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Mestre em proximidade

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

A grande novidade do cristianismo é a proximidade de um Deus que se faz homem. Sua crença não se baseia em um ser divino que está ao longe, mas sim que vem ao encontro da humanidade.

Em sua Carta aos Filipenses, São Paulo enaltece a humildade de Jesus Cristo em não se apegar à sua condição divina, “Ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,7-8).

A grande novidade do cristianismo é a proximidade de um Deus que se faz homem. Sua crença não se baseia em um ser divino que está ao longe, mas sim que vem ao encontro da humanidade.

Em sua Carta aos Filipenses, São Paulo enaltece a humildade de Jesus Cristo em não se apegar à sua condição divina, “Ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,7-8).

Esta característica divina pode também ser percebida na conhecida Parábola do Filho Pródigo. O Pai que ao ver o filho regressar ao longe na estrada corre ao seu encontro, o abraça, ama-o e devolve sua dignidade (cf. Lc 15, 20-22).

Por vezes, diante das dores da vida, somos levados a crer que Deus se afastou de nós, ou até mesmo que Ele não nos ama. Mergulhamos tão profundamente em nós, em nosso egoísmo que não percebemos todas as investidas da parte de Deus de se fazer próximo. E vamos nos afastando cada vez mais. Mas, Ele não desiste de nós.

Nosso Deus não é um Deus isolado, é um Deus-com, em particular conosco, isso é, com a criatura humana. O nosso Deus não é um Deus ausente, levado por um céu distante; é, em vez disso, um Deus ‘apaixonado’ pelo homem, tão ternamente amante a ponto de ser incapaz de se separar dele. Nós humanos somos hábeis em cortar ligações e pontos. Ele, em vez disso, não. Se o nosso coração se esfria, o seu permanece sempre incandescente. O nosso Deus nos acompanha sempre, mesmo se porventura nós nos esquecêssemos Dele. Na linha que divide a incredulidade da fé, decisiva é a descoberta de ser amados e acompanhados pelo nosso Pai, de não sermos nunca deixados sozinhos por Ele” (Audiência geral, 26 abr. 17).

A dinâmica da História da Salvação nos ensina que, apesar de nossa infidelidade, Deus está sempre nos atraindo a Si. Chegou ao ponto de enviar seu Filho Único a morrer na cruz para nos recuperar das garras da morte e do pecado.

O Santo Padre, em uma de suas homilias, lembra que a Bíblia diz que Deus falava ao povo, manifestando Sua proximidade, como um pai com Seu filho. “São as mãos de Deus que nos acariciam nos momentos de dor, confortam-nos. É nosso Pai que nos acaricia! Ele nos quer tão bem. E até mesmo nessas carícias, muitas vezes, há o perdão” (Homilia, 12 nov. 2013).

Em outra reflexão o Pontífice frisou que “Jesus ‘entendia’ os problemas das pessoas, as suas dores, os seus pecados. Ele compreendeu bem que aquele paralítico no tanque de Betsaida era um pecador e, depois de o ter curado, o que lhe disse? ‘Não voltes a pecar’. Disse o mesmo à adúltera” (Homilia, 09 jan. 2018).

Assim, como resposta a esta proximidade com Deus, também nós precisamos buscar proximidade com Ele. E para isso existem vários meios.

Sem dúvidas, a vida de oração é a principal via de cercania com Deus. Na oração encontramos um lugar no qual podemos abrir nosso coração, apresentar nossas angústias e sofrimentos a quem, de fato, está disposto a nos escutar. E Ele nos responde. Seja de modo ordinário ou extraordinário. Há quem o escute como uma voz interior, mas sempre o podemos escutar em sua Palavra e na vida dos irmãos. A autêntica proximidade com Deus nos leva ao encontro dos irmãos, de suas dores e necessidades.

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação

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Mensagem da CNBB ao povo brasileiro

terça-feira, 06 de setembro de 2022

Hoje em nossa coluna trazemos uma síntese da mensagem de reflexão sobre o momento atual em nosso país, escrita pelos bispos católicos a todos os homens e mulheres de boa vontade.

“Como pastores, temos presente a vida e a história de nossas comunidades, o rosto de nossa de gente, marcado pela fé, esperança e capacidade de resiliência. Nossas alegrias e esperanças, tristezas e angústias são as mesmas de cada brasileira e brasileiro. Com esta mensagem, queremos falar ao coração de todos.

Hoje em nossa coluna trazemos uma síntese da mensagem de reflexão sobre o momento atual em nosso país, escrita pelos bispos católicos a todos os homens e mulheres de boa vontade.

“Como pastores, temos presente a vida e a história de nossas comunidades, o rosto de nossa de gente, marcado pela fé, esperança e capacidade de resiliência. Nossas alegrias e esperanças, tristezas e angústias são as mesmas de cada brasileira e brasileiro. Com esta mensagem, queremos falar ao coração de todos.

