Proteger crianças e adolescentes contra qualquer forma de violência é um dever que cabe a toda a sociedade. A exposição de menores a situações de risco ou inadequadas pode deixar marcas profundas e irreversíveis, comprometendo seu desenvolvimento. Entre as violações mais graves está a exploração sexual, problema silencioso, mas presente em todo o Brasil, e que exige atenção constante.
SaferNet registra aumento de 114% em casos de abuso sexual infantil online após repercussão de denúncia feita pelo influenciador Felco
Nesse cenário, o Sest Senat, em parceria com a Childhood Brasil, desenvolve o Projeto Proteção, voltado à mobilização e conscientização de trabalhadores do transporte e da população em geral. A iniciativa realiza capacitações temáticas, palestras, rodas de conversa, campanhas de incentivo à denúncia e outras ações que transformam cidadãos comuns em agentes de proteção da infância e adolescência.
A psicóloga Thatiana Erthal, do Sest Senat, destaca que o projeto extrapolou seu público inicial. “Nascemos com o objetivo de oferecer saúde, bem-estar e qualificação profissional aos trabalhadores do transporte, mas hoje podemos nos orgulhar de dizer que levamos esse compromisso a toda a sociedade. Nossas mais de 170 unidades, espalhadas por todo o país, estão preparadas para formar multiplicadores dessa causa”, ressaltou.
De acordo com o Disque 100, canal nacional de denúncias de violações de direitos humanos, somente em 2023 foram registradas 228 mil denúncias de violência contra crianças e adolescentes. O serviço é gratuito, funciona 24 horas, garante anonimato e também pode ser acessado pelo aplicativo Proteja Brasil.
Mês dedicado à proteção
Entre as ações que ganham força dentro do Projeto Proteção está a participação no Maio Laranja, campanha nacional de conscientização, prevenção e combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes. A cor laranja representa a fragilidade e a necessidade de cuidado com a infância, e o mês foi escolhido em razão do 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
A data faz referência ao Caso Araceli, crime bárbaro ocorrido em 1973, em Vitória (ES), que vitimou uma menina de 8 anos e permanece, até hoje, como um dos episódios mais chocantes da história do país.
Situação alarmante
Os números reforçam a urgência da causa: a cada hora, três crianças são abusadas no Brasil. Aproximadamente 51% têm entre 1 e 5 anos. Estima-se que 500 mil crianças e adolescentes sejam explorados sexualmente todos os anos, mas apenas 7,5% desses casos chegam às autoridades. Segundo o Fórum Nacional de Segurança Pública, a cada seis minutos ocorre um estupro no país, e em mais de 80% dos casos as vítimas são meninas, em sua maioria negras.
Durante todo o mês de maio, o Sest Senat promoveu ações em suas unidades para sensibilizar a comunidade, ampliar o conhecimento sobre o tema e incentivar a denúncia. Palestras, cine-debates, campanhas educativas e capacitações buscaram não apenas informar, mas também gerar engajamento e compromisso com a proteção dos menores.
Especialistas lembram que combater a exploração sexual infantil não é apenas tarefa das autoridades, mas de todos. Estar atento a mudanças de comportamento, sinais físicos ou situações suspeitas pode fazer a diferença na vida de uma criança. Denunciar é um ato de coragem e empatia, e pode ser o primeiro passo para garantir que das crianças cresçam seguras, saudáveis e com um futuro digno. Disque 100 ou use o aplicativo Proteja Brasil. Sua denúncia é anônima e pode salvar vidas.
Exploração infantil na interne
Denúncias disparam após vídeo de Felca
A SaferNet, ONG que atua na defesa dos direitos humanos na internet, registrou um salto alarmante nas denúncias de abuso e exploração sexual infantil online. Entre 06 e 12 de agosto, período marcado pela repercussão de um vídeo do influenciador e humorista Felipe Bressanim Pereira, o Felca, as denúncias cresceram 114%, passando de 770 no mesmo período de 2024 para 1.651 este ano.
O vídeo, que alcançou mais de 38 milhões de visualizações, expôs como criminosos lucram explorando menores em situações sexualizadas, impulsionando um debate raro no país sobre o tema. Segundo o presidente da SaferNet, Thiago Tavares, a mobilização nas redes encorajou mais pessoas a denunciar.
A ONG, há quase 20 anos à frente do Canal Nacional de Denúncias de Crimes e Violações a Direitos Humanos na web, recebe informações anônimas, filtra links e provas e encaminha os casos ao Ministério Público Federal (MPF), responsável por analisar e investigar.
Felca também destacou problemas que a SaferNet já vinha apontando: o uso do Telegram para distribuir e vender conteúdo de abuso infantil e a adoção de códigos, siglas e emojis para camuflar crimes, como o termo “cp” (child porn), presente em diversos grupos.
A ONG reforça que a expressão “pornografia infantil” não deve ser usada, pois suaviza crimes gravíssimos como estupro, abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. Cada imagem compartilhada perpetua o sofrimento das vítimas e alimenta redes criminosas que atuam no Brasil e no exterior.
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