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Os escritores de Nova Friburgo

terça-feira, 08 de outubro de 2024

O nome da nossa cidade significa “Nova Cidade Livre!”

É na liberdade que os escritores gostam de viver, lugar onde a responsabilidade de exercer o livre-arbítrio é regra essencial, a vida tem mais vida, as emoções se misturam na flor da pele. Onde o resgate e o recomeçar se fazem presentes no dia a dia.

O nome da nossa cidade significa “Nova Cidade Livre!”

É na liberdade que os escritores gostam de viver, lugar onde a responsabilidade de exercer o livre-arbítrio é regra essencial, a vida tem mais vida, as emoções se misturam na flor da pele. Onde o resgate e o recomeçar se fazem presentes no dia a dia.

Sim. O espírito do friburguense é alimentado pelo sentido da liberdade. Povo alegre, festeiro, que gosta do seu lugar e faz questão de expressar seus sentimentos. Portanto, escreve. Escreve prosa, poesia, crônica, ensaios e outros estilos literários. As pessoas que aqui nasceram ou residem ou conquistaram a cidadania são levadas pelos cursos das palavras, tal qual as águas que descem das suas lindas montanhas. Aliás, aqui a natureza é inspiradora: os ares da Mata Atlântica que ventilam na cidade fazem nascer ideias criativas.

Hoje, Nova Friburgo traz histórias para seu quotidiano que aquecem os escritores, como a de Machado de Assis, que andando pelas ruas da cidade e arredores, sentiu-se iluminado a escrever “Memória Póstumas de Brás Cubas”! Aqui Rui Barbosa discursou. Poetas que foram iluminados pelas aragens friburguenses, como Casimiro de Abreu, Carlos Drummond de Andrade, Julio Salusse, dentre tantos.

No mês de setembro foi lançada a coletânea “Juntas & Diversas: Crônicas e Ensaios Sobre o Tempo”, pela editora In Media Res, em parceira com o Instituto Leituras, organizado por Márcia Lobosco. A coletânea reúne 11 crônicas e 6 ensaios. Li cuidadosamente os textos e cheguei à conclusão de que as autoras estão capacitadas para ganhar um espaço maior no âmbito da literatura. O tempo é um tema complexo e de delicada abordagem. Para começar, o conceito tempo foi criado pelo homem a partir da necessidade que sentiu, desde os tempos babilônicos, para se situar e se organizar. Mas o tempo, meu amigo, não existe.

É um conceito que pode receber várias abordagens, como a filosófica, a física, a psicológica. Inclusive a geológica. Cada área do conhecimento estuda o tempo a partir de um ponto de vista. As autoras da coletânea tiveram esmero e competência literária para criarem seus textos; cada uma escreveu o tema de um modo, ora partindo da própria experiência, ora buscando referências teóricas, ora relatando experiências de outros.

Quando acabei de ler, fiquei sensibilizada com as ideias apresentadas, principalmente as que se referiram aos parentes mais longevos, como a experiência que tiveram com o envelhecer, as relações de troca e a grandiosidade do afeto. Outras narrativas também me tocaram, como o sentir o próprio envelhecimento, a inexorabilidade da passagem do tempo. E o presente? Imprensado entre o passado e o futuro, o agora se torna passado com rapidez estonteante e fica imperceptível.

Os friburguenses estão cada dia mais ávidos para transpor para seus textos a profusão de suas ideias. E, posso dizer, escrever faz bem a quem escreve porque é uma libertação. É um bota-fora.

Salve os escritores Nova Friburgo!

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A inteligência dos seres vivos

terça-feira, 24 de setembro de 2024

No livro do escritor e artista visual londrino James Bridle, “Maneiras de ser – animais, plantas, máquinas: a busca por uma inteligência planetária”, o autor expõe estudos científicos que investigam a vida na Terra, bem como a sua relação com a tecnologia. Essa obra tem me sensibilizado de tal forma que reconheço a importância de trazê-la nesta coluna para colaborar com os modos como nós, os humanos, reconhecemos a interconexão entre todos os seres e as máquinas.

No livro do escritor e artista visual londrino James Bridle, “Maneiras de ser – animais, plantas, máquinas: a busca por uma inteligência planetária”, o autor expõe estudos científicos que investigam a vida na Terra, bem como a sua relação com a tecnologia. Essa obra tem me sensibilizado de tal forma que reconheço a importância de trazê-la nesta coluna para colaborar com os modos como nós, os humanos, reconhecemos a interconexão entre todos os seres e as máquinas.

Um tema que sempre me interessou foi a inteligência. Sou pedagoga, e estudei esse conceito sob vários pontos de vista. Segundo Jean Piaget, biólogo e psicólogo suíço, considerado um dos mais importantes estudiosos dos processos de construção do conhecimento, a inteligência humana é dinâmica e decorre da elaboração do pensamento que vai se estruturando e organizando no cérebro continuamente. O pensamento é construído naturalmente através de experiências, sujeitas às culturas social e familiar, abraçadas pela história individual, além de mobilizadas pela afetividade e vontades pessoais. Enfim, a inteligência é a expressão do viver.