Nossa fé comporta exigências éticas que se traduzem em compaixão e solidariedade concretas. O compromisso com a promoção, o cuidado e a defesa da vida, desde a concepção até o seu término natural, bem como, da família, da ecologia integral e do estado democrático de direito estão intrinsecamente vinculados à nossa missão apostólica. Todas as vezes que esses compromissos têm sido abalados, não nos furtamos em levantar nossa voz. ‘A Igreja é advogada da justiça e dos pobres, exatamente por não se identificar com os políticos nem com os interesses de partido’ (Bento XVI, Discurso Inaugural da Conferência de Aparecida).

Com a esperança que nos vem do Senhor, reconhecemos o tempo difícil em que vivemos. Nosso país está envolto numa complexa e sistêmica crise, que escancara a desigualdade estrutural, historicamente enraizada na sociedade brasileira. Entre outros aspectos destes tempos estão o desemprego e a falta de acesso à educação de qualidade para todos. A fome é certamente o mais cruel e criminoso deles, pois a alimentação é um direito inalienável (cf. Papa Francisco, Fratelli Tutti, 189).

Como se não bastassem todos os desafios estruturais e conjunturais a serem enfrentados, urge reafirmar o óbvio: Nossa jovem democracia precisa ser protegida, por meio de amplo pacto nacional. Isso não significa somente ‘um respeito formal de regras, mas é o fruto da convicta aceitação dos valores que inspiram os procedimentos democráticos [...] se não há um consenso sobre tais valores, se perde o significado da democracia e se compromete a sua estabilidade’ (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 407).

É fundamental ter presente que somos uma nação marcada por riquezas e potencialidades, contudo, carente de um projeto de desenvolvimento humano, integral e sustentável. Vítimas de uma economia que mata, celebramos as conquistas desses 200 anos de independência conscientes de que condições de vida digna para todos ainda constituem um grande desafio. É necessário o compromisso autêntico com a verdade, com a promoção de políticas de Estado capazes de contribuir de forma efetiva para a diminuição das desigualdades, a superação da violência e a ampliação do acesso a teto, trabalho e terra.

É motivo de preocupação a manipulação religiosa e a disseminação de fake news que têm o poder de desestruturar a harmonia entre pessoas, povos e culturas, colocando em risco a democracia. A manipulação religiosa, protagonizada por políticos e religiosos, desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil.

A corrupção histórica, contínua e persistente, subtrai o que pertence aos mais pobres. A Lei da Ficha Limpa, que proíbe que condenados por órgãos colegiados possam se candidatar a cargos políticos, é uma conquista popular e democrática, que deve ser promovida, juntamente com outros mecanismos de controle que garantam a ética na política.

Pelo seu exercício responsável e consciente, a população tem a capacidade de refazer caminhos, corrigir equívocos e reafirmar valores. Reiteramos nosso apoio incondicional às instituições da República, responsáveis pela legitimação do processo e dos resultados das eleições.

Assim, conclamamos, mais uma vez, toda a sociedade brasileira a participar ativa e pacificamente das eleições, escolhendo candidatos e candidatas, para o executivo e o legislativo, que representem projetos comprometidos com o bem comum, a justiça social, a defesa integral da vida, da família e da Casa Comum.”

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

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Humildade e gratuidade

terça-feira, 30 de agosto de 2022

A vida de Jesus é um coerente testemunho de vida e palavras. Toda sua pregação encontra eco em suas atitudes e suas ações refletem os seus ensinamentos. Ouvi-lo falar de humildade e gratuidade é, ao mesmo tempo, vê-lo sendo manso, humilde e livre em tudo o que fez.

Há uma passagem do Evangelho de Lucas, na qual Jesus é convidado a uma festa na casa de um dos chefes dos fariseus, gente de alta classe. Ao chegar, começou a observar as atitudes dos convidados que buscavam ocupar os primeiros lugares, sustentando a certeza de que uns eram melhores que os outros.

A vida de Jesus é um coerente testemunho de vida e palavras. Toda sua pregação encontra eco em suas atitudes e suas ações refletem os seus ensinamentos. Ouvi-lo falar de humildade e gratuidade é, ao mesmo tempo, vê-lo sendo manso, humilde e livre em tudo o que fez.

Há uma passagem do Evangelho de Lucas, na qual Jesus é convidado a uma festa na casa de um dos chefes dos fariseus, gente de alta classe. Ao chegar, começou a observar as atitudes dos convidados que buscavam ocupar os primeiros lugares, sustentando a certeza de que uns eram melhores que os outros.

Aproveitando a situação, o Mestre dá um ensinamento: “Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do que tu, e o dono da casa, que convidou os dois, venha te dizer: 'Dá o lugar a ele'. Então tu ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar” (Lc 14, 8). E ainda, afirmou a quem o havia convidado: “Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa” (Lc 14,12).

Ou seja, Jesus aproveita-se de um fato corriqueiro para falar de duas virtudes importantes na vida de quem espera alcançar um lugar no banquete celestial. Todo homem de boa vontade e íntegro em suas atitudes deve praticar a humildade e a gratuidade.

Em sua passagem por este mundo, Jesus sempre se portou como o menor dos menores, como aquele que serve e tudo o que fez em favor da humanidade o fez com espírito de gratuidade, sem esperar nada em troca.

