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Inteligência Artificial: os papeis da família, da escola e da literatura

terça-feira, 29 de abril de 2025

Nova Friburgo participou do Dia Mundial da Criatividade e Inovação (World Criativity Day), um evento global promovido pela ONU, durante os dias 21, 22 e 23 de abril, quando realizou diversas atividades gratuitas com a finalidade de promover o desenvolvimento humano com a participação de educadores, artistas, empreendedores, pesquisadores e demais agentes de mudança.

Nova Friburgo participou do Dia Mundial da Criatividade e Inovação (World Criativity Day), um evento global promovido pela ONU, durante os dias 21, 22 e 23 de abril, quando realizou diversas atividades gratuitas com a finalidade de promover o desenvolvimento humano com a participação de educadores, artistas, empreendedores, pesquisadores e demais agentes de mudança.

Assisti à palestra “Exame vocacional por Inteligência Artificial”, e o professor Felipe Oliveira fez uma explanação criativa e objetiva sobre a Inteligência Artificial. Enquanto ele apresentava o tema, várias questões começaram a pulular na minha mente, sendo iluminadas por algumas perguntas: será que a IA nos percebe como humanos? Como pode nos perceber se não tem uma história de vida construída com experiências e amadurecimentos, afetos e processos de aprendizagens múltiplas? Será que percebe os humanos como robôs? Qual o nível de responsabilidade dos programadores para os princípios éticos que sustentam a dignidade humana? Sabemos que seu objetivo é estar sempre disponível para atender às demandas daqueles que solicitam suas respostas e soluções.

A palestra foi marcada por debates a respeito dessas questões. Em relação à Orientação Vocacional, foi evidenciado se tratar de um processo de amadurecimento de experiências, autoconhecimento e pesquisas do mercado de trabalho. Um questionário produzido pela Inteligência Artificial, penso eu, deve apenas ser um instrumento que compõe o processo de definição vocacional.

Ao sair da palestra pensei sobre os papeis da família e da escola hoje, mergulhados em uma realidade em que a Inteligência Artificial pode favorecer o não pensar, o não aprender e o desaprender, posto que oferece respostas com imediatez. A família precisa estar presente, atenta e atuante na vida dos filhos desde a mais tenra idade e não pode transferir à escola suas responsabilidades. Amar é demonstrar afetividade nos olhos e nas mais simples atitudes; conviver sem pressas e conversar sem celulares; saber quando é preciso dizer o sim e o não com firmeza. Os filhos, ao saberem que podem contar com os pais e as mães, mesmo que estejam separados e tenham outras famílias, sentem-se fortalecidos ante um mundo cheio de incertezas e inseguranças.

A escola se faz através de pessoas, os seus educadores: professores, pedagogos, psicólogos e funcionários de um modo geral. Quem trabalha em um ambiente escolar está participando da construção de seres humanos. E de não robôs. Ser educador é assumir um desafio complexo e surpreendente. É, antes de mais nada, educar a si mesmo, conhecer-se. Descobrir-se junto ao outro e superar-se a cada dia.

As crianças e os jovens necessitam, ainda mais nos dias atuais, da presença dos pais e professores para utilizar os benefícios da Inteligência Artificial que são muitos, se, somente se, houver respeito ao desenvolvimento de individualidades criativas, responsáveis e participantes.

Ah, estou sendo bem determinante, atitude que não gosto de ter. Mas com relação a esse tema não sou sustentada pela necessidade de saber mais, de investigar e refletir como sempre acontece quando produzo textos desta coluna.

A literatura, como sempre, pode nos apresentar respostas mais inteligentes, sensíveis e objetivas que a Inteligência Artificial. Vou me sustentar no slogan “Quem lê, sabe mais” para declarar que os seus programadores precisam ser estudiosos e leitores para desenvolver programas que possam responder aos usuários com inteligência, afetividade e ética. E os seus usuários, da mesma forma, possam ter uma relação crítica com as informações que recebem. Especialmente, as crianças e os jovens não podem fazer uso da Inteligência Artificial com postura passiva e receptiva às informações. É aí que reside o grande perigo: processos de interação em que robôs superam humanos.

Não estamos no final de uma encruzilhada. Mas iniciando novos caminhos com desafios até então impensados e não podemos negá-los de forma alguma, mas aprender continuamente a utilizá-los com ética e da melhor forma possível. Da tecnologia à humanidade, somos nós que vamos trilhá-los e dominá-los.

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Voejando sobre a vida do friburguense

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Depois de escrever a coluna passada sobre a riqueza imperceptível contida em cinco minutos, inspirada pelo livro “O Idiota”, de Dostoiévski, fiquei divagando antes de dormir, durante aquela hora em que conversamos com os anjos, com nosso presente, passado e futuro, até que uma ideia veio me instigar: a eternidade! Existe?! Se existe, como será? Que conceito abstrato! Entre exclamações e indagações, cheguei a uma conclusão, a mais simples e óbvia, a mais inquestionável por mim. Talvez os físicos, filósofos ou religiosos possam dar outros esclarecimentos e interpretações.

