Blog de terezamalcher_17966

Gostar, simples assim!?

terça-feira, 23 de julho de 2024

Acredito que vou precisar escrever uma infinidade de textos para comentar as reflexões de Marcel Prout sobre as situações diárias, contidas no livro “Em busca do tempo perdido”. A cada página, tenho que refletir. Às vezes, fico cansada, reconheço. Mas a cada momento em que penso, revejo fatos da minha vida ou mesmo da existência de um modo geral e vou tirando conclusões, lendo e pesquisando outros autores, adentrando em conjecturas novas ou já conhecidas. Hoje, vou sobrevoar aspectos positivos do gostar, um tema que nos é fundamental. 

Acredito que vou precisar escrever uma infinidade de textos para comentar as reflexões de Marcel Prout sobre as situações diárias, contidas no livro “Em busca do tempo perdido”. A cada página, tenho que refletir. Às vezes, fico cansada, reconheço. Mas a cada momento em que penso, revejo fatos da minha vida ou mesmo da existência de um modo geral e vou tirando conclusões, lendo e pesquisando outros autores, adentrando em conjecturas novas ou já conhecidas. Hoje, vou sobrevoar aspectos positivos do gostar, um tema que nos é fundamental. 

Nada é mais perfeito e imperfeito do que o gostar, que pode nos surgir de modos improváveis e inesperados, chegando de mansinho e vagando em torno de nós, até que o percebamos. “Era uma pessoa igual a cem mil outras pessoas. Mas eu fiz dela um amigo, agora ela é única no mundo” (Saint-Exupéry, em O Pequeno Príncipe).

O gostar de alguém é um sentimento que vai surgindo singularmente, sem um sentido determinado e vai tomando conta do nosso sentir. É a ternura que brota como uma semente despretensiosa e pode se tornar, inclusive, uma árvore frondosa, carregada de frutos. Sempre que faço parte de um grupo, o sentimento do gostar fica se chegando, como quem não quer nada, criando disposições, quer seja de parte a parte ou não. A gente vai conhecendo o outro e a nós mesmos também, haja vista que a convivência nos modifica. Assim, vamos fazendo nossas histórias acontecerem no dia a dia.

Sentir afeição por uma pessoa é saudável e prazeroso. Mais ainda é guardar esse sentimento e alimentá-lo por um tempo ou pela vida afora. É diferente do sentimento que nutre laços afetivos parentais, como entre irmãos, cônjuges, pais e filhos, avós e netos.

Sempre vemos a pessoa de quem gostamos de forma única, e, da mesma forma, assim somos vistos. É um reconhecimento particular do modo de ser do outro. E aí está um bom desafio: vê-lo sem enganações e tendências, ou seja, percebê-lo com os olhos descompromissados. Não é preciso buscar algo urgente a comunicar para dizer “Olá!” Um encontro de cinco minutos pode deixar registros a serem saudosamente lembrados. Simples assim!

São exatamente naqueles cinco minutos, mesmo guardando o gostar por tantas outras pessoas, que aquele afeto nos é a mais especial. Somos seres emotivos por excelência. Aliás, como qualquer animal; o olhar do cavalo, do cachorro ou de outro bicho revela, pelo brilho e intensidade, o afeto que guarda pelos seus donos e expressa um dos mais sinceros gestos.

O povo Umbundu, originário do Planalto Central de Angola, considera que o olhar do outro nos dá existência. Sim, existimos quando somos vistos. A cada relação de amizade, ganhamos existência própria; somos uma pessoa para cada amigo que temos, e a amizade tem o poder de nos transformar em várias pessoas. Que engrandecimento maravilhoso!

Quando me sinto pequena e sem jeito, mas sob o olhar de uma pessoa que gosta de mim, fico melhor e ganho outras formas diante do espelho para o qual olho todos os dias de manhã. Que magia tem o gostar!

Proust nos mostra como mergulhar fundo em cada instante do dia a dia para descobrirmos universos carregados de sabedoria. Basta relaxar e perceber.  E deixar-se gostar e ser gostado.  

 

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Um olhar para Nova Friburgo

segunda-feira, 15 de julho de 2024

No início de julho Nova Friburgo recebeu o título de Suíça Brasileira! 

Hoje vou escrever a coluna inspirada em nosso lugar, de riqueza natural e histórica, que traz admiração ao nosso olhar. As matas que cobrem as altas escarpas da Serra do Mar nos movem a recitar os versos de J. G. de Araújo Jorge, contidos na coletânea “Canto à Friburgo” [sic], lançada em 1961, que homenageiam a cidade com o louvor de um apaixonado. 

No início de julho Nova Friburgo recebeu o título de Suíça Brasileira! 