Contudo, parece que nos esquecemos constantemente desses ensinamentos e conduzimos nossas atitudes como quem quer ocupar sempre os primeiros lugares. Somos levados a todo instante a desejar o reconhecimento, a fama como garantia de felicidade e satisfação.

Ser humilde é reconhecer-se pequeno, dependente, pobre, limitado diante de Deus. “O humilde tem diante de si a sua própria verdade: é pobre, é indigente, mas infinitamente agraciado e amado por Deus. Por isso, o humilde é livre e, porque livre, manso” (Dom Henrique Soares).

Quem vive assim, já está a um pequeno passo de viver a segunda virtude ensinada por Jesus. A atitude de dar sem esperar nada em troca, dar e sentir-se feliz e realizado pode ser encontrada no testemunho de muitos homens e mulheres que buscaram imitar Jesus. Um exemplo encontramos nos escritos de Santa Teresinha do Menino Jesus: “Viver de amor é dar sem medida, sem nesta terra salário reclamar; sem fazer conta eu dou, pois, convencida de que quem ama já não sabe calcular”. É garantia de uma vida livre de amarras e vícios.

O Papa Francisco nos alerta para o perigo da não gratuidade que ameaça também a nossa vida espiritual. “Senhor, se me fizeres isto, eu dou-te isto.” A relação da humanidade com Deus deve ser sem nenhuma cobrança. As promessas feitas por nós não podem ser um meio de obrigar Deus a cumprir nossa vontade, mas deve alargar o coração para receber o que é gratuito para nós. “Esta relação de gratuidade com Deus é a que nos ajudará depois a tê-la com os outros, seja no nosso testemunho cristão seja no serviço cristão e na vida pastoral daqueles que são pastores do povo de Deus. Sirvam e deem de graça o que receberam de graça. Que a nossa vida de santidade seja este ampliar o coração, para que a gratuidade de Deus, as graças de Deus que estão ali, gratuitas, que Ele quer nos dar, possam chegar ao nosso coração” (Papa Francisco, 11 jun. 2019).

Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é assessor diocesano da Pastoral a Comunicação

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Amor familiar, vocação e caminho de santidade

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Com este tema, celebramos e partilhamos a Semana Nacional da Família em nossas comunidades paroquiais, em toda a diocese, nestes últimos dias, com várias expressões de oração, formação e atividades em prol da família - célula mater de nossa sociedade, base para a formação da pessoa humana, como primeira escola das virtudes humanas e cristãs, santuário da vida e do amor.

Com este tema, celebramos e partilhamos a Semana Nacional da Família em nossas comunidades paroquiais, em toda a diocese, nestes últimos dias, com várias expressões de oração, formação e atividades em prol da família - célula mater de nossa sociedade, base para a formação da pessoa humana, como primeira escola das virtudes humanas e cristãs, santuário da vida e do amor.

Por isso, o Papa São João Paulo II, em sua Carta às Famílias (Gratissimam Sane, 1), afirmou um determinado itinerário missionário: "A família - a via da Igreja". Isto ratifica o que ele mesmo colocou na sua primeira encíclica como roteiro do seu pontificado: "O homem é a via da Igreja" (Redemptor Hominis, 14). Por isso, a Igreja tem a sua "tarefa fundamental, central e unificadora de descobrir e ajudar a descobrir a dignidade inviolável de cada pessoa humana" (Christifideles Laici, 37) que exige o respeito, a defesa e a promoção dos seus direitos. Trata-se de direitos naturais, universais e invioláveis. Ninguém, nem o indivíduo, nem o grupo, nem a autoridade, nem o Estado, pode modificar ou muito menos eliminar estes direitos que emanam do próprio Deus "(ChL 38).

Sendo, portanto, a família a primeira e basilar expressão da vocação, formação e garantia dos direitos fundamentais do ser humano, em toda a sua dignidade pessoal, a comunidade missionária eclesial tem como seu múnus essencial instruí-la conforme o projeto de Deus, defendê-la e protegê-la em sua integridade, promovê-la em seus direitos, identidade e espiritualidade.

A bússola, o motor e a alma de todo este trabalho pastoral será o amor que vem de Deus e inunda a família de bem-querer, de partilha, de doação um pelo outro, de solidariedade, de cooperação em vista do bem comum, a felicidade e realização de todos, na mística da busca da santidade, da conformação ao Plano do Senhor e Criador - a família como crescimento e multiplicação da vida, na aliança amorosa que transborda nos filhos, sendo "uma só carne" na cumplicidade generosa de uma sementeira.

O amor em família é um caminho de crescimento que abre os seus membros uns para os outros, e se amplia para outras famílias que se apoiam nos compromissos sociais e de fé (cf. Papa Francisco, Amoris Laetitia, 196). Esta dedicação de amor salga e ilumina o matrimônio e a família, como Igreja doméstica, abrindo-se para a sociedade, como comunidade educadora das virtudes sociais, a exemplo de Cristo, iluminando a vida de tantos outros, mostrando que a santidade implica num primeiro passo irrenunciável para o cumprimento do Reino de Deus.