Depois de escrever a coluna passada sobre a riqueza imperceptível contida em cinco minutos, inspirada pelo livro “O Idiota”, de Dostoiévski, fiquei divagando antes de dormir, durante aquela hora em que conversamos com os anjos, com nosso presente, passado e futuro, até que uma ideia veio me instigar: a eternidade! Existe?! Se existe, como será? Que conceito abstrato! Entre exclamações e indagações, cheguei a uma conclusão, a mais simples e óbvia, a mais inquestionável por mim. Talvez os físicos, filósofos ou religiosos possam dar outros esclarecimentos e interpretações. A eternidade está no presente. Sim. Exatamente no instante em que estamos vivendo, interagindo com tudo e com todos, em que nosso corpo está funcionando para que possamos estar em movimento; em que a mente interpreta o que vivemos; em que os afetos reagem a nós, a tudo e a todos; e em que as vontades dão um toque especial aos modos de estar e fazer.

Estão nos menores detalhes a essência dos fatos que podem ser percebidos num piscar de olhos. Apenas um relance é suficiente para nossos canais perceptivos captarem a realidade, os afetos, os interesses, as intenções. É nessa fração de segundos que a totalidade se revela sem pudor. Nua e crua. São constatações que podem interferir nos rumos que damos à nossa vida.

Aí, pensei o que a vida do friburguense, meu povo querido, me diria? Ah!, a Praça Presidente Getúlio Vargas, por onde todos passam, me confessaria alguns segredos dos seus instantes. Ali a vida acontece todos os dias. Fazendo e refazendo sua rotina, o friburguense caminha com passos diferentes para construir sua vida, carrega suas mochilas, bolsas e sacolas, passa nos bancos, conversa com pessoas com o sotaque friburguense, sua marca registrada. A cada instante, a eternidade se faz cumprir na vida das pessoas. Como também dos animais; dos cachorros, que fazem da rua as suas casas ou que vêm de longe comer a ração que os lojistas deixam em suas portas; ou dos pássaros que voam de árvore em árvore e pousam nos bancos da praça como se fossem seus poleiros.

A sabedoria de Vinícius se revela em seus poemas: “Mas que seja infinito enquanto dure”.

A vida corre em Friburgo com largueza preenchida pela vontade de viver e sobreviver. O povo é forte. Trabalha! Trabalha e cuida da família, realizando tarefas domésticas, cumprindo responsabilidades no trabalho, empreendendo. Cuidando de si. Adquirindo saberes e experiências.

Sem a agitação dos grandes centros, o Friburguense tem vida movimentada. Acorda cedo, posto que o sol serrano não deixa a cama esquentar o corpo demais. E a vida vai acontecendo com o passar das horas em eternidades diversificadas e constantes; vêm e vão. Entre o passado e o futuro, o presente é estreito, pequeno demais, ínfimo. Mas é eterno. Ninguém o segura nas mãos, é como água que escapa pelos dedos. A fotografia, o jornalismo, o cinema, o teatro e a literatura fazem de tudo para guardar o presente. Mas ele, ao ser registrado, torna-se irreal; só pode ser observado e interpretado. Apenas quem vive o próprio instante é que o percebe na concretude do acontecer. É individual.

E o friburguense vive as suas eternidades. Sim, gosta do chão em que pisa, aprecia suas montanhas a cada olhar, sente suas águas em cada banho e come seus frutos nas refeições do dia. Guarda o orgulho de ser de Nova Friburgo. Cada um trilha seus caminhos passo a passo, olha em uma direção própria. Mas todos abraçam a cidade.

Peço a Cecília Meireles para finalizar esta coluna:

Eu canto porque o instante existe

E a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

sou poeta.

(1939)

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Cinco minutos: uma riqueza imperceptível

terça-feira, 15 de abril de 2025

Nossa capacidade de apreender a realidade é complexa e abrange os processos de captação dos estímulos através dos sentidos e dos processos mentais que englobam o domínio cognitivo e são sujeitos às influências dos valores, crenças e aspirações. Por que estou me referindo aos modos com que a pessoa capta a realidade para abordar a riqueza contida em cinco minutos? Cinco minutos — um brevíssimo tempo que pode mudar os rumos da vida, conter impressões significativas e revelações. Além de proporcionar sensações inéditas, inesquecíveis.