Hoje vou escrever a coluna inspirada em nosso lugar, de riqueza natural e histórica, que traz admiração ao nosso olhar. As matas que cobrem as altas escarpas da Serra do Mar nos movem a recitar os versos de J. G. de Araújo Jorge, contidos na coletânea “Canto à Friburgo” [sic], lançada em 1961, que homenageiam a cidade com o louvor de um apaixonado. 

Sem ter nascido aqui, seu coração balançou com o mesmo vento que movimenta as folhas das árvores enraizadas nestas serras, e seus olhos brilharam com os raios de sol que alimentam a vida neste lugar. J.G. poetou em “Eis Friburgo”:

“Cidade cujo nome é um símbolo e um troféu

Parada de um caminho... a caminho do céu!”

 

Tenho esperança de que o título vivifique o amor que o friburguense tem pelo lugar onde vive. Mesmo aquele que não tenha nascido aqui, como eu, mas se deixou adotar pela sua gente cheia de fibra, deixou-se gostar por esse povo acolhedor, alegre e festeiro. Mas que precisa, todos os dias, melhor cuidar do espaço onde finca suas raízes e tudo faz para florescer seus sonhos.

“Gosto dessas montanhas azuis, musicadas

Pelas águas que rolam frias, esquecidas,

Sussurrando cantigas infantis, perdidas

Por entre os tinhorões e a sombra das ramadas” 

                                          (Montanhas de Friburgo - J.G. de Araújo Jorge)

 

Junto ao título “Suíça Brasileira”, recebido de bom grado e com orgulho, deve estar a responsabilidade diária pela natureza, que ainda preserva as matas, tão devastadas em outras regiões do país. Friburgo tem céu brasileiro, de azul estonteante, que impulsiona o acontecer da sua história. O friburguense acorda cedo e olha para a vida com esperança, cuida de si, da família e das suas coisas. Trabalha. Ama, pensa, sofre. Nasce e morre. Tudo isso sob a beleza que vem do alto. 

“Olho o céu de Nova Friburgo sobre mim! Reparo

Nos detalhes dessa obra perfeita de Deus!

Na manhã de ouro e azul, o dia é belo e claro,

Nem um lenço de nuvem branca, acena adeus...”

                                 (J.G. de Araújo Jorge – O céu de Nova Friburgo”)

 

Dos nativos aos imigrantes, povos vindos de diferentes lugares do mundo, que aqui puseram seus pés e fizeram a cidade se desenvolver. Com suor, esperanças e sonhos, na labuta incansável e diária, com dor e alegria, cada um dos que aqui nasceram ou chegaram ergueram o futuro. Construíram o hoje, um lugar misturado e miscigenado, em busca de ser melhor. Do negro ao louro, dos olhos puxados às bochechas rosadas, dos camponeses aos empresários, aqui é o lugar de todos.

“Aqui hei de plantar a semente da vida,

que esta é afinal a terra muito prometida!

e sulcarei o chão fecundo, áspero e bruto,

transformando-o em flor, modelando-o em fruto;

abrirei o caminho, além pela floresta;

usarei a energia das águas em festa,

revoltas e indomáveis pelas corredeiras,

ou saltando a gritar nos tombos das cachoeiras.”

                                           (J. G. de Araújo Jorge – Terra prometida)

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O intruso

terça-feira, 09 de julho de 2024

Quem já experimentou a presença de um intruso, daquela pessoa que surge sem que seja esperada?

O intruso é alheio a alguém ou a uma situação. Um clandestino, talvez, que causa mal-estar ou desconforto por ocupar o lugar de “nada a ver”.

O narrador de “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust, lembra sua infância quando uma visita chega na hora do jantar e modifica a rotina da casa. Nas mãos de um mestre que dedicou sua vida à literatura, a intrusão é minuciosamente descrita, e o leitor pode sentir o desconforto da criança diante daquele estranho.

Quem já experimentou a presença de um intruso, daquela pessoa que surge sem que seja esperada?

O intruso é alheio a alguém ou a uma situação. Um clandestino, talvez, que causa mal-estar ou desconforto por ocupar o lugar de “nada a ver”.

O narrador de “Em busca do tempo perdido”, de Marcel Proust, lembra sua infância quando uma visita chega na hora do jantar e modifica a rotina da casa. Nas mãos de um mestre que dedicou sua vida à literatura, a intrusão é minuciosamente descrita, e o leitor pode sentir o desconforto da criança diante daquele estranho.