Quanto mais humanos, conforme o modelo do Homem perfeito, Jesus Cristo (cf. Gaudium et Spes, 22), mais santos e santificadores da vida de tantos que precisam de sentido espiritual para suas existências, mas talvez estejam se esquecendo de "humanizar" seus pensamentos, suas atitudes, suas ações e relações num mundo cada vez mais mecanizado e frio, que despersonaliza e transforma os seres humanos em objetos ou peças de uma engrenagem egoísta e materialista.

O Magistério da Igreja coloca como prioritária e urgente a organização da Pastoral Familiar, como uma pastoral-eixo, uma vez que todos os membros da Igreja e da sociedade pertencem a uma família e no horizonte familiar têm seu alicerce, nutrição, desenvolvimento e formação, sendo assim uma dimensão que permeia todas as pastorais. Com o objetivo de Educar para o Amor, de acolher, assistir, instruir e orientar os casais e famílias, preparando-os para a união matrimonial no sentido da doação cristã, acompanhando-os durante a vida conjugal, reforçando e defendendo os valores familiares, ético-cristãos e protegendo-os em situações difíceis.

Deste modo, a família estará sempre resguardada na sua identidade original - o Amor de Deus, conforme o seu projeto de felicidade e plenificação da humanidade -santidade no seguimento de Cristo, crescendo sempre nos dons de Sua Redenção: a filiação divina, a misericórdia restauradora, o alimento eucarístico, a graça do homem novo da fidelidade e do dar a vida pelos irmãos, na construção de uma civilização nova da fraternidade, da justiça e da paz.

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é chanceler e assessor diocesano da Pastoral Familiar

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“Não sou obrigado a nada”

terça-feira, 16 de agosto de 2022

No universo das redes sociais pululam expressões que, sob o véu do cômico, traduzem a identidade da cultura atual, revelando os sentimentos mais sinceros do coração humano. Como num passe de mágica, alguns jargões ganham lugar nas conversações de grupos de indivíduos das mais variadas idades. Dentre tantas expressões consagradas, ouvimos, aqui e acolá alguém bradar: “Não sou obrigado a nada”.

No universo das redes sociais pululam expressões que, sob o véu do cômico, traduzem a identidade da cultura atual, revelando os sentimentos mais sinceros do coração humano. Como num passe de mágica, alguns jargões ganham lugar nas conversações de grupos de indivíduos das mais variadas idades. Dentre tantas expressões consagradas, ouvimos, aqui e acolá alguém bradar: “Não sou obrigado a nada”.

Não há quem duvide que a dita expressão é manifestação da liberdade conquistada pela pessoa, fruto de um processo de libertação de paradigmas e preconceitos que regeram a sociedade por muitos anos. De fato, a liberdade humana é um tesouro que deve ser defendido e honrado por todos nós. O Catecismo da Igreja Católica exprime o Magistério da Igreja sobre o tema com as seguintes palavras: “A liberdade é o poder, baseado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, portanto, de praticar atos deliberados. Pelo livre-arbítrio, cada qual dispõe sobre si mesmo. A liberdade é, no homem, uma força de crescimento e amadurecimento na verdade e na bondade” (§1731).

Mas ao mesmo tempo, é preciso cuidar para não deturpar o verdadeiro sentido da liberdade humana e confundi-lo com o modo libertino de viver ou com a falta de responsabilidade na preservação do bem-comum. Sobre isso, alertou o Papa Francisco: “A liberdade não é uma forma libertina de viver, segundo a carne, ou segundo o instinto, desejos individuais e impulsos egoístas; pelo contrário, a liberdade de Jesus nos leva a estar ‘ao serviço uns dos outros’ (Gl 5,13b). Em outras palavras, a verdadeira liberdade é plenamente expressa na caridade. Mais uma vez encontramo-nos perante o paradoxo do Evangelho: somos livres para servir; e não em fazer o que queremos. Encontramo-nos plenamente na medida em que nos doamos; possuímos a vida se a perdemos” (Audiência Geral, 20 out. 2021).

Ou seja, o exercício da liberdade não implica no direito de o indivíduo fazer e dizer tudo o que bem deseja. Este modo de pensar a liberdade revela o quão a humanidade está mergulhada no individualismo revelado no descaso com a luta pelo legítimo direito de todos. É bastante comum perceber que as condições de ordem econômica e social, política e cultural, requeridas para um justo exercício da liberdade, são com demasiada frequência desprezadas e violadas. Atitudes como estas abalam a vida moral e induzem tanto os fracos como os fortes na tentação de pecar contra a caridade. O que não se percebe é que na prática do falso sentido de liberdade o homem faz-se escravo de si mesmo quebrando os laços de fraternidade (cf. CIC 1740).

Assim, a expressão mencionada possui duas vertentes interpretativas bastante distintas uma da outra. Uma que defende a dignidade e a liberdade humana, construindo uma cultura totalmente emancipada dos preconceitos e paradigmas massacrantes da essência pessoal; e outra, que é manifestação de uma ideologia individualista que favorece a desigualdade social. Seja livre para fazer o mundo livre!