Para refletir a respeito da inteligência dos seres vivos, é preciso considerar e reconhecer que as plantas, os animais e outros indivíduos, como as bactérias e fungos, possuem características próprias e mundos essencialmente distintos do nosso. Aristóteles (384-322 a.C.) classificou os seres vivos, dividindo-os em dois grupos: os animais e as plantas. Com a evolução do conhecimento científico novas categorias foram acrescentadas. Atualmente estima-se que os reinos animal e vegetal possuem milhões de espécies relacionadas no mundo.

Os seres vivos de cada espécie possuem um tipo de inteligência. Nós, os humanos, não podemos ter a pretensão de acreditar que a nossa inteligência tenha supremacia sobre a de outros seres! Sim, a nossa capacidade cognitiva só nos permite abordar o mundo sob nossas possibilidades.

A inteligência se manifesta através do pensamento e da ação. É generativa na medida em que permite que o indivíduo de qualquer espécie seja capaz de produzir, reagir, interagir, contribuir e criar. A inteligência é relacional posto que a capacidade cognitiva pode ser observada como, onde, quando e sob quais condições é praticada. É uma forma de estar no mundo. Não é uma capacidade que deva ser testada, mas reconhecida a partir das formas múltiplas em que é expressada.

A cada dia a ciência desvenda os mistérios da natureza e nos mostra a maravilha das múltiplas formas de vida e seus os processos de adaptação, que revelam a presença da inteligência como recurso magnífico de sobrevivência. Vocês já observaram a perfeição com que os passarinhos fazem seus ninhos com galhos, gravetos, musgos e até com restos de embalagem? Quantas vidas uma árvore pode abrigar e alimentar? Ou melhor, quantas vidas buscam nas árvores um abrigo? Quem já parou para pensar no comportamento das raízes das plantas em busca de sais minerais e água?

As plantas são os sustentáculos do mundo!

A aviação estuda o voo dos pássaros para aprimorar a tecnologia aeronáutica. A Inteligência Artificial pode ser fundamental na proteção das espécies animais e vegetais, como está sendo utilizada pelo Instituto Baleia Jubarte para ajudar na preservação desses animais em processo de extinção.

Estamos cercados de vidas inteligentes, qualificadas a interagir com o meio ambiente, com seres da mesma e de outras espécies. Todas as formas de vida estão enredadas na biosfera, a comunidade dos humanos, animais, vegetais e micro-organismos que vivem na terra e nas pedras, nos rios, oceanos e mares, no gelo e nos ventos.

Não podemos esquecer que nosso Planeta tem vida farta, porém é único em nosso sistema solar. Por que colocar fogo nas matas? Por que desmatar? Por que descuidar do lixo? Por que admirar e cuidar dos bens materiais e pouco ou nada se importar com a poluição dos mares e rios?

Por quê?!

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A espiritualidade dos animais

terça-feira, 17 de setembro de 2024

O Brasil, em chamas, está perdendo as cores das matas, do sol e das riquezas naturais. Tem ganhado as cores do fogo e da fuligem, das dores dos animais e dos agricultores. Os tons do espanto dos brasileiros porque sabem que, apesar da seca, os incêndios, em grande maioria, têm sido provocados pela perversidade criminosa e pelo descuido de quem o faz.

O Brasil, em chamas, está perdendo as cores das matas, do sol e das riquezas naturais. Tem ganhado as cores do fogo e da fuligem, das dores dos animais e dos agricultores. Os tons do espanto dos brasileiros porque sabem que, apesar da seca, os incêndios, em grande maioria, têm sido provocados pela perversidade criminosa e pelo descuido de quem o faz.

Tenho me sensibilizado imensamente com os animais queimados e feridos à própria sorte. As minhas células reagem à miséria do amor que esses brasileiros têm pela terra onde vivem, diferentemente dos animais que respeitam o próprio habitat e não o destroem.

Com a compaixão e a ternura que sinto pela vida do nosso país vou prosseguindo a leitura sobre as relações entre o homem, a natureza e a máquina, expostas no livro “Maneiras de ser: a busca de uma inteligência planetária”, de James Bridle. Leio, algumas vezes, relendo páginas, parágrafos e frases, parando para aprofundar meu saber sobre a ecologia.  Li com emoção a descrição que o autor faz do trabalho de pesquisa da primatóloga Bárbara Smuts, realizada no Quênia e na Tanzânia, durante um período de mais de 25 anos, quando estudou o comportamento dos babuínos que viviam livres. Durante seu trabalho ela percebeu um tipo de experiência e sensibilidade no comportamento desses animais que não conseguiu classificá-las cientificamente.