Esse inconveniente revela a quem se sente incomodado as relações de afeto que tem para com a circunstância ou pessoa. O tempo em que vivenciamos as situações nos é valioso, e qualquer coisa que modifique nossas expectativas pode ser, na melhor das hipóteses, embaraçosa. Pode roubar instantes especiais, nunca recuperados. Ora pois sim, o tempo é rápido e devora os momentos, deixando apenas lembranças. Contudo, essas lembranças nunca dão conta do acontecer, são como nuvens que sobrevoam os dias, que surgem e se desfazem.

Ao ler a narração proustiana, pude constatar que o intruso é tão indesejável que pode nos desencadear as mais disparatadas reações. Haja criatividade para nos livrarmos dele! E quando o intruso rouba a cena? Foi exatamente o que o narrador mostrou. Na hora do jantar, uma visita inesperada, alegre, falante e sedutora atraiu a atenção de todos, fazendo com que o menino tivesse que ir para o quarto sozinho e dormir sem o carinho da mãe. Ele, na cama, se contorceu de indignação, quando um tal de Charles Swann usurpou o seu espaço afetivo dentro de sua própria casa.

O intruso pode ser aquele que não se dá conta de como é capaz de importunar. Nunca tinha pensado no tema com tamanho respeito como agora. Será que já fui uma intrusa? Apesar de tomar cuidado, certamente, já fui.

A presença do intruso é notada de imediato. Propositalmente ou não, ele tem um certo atrevimento. Se “cara de pau”, traz ironia no olhar ou nos lábios. Se ingênuo, tem grandes probabilidades de tropeçar nas pernas e nas palavras.

Uma pergunta exclamativa me invade: “o que estou fazendo aqui?!”, e me faz sentir assim, intrusa. Esta indagação surge quando percebo que devo mudar ou sair de cena. E quem já não se sentiu intruso nas relações afetivas e exclamou para si: “estou demais!”

Ui, este tema está me sendo uma sessão de terapia!

O fato é que estamos cercados de intrusos: a motocicleta que corta o trânsito e entra na frente de todos; a pessoa que fura a fila, o vizinho que coloca música alta; o sujeito que fala aos berros no celular na rua ou no ambiente público; o vendedor que liga para nosso telefone com insistência. Enfim, é o mundo agitado que nos perturba.

Vez em quando ler Proust faz bem! 

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Os ingleses

terça-feira, 25 de junho de 2024

Ser grande é abraçar uma grande causa

William Shakespeare

Ser grande é abraçar uma grande causa

William Shakespeare

   A arte faz parte da humanidade desde os seus primórdios. Segundo Aristóteles, o homem reage às percepções que tem da realidade através dos sentidos. Somos, pois, receptivos às impressões sensoriais, o que nos impulsiona a expressões comuns e inéditas. Nossos sentimentos e pensamentos não cabem dentro de nós, precisamos declarar e divulgar este nosso universo, abstrato, denso, muitas vezes caótico, que habita em nós. E, para não rasgarmos as nossas peles, encontramos na arte formas, espetacularmente criativas e justas, para nos manifestar. Para anunciar, de modo genuíno, como captamos o existir.

   Em cada época e lugar surgem expressões artísticas, divulgadas mundo afora. Como nada é estático e fechado em si mesmo, a literatura, a arte de empregar as palavras na produção textual, em vários estilos, toca o leitor. As palavras dos autores ganham vida nos textos, se lidos, encenados ou declamados, se traduzidos ou não, que se expressam objetivamente, de modo metafórico ou até mesmo subliminarmente, nas entrelinhas, o que exige do leitor uma leitura atenta e inteligente. Elas têm essência, através dos seus significantes, e potencial interpretativo, de acordo com os significados oferecidos pelo autor e construídos pelo leitor.

   Hoje, vamos nos dedicar à arte literária inglesa e sua influência no mundo. A literatura inglesa surgiu na Idade Média com Geoffrey Chauser, nascido provavelmente em 1343, em Londres. Foi escritor, filósofo, cortesão e diplomata, sendo considerado o pai da literatura inglesa, cuja obra é fundamental para a produção literária ocidental. “Os contos da Cantuária” revela sua sensibilidade através de uma coleção variada de textos em prosa e verso, em que a vida medieval da época foi narrada, como a cavalaria, a figura do cavaleiro, as máscaras usadas para esconder fracassos.

   Os primórdios da literatura inglesa expressam as transformações e as dinâmicas políticas e sociais e culturais. Emergiu de uma cultura que recebeu influências de tantos povos, como os celtas, romanos e os franceses. A obra de Geoffrey alavanca o renascimento da língua inglesa, tornando-a uma forma legítima de expressão artística. Como também foi fonte de inspiração para os autores posteriores.