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação

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terça-feira, 09 de agosto de 2022

Esta semana vamos refletir sobre esta pequena palavra, composta apenas por duas letras, mas que ao mesmo tempo traz em si uma gama enorme de significado: FÉ. Geralmente contraposta à razão, a fé tem sido relegada à categoria das coisas inúteis para o desenvolvimento humano. Contudo, há de se convir que todos acreditam ou esperam alguma coisa. Alguns acreditam num mundo melhor, outros esperam o fim da pandemia; existe ainda quem crê que um dia irá acertar os números da Mega-Sena.

Esta semana vamos refletir sobre esta pequena palavra, composta apenas por duas letras, mas que ao mesmo tempo traz em si uma gama enorme de significado: FÉ. Geralmente contraposta à razão, a fé tem sido relegada à categoria das coisas inúteis para o desenvolvimento humano. Contudo, há de se convir que todos acreditam ou esperam alguma coisa. Alguns acreditam num mundo melhor, outros esperam o fim da pandemia; existe ainda quem crê que um dia irá acertar os números da Mega-Sena. Enfim, sempre se espera ou se acredita em alguma coisa, o que muda é sujeito ou, em alguns casos, o objeto em que se credita o ato de crer.

O Catecismo da Igreja Católica ensina que fé é uma resposta livre e pessoal que se dá a uma realidade revelada e/ou esperada. No caso dos cristãos, a fé traduz-se no assentimento das verdades sobre um Deus que se dá a conhecer à humanidade ao inserir-se na história.

Hoje, construímos uma sociedade que tem se sufocado em um vazio existencial. A acelerada mudança social, incluindo as transformações valorativas, conduzem a humanidade a um imediatismo no qual extingue a fé e torna a esperança estéril.

Ao mudar o objeto da fé para o que é contingente, o homem encontra-se, sempre mais frequentemente, com a frustração e a insegurança. Esta cruel realidade nos faz mergulhar numa constante crise de consciência e nos conduz a uma angústia existencial, roubando o sentido da vida.

O Papa Bento XVI, certa vez refletindo sobre o caminho traçado pelo pensamento moderno, escreveu: “Aquele que não vê mais futuro algum diante de si não pode suportar o presente”. Estas palavras traduzem com maestria o sentimento de quem deposita toda a esperança na técnica e diante do impossível se desespera.

Deste modo, reafirmamos o valor da fé na construção de um indivíduo que compreende o seu lugar na dinâmica evolutiva da sociedade mundial. A fé, por assim dizer, é este olhar capaz de ver o sentido profundo da existência humana e de compreender a corresponsabilidade social de cada indivíduo. É ela que capacita e motiva a humanidade no desenvolvimento de caminhos novos e na superação dos desafios, pois ilumina um mundo de possibilidades. 

Assim, a fé é a capacidade que o homem tem de olhar além do momento presente compreendendo que o sentido da vida está no processo criativo e que os valores a serem conquistados estão para além da contingência. Somente desta forma o homem terá a possibilidade de vir a ser algo totalmente transformado com meta em sua realização plena e na construção de um futuro de paz e prosperidade.

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação

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Chamados para construir a família humana

terça-feira, 02 de agosto de 2022

Estamos iniciando o mês de agosto, tempo dedicado à oração pelas vocações. Trazemos para a reflexão desta semana a Mensagem do Papa Francisco para o 59º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, celebrado em maio deste ano. A palavra «vocação» não deve ser entendida em sentido restrito, referindo-a apenas àqueles que seguem o Senhor pelo caminho duma consagração específica. Todos somos chamados a participar na missão de Cristo de reunir a humanidade dispersa e reconciliá-la com Deus.

Estamos iniciando o mês de agosto, tempo dedicado à oração pelas vocações. Trazemos para a reflexão desta semana a Mensagem do Papa Francisco para o 59º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, celebrado em maio deste ano. A palavra «vocação» não deve ser entendida em sentido restrito, referindo-a apenas àqueles que seguem o Senhor pelo caminho duma consagração específica. Todos somos chamados a participar na missão de Cristo de reunir a humanidade dispersa e reconciliá-la com Deus. De modo mais geral, cada pessoa humana, antes ainda de viver o encontro com Cristo e abraçar a fé cristã, recebe com o dom da vida um chamamento fundamental. Somos chamados a ser guardiões uns dos outros, a construir laços de concórdia e partilha, a curar as feridas da criação para que não seja destruída a sua beleza.

Nesta grande vocação comum, insere-se a chamada mais particular que Deus nos dirige, alcançando a nossa existência com o seu amor e orientando-a para a sua meta definitiva, para uma plenitude que ultrapassa até mesmo o limiar da morte. Assim quis Deus olhar, e olha, para a nossa vida. Esta é a dinâmica de cada vocação: somos alcançados pelo olhar de Deus, que nos chama. A vocação – como aliás a santidade – não é uma experiência extraordinária reservada a poucos. Tal como existem «os santos ao pé da porta» (Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 6-9), assim também a vocação é para todos, porque todos são olhados com amor e chamados por Deus.