Nossa capacidade de apreender a realidade é complexa e abrange os processos de captação dos estímulos através dos sentidos e dos processos mentais que englobam o domínio cognitivo e são sujeitos às influências dos valores, crenças e aspirações. Por que estou me referindo aos modos com que a pessoa capta a realidade para abordar a riqueza contida em cinco minutos? Cinco minutos — um brevíssimo tempo que pode mudar os rumos da vida, conter impressões significativas e revelações. Além de proporcionar sensações inéditas, inesquecíveis.

Em cinco minutos há nascimentos e mortes, gritos de independência e suspiros carregados de impossibilidades, reverências e despedidas. Tantas situações podem ser reveladas e descobertas! Cinco minutos podem conter todas as gotas de um oceano para quem vai além da superficialidade, da virtualidade e do imediatismo.

Acredito que se delimitarmos o tempo em cinco minutos será possível descobrir o que está implícito em cada circunstância. O explícito tem evidência relevante, contudo é no implícito que residem os fatos inconscientes e os sintomas de afetos guardados, interesses velados e características subliminares. O implícito pulsa e tem força maior do que o que é evidente. Porém ao ser revelado torna-se mais cristalino e entendível, capaz de dar novos sentidos às circunstâncias, mudando as evidências.

Por que os cinco minutos tanto me tocaram a ponto de me fazer escrever este breve ensaio? Dostoiévski. O grande escritor, filósofo e jornalista russo, que viveu no século XIX, foi condenado à morte e, instantes antes de sua execução, teve sua pena de morte cancelada. O que lhe permitiu a experiência de apreender a grandiosidade desses instantes. Somente quem viveu cinco minutos anteriores à privação da vida sabe do seu significado, tempo em que a experiência do viver pode superar todo o pensamento, os conceitos teóricos, as doutrinas religiosas e políticas. São momentos em que a essência cresce e toma conta do corpo por inteiro, unindo-o à alma em elos absolutos.

Os cinco minutos são rigorosos para que a pessoa possa vivenciar com profundidade o olhar, a força do abraço, o gosto do alimento, a cor do céu. Respirar. Sentir-se vivo.

A vida segue dia após dia, e os cinco minutos vão passando, ficam perdidos, esquecidos e nunca apreendidos. Transformam-se em pedaços de papel picados que voam no tempo, no rumo dos ventos e caem no chão, varridos como coisa qualquer.

Desde que li a profunda narrativa de Dostoiévski em “O idiota”, tenho me posto a viver cada minuto com os olhos abertos para ver o que me acontece nos pequenos instantes do dia, quem está ao meu lado, o que faço, como estou reagindo aos fatos. Com a crítica aflorada para observar a forma como o celular e o mundo virtual se enroscam e se entranham em mim. Noutro dia, cheguei na quitanda, onde costumo comprar coisas do dia a dia, e a vendedora exclamou: “Estava sentindo a sua falta!”. Quantas vezes parei para perceber o que significo para os outros e qual o significado que as pessoas pouco próximas têm para mim?  Será que eu as vejo?

Estamos no centro de uma realidade de 360°, mas só vemos na direção do nosso olhar. Nossas percepções têm restrições. E aí está o grande salto: aprender a perceber e a sentir com profundidade o que está em nossas mãos, a cheirar o que pegamos e a segurar contra peito o que temos nas mãos. A compreender a complexidade da vida e saber superar dificuldades com criatividade e inteligência. 

Faço questão de trazer à coluna o pensamento de Saint-Exupéry: “Era uma pessoa igual a cem mil outras pessoas. Mas eu fiz dela um amigo, agora ela é única no mundo”. Apenas para dizer que a plenitude dos cinco minutos exige presença.

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A Voz da Serra — 80 anos

terça-feira, 08 de abril de 2025

No seu aniversário de oitenta anos vale a pena convidá-lo para uma prosa, apenas para falar da sua vida em um lugar tão especial para nós que vivemos aqui, entre árvores, montanhas e rios. Em uma região abençoada pela beleza, pelo povo simples e guerreiro, que constrói sua vida dia a dia; cada cidadão a seu modo. E, desde que você nasceu foi se espalhando pelas ruas da cidade, flanando como borboleta pelo quotidiano, escrevendo matérias sobre os acontecimentos. Expondo a competência de ser imprensa.

No seu aniversário de oitenta anos vale a pena convidá-lo para uma prosa, apenas para falar da sua vida em um lugar tão especial para nós que vivemos aqui, entre árvores, montanhas e rios. Em uma região abençoada pela beleza, pelo povo simples e guerreiro, que constrói sua vida dia a dia; cada cidadão a seu modo. E, desde que você nasceu foi se espalhando pelas ruas da cidade, flanando como borboleta pelo quotidiano, escrevendo matérias sobre os acontecimentos. Expondo a competência de ser imprensa.