   Os países do Reino Unido são férteis na criação literária, ao gerarem verdadeiras obras primas que sobrevivem ao tempo, influenciam a produção literária mundial. Não podemos esquecer a lenda de Robin Hood, surgida provavelmente nos séculos XII ou XIII, que inspirou obras em diversos estilos, como desenhos animados da Disney e, até comédias adaptadas pelos Trapalhões no Brasil. Muito menos deixar de evidenciar o heroísmo de Ivanhoé, narrado no romance do escocês Walter Scott, publicado em 1820.

   William Shakespeare é considerado o maior dramaturgo do mundo e respeitado pelos severos críticos, como Bárbara Heliodora, no Brasil. Até hoje, nos teatros brasileiros, há uma peça do bardo inglês em cartaz. Seus personagens como Hamlet, Otelo, Romeu e Julieta se mantêm vivos na memória popular.

   Não há uma criança, adolescente ou adulto que não conheça “Alice no país das maravilhas”, de Lewis Carol, que traz consideráveis ensinamentos de vida. A inventividade do autor deve servir de exemplo para os que pretendem criar histórias, tal como aconteceu comigo. Da mesma forma, é possível pensar em Jane Austen, autora de “Orgulho e preconceito” e de outras obras que ganharam o mundo, considerada uma autora que contribuiu para a literatura universal.

   E Agatha Christie!? Romancista, dramaturga e poeta, uma das autoras mais lidas no planeta, é conhecida como a “Rainha dos Crimes”. Engenhosa escritora de suspense, criou personagens conhecidos internacionalmente, como Hercule Poirot e Miss Marple, que protagonizaram casos instigantes de investigação criminal.

   O personagem da inglesa J. K. Rowling, Harry Porter, conquistou o coração dos brasileiros de todas as idades através da literatura fantástica, em que descortinou com maestria o mundo da magia e da bruxaria.

   A contribuição da literatura inglesa é imensa para a universal, inclusive a brasileira. Qual o escritor que não tenha bebido na fonte dos seus autores. Qual o cidadão que não preserva valores encontrados nas obras de Shakespeare e Jane Austen, por exemplo? Quem ainda não se deparou com a questão: ser ou não ser?

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Personagens mensageiros

terça-feira, 18 de junho de 2024

O mensageiro exerce uma função nobre de levar algo de um lugar a outro, com a finalidade de transmitir recados, informações, quiçá segredos ou códigos. Cá entre nós, o mensageiro é transparente, sem forma nem tamanho posto que o importante é o conteúdo que transporta em seu interior ou em seus envelopes. Posso até me arriscar a dizer que ele é responsável pelo intercâmbio dos saberes que transformam o mundo.

Quem nunca se utilizou de um mensageiro? Ora pois, esse agente mediador possui antiguidade, surgiu nas primeiras comunidades humanas. Tornou-se profissional na antiga Pérsia.

O mensageiro exerce uma função nobre de levar algo de um lugar a outro, com a finalidade de transmitir recados, informações, quiçá segredos ou códigos. Cá entre nós, o mensageiro é transparente, sem forma nem tamanho posto que o importante é o conteúdo que transporta em seu interior ou em seus envelopes. Posso até me arriscar a dizer que ele é responsável pelo intercâmbio dos saberes que transformam o mundo.

Quem nunca se utilizou de um mensageiro? Ora pois, esse agente mediador possui antiguidade, surgiu nas primeiras comunidades humanas. Tornou-se profissional na antiga Pérsia.

No universo literário, os personagens são mensageiros do autor, que encontra nas histórias um meio de transportar para o mundo as ideias que transbordam pelos seus poros e agitam o sangue em suas veias. Não há histórias sem personagens. Sim. São as ideias, os sentimentos e as ações dos personagens que fazem o acontecer dos enredos, universos imaginados com inteligência e criatividade, delimitados e carregados de sentidos.

O escritor toca o leitor de modo especial através do seu imaginário, materializado pela vida de cada um de seus personagens. Os leitores escolhem personagens que iluminam sua vida. Para mim, o “O Pequeno Príncipe,” criado por Saint-Exupéry, faz-se presente durante meu processo de escrita, como agora, em que os valores contidos na sua obra influenciam minhas ideias. Para muitos, é um livro como outro qualquer, como já me disseram. Mas me é único pelas mensagens enviadas através da rosa, do geógrafo ou da raposa.

O mais interessante é que os leitores podem se perceber em cada personagem. Pelo princípio da verossimilhança, emergem da realidade: são captados e interpretados pelo escritor. O autor, tal qual o leitor, é sujeito e está sujeitado às circunstâncias da realidade. 

Não passamos pela vida como imagens refletidas. O que vivemos é registrado e guardado na memória. Somos, dia a dia, resultado das experiências que tivemos. Assim como nós, os personagens guardam identidade, história e caráter. Não são bonecos de pano nem bolas de pingue-pongue, e sim, entidades que nos surgem espontaneamente e gritam dentro de nós para que ganhem vida nas histórias que vamos contar.