Assim a vocação nasce, graças à arte do Escultor divino que, com as suas «mãos», nos faz sair de nós mesmos, para que se delineie em nós a obra-prima que somos chamados a ser. Particularmente capaz de nos purificar, iluminar e recriar é a Palavra de Deus, que nos liberta do egocentrismo. Coloquemo-nos, pois, à escuta da Palavra, para nos abrirmos à vocação que Deus nos confia! E aprendamos a escutar também os irmãos e irmãs na fé, porque nos seus conselhos e exemplo pode esconder-se a iniciativa de Deus, que nos indica estradas sempre novas a percorrer.

O olhar amoroso e criador de Deus alcançou-nos de forma singular em Jesus. Ao falar do jovem rico, o evangelista Marcos observa: «Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele» (10, 21). O mesmo olhar de Jesus, cheio de amor, pousa sobre cada um de nós. Deixemo-nos tocar por este olhar e ser levados por Ele para além de nós mesmos! E aprendamos também a olhar de tal modo um para o outro que as pessoas com quem vivemos e as que encontramos – sejam elas quem forem – possam sentir-se acolhidas e descobrir que há alguém que as olha com amor, convidando-as a desenvolverem todas as suas potencialidades.

A nossa vida muda quando acolhemos este olhar. Tudo se torna um diálogo vocacional entre nós e o Senhor, mas também entre nós e os outros. Um diálogo que, vivido em profundidade, nos faz tornar cada vez mais aquilo que somos: na vocação ao sacerdócio ordenado, ser instrumento da graça e da misericórdia de Cristo; na vocação à vida consagrada, ser louvor de Deus e profecia de nova humanidade; na vocação ao matrimónio, ser dom mútuo e geradores e educadores da vida; em cada vocação e ministério na Igreja, em geral, que nos chama a olhar os outros e o mundo com os olhos de Deus, servir o bem e difundir o amor com as obras e as palavras.

Portanto, quando falamos de «vocação», não se trata apenas de escolher esta ou aquela forma de vida, mas trata-se sobretudo de realizar o sonho de Deus, o grande desígnio da fraternidade que Jesus tinha no coração quando pediu ao Pai «que todos sejam um só» (Jo 17, 21). Rezemos, irmãos e irmãs, para que o Povo de Deus, no meio das dramáticas vicissitudes da história, corresponda cada vez mais a esta vocação. Invoquemos a luz do Espírito Santo, para que cada um e cada uma de nós possa encontrar o respetivo lugar e dar o melhor de si neste grande desígnio!” Fonte: www.vatican.va

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Ensina-nos a rezar

terça-feira, 26 de julho de 2022

No último domingo, 24, ouvimos o pedido sincero dos discípulos a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1). Este clamor provindo de homens que conviviam diariamente com Jesus nos conduz a um lugar de reflexão tão importante nos tempos de hoje. Poderíamos pensar que este é um tema que se restringe apenas a uma religião específica. Contudo, aprendemos com o Papa Francisco que o ato da oração pertence a todos os homens de todas as religiões e até, de certo modo, àqueles que não professam religião alguma.

No último domingo, 24, ouvimos o pedido sincero dos discípulos a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1). Este clamor provindo de homens que conviviam diariamente com Jesus nos conduz a um lugar de reflexão tão importante nos tempos de hoje. Poderíamos pensar que este é um tema que se restringe apenas a uma religião específica. Contudo, aprendemos com o Papa Francisco que o ato da oração pertence a todos os homens de todas as religiões e até, de certo modo, àqueles que não professam religião alguma.

A oração não é uma ação exterior ao orante, mas é fruto de um mergulho profundo no interior de si, é um encontro com o “eu” sem máscaras, sem reserva. O Catecismo ensina que o seu lugar de nascimento é o coração (cf. CIC, 2562-2563). Deste modo, “as emoções rezam, mas não se pode dizer que a oração é unicamente emoção. A inteligência reza, mas rezar não é apenas um ato intelectual. O corpo reza, mas pode-se falar com Deus até na invalidez mais grave. Por conseguinte, é o homem todo que ora, se o seu ‘coração’ reza” (Papa Francisco, 13 mai. 2020).

Assim, a oração é fruto do encontro do ‘eu’ consigo mesmo que o conduz ao ‘tu’, ao “outro’. Um caminho que vai sendo construído/conquistado a cada passo, numa dinâmica constante de esvaziamento de si e quebra de pré-conceitos. Este itinerário que não pode ser calculado é conduzido apenas pela necessidade de realizar a essência de ser social.

Contudo, a cultura atual se traduz em uma sociedade onde a comunicação a cada dia se torna mais virtual, esvaziando a beleza do encontro. Esta realidade tem atingido inclusive a vida de oração. Hoje, somos levados a viver uma realidade puramente intimista, voltada apenas para a satisfação de nossas paixões e caprichos. Anula-se o comprometimento de crescer no conhecimento de si e do encontro.

