos observa. É como se tivéssemos vendido a intimidade em parcelas invisíveis, sem juros, mas sem retorno algum.

Há algo profundamente desconfortável em perceber que o cotidiano — o simples caminhar, o tomar um café, o sorrir para alguém na rua — pode ser registrado sem que possamos escolher se queremos ou não. A câmera não julga, não discrimina, apenas captura. Mas o que ela faz com esses dados depois? Quem se beneficia? Quem lucra com cada gesto que achávamos ser só nosso?   A resposta é nebulosa, e talvez seja isso o mais perturbador: vivemos cercados de olhos que não têm rosto e mãos que não apertamos, mas que, ainda assim, influenciam nossa vida de maneiras que mal percebemos.

E, no entanto, há uma estranha aceitação. Alguns chegam a se habituar, a sorrir para as câmeras, a posar para o mundo que os observa constantemente. Criamos, sem perceber, uma persona que existe mais para os outros do que para nós mesmos. Um “eu” performático, que sabe que está sendo filmado, avaliado, julgado. A intimidade se transforma em espetáculo, e o cotidiano se torna cena de cinema, só que sem direito a cortes ou ensaios.

O problema não está apenas na tecnologia, mas na forma como nos adaptamos a ela. Aceitamos que a vigilância seja parte do preço de viver em sociedade. Mas seria impossível imaginar um espaço — ainda que pequeno — em que pudéssemos nos desligar dessa constante sensação de estar sendo vigiado? Talvez o ponto não seja apenas resistir à tecnologia, mas redescobrir a capacidade de existir sem câmeras, de ser apenas humano, com o direito de errar, de tropeçar, de estar presente sem precisar registrar nada.

No final, “sorria, você está sendo filmado” é mais do que um aviso: é um convite a refletir sobre até que ponto queremos abrir mão de nossa privacidade em nome da conveniência. Sorrir, sim, mas não para a lente fria que tudo grava; sorrir para nós mesmos, para a liberdade de existir sem olhares permanentes, mesmo que por breves instantes. Talvez seja nesses instantes que ainda reste algum espaço para sermos realmente livres.

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“O relógio só anda pra frente”

sexta-feira, 01 de agosto de 2025

        Muitos de nós têm dificuldades em assimilar a efemeridade da vida, a velocidade com que o tempo passa. Quando muito jovens, achávamos que seríamos, inclusive, eternos. A juventude tem esse frescor, nos ilude ao imaginarmos uma vida muito longa pela frente e sequer vislumbramos que o fim pode chegar. Vai chegar, aliás, um dia. Parece coisa que acontece com os outros, tão distante que não pode nos alcançar.

        Muitos de nós têm dificuldades em assimilar a efemeridade da vida, a velocidade com que o tempo passa. Quando muito jovens, achávamos que seríamos, inclusive, eternos. A juventude tem esse frescor, nos ilude ao imaginarmos uma vida muito longa pela frente e sequer vislumbramos que o fim pode chegar. Vai chegar, aliás, um dia. Parece coisa que acontece com os outros, tão distante que não pode nos alcançar.

        Mas a vida é isso aí, Vida. Ela sendo ela. Cheia de riscos. Poderosa, intensa, surpreendente. E ela tem essa força para mudar tudo da noite para o dia, relativizar convicções, romper com devaneios, desnudar a realidade, impor desafios, apresentar obstáculos algumas vezes intransponíveis. E aí é que começa a complicar. Há surpresas na vida que são implacáveis, arrebatadoras, nos tira o chão, nos coloca no cantinho do castigo olhando para as paredes de forma severa, sem hora para acabar. Não vai adiantar reclamar com os pais, os diretores não vão poder fazer nada.

        E o tempo que parece voar, realmente passa rápido demais. Creio que um dia todos chegaremos a essa conclusão. E não dá para parar o relógio, colocar pilha fraca, sumir com o marcador. Ele não vai parar de passar e esse minuto em que penso essas palavras, também jamais voltará. Já dizia meu saudoso avô João: “o relógio só anda pra frente”. E é isso mesmo. Temos que aproveitar.