Em suas caminhadas, sem motivo óbvio, sozinhos ou em grupos, os babuínos paravam e permaneciam sentados por meia hora em completo silêncio olhando para algum lugar. Inclusive os mais jovens, geralmente mais agitados e turbulentos, ficavam em contemplação tranquila. A seguir, sem qualquer razão, eles se levantavam e prosseguiam. Bárbara Smuts, depois de observá-los e refletir a respeito, considerou aquele comportamento uma experiência de meditação e prática espiritual. 

Ao ler, me lembrei da minha cachorra, que, com frequência, senta-se e fica por um tempo imóvel, olhando para o jardim. As observações da pesquisadora me fizeram ampliar, ainda mais, a certeza de que os animais estabelecem uma relação profunda com os seres da natureza e com Deus. Acredito que, ao estar nesse estado de contemplação, o animal encontra um modo de orar e ter contato com a mais pura energia universal. A espiritualidade guarda a vitalidade que alimenta o amor pelos outros e por si, além de significados éticos que protegem a vida. É um sentimento esperançoso que fundamenta a vontade de viver.

E diante dos incêndios criminosos em nossas matas que destroem a vida dos vegetais e animais, colocando em risco a saúde ecológica do país, chego à conclusão que atear fogo é um ato suicida. Quem tem a intenção de destruir a terra onde vive, desloca para a natureza a vontade de se matar. 

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O corpo feminino é um diamante a ser lapidado dia a dia

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Assisti, semana passada, a um filme na Netflix que me motivou a trazer aqui algumas reflexões sobre a mulher. Considerei trazê-lo posto que o roteiro é considerado um estilo literário. Além de elaborado por um escritor que visualiza imagens através de suas ideias e palavras. Trata-se de um texto que antecede a produção de um filme, tendo a finalidade de contar uma história, de organizar e estruturar as cenas através dos diálogos e da ação dos personagens.

Assisti, semana passada, a um filme na Netflix que me motivou a trazer aqui algumas reflexões sobre a mulher. Considerei trazê-lo posto que o roteiro é considerado um estilo literário. Além de elaborado por um escritor que visualiza imagens através de suas ideias e palavras. Trata-se de um texto que antecede a produção de um filme, tendo a finalidade de contar uma história, de organizar e estruturar as cenas através dos diálogos e da ação dos personagens. Tudo no roteiro está voltado para a produção do filme na medida em que o escritor oferece subsídios aos cenógrafos, figurinistas, aderecistas, iluminadores, sonoplastas e outros envolvidos no processo.

“O ano em que comecei a vibrar por mim”, lançado em 2022, é uma comédia romântica sueca, criada e dirigida por uma mulher, Érika Wasserman, que contou com a colaboração de Christin Magdu e Bahar Pars, também mulheres.

A maneira sutil e bem-humorada com que o filme aborda a vida da mulher me fez ser abraçada pela história. Senti vontade de contestar aquele modo de ser da mulher que vai se envolvendo nas teias da vida afetiva, com seus filhos, familiares, parceiros e trabalho, e acaba se vendo puxada por redemoinhos contínuos de situações e esquecendo de si. Apesar de todas as conquistas que a mulher fez, ainda há hiatos nas relações que ela estabelece consigo.

O conhecer-se é um processo de conquista da inteireza pessoal, que acontece ao longo da vida. Cada fase que vivemos nos deparamos com tantas questões; a mais significativa é o corpo. O espelho, muitas vezes, tem um olhar severo e não permite que nos aceitemos como somos. Não deixa que sintamos a sensibilidade de cada parte do nosso corpo. Na essência, somos, acima de sentimentos, espiritualidade, racionalidade, um corpo feminino, que abriga nossos órgãos, ossos e veias cheias de sangue. Sem ele não existiríamos. É a nossa casa primeira. A única verdadeira habitação que nos acolhe, acalenta e nos dá prazer.

Sendo a nossa maior riqueza e defesa, não damos a devida importância a ele. Qual a mulher que se preocupa com seu dedo mindinho. Ai dela se machucá-lo!

A mulher tem de ser inteligente, independente, exuberante e sensual. Porém tudo o que somos depende do corpo que temos. Precisamos cuidar dele, aprender a descobrir, em cada fase da vida, como ele pode estar bem e como é capaz de nos ser prazeroso. Ah, como o deleite saudável regenera nossas células!

Fatores sociais, econômicos, culturais e religiosos contribuem para que omitamos nossos corpos de nós. Tantas razões, alheias a nós, vindas do mundo exterior, dificultam o autoconhecimento corporal, tornando turva a autopercepção.