Você é um periódico que faz parte da ciranda de Friburgo. É incansável. Todos os dias, faz a notícia brotar como se fosse uma fonte de narrativas, informações e alertas. Assim sendo, a coletividade, composta de pessoas de todas as idades, já se acostumou em abrir suas páginas para saber das atualidades, refletir e comentar os acontecimentos. Também se emocionar. Tê-lo nas mãos é um hábito que está enroscado nos leitores de vários grupos sociais e culturais. O mundo está aqui através dos povos que participaram da história da região, fazendo com que suas palavras sejam interpretadas de diferentes maneiras.

Seus jornalistas, com motivação, acompanharam os desfiles que aconteceram ano após ano. Ao longo dos 80 anos, nunca deixaram de vibrar com o entusiasmo da população com a sua cultura e arte. Sempre participaram das feiras, divulgando seus produtos culinários e artesanais. Da mesma forma as peças teatrais e outros eventos, como palestras, cursos e exposições. Com orgulho falaram das pessoas que realizam feitos importantes para a vida dos friburguenses. Também criticaram e transpuseram para o texto seus sentimentos. Além de noticiarem nascimentos, aniversários e mortes.

Você é um jornal que coloca o friburguense diante da realidade, deixando que as palavras transbordem a vida no ponto mais alto da Serra do mar e onde a Mata Atlântica ainda é preservada. Sua equipe exala dedicação e esforços para fazer o seu melhor. São anos de trabalho árduo. Em sua voz não há silêncios; há inspiração.

Merecidamente, hoje é um dia a ser brindado. Aplaudido, inclusive, pela literatura posto que o jornalismo é um estilo literário de respeito, especialmente por suas colunas que recorrem às crônicas e aos curtos ensaios para serem elaborados.

Tenho orgulho de fazer parte de sua vida e comemorar seus oitenta anos!

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O ponto final

terça-feira, 01 de abril de 2025

Acredito que as pessoas já se depararam com os desafios de terminar algo, colocar um ponto final ou mesmo, como se diz por aí, virar a página. O que começa termina e, se assim não for, o acontecer perde seus sentidos. Se toda praça termina numa rua, como os mares acolhem as águas dos rios, o que finda abre um leque de possibilidades; o fim não extingue as energias. Como dizia Lavoisier, na natureza tudo se transforma, e o que resta tem energia suficiente para fazer novo começo acontecer, uma força capaz de nos permitir dar uma volta no rumo da vida e não nos deixar à deriva da história.

Acredito que as pessoas já se depararam com os desafios de terminar algo, colocar um ponto final ou mesmo, como se diz por aí, virar a página. O que começa termina e, se assim não for, o acontecer perde seus sentidos. Se toda praça termina numa rua, como os mares acolhem as águas dos rios, o que finda abre um leque de possibilidades; o fim não extingue as energias. Como dizia Lavoisier, na natureza tudo se transforma, e o que resta tem energia suficiente para fazer novo começo acontecer, uma força capaz de nos permitir dar uma volta no rumo da vida e não nos deixar à deriva da história.

Ao pensar na literatura, também estou me referindo à vida, a arte que espelha o existir. Todo o começo se direciona ao findar, já que não há infinitudes na vida do Planeta Terra. Mesmo quando construímos uma ideia e não conseguimos visualizar seus desdobramentos finais, temos a certeza de que será preciso criar caminhos que os levarão até lá. A beleza da literatura está na inteligência que o autor tem para criar, ou seja, decidir sobre os fatos que vão compor o enredo, sempre fatídico a findar.

Agora mesmo estou percebendo que o mais significativo a este tema são os caminhos desbravados a cada etapa do texto, sendo o fim não mais do que mera consequência. São os detalhes das cenas que vão dar grandeza ao final composto de muitos pormenores, como em tudo na vida.

Não há regras para se construir um final, bem como não pode ser estigmatizado como bom ou ruim. Penso que deva ser avaliado não de modo fantasioso, mas com realismo a partir das relações de causas e consequências estabelecidas ao longo do texto. A imaginação do escritor tem que visualizar a verossimilhança que não pode fugir da coerência das probabilidades.

O fim tem harmonia com os fatos da história. A diferença entre quem escreve uma história e quem vive a vida está no controle dos acontecimentos. Não é fácil escrever uma história, mais difícil ainda é experimentar a vida, a mais interessante e repleta de aventuras de todas as histórias de ficção. Eu li a obra da Ana Cláudia Quintana Arantes, médica referência em Cuidados Paliativos no Brasil, “A morte é um dia que vale a pena viver”, em que aborda a finitude, observada ao acompanhar os pacientes terminais. Segundo a Dra. Ana Claudia, os momentos finais da vida são decorrentes do modo como eles a viveram e tomaram suas decisões, como amaram e estabeleceram relações com seus familiares e amigos, cuidaram de si e do ambiente em que viveram, quais esforços fizeram para realizar seus propósitos, bem como o que aprenderam e de que forma seus conhecimentos na vida.