A cada conto, poesia, romance, matéria jornalística há mensagens para se refletir. O escritor não escreve à toa. Sua intenção é expor seus meandros que não suportam silêncios. Para cantar seus gritos eufóricos. Contorce-se através das suas palavras. E seus personagens, divinos ou vítimas das suas insaciedades, não dizem o que querem.

As estantes das bibliotecas são verdadeiras coxias, onde os personagens, com as capas fechadas, como a Sherazade, ensaiam a história que vão contar. Acredite: os livros são falantes.

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A leitura, os manuais de instrução e a literatura

segunda-feira, 10 de junho de 2024

A literatura tem pano de sobra, aliás sobra tecido para todas as mangas dos mais diferentes tipos e tamanhos. Nesses dias, ao me deparar com um manual extenso, refleti sobre as diferenças entre os manuais de instrução, que têm por finalidade ensinar ao usuário a operar um equipamento e a literatura, que é a arte de usar as palavras ao recriar a realidade através da visão do autor da obra na produção textual de prosa e poesia. 

A literatura tem pano de sobra, aliás sobra tecido para todas as mangas dos mais diferentes tipos e tamanhos. Nesses dias, ao me deparar com um manual extenso, refleti sobre as diferenças entre os manuais de instrução, que têm por finalidade ensinar ao usuário a operar um equipamento e a literatura, que é a arte de usar as palavras ao recriar a realidade através da visão do autor da obra na produção textual de prosa e poesia. 

Os manuais de instrução e a literatura são apresentados através de textos, ou seja, usam a palavra como matéria prima. Os primeiros fazem uso da linguagem objetiva com sentido denotativo, ou seja, a palavra é empregada em seu sentido próprio e preciso. Já o texto literário emprega uma linguagem subjetiva e um sentido conotativo através do qual o leitor tem a possibilidade de interpretar e imaginar, indo além do sentido real das palavras. 

“A leitura é, provavelmente, uma maneira de estar em outro lugar.”

                                                                                 José Saramago

O mais interessante é que as palavras usadas nos manuais podem ser as mesmas empregadas nas obras literárias. Até me arrisco a supor que existe uma magia nos processos de escrita, que até hoje ninguém decifrou. 

De que substância és feito,

Que milhões de sombras te envolvem?”

                                                           William Shakespeare, Soneto 53

Quando caminhamos por um bosque vamos admirando as árvores e a beleza da natureza, escutando os passarinhos e o barulho do vento até chegarmos na fonte, onde vamos matar a sede, saboreando a água fresca. Nesse passeio, o leitor busca prazer ao debruçar seus olhos sobre um texto literário. Lendo, torna-se uma pessoa melhor. Usa seu tempo livre tendo contado com ideias e modos de viver de outra pessoa, até porque o autor, acima de tudo, é tão humano quanto ele. Além do que vive ou viveu em contextos culturais diferentes dos do leitor.

Em caso de falta d’água, o leitor percorre um caminho certeiro que o leva à fonte, onde terá a certeza de encher seus recipientes de água potável para levá-los para casa. Ao ver-se diante de uma máquina desconhecida, o leitor se detém em cada item do texto, geralmente numerado, e busca compreendê-lo tendo em vista o mais eficiente uso do equipamento.

“Não há problema que a leitura não possa solucionar.”

                                                                       Charles Bukowski

O que há de comum entre a literatura e os manuais de instrução é que todos foram criados para serem lidos.  

Ora pois sim, cada leitor elege seu estilo de leitura. Há quem não goste ler manuais de instrução e há quem não sinta prazer de ler textos literários. Porém não há leitores certos e errados. E, sim, há leitores versáteis, que reconhecem o valor de cada texto e sabem lê-lo com desenvoltura. 

Aí reside a importância do desenvolvimento do hábito de leitura. A leitura, sem sombra de dúvidas, é uma habilidade cognitiva complexa posto que exige atenção, estabelecimento de semelhanças e diferenças, compreensão de significantes e significados, análise, crítica e interpretação. O que requer do aprendiz tempo e dedicação. Porém o ponto de partida é o leitor saber encontrar prazer, interesse e motivação durante a leitura.

“Leitura, antes de mais nada, é estímulo, é exemplo” 

                                                                                  Ruth Rocha

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A literatura acolhe o leitor infantil em situações de desastres naturais

segunda-feira, 03 de junho de 2024

Ao acompanhar as notícias sobre as inundações do Rio Grande do Sul através das imagens, relatos e notícias, não parei de pensar em como a literatura infantil pode oferecer apoio às crianças que estão sofrendo as trágicas consequências.