        Chega uma hora, em que precisamos entender que existir significa também tomar as rédeas dessa existência, assumir de alguma maneira as responsabilidades, consentir, abraçar as possibilidades, desfrutar dos segundos, valorizar todos os instantes. Precisamos também estar cientes de que acatar a postura ativa diante da vida, significa também não esperar a “papinha na boca”, a mão na testa, alguém como escudo e as respostas prontas para tudo. É aprender sobre amor próprio. A entender-se no mundo, reconhecer seu valor e polir seus defeitos.

        Independente de convicções religiosas, das aspirações que temos sobre o lado de lá, na crença que podemos nutrir sobre a vida depois do “fim”, fato é que essa roupagem assumida por essa vida é única e preciosa e não deve ser desperdiçada. Creio realmente que não estamos aqui a passeio. Temos missões urgentes a cumprir. Precisamos ser úteis ao bem da humanidade. Carecemos de sabedoria para escolhermos as pessoas com quem desejamos caminhar. Um dia, de uma maneira ou de outra, receberemos todos, a conta da vida. Que tenhamos feito boas escolhas.

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Força de vontade

sexta-feira, 25 de julho de 2025

O que move uma pessoa? Nem sempre é o amor. Nem sempre é a fé. Às vezes, nem mesmo a esperança. Acho que é tudo isso junto e mais alguns elementos. Necessidade. Propósito. Desejo. Força de vontade. Aliás, falemos sobre ela. Não faz barulho, não tem cor, não vira foto de rede social. Mas está lá — como uma raiz que ninguém vê, sustentando toda a árvore.

O que move uma pessoa? Nem sempre é o amor. Nem sempre é a fé. Às vezes, nem mesmo a esperança. Acho que é tudo isso junto e mais alguns elementos. Necessidade. Propósito. Desejo. Força de vontade. Aliás, falemos sobre ela. Não faz barulho, não tem cor, não vira foto de rede social. Mas está lá — como uma raiz que ninguém vê, sustentando toda a árvore.

Lembro quando ouvi que “vontade a gente não espera, a gente cria.” Na época, achei um pouco duro. Hoje entendo que era sabedoria das antigas. Porque esperar a vontade chegar pode ser o primeiro passo para ela nunca aparecer. A força, às vezes, vem depois do movimento, e não antes.

Já vivi dias em que levantar da cama parecia tarefa para um exército. Nada de grave, mas o corpo pesado, a alma em modo silencioso, e aquele questionamento: “Pra quê tudo isso?” E mesmo assim, eu fui. Escovei os dentes, abri a janela, coloquei café no fogo. Não porque queria — mas porque havia um compromisso comigo mesma: não me deixar para depois.

Essa é a verdadeira força de vontade. Ela aparece quando tudo o que a gente sente nos empurra para trás, mas alguma parte interna ainda insiste em ir para frente. É como remar contra uma correnteza interna — emocional, mental, às vezes até física. Mas remar mesmo assim. Não é heroísmo. Não é superação de novela. É escolha cotidiana. É compromisso com a gente, mesmo quando ninguém está olhando. Porque ninguém vê o esforço de quem decide continuar, mas quem vive isso sabe o tamanho do passo.

Força de vontade também é não cair na cilada da comparação. A gente olha para o outro e pensa: “nossa, fulano é tão disciplinado”. Mas talvez o fulano só tenha aprendido a dar pequenos passos todos os dias, mesmo sem plateia, mesmo sem motivação. Força de vontade não é mágica, é treino. E não é sobre vencer sempre. É sobre tentar mais uma vez. Errar de novo, mas melhor. Recomeçar com cansaço, mas sem desistência. Ter força de vontade é lavar a louça quando tudo em você queria o sofá. É retomar o projeto depois de meses parado. É dizer “vou tentar” mesmo com medo de falhar.

Já percebi que quem tem força de vontade não necessariamente tem tudo sob controle. Mas tem um tipo de fé particular: a de que continuar vale a pena, ainda que o destino seja incerto. É essa força que move a mãe solo que acorda às 5h para trabalhar e cuidar dos filhos. É ela que sustenta o estudante que revisa pela terceira vez o mesmo conteúdo, mesmo sem entender tudo. É a força de vontade que faz alguém seguir em frente após um luto, uma perda, uma decepção.

Ela não vem de fora. Não está nos livros, nos vídeos motivacionais, nem nos conselhos bem-intencionados. Vem de dentro. E às vezes vem fraca. Mas a gente só precisa de um fio. Há dias em que esse fio se rompe. Aí é preciso descanso, pausa, recolhimento. Força de vontade não é obrigatoriedade, nem martírio. Ela também precisa de fôlego. E tudo bem parar um pouco, desde que não seja para sempre.