O tríplice âmbito do encontro – consigo, com Deus e com o outro - não pode ser substituído pelo vazio de muitas palavras. É preciso fortalecer o cuidado de, também na vida de oração, não substituir as relações interpessoais pelas amizades virtuais, limitando a vida, o contato, a proximidade, somente aos momentos de interesses. Hoje é recorrente ver amigos sentados em uma mesma mesa, cada qual conectado ao próprio mundo, fechados nos horizontes de seus próprios interesses e ignorando os que estão ao redor.

A oração encerrada no individualismo é estéril. A revolução gerada pelo cristianismo se fundamenta na relação entre Deus e o homem. O caminho de encontro é uma iniciativa do próprio Deus. É Ele que em primeiro se comunica e revela-se ao homem. Desde o ato criador, Deus entrou em relação conosco rompendo toda herança “feudal”, de servidão. “No património da nossa fé não existem expressões como ‘subjugação’, ‘escravatura’ ou ‘vassalagem’; mas sim palavras como ‘aliança’, ‘amizade’, ‘promessa’, ‘comunhão’, ‘proximidade’. No seu longo discurso de despedida dos discípulos, Jesus diz assim: «Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Ibidem).

Procuremos, pois, entrar no grande mistério desta aliança de amor. Colocar-nos em oração nos braços misericordiosos de Deus, sentir-nos envolvidos por esse enigma de felicidade, que é a vida trinitária, conectando-nos com nossas dores e misérias, saindo ao encontro das urgências de nosso tempo.

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação.

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A hospitalidade

terça-feira, 19 de julho de 2022

Nesta semana vamos refletir sobre duas virtudes necessárias para a edificação de uma comunidade de amor: hospitalidade e empatia. A narração do Evangelho de Lucas nos coloca diante do momento em que Jesus visita uma pequena aldeia chamada Betânia e entra na casa de Marta e Maria. No relato, encontramos Marta afoita com os muitos afazeres e Maria sedenta, sentada aos pés do mestre, que como uma verdadeira discípula escuta atenta suas palavras.

Nesta semana vamos refletir sobre duas virtudes necessárias para a edificação de uma comunidade de amor: hospitalidade e empatia. A narração do Evangelho de Lucas nos coloca diante do momento em que Jesus visita uma pequena aldeia chamada Betânia e entra na casa de Marta e Maria. No relato, encontramos Marta afoita com os muitos afazeres e Maria sedenta, sentada aos pés do mestre, que como uma verdadeira discípula escuta atenta suas palavras.

Ao incomodo de Marta com a postura de sua irmã, Jesus adverte sobre as preocupações excessivas com os afazeres da vida cotidiana e a convida a discernir sobre o que é mais importante: se o que está estabelecido pela lei e pelas práticas culturais ou a acolhida da novidade do Reino.

Nesta passagem Marta realiza o “normal”, faz tudo o que ditam as normas de hospitalidade de seu tempo. Ela é o ícone dos que acreditam que basta cumprir a lei para a salvação e colocam um pesado julgo aos ombros dos que não a cumprem. Por outro lado, Maria também cumpre o costume da acolhida e da hospitalidade, mas de um modo diferente. Ela deixa transbordar o coração!

As atitudes das irmãs à primeira vista parecem ser opostas e se anularem, contudo, elas são complementares. Hospitalidade é também saber sentir a necessidade do outro, ser sensível à dor alheia. É ser empático! Neste tempo de pandemia tivemos a oportunidade de testemunhar muitos homens e mulheres de boa vontade que não se limitaram a cumprir a lei, mas arriscaram a própria vida para ir ao encontro das amarguras dos irmãos.

O Papa Francisco analisando a conjuntura social de nosso tempo denunciou: “o coronavírus não é a única doença a ser combatida, mas a pandemia trouxe à luz patologias sociais mais vastas. Uma delas é a visão distorcida da pessoa, um olhar que ignora a sua dignidade e a sua índole relacional. Por vezes consideramos os outros como objetos, objetos para serem usados e descartados. Na realidade, este tipo de olhar cega e fomenta uma cultura do descarte individualista e agressiva, que transforma o ser humano num bem de consumo” (Audiência geral, 12 ago. 2020).

É indiscutível a importância da lei para a sadia e frutuosa convivência da humanidade. Mas é estéril a comunidade que vive a lei pela lei, diminuindo o valor da vida e das pessoas. Aprendemos do Evangelho que a lei foi feita para o homem e não o homem para a lei (cf. Mc 2,23 – 3,6). Isto é, a lei deve ser libertadora e nunca poderá oprimir a caridade. O critério deve ser sempre o ser humano, portanto nenhuma norma que oprima, marginalize e/ou o exclua poderá ser aceita.

Duas atitudes que ferem a harmonia são a indiferença: o olhar para o outro lado; e o individualismo: o olhar somente para si, para os próprios interesses. Como pessoas que querem construir um mundo mais fraterno e justo precisamos aprender mais da hospitalidade de Cristo Mestre. A harmoniosa hospitalidade de Jesus nos ensina a olhar para os outros, para as suas necessidades, para os seus problemas, estar em comunhão. Ser empático!