Temos cinco sentidos! Podemos usar todos para conhecer nossa estrutura corporal e saber o que ela precisa e o que pode nos disponibilizar. E, oferece-nos tanto! Nossos olhos, ouvidos, língua, nariz e pele têm potenciais que não conhecemos. O que podemos alcançar com nossos braços e pernas, mãos e pés? Como pode melhor nos satisfazer a sensibilidade das nossas partes íntimas? Nosso corpo nos pertence e nos é privativo. É um diamante a ser lapidado dia a dia.

E tem voz! Ele nos fala e sinaliza do que precisamos fazer para cuidar dele, valorizá-lo como ponto de partida da nossa sabedoria maior: eu sou. Não podemos nos perceber com vendas nos olhos e tampão de ouvidos. Precisamos nos apaixonar e amarmos como seres mais especiais que conhecemos. Somos, para nós, a pessoa com quem temos, ao mesmo tempo, a maior intimidade e a maior cerimônia.

De quem precisamos para nos conhecer, escutar nossos sons, cheiros, cores? Observar nossas imagens, imaginadas e refletidas? Somente nós. Exclusivamente nós e unicamente nós podemos fazê-lo.

O autoconhecimento é decorrente da vontade de querer saber ser mulher! 

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Poesia da madrugada

terça-feira, 03 de setembro de 2024

Noite dessas, céu escuro de inverno, tempo frio, acordei de madrugada com uma poesia nos meus ouvidos, ora no direito, ora no esquerdo. Poesia!? Nunca a escrevo porque minhas ideias vêm de todos os jeitos para a prosa, porém nunca em estilo poético. Naquela noite, se trazida por um anjo, se emergiu dos meandros do inconsciente ou se resolveu anarquizar meus pensamentos, a poesia — teimosa — veio me acordar, exatamente, naquela hora em que as energias divinas vêm pelo mundo. Para sossegá-lo ou não.

Ei-la!

Posto que

Noite dessas, céu escuro de inverno, tempo frio, acordei de madrugada com uma poesia nos meus ouvidos, ora no direito, ora no esquerdo. Poesia!? Nunca a escrevo porque minhas ideias vêm de todos os jeitos para a prosa, porém nunca em estilo poético. Naquela noite, se trazida por um anjo, se emergiu dos meandros do inconsciente ou se resolveu anarquizar meus pensamentos, a poesia — teimosa — veio me acordar, exatamente, naquela hora em que as energias divinas vêm pelo mundo. Para sossegá-lo ou não.

Ei-la!

Posto que

A minha poesia começa com palavras calmas—

Conversam à frente dos meus olhos

Falam do tempo em que sempre estou

Sim, do aqui e do agora!

 Das dores que flutuam nos meus sonhos.

Ah, estes meus versos não trazem serenas verdades,

me fazem levantar e caminhar

Sim! Movimentar meus braços e pernas.

Com passos pequenos, tropeço, tateio e esbarro nos móveis

Tudo escuro. Silêncio.

Desperto. Recomeço. Sinto e penso.

Escuto a noite sussurrar:

“Mesmo fazendo parte da loucura de todos,

ainda me permito ser absolutamente eu”.

 

Fiquei espantada por arriscar, justo aqui, na coluna deste jornal, um gesto solitário, contudo literário. Literatura é assim. Passei dois dias revendo a poesia que nasceu à toa, cheia de viço.  

Gosto da conjunção posto que. A conjunção conecta orações; é um elo.  Eu me sinto assim na vida, no meio de tudo e de todos. Como posto que é uma conjunção que concede ou explica, encontro nessa expressão poética um modo de gritar para mim: resguarde-se!

A vida está enlouquecendo, até os polos do Planeta Terra estão mudando de posição e fazendo um auê na natureza! E, aí emerge das minhas entranhas um “Posto que”. Que me belisca. Que me chama a atenção porque, somente eu, com minha totalidade, saberei lidar com “isso tudo”.

Além do mais, vou dizer: volta e meia encontro nas palavras mestras de Fernando Pessoa um “posto que”. Nunca perdido no meio da madrugada gelada.

Salve!

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O escritor e a suspensão da descrença

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Sim, senhor!, os escritores são aventureiros nos bosques feitos de ideias e palavras. Alice caiu num buraco, chegou ao fantástico País das Maravilhas e fez com que emergisse de Lewis Carroll a mais pura criatividade. Quem lê e aprecia a obra literária de qualidade tem a sensação de viver a realidade ficcional de forma parecida, não vou dizer semelhante, da que vive na realidade concreta na qual está inserido.

Sim, senhor!, os escritores são aventureiros nos bosques feitos de ideias e palavras. Alice caiu num buraco, chegou ao fantástico País das Maravilhas e fez com que emergisse de Lewis Carroll a mais pura criatividade. Quem lê e aprecia a obra literária de qualidade tem a sensação de viver a realidade ficcional de forma parecida, não vou dizer semelhante, da que vive na realidade concreta na qual está inserido. E aí está o grande desafio enfrentado pelo escritor: construir um texto ficcional de modo que o leitor não se sinta ultrajado de pensar que a leitura não ultrapassa os meandros da imaginação.