No fundo, força de vontade é uma conversa constante entre você e você mesmo. Uma troca silenciosa que diz: “não vai ser fácil, mas vai valer.” E, se for para acreditar em algo neste mundo de tantos ruídos e distrações, que seja nisso: na delicada e potente força que mora em querer seguir, mesmo que seja só mais um dia. Mesmo que seja só mais um passo.

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Situação poética

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Era um dia comum. Tardezinha. A moça, sobrevivente, pôs-se a pensar. A premissa: cada dia em que estamos vivos é mais um dia de sobrevivência - não em sentido estrito, mas em sentido amplo mesmo do que isso significa. Naquela ocasião, teve a oportunidade de tomar com calma a xícara de chá e por incrível que pareça ficou até tarde da noite sem fazer nada que não fosse pensar. Um privilégio, é verdade. A vida tem dessas coisas. Às vezes, se tem a oportunidade de parar... e pensar.

Era um dia comum. Tardezinha. A moça, sobrevivente, pôs-se a pensar. A premissa: cada dia em que estamos vivos é mais um dia de sobrevivência - não em sentido estrito, mas em sentido amplo mesmo do que isso significa. Naquela ocasião, teve a oportunidade de tomar com calma a xícara de chá e por incrível que pareça ficou até tarde da noite sem fazer nada que não fosse pensar. Um privilégio, é verdade. A vida tem dessas coisas. Às vezes, se tem a oportunidade de parar... e pensar.

Dois pontos de partida tomaram seu tempo e suas reflexões. Primeiro, refletiu sobre as encruzilhadas da vida. Com o dedo da mão direita, desenhou na toalha de mesa e em seu imaginário, aquele ponto central entre dois caminhos, a plaquinha indicando para a esquerda um rumo, para a direita, outro e ela bem ali, no meio. Sem saber para onde ir. Sem saber para qual direção caminhar. É uma situação poética. A vida tem dessas coisas. A encruzilhada, pelo olhar da moça naquele momento de descontração era uma metáfora. Mas na verdade, sentido na pele o desafio da escolha pelo caminho a perseguir, só conseguia perceber um nó. E a moça, naquele meio distante de um real ponto de equilíbrio, sentia que precisava tomar uma decisão. Só não sabia qual.

A vida tem dessas coisas. E nossa, como é difícil! Aquela velha frase de que cada escolha implica em renúncias é uma verdade sentida no âmago do ser. Há quem viva de olhar para trás e se arrepender de ter ido pela direita ao invés da esquerda. Há quem olhe para frente e vislumbre um horizonte único que será perseguido em qualquer caminho, desde que se continue a andar adiante.

Às vezes, até mesmo o ponto nevrálgico da dúvida e da decisão pode merecer uma desconstrução. Pode ser que o tamanho do nó, o embaçamento da visão, o peso preso aos pés e a necessidade de opinião do outro tenham muito a ver com nossas expectativas. Desconstruir barreiras também é um processo. E seguir em frente sem medo de se arrepender pelo que deveria ter sido e não foi é uma baita evolução. Essa foi a segunda reflexão.

A moça percebeu que deveria desconstruir de alguma maneira esse medo de dar errado e o temor de escolher o pior caminho e entender que o processo é assim mesmo e que quanto maior for seu autoconhecimento, maior a probabilidade de celebrar opções que tenham nexo com seus valores e sua trajetória. Percebeu que as questões da vida não vêm com gabarito. E que a encruzilhada não é um enunciado com resposta pronta. Percebeu que mesmo que depois venha a se reconhecer em outro direcionamento na trajetória da vida, aquilo tudo que um dia foi construído, de alguma maneira se permanecerá de pé.

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Viajar é cuidar da gente

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Há quem diga que viajar é luxo. Que é gasto supérfluo. Que é coisa de quem pode. Discordo com veemência — e com ternura. Viajar é investimento. E não falo de cifras. Falo daquilo que não se contabiliza: lembranças, afetos, novos olhares. Falo de ampliar a alma até onde os olhos não alcançam. Falo de se permitir existir em outros ritmos, em outras paisagens, em outras versões de si mesmo.