Os anos que vivemos e as páginas que escrevemos nos amadurecem e nos melhoram por estarem repletos de finais e novos começos. Segundo Nietzsche, a vida é um constante devir. Deve ser vivida em sua plenitude.

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Os desafios do começar

terça-feira, 25 de março de 2025

Certa vez, conheci uma médica budista, Dra. Nazareth Solino, que já não está mais entre nós, infelizmente, que me disse: o maior desafio a enfrentar no dia é acordar de manhã, levantar-se, colocar-se a disposição para fazer o dia acontecer e dar os primeiros passos. É uma atitude que possui graus diferentes de dificuldades e, por maior que seja, é o melhor que temos a fazer para começar mais uma jornada.

Certa vez, conheci uma médica budista, Dra. Nazareth Solino, que já não está mais entre nós, infelizmente, que me disse: o maior desafio a enfrentar no dia é acordar de manhã, levantar-se, colocar-se a disposição para fazer o dia acontecer e dar os primeiros passos. É uma atitude que possui graus diferentes de dificuldades e, por maior que seja, é o melhor que temos a fazer para começar mais uma jornada.

E a gente, começa e recomeça, faz e refaz. Não tem jeito, a vida é assim e não somos mágicos. Possuímos ferramentas para realizar o que pretendemos e o que é necessário. Enfim, começar é o ato mais intrínseco ao viver; se assim não fosse, seriamos oriundos do mundo da fantasia. Vivemos na realidade concreta, onde o sentir, pensar e agir definem as nossas decisões e como as realizamos.

 Escrever não é diferente de tudo o que fazemos. A primeira palavra faz as ideias do escritor girarem como num redemoinho, chegando ao ponto de torná-lo tonto. É o processo criativo que exige sensibilidade. Mas será diferente daqueles repetitivos? A beleza dos dias está nesse ponto de bifurcação entre o comum e o extraordinário, que vai além do habitual. Por onde começar um texto? Se por um artigo ou conjunção, se por uma vírgula ou exclamação, se por um adjetivo ou substantivo.

Alguém me disse que o importante é começar por alguma coisa. É o mesmo que ter uma pia cheia de pratos, panelas e talheres. Vale a pena pegar o que estiver na frente e começar a lavar.

Será fácil o começar? Depende da disposição, da superação dos medos, da coragem para enfrentar as dificuldades. Começamos a vida com um choro forte!

Amigo leitor, começar assusta! Sempre depois da primeira iniciativa nos deparamos com o desconhecido, mesmo naquelas situações que fazem parte da rotina. No início da semana passada estava esperando minha filha no carro, peguei um pedaço de papel, uma caneta e me perguntei: o que vou escrever? Olhei para os lados, para o retrovisor e o verbo começar chegou devagar, como quem não quer nada, quase em tom de segredo e foi cochichando uma porção de ideias e fui escrevendo sem saber dos parágrafos seguintes. A vantagem do escrever é que podemos corrigir. Porém há situações que não podem ser reparadas ou revistas, que precisam ser pensadas de modo cuidadoso e planejado, muito menos sequer começar. Além disso, o acaso existe e pode se fazer presente depois de cada começo. Enfim, por sorte temos ao nosso favor a inteligência, que podemos usá-la para decidir a melhor forma de começar e realizar. Mas será que usamos a inteligência como poderíamos? Pensar, às vezes, pode dar uma preguiça danada. A criança e o adolescente sabem muito bem disso! E, vejam, temos vívidos a criança e o adolescente que fomos em cada um de nós!

O fazer literário tem responsabilidades, principalmente para quem escreve para crianças e jovens. Sim. Um texto somente começa a partir de uma ideia, a semente que vai germinar palavras, frases e parágrafos. Ao começar, o escritor deve estar ciente que vai tocar o leitor. Aliás, em tudo o que fazemos na vida, tocamos de alguma forma o outro. Apenas um olhar tem o poder de influenciar; é incisivo.

Começar é um ato de gratidão para conosco posto sermos seres de sequência, ou seja, nosso destino é construído através das relações de causas e consequências; cada começo dá prosseguimento às realizações dos anteriores. Começar a escrever um texto dá sentido ao ímpeto criativo do escritor que justifica sua existência como tal. Para mim, através do escrever exorcizo minhas emoções. Acho que escrevi este texto por superar o medo semanal de não saber como vou fazê-lo, de significar a minha pessoa no mundo, de me divertir com as palavras, da satisfação de ter a oportunidade de oferecer minhas ideias a alguém. E, se adentrar no meu inconsciente, vou aumentar a lista até o final da página.

Começamos porque somos seres de sentidos. E, por assim ser, findamos o que fazemos. Ih, o acabar está me cutucando e vai preencher outra coluna, que vai iniciar por um outro começar. Quem sabe eu vá esperar minha filha em outro lugar e... 