A literatura tem a expertise que deve ser considerada quando alguém decide se tornar escritor de ficção. Escrever não é magia. É trabalho sobre trabalho. É um processo de criatividade sério e responsável. Assim do nada, repentinamente, as ideias vão chegando, embaralhadas, tomando corpo no texto através de trilhas criativas, enfrentando o mais terrível inimigo invisível, que está esplendidamente deitado na página em branco, escondido nos espaços entre as palavras e linhas. Aquela pessoa que se quer fazer escritor, depois de avançar em bosques tortuosos, beber águas frescas e sofrer ataques de pouquidade imaginativa, consegue vislumbrar a arte literária, a beleza das palavras e a profundidade das ideias, enquanto expressão do seu pensamento imaginativo. Criar uma obra literária consistente, capaz de ser lida em qualquer tempo e lugar.

Escrever é imaginar com inteligência, é transpor para o papel e revisar, revisar e revisar. É cuidar da beleza das frases, da construção de um texto instigante e inédito. É pensar no leitor, naquele ser que vai perceber o escritor através dos personagens, penetrar nos âmbitos de sua alma como um convidado especial. É uma pessoa responsável pelas ideias que vai plantar no leitor, aquele que, num ato solitário, abandona os afazeres quotidianos, toma seu texto para se entreter. Para simplesmente ler e degustar uma realidade feita de palavras, pontos e vírgulas, totalmente irreal e abstrata.

A suspensão de descrença, de descrédito ou incredulidade refere-se à vontade do leitor ou espectador de aceitar como verdadeiras as premissas de um trabalho de ficção, mesmo que elas sejam fantásticas ou impossíveis. É a suspensão do julgamento em troca da premissa de entretenimento. Ao entrar nos bosques da ficção, o escritor precisa ter a ciência de que vai escrever uma fantasia verossímil. E o heterônimo de Fernando Pessoa, Bernardo Soares, pode ter lançado os princípios da ficção quando escreveu no “Livro do desassossego” “Nunca sabemos quando somos sinceros. Talvez nunca o sejamos hoje, amanhã podemos sê-lo por coisa contrária.” Eis, então, o terrível desafio que o escritor enfrenta, ser fiel à mais verdadeira mentira, fazendo o outro acreditar que o texto retrata o acontecer e que os personagens são reais. Precisa fazê-lo bem: com capacidade de comunicação e sutileza, com serenidade e coerência, sabendo ser sedutor para entreter e manter o leitor ali, mergulhado no texto que ele construiu.

Para finalizar, deixo o poema “Autopsicografia”, de Fernando Pessoa, que expressa o que eu quis dizer em todas as linhas desta crônica.

O poeta é um fingidor

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

 

E os que leem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que ele não tem.

 

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.    

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Salve os cachorros! Serão anjos?

terça-feira, 20 de agosto de 2024

Volta e meia reorganizo minhas estantes, três compridas prateleiras que vão de um lado a outro da parede, onde misturo livros, pastas, retratos e objetos de recordação. Mexendo aqui e ali, mudando um livro e outro de lugar, um caiu em minhas mãos, “Os colegas”, de Lygia Bojunga, obra ganhadora do Concurso de Literatura Infantil do Instituto Nacional do Livro, em 1971. Faz tempo que li esse livro da Lygia e adorei. “Os colegas” conta a história de um grupo de cães e outros bichos, como um coelho, que vivia na rua.

Volta e meia reorganizo minhas estantes, três compridas prateleiras que vão de um lado a outro da parede, onde misturo livros, pastas, retratos e objetos de recordação. Mexendo aqui e ali, mudando um livro e outro de lugar, um caiu em minhas mãos, “Os colegas”, de Lygia Bojunga, obra ganhadora do Concurso de Literatura Infantil do Instituto Nacional do Livro, em 1971. Faz tempo que li esse livro da Lygia e adorei. “Os colegas” conta a história de um grupo de cães e outros bichos, como um coelho, que vivia na rua. É um texto delicioso de ler, que aborda a amizade, a solidariedade e a felicidade. Para ser sincera, gosto de tudo o que se refere a animais, principalmente aos cães. Também, não é para menos, passei a vida inteira acompanhada por eles.

Quando a Vênus, minha cachorra com a qual estabeleci uma relação de amor profundo, faleceu, ganhei de presente de uma vizinha, também amante de cães, “Angel Dogs”, escrito por Allen e Linda Anderson, que mostra que os cachorros não são apenas amigos, possuem uma função espiritual para com seus donos. E, da mesma forma, nós por eles. Depois comprei “Todos os animais merecem o céu”, escrito pelo veterinário Marcel Benedeti, em que reúne histórias relacionadas à vida espiritual dos animais. 