Há quem diga que viajar é luxo. Que é gasto supérfluo. Que é coisa de quem pode. Discordo com veemência — e com ternura. Viajar é investimento. E não falo de cifras. Falo daquilo que não se contabiliza: lembranças, afetos, novos olhares. Falo de ampliar a alma até onde os olhos não alcançam. Falo de se permitir existir em outros ritmos, em outras paisagens, em outras versões de si mesmo.

A vida, no seu correr costumeiro, tende a nos enquadrar. Rotinas se sobrepõem aos sonhos. Compromissos sufocam vontades. E quando a gente se dá conta, já se passaram meses, anos, décadas. A viagem, nesse cenário, é respiro. É pausa necessária. É encontro com o novo, com o outro e com a parte da gente que andava esquecida.

Viajar é uma forma bonita de viver com intenção. Quando planejamos uma viagem — pequena ou longa, perto ou longe — estamos dizendo a nós mesmos: eu mereço. Eu importo. Meu bem-estar vale a organização, o esforço, a economia. Não importa se será uma ida à cidade vizinha ou um sonho antigo realizado em outro continente. O que importa é o movimento. É o permitir-se. E há algo profundamente valioso em sair do próprio eixo. Caminhar em ruas que não conhecemos, ouvir sotaques diferentes, experimentar sabores inéditos. A bagagem que trazemos de volta nem sempre pesa — mas transforma. Aprendemos com a simplicidade de outros modos de viver, com a beleza inesperada de um fim de tarde, com as histórias compartilhadas por quem cruza nosso caminho. Aprendemos até com os perrengues — e como aprendemos.

Investir em experiências é lançar raízes no invisível. É dar à vida camadas novas de sentido. É voltar com a mala cheia de histórias que farão os olhos brilhar em conversas despretensiosas, nas memórias que nos aquecem em dias difíceis. É ter o que recordar com afeto, com riso solto, com aquela pontinha de saudade boa que só existe quando o vivido valeu a pena.

Viajar também ensina a desacelerar. A tomar café com mais calma. A olhar com mais curiosidade. A valorizar o que temos e o que somos. E talvez aí resida uma das maiores riquezas: voltar para casa com um olhar renovado sobre a própria vida. Sair do nosso espaço habitual também nos reconecta com o que somos e com o que queremos ser.

E se há algo que a vida tem me ensinado é que aproveitar os dias é urgente. Não falo de viver numa euforia constante, nem de postar felicidade fabricada. Falo de viver com presença. Com intenção. Com prazer em estar. Falo de aceitar convites simples — um passeio de carro, uma visita a alguém querido, um fim de semana em um lugar novo. Conhecer o outro lado do mundo ou a cidade vizinha. Olhar para fora e se permitir olhar pra dentro de si.

Viajar é plantar memórias em solo fértil. É voltar diferente. É, no fundo, um compromisso com a nossa melhor versão. E isso, para mim, é um baita investimento na vida. Porque ela não espera. Ela acontece.

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​Bom conselho

sexta-feira, 04 de julho de 2025

Abaixe o dedo e não abaixe a cabeça. Guardemos em bom lugar nossos dedos apontados para os outros. Mania essa nossa de julgarmos a tudo e a todos, o tempo todo. Não nos ensinaram que não devemos julgar, levantar falsos testemunhos? Não aprendemos a lição? Diz a lenda, que se apontarmos os dedos para as estrelas, nascerá verruga em suas pontas. Já ouviram antes? Vai ver essa era uma daquelas histórias dos antigos para ensinar de alguma maneira que devemos tratar os outros com humildade e principalmente respeito.

Abaixe o dedo e não abaixe a cabeça. Guardemos em bom lugar nossos dedos apontados para os outros. Mania essa nossa de julgarmos a tudo e a todos, o tempo todo. Não nos ensinaram que não devemos julgar, levantar falsos testemunhos? Não aprendemos a lição? Diz a lenda, que se apontarmos os dedos para as estrelas, nascerá verruga em suas pontas. Já ouviram antes? Vai ver essa era uma daquelas histórias dos antigos para ensinar de alguma maneira que devemos tratar os outros com humildade e principalmente respeito. Os dedos apontados abrem alas para o tom imponente, para o ar inquisidor, para o olhar repressivo e a mente julgadora. São essas as nossas “verrugas” de comportamento que deveriam ser repensadas.