Ao acompanhar as notícias sobre as inundações do Rio Grande do Sul através das imagens, relatos e notícias, não parei de pensar em como a literatura infantil pode oferecer apoio às crianças que estão sofrendo as trágicas consequências.

O leitor infantil merece o nosso maior respeito. Ao construir textos para crianças, é nossa obrigação ter a ciência de que estamos escrevendo para um ser humano individual em processo de transformação, com inteireza afetiva característica de sua idade, inserido em contextos naturais, familiares, sociais, econômicos e culturais. As crianças possuem capacidade para interagir e sentem as consequências dos acontecimentos à sua volta, porém ainda com limitações cognitivas para compreender os fatos. 

As chuvas que inundaram o Rio Grande do Sul trouxeram destruição de parte do Estado e causaram imensa tragédia com mortos, feridos e desabrigados, com adultos e crianças que perderam familiares e moradias, além dos animais que ficaram desamparados ou sucumbiram.    

Como a literatura pode oferecer acolhimento às crianças vitimadas por desastres naturais e às que assistiram aos fatos de modo distanciado? 

A literatura infantil guarda o universo de histórias construídas com arte, riqueza de ideias e cuidados com a elaboração de uma linguagem possível de ser compreendida pelo leitor, que é uma pessoa com sensibilidade aflorada, mergulhada em uma realidade desconstruída que pode lhe cobrar maturidade imediata, como o ocorrido com crianças no Rio Grande do Sul. 

O texto literário possui vida pulsante, seja na empatia que o escritor tem pela humanidade e na responsabilidade que suas palavras irão colaborar para o viver de crianças, acolhendo-as em diferentes circunstâncias, inclusive nas mais difíceis. A literatura pulsa nos traços dos ilustradores que recontam histórias através de imagens. Pulsa nas mãos dos editores que produzem o livro e no leitor que decodifica cada palavra do texto, ao refletir sobre as mensagens e os fatos contados nas histórias. 

Neste momento, o leitor brasileiro infantil está vivendo ou assistindo a uma tragédia e, a cada instante, se depara com circunstâncias diversas e aniquilantes. É uma criança que sente necessidade de buscar respostas, compreender a natureza dos fatos, observar a ação do homem sobre o ambiente. Que lida com uma interminável quantidade de informações, muitas ainda indecifráveis. 

O grande valor da literatura que aborda desastres naturais está na esperança contida na capacidade de superação dos personagens. Além do que, ao ler, a criança conversa com o outro a respeito, quer seja adulto ou outro leitor. Também fala a respeito da sua experiência, reflete sobre as situações. Imagina. Tem contato com heróis. Enfim, o livro colabora para o reconhecimento do valor da vida e dos cuidados para com a natureza. 

Deixo, a seguir, uma sugestão de leitura: “Sagatrissuinorana”, de João Luiz Guimarães, ilustrado por Nelson Cruz e publicado pela Ôzé Editora, ganhador do prêmio Jabuti de melhor livro infantil em 2021. A história reconta a fábula dos Três Porquinhos, tendo como pano de fundo o rompimento das barragens em Minas Gerais. 

“O recato da terra chega quase sem aviso. E o que era história viva, urdida no sem-tempo da fábula, vira história morta, soterrada pela notícia. Às vezes, o homem pode ser o lobo do lobo.” (texto que faz parte da quarta capa do livro)

Também uma solicitação: vamos doar livros infantis e juvenis às escolas do Rio Grande do Sul.

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Nova Friburgo acolhe trovadores nos seus jardins

segunda-feira, 27 de maio de 2024

Nova Friburgo, sim senhor!, é o Berço dos modernos Jogos Florais no Brasil, expressão literária que caminha mundo afora há centenas e centenas de anos. Inicialmente, cantigas poéticas surgiram pelos lugares da Itália e Península Ibérica quando os trovadores, poetas e menestréis, iam, errantes, em cortes, feudos e burgos declamando o amor, propagando ideias e satirizando os fatos da vida. Além de ser uma forma de memorizar mensagens e levar diversão, as trovas eram uma expressão literária relevante da época. 

Nova Friburgo, sim senhor!, é o Berço dos modernos Jogos Florais no Brasil, expressão literária que caminha mundo afora há centenas e centenas de anos. Inicialmente, cantigas poéticas surgiram pelos lugares da Itália e Península Ibérica quando os trovadores, poetas e menestréis, iam, errantes, em cortes, feudos e burgos declamando o amor, propagando ideias e satirizando os fatos da vida. Além de ser uma forma de memorizar mensagens e levar diversão, as trovas eram uma expressão literária relevante da época. 