Li os livros e tirei algumas conclusões. Todos os cachorros que tive vieram em épocas especiais da minha vida. Quando nasci, minha mãe tinha uma cachorrinha. Um dia, passeando com meu avô, ela se soltou da correia, foi atropelada e partiu. Como meu pai havia falecido tão logo nasci, a cachorrinha veio para acompanhar mamãe e a todos da família. Quando a família já estava superando a perda, ela cumpriu suas funções e retornou.    

A Vênus quando esteve conosco participou de momentos difíceis, como a partida do meu filho, e situações de doença grave, como o infarto do meu marido. Depois que a nossa vida estabilizou, chegou a hora da Vênus partir. Antes dela seguir a vida em outro plano, veio a Hyra, uma rottweiler meiga, que nos deu aconchego, preenchendo os espaços que ficaram vazios na casa.

Hoje temos duas cachorras de rua que adotamos. Acredito que, agora, temos uma função importante na vida delas. Aliás, todos os cachorros que tivemos evoluíram, chegando, a meu ver, a serem até humanizados.

Neste momento, a lembrança de São Francisco de Assis se aproxima de mim. Ao acaso, abro uma página de um dos livros e uma frase grita aos meus olhos: “São Francisco amou os animais como os nossos irmãos.”  

O friburguense demonstra estima pelos cachorros. Inclusive a pedra denominada Cão Sentado é um dos símbolos da cidade. No bairro onde moro, a Fazenda Bela Vista, deve ter mais cachorros do que moradores, que se preocupam com o bem-estar dos animais. Infelizmente, alguns são abandonados aqui, mas nenhum deles fica à própria sorte porque são acolhidos pelos moradores, tal qual fiz com as minhas.

Certa vez uma pessoa que trabalha em uma loja na Rua Monte Líbano, no Centro, me disse que há cachorros que percorrem um longo trajeto para se alimentar com a ração colocada na calçada pelas pessoas que trabalham nas lojas. Eles vêm com andar certeiro e donos de si. É emocionante vê-los.

Os cachorros, além de fazerem parte da nossa cultura, são anjos que nos acompanham. Minha mãe disse, certa vez, que latido de cachorro e voz de criança dão um toque especial a uma casa. Cães e gatos oferecem aos seus donos afeto incondicional, sem falar na relação que estabelecem com as crianças, tornando-se delas verdadeiros companheiros. O olhar do cão para seus donos é profundo, sincero e terno. Tenho a impressão de que as minhas cachorras me agradecem sempre que olham para mim.

Estou relendo os livros e concluindo que os cães possuem uma sabedoria que nós humanos não temos. Eles sabem dos nossos sentimentos, são intuitivos e nos ajudam a ser pessoas melhores.

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Tempo de abraçar os pais

terça-feira, 13 de agosto de 2024

No último domingo, 11, comemoramos o Dia dos Pais, data sensível para pais e filhos posto que a experiência afetiva é única. O mês de agosto é um tempo propício para cuidar dessa relação, tendo em vista a avaliação sobre a troca de afetos, reflexões a respeito das decisões que foram tomadas ou não e apaziguamentos. É um tempo de buscar encontros e superações, de resgatar momentos desejados, mas nunca vividos.

No último domingo, 11, comemoramos o Dia dos Pais, data sensível para pais e filhos posto que a experiência afetiva é única. O mês de agosto é um tempo propício para cuidar dessa relação, tendo em vista a avaliação sobre a troca de afetos, reflexões a respeito das decisões que foram tomadas ou não e apaziguamentos. É um tempo de buscar encontros e superações, de resgatar momentos desejados, mas nunca vividos.

Gosto de ver pais e filhos de mãos dadas andando na rua, compartilhando o afeto; o cuidado. De certo, nessa relação acontecem momentos inesquecíveis, que podem influenciá-los ao longo da vida.

A presença é essencial para ambos na medida em que as atitudes, as palavras e os modos de olhar de um para o outro sinalizam para novas maneiras de sentir, pensar e agir. Entre eles há um intenso processo de retroalimentação; a cada momento ambos vão descobrindo outros sentidos de ser pai e de ser filho. Não é uma relação estática, mas em constante processo de transformação.

O pai não é necessariamente o genitor, mas aquele que ocupa as funções paternas. Professores, avós, tios ou amigos também podem vestir os gestos e usar as palavras daquele homem que acolhe um outro ser mais jovem, que está chegando ao mundo e precisa de modelos e acolhimentos.

Ser pai é aprender a sentir e a expressar o amor paterno que é diferente de qualquer outro tipo de sentimento, como a amizade entre pessoas da mesma geração. Pais e filhos são amigos, sem dúvida, porém ser pai significa cuidar do filho para introduzi-lo na vida. Educar com afeto e responsabilidade não é simples, mas uma tarefa desafiadora, talvez uma das mais laboriosas e difíceis que um homem possa vir a ter.