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A atualidade dos clássicos da literatura

terça-feira, 18 de março de 2025

Já fiz alguns passeios literários interessantes. Alguns deles sobrevoaram Shakespeare, poeta e dramaturgo que viveu nos séculos XVI e XVII, considerado o maior escritor do idioma inglês e relevante dramaturgo da humanidade. Certa vez li sua obra “Trabalhos de amor perdidos”, pensando em trazê-lo para o presente através de uma apresentação teatral. Eis que me deparei com uma situação atual em que um grupo de rapazes precisa estudar para prestar uma prova ou concurso e vai para um lugar tranquilo, uma casa de campo, por exemplo.

Já fiz alguns passeios literários interessantes. Alguns deles sobrevoaram Shakespeare, poeta e dramaturgo que viveu nos séculos XVI e XVII, considerado o maior escritor do idioma inglês e relevante dramaturgo da humanidade. Certa vez li sua obra “Trabalhos de amor perdidos”, pensando em trazê-lo para o presente através de uma apresentação teatral. Eis que me deparei com uma situação atual em que um grupo de rapazes precisa estudar para prestar uma prova ou concurso e vai para um lugar tranquilo, uma casa de campo, por exemplo. Porém, na casa vizinha está um grupo de moças lindas que faz questão de chamar a atenção dos jovens. E o estudo...

Em outro passeio, junto com as amigas do Clube de Leitura, visitei Flaubert, autor francês que viveu no século XIX, que escreveu a belíssima obra “Madame Bovary”. A história aborda a insatisfação feminina, sentimento que emerge, hoje, em cada canto da cidade. Ao visitar Dostoiévski, escritor, jornalista e filósofo russo que viveu no século XIX, considerado um dos maiores pensadores e romancistas da história, em algumas de suas obras, como “Crime e Castigo”, “Noites Brancas” e, atualmente, “O Idiota”, passei a compreender com mais profundidade a essência humana em várias situações atuais em toda sua bondade e coragem, crueldade e astúcia, persistência e resiliência.  Inclusive “Crime e Castigo” é uma história tão densa e forte, que inspirou Wood Allen a escrever o roteiro do filme “Match Point”. Como também “Noites Brancas” inspirou o roteiro do filme “Amantes”, lançado em 2008, interpretado por Joaquim Phoenix e Gwyneth Paltrow.

Quando conheci “Ulisses” de James Joyce, inspirado na “Odisseia”, um dos principais poemas épicos da Grécia Antiga, atribuídos à Homero, escrita no século VIII a.C., que narra o retorno de Odisseu para ilha de Ítaca, sua casa e pátria, depois de vencer a Guerra de Troia, para reencontrar sua esposa, filho e cão, vislumbrei o quotidiano do personagem, descrito detalhadamente, através do qual expõe a experiência humana no decorrer de um dia em uma grande cidade, onde milhares de leitores habitam.

As obras se tornam clássicas porque os autores descrevem com minúcias os personagens, suas histórias, modos de ser e agir, a cultura na qual estão inseridos, seus sonhos e medos, seus ganhos e perdas. São escritores que vão além do olhar raso e da simples observação. Para eles, as mais comuns das situações quotidianas nos oferecem vários outros prismas para refletir e nos trazem questões muitas vezes imperceptíveis a nós, meros viventes e sobreviventes.

Ao lê-los, em cada uma das suas frases, ficamos impactados e aprendemos com a história, que, consequentemente, espelha de alguma forma a do próprio autor. Além da leitura oferecer momentos prazerosos, conseguimos ver o mundo e a nós mesmos com o pensamento mais amplo. Surfamos de tal modo na liberdade de perceber os fatos que nos sentimos instigados a indagar o que estamos fazendo com a nossa vida ou como podemos vivê-la com mais coerência. Ou, melhor ainda, concluir que caminhar com sapatos feitos de folha de bananeira pode nos trazer belos momentos de felicidade.

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O amor em todos os tempos e lugares

terça-feira, 11 de março de 2025

Acabei de ler uma pérola, “Noites Brancas”, publicado em 1848, uma obra clássica, do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), considerado um dos maiores escritores de todos os tempos. Esse livro foi um dos primeiros que ele escreveu, um jovem adulto com 27 anos, que trouxe para o seu fazer literário a pureza do amor. Uma história triste e delicada, em que consegue detalhar com maestria o sentimento de um homem solitário e sonhador por uma jovem à espera de um apaixonado. Um roteiro que acontece em todos os tempos e lugares.