Desconheço qualquer pessoa que sinta contentamento e prazer de conviver com quem tem essa sombra do tal “dedo estendido” em suas ações. Eu, pelo menos, acho um tanto desagradável o convívio com os julgadores de plantão, com os cobradores de comportamento. Gostaria inclusive de processar uma resposta padrão que saísse automaticamente e corajosamente de cunho informativo para dizer que “não estão na minha pele”. É tão mais fácil julgar o outro e cobrar dele um comportamento compatível com os pensamentos e convicções que não lhe pertencem. Tão mais cômodo enrijecer o tom, reclamar, falar mal, fazer chantagens de cunho emocional, medir a postura alheia com a sua régua. Mas isso não é legal, devo dizer.

Esses dedos levantados pela sociedade constantemente e incessantemente podem fazer mal. Principalmente a quem os levanta. Sinto vontade de dizer: descansem as mãos, relaxem as mentes, cuidem de fazer a sua parte e respeitem as escolhas alheias que não fazem mal a ninguém. E mais, cabeças erguidas. Essas sim levantadas. Os olhos precisam miras adiante, vislumbrar o horizonte. Cabeças ao alto. Não por soberba nem tampouco por superioridade. Mas por autoestima, por respeito às individualidades, por honra. E se tiverem que se abaixar que seja pela nobreza da humildade e não por medo das cobranças externas e do julgamento alheio.

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Investimento

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Ele resolveu investir em si mesmo. Pensou sobre como começar. Resolveu, então, traçar o ponto de partida a começar por suas reflexões. Quis pensar na estratégia. Tentou entender-se. Inevitável. Autoconhecer-se antes de tudo. Como se diz, para quem sequer sabe aonde chegar, qualquer lugar pode ser o destino. Ele queria caminhos. Mergulhou, então, no universo quase desconhecido de saber mais sobre o que deveria saber. Atentou-se em buscar o que queria fazer. Esbarrou no desconhecimento sobre quem ele era. Enganou-se por subestimar a profundidade de seus anseios

Ele resolveu investir em si mesmo. Pensou sobre como começar. Resolveu, então, traçar o ponto de partida a começar por suas reflexões. Quis pensar na estratégia. Tentou entender-se. Inevitável. Autoconhecer-se antes de tudo. Como se diz, para quem sequer sabe aonde chegar, qualquer lugar pode ser o destino. Ele queria caminhos. Mergulhou, então, no universo quase desconhecido de saber mais sobre o que deveria saber. Atentou-se em buscar o que queria fazer. Esbarrou no desconhecimento sobre quem ele era. Enganou-se por subestimar a profundidade de seus anseios

Certo estava de prosseguir. Por instante sentiu-se em um beco sem saída, percurso sem volta. Mas decidiu se conhecer melhor, afinal, seria ele próprio o destinatário de todo o investimento projetado, não poderia apostar todas as fichas no desconhecido. Não queria ser a “zebra” da própria vida. Estava disposto a afundar, se preciso fosse. Resistiria de toda forma. Estava esperançoso por descobrir as asas imaginárias que o possibilitassem voar. Já amava o voo (tanto quanto a metáfora).

Nesse processo, como investidor, percebeu que seus lucros seriam maiores se cuidasse muito bem do seu principal patrimônio, a que apelidou de templo. Referia-se à sua própria saúde. Ao seu corpo físico, mental, espiritual. Concluiu que a mola mestra da máquina, sua mente, estava mal da engrenagem. Enferrujada, em mal estado de funcionamento. Seria ela o início do processo. Começou a aplicar em seus cuidados. O retorno foi rápido. Estava certo de seu propósito e prosseguiu. O equilíbrio pretendido passava pela reforma interior e exterior. Mãos à obra. Logo percebeu que deveria concentrar em si os esforços da reforma, pois só ele se empenharia no nível desejado e conhecia bem o projeto.

Feliz com o resultado, templo em equilíbrio, resolveu transmutar seu olhar sobre o mundo e sobre o outro. Fomentou práticas altruístas e quanto mais útil ao bem do próximo se tornava, mais se deparava com uma sensação até então inédita, que começou a desconfiar que fosse a tal felicidade. Ao olhar-se no espelho, o semblante ranzinza cedia espaço para um sorriso leve que despertava até uma vontade estranha de continuar sorrindo.