Pais e filhos constroem uma história através da convivência. O homem depois que é pai não é mais o mesmo; experimenta perdas e ganhos, além de ver-se diante de atribuições a serem enfrentadas. Além do mais, assumir o papel de pai é um modo de estar na vida, cujas funções vão sendo exercidas ao fazer-se presente nas múltiplas etapas do processo de adultez vivenciado pelo filho. A adultez ocorre ao longo dos anos em que o sujeito vai adquirindo responsabilidades, referenciais de existencialidade, isto é, decorrentes das experiências e processos de entendimento nas diferentes etapas do viver. 

Não há receitas nem manuais para ser pai. O pai cultiva o filho com amor através da vida em comum, dos projetos compartilhados, dos valores e dignidade para viver cada dia do seu destino. É louvável que o pai considere que sua figura, a paterna, brilha nos processos perceptivos do filho.

  Que os pais recebam as melhores energias do universo!

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Beethoven, o mestre das superações

terça-feira, 06 de agosto de 2024

        A literatura mergulha na vida, e a vida abraça a literatura. É como se houvesse um bom intercâmbio entre uma instância abstrata que reflete a vida como um espelho e a realidade concreta da existência, enquanto palco de encenações e inspirações para um escritor atento e um vivente maduro.

        A literatura mergulha na vida, e a vida abraça a literatura. É como se houvesse um bom intercâmbio entre uma instância abstrata que reflete a vida como um espelho e a realidade concreta da existência, enquanto palco de encenações e inspirações para um escritor atento e um vivente maduro.

        “A pequena coreografia do adeus” (*), de Aline Bei, obra literária publicada pela Companhia das Letras, me tocou lá naquele fundo da gente que é macio e se modifica quando recebe um toque. Somos feitos de partes duras e moles que vão se entremeando de acordo com o que se vive. Nas partes duras estão os verdadeiros guerreiros, dotados de forças e espadas, que enfrentam guerras e batalhas. Enquanto as outras partes vão amolecendo, quase virando líquido, quando entram em contato com sensíveis afetos.

        Júlia, a personagem, recebe de sua mãe os piores maus-tratos desde os mais novos anos. E de seu pai, uma indiferença comprida que se estica pelos dias afora da sua infância. A autora realça na escrita, quer seja nas palavras, quer na formatação do texto, as emoções de Júlia. Vamos lendo com frases encurtadas e cortadas, letras em estilos e tamanhos diferentes, páginas escritas ou em branco. Os parágrafos são longos e ou curtos, feitos de uma só frase ou palavra. Ela escreve com divina criatividade de modo que o leitor se emociona junto com a autora, numa cadência literária definida e inteligente.

        A história acontece assim, encostando nas partes duras e moles de Júlia, que vai se acostumando a superar as tragédias diárias. E, aí, a cada página, corro para a janela da vida e começo a ver, como Aline Bei, as durezas com que as pessoas se deparam no dia a dia. O que me faz concluir que existe no fundo dos nossos poços o amor por nós que nos faz cantarolar a “Ave-Maria” de Schubert, tal qual eu fazia encostada no ombro do meu avô, às 18 horas, e escutar as poesias de Vinícius de Moraes através das suas músicas. É aconselhável cantar e recitar sempre que precisamos superar circunstâncias que nos machucam.

        Certa vez, assisti à palestra da médica e budista, Nazareth Solino, que publicou a crônica “O rabo da lagartixa” em 2006, contida no livro do mesmo título. Ela, com bom humor, fez uma exposição sobre o rabo do réptil e afirmou, com ênfase: quando decepado, cresce novamente com vigor. A seguir, ela completou que a maior luta que todos nós travamos é ao acordar: abrir os olhos, levantar da cama e jogar água no rosto para despertar com disposição.

        Pouco tempo depois, soube que Nazareth estava lutando com bravura contra um câncer, vindo a falecer. Naquela palestra ela estava altiva, animada e disposta a viver plenamente. E viveu até seus últimos dias, conforme uma amiga me disse.

A gente tem que aprender a superar as tantas perdas, mágoas, decepções e fracassos que experimentamos. A vida é assim. Não desfilamos em passarelas com beleza e juventude reluzente como pretendia Dorian Gray. Temos, posto que sim, a honra de estarmos vivos, trilhando trajetórias existenciais e tendo a ciência de que nascer é o maior presente que a natureza pode nos dar. Penso assim e com certeza crescente. Não perdemos mais de cem fios de cabelos todos os dias? Nós nos despedimos das pessoas que amamos, vivemos conflitos com quem convivemos, experimentamos necessidades não satisfeitas, desejamos e lutamos bravamente para realizar nossos propósitos, alguns deles não conquistados. Não esquecemos as chaves em casa?! Ou não perdemos cartões e documentos?!