Acabei de ler uma pérola, “Noites Brancas”, publicado em 1848, uma obra clássica, do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1821-1881), considerado um dos maiores escritores de todos os tempos. Esse livro foi um dos primeiros que ele escreveu, um jovem adulto com 27 anos, que trouxe para o seu fazer literário a pureza do amor. Uma história triste e delicada, em que consegue detalhar com maestria o sentimento de um homem solitário e sonhador por uma jovem à espera de um apaixonado. Um roteiro que acontece em todos os tempos e lugares.

O que tocou meu coração foi como Dostoiévski mostrou a forma como o protagonista sentiu o amor despertar ao encontrar a moça pela primeira vez, o aprofundamento das conversas, dos sonhos que ele cultivava à noite quando criava relações românticas. Do esforço dele para fazê-la feliz, superar a timidez de ambos, acreditar nas próprias palavras e desenhar esperanças por um futuro. Aos poucos um foi se apresentando ao outro sem esconder fatos tristes. Na sequência de encontros, foram se conhecendo. Ele, cada vez mais envolvido amorosamente; ela, cada vez mais em dúvida a respeito do antigo amor e do rapaz que estava conhecendo ao perceber, pouco a pouco, a sinceridade do seu afeto. De sentir sua presença, face a ausência do outro.

O apaixonar-se tem intensidade e beleza; não tem época nem lugar. Acontece! Tive a impressão, ao ler “Noites Brancas”, que os versos da música “Carinhoso”, escritos por Braguinha, revelam o encantamento do protagonista por Nástienka. Ao encontrá-la, ele via tudo brilhar de uma forma diferente, sentia crescer dentro de si uma força especial. Ao lado dela, ele se tornava mais humano do que nunca.

“Noites Brancas” também me remeteu ao amor de Dom Quixote por Dulcineia, uma paixão que lhe dava coragem para enfrentar seus sonhos impossíveis, vencer o inimigo invencível, lutar quando seria tão fácil ceder. E, certamente, os versos de Vinícius também nos mostram que quem ama é atento e zeloso ao seu amor, desejante de vivê-lo em todos os instantes e espalhar seu canto em louvor ao ser amado.

Shakespeare, por sua vez, revela o amor em suas peças ao ressaltar que quando duas almas são sinceras amantes, nada as impedem de experimentar o amor. Mas quando os obstáculos surgem e o sentimento enfraquece, será que o amor...

O amor vira mundo, corre com o tempo, reveste o poeta e canta o esplendor de amar. Assim, vou terminar a coluna com a poética letra da música de Roberto Carlos: “Como é grande o meu amor por você”

 

Eu tenho tanto para te falar

Mas com palavras não sei dizer

Como é grande o meu amor por você

 

Não há nada pra comparar

Para poder lhe explicar

Como é grande o meu amor por você

 

Nem mesmo o céu e as estrelas

Nem mesmo o mar e o infinito

Nada é maior do que o meu amor

Nem mais bonito

 

Me desespero a procurar

Alguma forma de lhe falar

Como é grande o meu amor por você

 

Nunca se esqueça nenhum segundo

Que eu tenho o amor maior do mundo

Como é grande o meu amor por você

 

(...)

 

Nessa música, Dostoiévski e Roberto Carlos estão de mãos dadas!

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Ao Braguinha, meu carinhoso abraço!

terça-feira, 04 de março de 2025

Hoje, o friburguense vai se divertir, cantar e dançar. É terça-feira gorda, o último dia para soltar o espírito carnavalesco em qualquer lugar, que seja em casa, nas ruas ou no meio da natureza verde das matas. Então vou deixar com vocês duas músicas, cujas letras foram compostas por Braguinha (1907-2006) que eternizam essa festa folclórica. Acima de tudo, suas letras são românticas e encantadoras poesias.

Hoje, o friburguense vai se divertir, cantar e dançar. É terça-feira gorda, o último dia para soltar o espírito carnavalesco em qualquer lugar, que seja em casa, nas ruas ou no meio da natureza verde das matas. Então vou deixar com vocês duas músicas, cujas letras foram compostas por Braguinha (1907-2006) que eternizam essa festa folclórica. Acima de tudo, suas letras são românticas e encantadoras poesias.

Tive a sorte e o privilégio de ter conhecido Carlos Alberto Ferreira Braga ou João de Barro ou Braguinha nos últimos anos da sua vida quando passei uma tarde em seu apartamento, em Copacabana, ao lado da sua esposa, dona Astrea, do genro dele, o Jadyr, e do meu pai, que era o médico da família. Braguinha era um gênio da música. Quase centenário, tinha todos os acordes na cabeça, tamborilava os dedos e cantava suas músicas, movimentando sua cabeça com cadência e sorrindo. 

Ele é considerado o compositor de carreira mais longa no Brasil, com mais de 400 músicas gravadas, inclusive as infantis, como “Chapeuzinho Vermelho” e “A História da Baratinha”. Entretanto grande parte das suas composições são conhecidas e cantadas no carnaval.