Considerados como um dos eventos culturais mais antigos do mundo, eram realizados como competições literárias em homenagem à Flora, deusa dos jardins e da poesia. A primeira edição dos Jogos Florais em Nova Friburgo, realizada em 1960 e tendo como tema “Amor”, foi organizada pelos trovadores Luiz Otávio e JG de Araújo Jorge, tendo recebido em torno de 2.000 trovas do Brasil e do exterior.

Posto que sim, Nova Friburgo é uma cidade literária por excelência. A arte das palavras brota no imaginário do friburguense como água pura de nascente no meio das pedras. Não é por menos que aqui tenha romancistas, poetas, contistas, cronistas e trovadores. Talvez a beleza das suas matas, o cheiro da natureza e o barulho das águas inspirem os artistas a untar seus pensamentos com criatividade e sensibilidade. 

Ninguém pode esquecer ou desvalorizar os predicados artísticos de Nova Friburgo, muitas vezes mesclados com a vida urbana, cheia de movimentos e feitos. A meu ver as trovas poderiam brilhar nas esquinas da cidade, curvas da estrada ou até mesmo nos sacos de pão. Ah, como é bom saborear um pão francês quentinho e ler uma trova, que seja de amor ou de humor.

Hábeis poetas, os trovadores compõem suas trovas em quatro versos e em redondilha maior, ou seja, em sete sílabas em uma única estrofe, com rima e sentido completo. Eles sabem buscar as exatas palavras que despertam bons sentimentos, roubam risos e direcionam o olhar para outros vieses. A trova habita no coração dos poetas que possuem a capacidade para resumir ideias, esperanças e sentimentos; para dar graça aos momentos do quotidiano. São aqueles que sabem entrelaçar pensamentos e palavras com clareza e objetividade, conquistando a beleza poética em cada verso. É resultado de uma experiência cognitiva ágil, de modo que a percepção da realidade pelo poeta esteja sob a influência da composição trovadora, da imaginação fértil e da construção de sentidos. 

No dia 18 de julho é comemorado o Dia do Trovador em todo território nacional. A data homenageia Luiz Otávio, fundador e perpétuo presidente da União Brasileira de Trovadores. 

No último final de semana, foi realizado o LXV Jogos Florais de Nova Friburgo, mais uma edição conquistada com amor e dedicação, que contou com a participação de trovadores da região, de outros estados brasileiros e cidades do Rio de Janeiro, como também dos trovadores da AFRIDEV (Associação de Integração dos Deficientes Visuais). Foi um evento grandioso, acalorado e cheio de alegria. 

                                              “Há tanto CALOR humano

                                                  Em nossos jogos florais

                                           Que esse encontro, ano após ano                                       

                                                 Nos envolve mais e mais”

                                                                                         (Nádia Huguenin, Nova Friburgo, 2.000)

 

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As montanhas brindaram Nova Friburgo no seu aniversário

segunda-feira, 20 de maio de 2024

Nova Friburgo tem flores...

Céu azul, clima gostoso...

Tem cultura, seus valores

E um progresso virtuoso!

                                             

Nova Friburgo tem flores...

Céu azul, clima gostoso...

Tem cultura, seus valores

E um progresso virtuoso!

                                             

O dia 16 de maio de 2024 chegou em Nova Friburgo cheio de brilho, tornando suas cores mais resplandecentes. A alegria das montanhas movimentou as árvores que acenavam ao povo da cidade e faziam um coro com os ventos vindos do mar. Aves piavam nos galhos, cachorros latiam nas casas, cavalos relinchavam nos pastos, micos e maritacas faziam arruaça nos pinheiros. Foi um dia de festa em que a cidade comemorou 206 anos de vida, um belo tempo feito de amor, esperança e labor.

Moradores desfilavam pela Avenida Alberto Braune, enquanto crianças corriam pelas calçadas. Os friburguenses relembravam o passado das pessoas que participaram da construção da cidade vindas de diferentes lugares do mundo, do Oriente ao Ocidente, que atravessaram rios e oceanos, subiram montanhas em tropas de mulas, fincaram raízes e se puseram a trabalhar nas terras altas e frias da Serra do Mar. Um lugar coberto pelo verde da Mata Atlântica que abrigou os índios, seus primeiros habitantes. De início, a região era uma vasta e densa floresta.

Com orgulho, Nova Friburgo festejou seu aniversário com as portas abertas. Acenou com reconhecimento e respeito aos antepassados pelos esforços empreendidos. Salve os indígenas, africanos, portugueses, suíços, alemães, italianos, espanhóis, libaneses, japoneses, húngaros e austríacos! Salve os brasileiros! Foram povos que desenharam a cidade com força e suor, queijos e chocolates, comidas típicas e artesanato, fábricas e edificações, hotéis e clubes de futebol, danças e cantos.