        A verdade é que temos de aprender a surfar as ondas de nossas praias, principalmente quando o tempo das ressacas chega todos os anos com ondas imensas. Mas a praia, sempre bela, continua a receber o calor do sol e o brilho do luar.

        Se a vida nos maltrata e tira um filho dos nossos braços, como fez comigo, a gente tem que saber que vamos ter que acordar no dia seguinte porque outro filho vai nos chamar. Aí cantarolamos, versejamos o amor ao invés de bater no peito e bravejar. Ah, meu amigo, a inteligência emocional nos está disponível e pronta para ser usada.

        Beethoven pode nos ser um grande mestre!

        (*) Finalista dos prêmios Jabuti e São Paulo de Literatura de 2022.

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

O arrependimento e a escova de dentes

terça-feira, 30 de julho de 2024

O modo como construímos a vida é decorrente das decisões que tomamos. Decidimos desde o momento em que acordamos e colocamos os pés no chão, se o direito ou o esquerdo, até deitarmos a cabeça no travesseiro à noite. Não damos um passo sem decidir, dado que somos seres de juízo com autoridade sobre nós mesmos. Essa é uma consciência que vamos construindo ao longo da vida, desde quando aprendemos a expressar o sim e o não. Simples assim? De certo que não.  

O modo como construímos a vida é decorrente das decisões que tomamos. Decidimos desde o momento em que acordamos e colocamos os pés no chão, se o direito ou o esquerdo, até deitarmos a cabeça no travesseiro à noite. Não damos um passo sem decidir, dado que somos seres de juízo com autoridade sobre nós mesmos. Essa é uma consciência que vamos construindo ao longo da vida, desde quando aprendemos a expressar o sim e o não. Simples assim? De certo que não.  

Se, por um lado, o medo de errar influencia a decisão que pretendemos tomar e no modo como fazê-la, principalmente quando o arrependimento pincela as sensações, por outro, as decisões impulsivas podem nos criar verdadeiras emboscadas. Aprender a tomar decisões é a mais longa escola que podemos cursar.

Estou lendo o livro “A Biblioteca da Meia-Noite”, do romancista e jornalista inglês Matt Haig. Uma história de ficção fantástica em que a protagonista, uma mulher de 35 anos depressiva e com pensamentos suicidas, abandona vários projetos que ela mesma criou. A cada dia a impressão de fracasso e inutilidade vai crescendo em suas sensações, até que pensa em dar um fim à sua existência quando seu gato morre atropelado porque ela havia deixado a porta aberta. Naquele estágio de dúvida entre a vida e a morte, vê-se numa biblioteca, onde há livros que contam histórias sobre as opções que abandonara e de como seriam realizadas.

É um livro impactante posto que a leitura nos faz refletir sobre as decisões que tomamos. De repente seguimos um rumo e abandonamos outro. Sabemos o que nos aconteceu em consequência do que decidimos, mas desconhecemos o que teria acontecido se houvesse outra opção. Em “A Biblioteca da Meia-Noite”, a personagem vai relembrando o que não viveu. A cada desistência é tomada de arrependimentos, como ter deixado a natação. Então, recebendo a atenção de uma bibliotecária, vai percorrendo os desafiadores caminhos que poderia ter percorrido, o que poderia ter conquistado ou perdido, os embates que teria de enfrentar, as felicidades e tristezas. Os encontros e desencontros.

Tenho o hábito de imaginar o que não vivi. Como estaria hoje?  Teria sido melhor face às dificuldades que enfrento em decorrência das decisões que tomei? É uma fantasia e tanto habitar no Jardim do Éden!

O pensamento budista engrandece as relações de causa e efeito. Tudo o que fazemos gera consequências. O acaso existe, não há quem duvide. Entretanto, uma decisão leva a outra e a outra e assim por diante. A inteligência é fundamental na construção do nosso destino. Contudo, meu amigo leitor, a intuição não pode ser negligenciada, enquanto capacidade de pressentir ou prever uma situação futura, sem o conhecimento da causa e do efeito com maior profundidade.

Uma decisão bem tomada acarreta consequências desejáveis. Mas as impensadas e mal avaliadas podem problematizar a vida. Aliás, decidimos para evitar problemas ou resolvê-los.

 

Por que escovamos os dentes?

 

Um arrependimento pode se arrastar por um bom tempo, talvez pela vida inteira. É como uma condenação que nos sentencia ao pesar. Há situações em que podemos voltar atrás e decidir novamente, mas outras, infelizmente não.

Por outro lado, o arrependimento é uma forma de aprender com o erro. É aí que está o pulo do gato. O bom jogador guarda o erro como a carta de virada do jogo e sabe usar a criatividade em cada jogada.

 Ah, ia esquecendo de lembrar que a escova de dentes macia não fere as gengivas.

 

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