As Pastorinhas

Braguinha (letra) e Noel Rosa (música) - 1933

A estrela d’alva

No céu desponta

E a lua anda tonta

Com tamanho esplendor

E as pastorinhas

Pra consolo da lua

Vão cantando na rua

Lindos versos de amor

Linda pastora

Morena da cor de Madalena

Tu não tens pena

De mim que vivo tonto com teu olhar

Linda criança

Tu não me sais da lembrança

Meu coração não se cansa

De sempre, sempre te amar

///////

Carinhoso

Braguinha, 1937, (letra) e Pixinguinha (música, composta 20 anos antes)

 

Meu coração, não sei por quê

Bate feliz quando te vê

E os meus olhos ficam sorrindo

E pelas ruas vão te seguindo

Mas mesmo assim foges de mim

Ah, se tu soubesses

Como sou tão carinhoso

E o muito, muito que te quero

E como é sincero meu amor

Eu sei que tu não fugirias mais de mim

Vem, vem, vem vem

Vem sentir o calor dos lábios meus

À procura dos teus

Vem matar esta paixão

Que me devora o coração

E só assim então serei feliz

Bem feliz

Aos leitores, meu carinhoso abraço!

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Os entrelaçamentos entre o carnaval e a literatura

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Nestas vésperas de carnaval, a literatura sai dos livros e se transforma em folia, envolvendo o povo numa festa que celebra a multiplicidade das expressões populares. Os desfiles são odes carnavalescas que exibem e cantam as tendências da época, exaltam personagens e mitos, reverenciam e criticam fatos relevantes do presente e do passado. O carnaval é um evento que supera a individualidade e exalta a unidade popular.

Nestas vésperas de carnaval, a literatura sai dos livros e se transforma em folia, envolvendo o povo numa festa que celebra a multiplicidade das expressões populares. Os desfiles são odes carnavalescas que exibem e cantam as tendências da época, exaltam personagens e mitos, reverenciam e criticam fatos relevantes do presente e do passado. O carnaval é um evento que supera a individualidade e exalta a unidade popular.

São dias de liberdade, esperados por cidadãos comuns, trabalhadores e famílias inteiras. Pessoas de todas as idades saem para brincar, assistir e participar dos desfiles das escolas de samba e da passagem dos blocos, aproveitar a festa em bailes e matinês. Nascido na Antiguidade, o carnaval foi introduzido no Brasil pelos portugueses no século XVII. No Rio de Janeiro, recebeu influências africanas, manifestadas através do entrudo, alegre brincadeira em que um grupo jogava baldes de água, areia, farinha e limões no outro. Novas manifestações culturais foram introduzidas como o samba, as fantasias, as máscaras e as danças. Hoje é uma grande festa popular, sendo que o carnaval do Rio de Janeiro e o bloco Galo da Madrugada do Recife estão registrados no Guinness Book como os maiores eventos carnavalescos do mundo.

Todos se deixam levar pelo samba que nasceu na Bahia no século XIX. Contudo foi no Rio de Janeiro que desenvolveu o gênero musical que conhecemos na atualidade, que se espalhou pelas ruas da cidade. E, rapidamente, contaminou diversas outras, como a nossa Nova Friburgo.

O carnaval é a mistura das artes musicais, literárias, cênicas, da dança. Os temas, se culturais, artísticos e históricos, são contados e recriados pelas expressões carnavalescas materializadas nas folias. Produzidas com criatividade e trabalho em equipe e diversificadas, as escolas de samba não poupam esforços para fazer explodir o carnaval na avenida com seus sambas enredos, cujas letras se caracterizam pelo uso informal da Língua Portuguesa e compostas em estilo poético.

Na Avenida Alberto Braune, quatro escolas de samba do Grupo Especial, Imperatriz de Olaria, Unidos da Saudade, Alunos do Samba e Vilage no Samba, homenageiam a bela e instigante história da cidade, resultado da interação dos povos que participaram do seu desenvolvimento desde 1818.  Do Oriente ao Ocidente, a cultura de Nova Friburgo possui tradições oriundas de vários lugares, culturas que caracterizam o quotidiano da cidade e são, de diversas formas, exaltadas no carnaval, festa que colabora para que seu passado não seja levado pelo tempo, mas revivido com entusiasmo.

Ao compreendermos a literatura como a forma de expressão do pensamento e da cultura, bem como a arte de usar as palavras para refletir o mundo em suas experiências e saberes, podemos considerar as letras carnavalescas, se sambas enredos ou marchinhas, como formas genuínas de produção literária brasileira.

Que, neste ano de 2025, o carnaval chegue em Nova Friburgo cheio de brilho, purpurinas e serpentinas. Que contagie o povo com alegria e novas esperanças. 

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