Busquemos reconhecer em cada pessoa a sua dignidade humana, independente de qual seja a sua raça, língua, condição social e econômica, orientação sexual e política. A pessoa no centro, sem adjetivos ou acidentais.

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é assessor diocesano da Pastoral da Comunicação

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“Viu e teve compaixão” (Lc 10, 33)

terça-feira, 12 de julho de 2022

Esta semana refletiremos as palavras do Papa Francisco sobre a parábola do bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37).

Esta semana refletiremos as palavras do Papa Francisco sobre a parábola do bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37).

 “Como pano de fundo, há a estrada que de Jerusalém desce até Jericó, ao longo da qual se encontra um homem espancado brutalmente e assaltado por ladrões. Um sacerdote que passa, vê-o, mas não para, vai além; assim como um levita, ou seja, um ministro do culto no templo. «Mas, um samaritano», diz o Evangelho, «que estava a caminho, chegando àquele lugar, viu-o e teve compaixão dele» (v. 33). Não esqueçamos estas palavras: “teve compaixão dele”; é o que Deus sente cada vez que nos vê com um problema, num pecado, numa miséria: “teve compaixão dele”.

O Evangelista deseja especificar que o Samaritano estava a caminho. Portanto, aquele Samaritano, embora tivesse os seus programas e se dirigisse para uma meta distante, não encontra desculpas e deixa-se interpelar, deixa-se interpelar, pelo que acontece ao longo do caminho. Pensemos: não nos ensina o Senhor a fazer exatamente isto? A olhar para longe, para a meta final, contudo prestando muita atenção aos passos que devemos dar, aqui e agora, para lá chegar.

 O crente é muito parecido com o Samaritano: como ele, está a caminho. Sabe que não é alguém que “chegou”, mas quer aprender todos os dias, seguindo o Senhor Jesus, que disse: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida» (Jo 14, 6). Eu sou o caminho: o discípulo de Cristo caminha seguindo-o, e assim torna-se um “discípulo do Caminho”. Segue o Senhor, que não é um sedentário, mas está a caminho: ao longo da estrada encontra pessoas, cura doentes, visita aldeias e cidades. Assim agia o Senhor, sempre a caminho!

Por isso, o “discípulo do Caminho” - ou seja, o cristão - vê que a sua maneira de pensar e de agir muda gradualmente, conformando-se cada vez mais com a do Mestre. Seguindo os passos de Cristo, torna-se um viandante e aprende - como o Samaritano - a ver e a ter compaixão. Em primeiro lugar, vê: abre os olhos para a realidade, não permanece egoisticamente fechado dentro dos próprios pensamentos. Ao contrário, o sacerdote e o levita veem o infeliz, mas é como se não o vissem, vão além, olham para o outro lado. O Evangelho educa-nos a ver: leva cada um de nós a compreender corretamente a realidade, superando dia após dia os preconceitos e os dogmatismos. Muitos crentes refugiam-se nos dogmatismos para se defenderem da realidade. E depois ensina-nos a seguir Jesus, porque seguir Jesus nos ensina a ter compaixão: a dar-nos conta dos outros, especialmente daqueles que sofrem, dos mais necessitados. E para agir como o Samaritano: não ir além, mas parar.

Diante desta parábola evangélica, pode acontecer que demos a culpa a outros ou a nós mesmos, apontando o dedo contra o próximo, comparando-o com o sacerdote e com o levita: “Mas este ou aquele vão além, não param!”, ou culpando-nos a nós próprios, enumeramos a nossa falta de atenção ao próximo. Mas gostaria de vos sugerir outro tipo de exercício. Não tanto o de nos culparmos, não; sem dúvida, devemos reconhecer quando fomos indiferentes e quando nos justificamos, mas não nos limitemos a isto. Devemos reconhecê-lo, é um erro, mas peçamos ao Senhor que nos faça sair da nossa indiferença egoísta e nos coloque no Caminho. Peçamos-lhe para ver ter compaixão. É uma graça, devemos pedi-la ao Senhor. É a prece que hoje vos sugiro: “Senhor, que eu veja, que eu tenha compaixão, como Tu me vês e tens compaixão de mim!”. Tenhamos compaixão daqueles que encontramos ao longo do caminho, sobretudo de quantos sofrem e estão em necessidade, para nos aproximarmos e fazer o que pudermos para ajudar.

Muitas vezes, quando me encontro com algum cristão ou cristã que vem falar de coisas espirituais, pergunto se dá esmola. “Sim”, responde-me - “E, diz-me, tocas a mão da pessoa a quem dás a moeda?”. “Não, não, lanço-a lá”. “E fitas os olhos daquela pessoa?”. “Não, não me passa pela cabeça”. Se deres esmola sem tocares na realidade, sem fitares os olhos da pessoa em necessidade, aquela esmola é para ti, não para ela. Pensemos nisto: “Toco as misérias, até as misérias que ajudo? Fito nos olhos das pessoas que sofrem, as pessoas que ajudo?”. Deixo-vos este pensamento: ver e ter compaixão!”

Fonte: www.vatican.va

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