Desde sempre Nova Friburgo acorda cedo para trabalhar. É também um lugar festeiro e acolhedor a quem aqui chega para sentir o cheiro da natureza, degustando boa comida, vinhos e cervejas ao som das matas ainda preservadas e das águas que correm sobre seu solo. É um lugar habitado por pessoas corajosas, capazes de enfrentar as intempéries da natureza.

Suas montanhas relembravam o passado cheio de conquistas e lembranças saudosas, como a da Maria Fumaça que cantava “Café com pão! Café com pão! Café com pão!”, enquanto subia e descia a montanha carregada de alimentos, correspondências e encomendas, levando e trazendo moradores, vendedores e turistas, transportando pessoas que precisavam das matas friburguenses para curar seus males. 

Quando o sol se pôs e a lua clareou o céu, as montanhas viraram trovadoras e começaram a declamar suas trovas.

    Amor à primeira vista                                     Os povos foram chegando,

                   Friburgo tem qualidade                                  ficaram aqui raízes

                  E quando chega... o turista                             e a cidade alegrando

        Sai morrendo de saudade!                             Com as pessoas felizes!

 

Do Oriente ao Ocidente,                                      Nas terras altas e frias

  Venceram rios e mares,                                     em meio a serra do mar,

    e aqui foi chegando gente                                  a esperança abriu as vias

         que ergue na terra os seus lares                       para a terra prosperar

 

Com vasta densa floresta,                                Trazia correspondências,

   No verde da Mata Atlântica                              encomendas e alimentos...

                 Com a paisagem de festa                                Trazia até influências

Tornou-se a vila romântica                              que despertava talentos...

 

O trem subia e descia

E trazia as novidades...

E a fumaça de maria

Perfumada de saudades...

 

Esta coluna homenageia a trovadora friburguense Elisabeth Souza Cruz.

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O amor materno

segunda-feira, 13 de maio de 2024

O amor de mãe para filhos — sequência eterna de uma geração a outra — alimenta amor através do tempo, fazendo com que esse afeto engrandeça o sentimento da humanidade. Segundo Cora Coralina, declara em seus versos: “a mulher tem o tom divino de ser mãe”

O amor de mãe para filhos — sequência eterna de uma geração a outra — alimenta amor através do tempo, fazendo com que esse afeto engrandeça o sentimento da humanidade. Segundo Cora Coralina, declara em seus versos: “a mulher tem o tom divino de ser mãe”

Cada dia que passa, tenho mais certeza de que o amor materno que recebemos é fundamental para que nos relacionemos com as pessoas durante a vida, além da inteligência e da criatividade. A mãe oferece ao filho a primeira oportunidade de amar, enquanto estima especial e individual. Toda mãe possui um modo particular de acolher sua criança, que percebe e sente esse abrigo de uma forma única. Estão no âmago dessa relação as bases do inconsciente que passam a respaldar a construção da história de vida de ambos, em elos que vão se entrelaçando de momento a momento, como relações de causa e efeito. 

Mãe e filhos se retroalimentam e se modificam. A mulher não é a mesma depois que tem cada um dos seus filhos, como também estes trazem as características da mãe, que se presentificam na maneira de ser ao longo de suas vidas. É uma relação intrínseca, tão íntima que a criança oferece seu afeto à mãe, mesmo que de maneira silenciosa, capaz de fazer o que for possível para tê-la a seu lado, posto que a mãe é percebida como fonte de vida e alegria. Muito mais do que uma forma de buscar o aconchego uterino, é um gesto de agradecimento por existir. 

Saint-Exupéry idealizou o Pequeno Príncipe quando viajava de trem para a Rússia e viu uma criança adormecida no colo da sua mãe. Ele guardou a imagem na memória e, tempos depois, quando exilado nos Estados Unidos, a desenhou. Foi uma imagem tão forte que, inicialmente, transcendeu suas palavras. E, somente em profundo estado de tristeza em decorrência da Segunda Guerra Mundial, escreveu num dos mais sensíveis textos literários do século passado. Ou seja, o afeto emanado da imagem não o deixou sucumbir.

Os filhos escolhem ou desenham os mais belos presentes para suas mães como uma maneira de expressar seus sentimentos. O amor mantém a grandeza do compartilhamento. Tem vivacidade. Guarda os versos dos poetas, tal qual “Mãe”, de Carlos Drumont de Andrade.

Mãe! São três pequenas letras apenas

As desse nome bendito:

Três letrinhas, nada mais...

E nelas cabem o infinito

E palavra tão pequena

— confessam mesmo os ateus —

É do tamanho do céu

É apenas menor que Deus

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