Decidiu incrementar suas habilidades. Investir em conhecimento, aprimorar suas habilidades mais técnicas, ler bons livros, priorizar contatos com pessoas a quem admirava. Foi certeiro. O retorno veio a galope. E quanto mais cuidava do seu templo e desenvolvia suas habilidades, mais satisfeito estava por ter feito um bom negócio. Mudou até seu conceito de riqueza. Sentiu-se detentor de um superpoder, voltou a acreditar em si, enxergou seu potencial e percebeu-se habitante de um belo templo, cujas energias sentia-se de longe. Renasceu. Foi o melhor investimento de sua vida.

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Curtir o Inverno

quinta-feira, 19 de junho de 2025

       Há quem torça o nariz assim que as temperaturas caem e os ventos frios anunciam a chegada do inverno. Há quem conte os dias para o retorno do calor, como se o frio fosse um inimigo incômodo a ser vencido, suportado com cobertores e queixas. Mas eu proponho outra lente: e se, em vez de resistir, a gente acolhesse o inverno? E se, em vez de sobreviver a ele, a gente escolhesse vivê-lo?

       Há quem torça o nariz assim que as temperaturas caem e os ventos frios anunciam a chegada do inverno. Há quem conte os dias para o retorno do calor, como se o frio fosse um inimigo incômodo a ser vencido, suportado com cobertores e queixas. Mas eu proponho outra lente: e se, em vez de resistir, a gente acolhesse o inverno? E se, em vez de sobreviver a ele, a gente escolhesse vivê-lo?

       Não é preciso muito para perceber que o inverno convida à introspecção. Os dias menores, as noites mais longas, a natureza em pausa — tudo nos empurra, de forma quase silenciosa, para dentro. Dentro de casa. Dentro de nós. E talvez esse seja o maior presente da estação: a chance de reencontro com aquilo que o ritmo frenético do verão muitas vezes arrasta para debaixo do tapete.

       Nos meses mais frios, somos quase obrigados a desacelerar. Trocar o agito por um bom livro, uma manta, uma xícara de chá fumegante. Aquecer o corpo, mas também o espírito. Pode ser desconfortável no início — como tudo o que exige presença. Mas basta nos permitirmos um pouco para perceber o quanto há de beleza no recolhimento.

       Curtir o inverno talvez seja justamente isso: fazer as pazes com a quietude. Com o não fazer tanto. Com o vestir mais, com o comer mais quente, com o conversar mais devagar. É aceitar que não se trata de uma estação improdutiva, e sim de um tempo de gestação invisível. Enquanto tudo parece dormindo, há brotos sendo preparados. E não raro, em meio ao silêncio das noites geladas, nascem ideias, compreensões e afetos que jamais emergiriam no calor dos dias ruidosos.

       Tem também o lado de fora. Os casacos, os cachecóis, as botas — pequenos prazeres que tornam os passeios, mesmo os breves, mais charmosos. O céu de inverno costuma ser de uma nitidez quase poética, e as manhãs, com aquele sol tímido, mas luminoso, têm um sabor especial. O frio nos convida a estarmos mais juntos — porque calor humano também aquece.

       Não falo de romantizar excessivamente. Há invernos internos difíceis de atravessar, e há corpos que sofrem com a queda das temperaturas. Reconheço isso.  Mas mesmo assim insisto: há delicadezas no inverno que só se revelam para quem está disposto a senti-las. E senti-las é uma escolha.

       Assim como escolhemos o que comer, o que vestir ou com quem estar, também podemos escolher como atravessar uma estação. A vida, afinal, é feita disso — da forma como atravessamos os dias, os tempos, os climas, os ciclos. E o inverno é mais um desses capítulos que merecem ser vividos com intenção.

       Curti-lo, então, não é só sobre gostar do frio. É sobre aceitar que há tempos que pedem pausa. Que exigem cuidados. Que nos chamam à escuta. E talvez não haja maior sabedoria do que saber aproveitar cada estação com o que ela tem a oferecer. Sem pressa. Sem fuga. Com presença.

       Que a gente curta o inverno, então. Com sopa quente, cobertor no sofá, música baixa e conversas demoradas. Com alma aquecida, mesmo quando os pés estiverem frios. Com olhos atentos aos detalhes e coração aberto à beleza dos silêncios. Porque, às vezes, é só no frio que a gente aprende a se aquecer de verdade.

 

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