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Fátima, o dicionário e os diamantes

segunda-feira, 25 de abril de 2022

Volta e meia fazemos uma descoberta, sendo a maioria inesperada. Ah, a surpresa sempre nos pega desprevenidos, não é? Algumas nos fazem bem, outras nem tanto. Não quero ser maniqueísta, limitando o entendimento das coisas como boas e ruins, mas buscando compreender a singularidade delas, as características, os valores e possibilidades que oferecem. Também seus desafios e riscos. Toda palavra um tem peso que não se dilui ao vento. 

Como os dicionaristas sabem disso!

Volta e meia fazemos uma descoberta, sendo a maioria inesperada. Ah, a surpresa sempre nos pega desprevenidos, não é? Algumas nos fazem bem, outras nem tanto. Não quero ser maniqueísta, limitando o entendimento das coisas como boas e ruins, mas buscando compreender a singularidade delas, as características, os valores e possibilidades que oferecem. Também seus desafios e riscos. Toda palavra um tem peso que não se dilui ao vento. 

Como os dicionaristas sabem disso!

Pois bem. Conheci-o na escola, que logo me pareceu um livro chato, daqueles que a gente tinha de procurar palavras não conhecidas. Quem está aprendendo a ler e a escrever tem dificuldades para achar palavras naquelas páginas finas, escritas em letra pequena. Ainda mais complicado era entender o significado delas. Quantas vezes minhas colegas e eu procurávamos uma e mais outra para entender a primeira. Olha que naquela época, para mim, dicionário e castigo poderiam ser sinônimos.

Contudo, um dia notei que havia um jeito bonito de escrever, que uma frase, um bilhete ou mesmo uma poesia poderiam ser escritos de diversas formas. Fiz esta descoberta quando estava em plena adolescência porque tinha uma amiga que escrevia poesias e, ao lado de cada, desenhava algo. Como várias amigas de colégio, resolvi imitar a Fátima. Comprei um caderno e me pus a poetar e a desenhar. Aí, comecei a ter vontade de buscar outras palavras para substituir as que tinha escrito e, assim, sem esperar, estava com o dicionário nas mãos, folheando suas páginas, sentindo, surpreendentemente, o prazer de usar palavras que nunca tinha escutado ou lido. Ou mesmo viajar nos sentidos que cada palavra tinha. O dicionário, naquela época, se tornou uma interessante brincadeira.

Com a coletânea das unidades lexicais da língua portuguesa nas mãos, eu entreabri meus interesses. No final da adolescência já não parava de escrever. Dos diários à poesia, o dicionário se tornou um companheiro, até porque fui percebendo que a cada palavra pesquisada estava diante de um universo de sentidos e ideias. Assim, fui timidamente adentrando o imaginário, dentro do qual poderia permanecer por um longo ou pequeno tempo, porventura por um relampejo de segundo. O dicionário me fez sentir a beleza e o prazer de imaginar, de criar histórias e textos. De escrever.

Subitamente, constatei que habitamos em palavras, ou melhor, as palavras nos preenchem. Ou bem melhor ainda, somos feitos de palavras, a começar pelo nome. Estamos mergulhados num universo civilizatório composto por linguagens; onde todos os gestos, palavras, imagens é transposto ao pensamento, que é construído por palavras e frases. É preciso compreendê-las para entendermos que estamos vivendo, o que muitas vezes não acontece. O dicionário nos é esclarecedor, inclusive nos ajuda a revelar os mais profundos sentimentos, as mais estapafúrdias ideias, muitas geniais. Woody Allen é mestre em engendrá-las no texto e transpô-las à tela do cinema.

A sessão de psicoterapia se desenvolve através da palavra, que nos permite interpretar as imagens dos sonhos, as linguagens corporais, os sentimentos, especialmente aqueles que aparentemente se apresentam como indefinidos. Enfim, a palavra sempre foi o diamante das civilizações. Infelizmente, não é considerada como joia rara, apesar de estar por todas as partes. Quero exaltar a palavra “bem-dita”, a que exatamente expressa a ideia real ou fantasiosa que ilumina a cada instante o pensamento. A que diz o que se pretende dizer. A que mostra o que é preciso mostrar. A verdadeira. A que não ´vulgar.

Para terminar, deixo uma sugestão ao amigo leitor: busque o significado das palavras que, agora, definem você.

Escrevi este texto pensando em tambor, instrumento musical usado em várias culturas. Ora pois, o tambor é cosmopolita! Estou com uma vontade imensa de viajar, de voltar a Amsterdã com minha filha, para nos deitarmos na rua, olharmos para céu e sentirmos a liberdade das nuvens vagarem tarde afora.

Salve o dicionário! 

 

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

Deputado Waldir Costa em 2 comissões na Assembleia

sábado, 23 de abril de 2022

Edição de 22 e 23 de abril de 1972
Pesquisado por Thiago Lima

Manchetes:

Edição de 22 e 23 de abril de 1972
Pesquisado por Thiago Lima

Manchetes:

  • Deputado Waldir Costa em duas comissões técnicas da Assembleia Legislativa - Em reconhecimento ao prestígio e a capacidade do ilustre e querido delegado dos friburguenses junto ao legislativo fluminense, foi eleito para duas importantes comissões técnicas permanentes da assembleia, o dr. Waldir Costa, operoso deputado estadual. Integrando as comissões de saúde, higiene e segurança do trabalho, e a de redação, o “Bisturi de Ouro” continua consagrado pelos seus pares, sendo respeitado por todos os colegas, e, real e efetivamente prestando relevantíssimos serviços ao Estado do Rio de Janeiro.
  • Independência - O governo municipal realizou imponentes festividades comemorativas deste 21 de abril, Dia de Tiradente, sendo de assinalar-se, também, ato cívico no pátio interno do seu edifício com entrega solene das bandeiras nacionais inservíveis ao Sanatório Naval. Houve também o hasteamento das novas bandeiras e dissertação sobre Tiradentes com o dr. Messias de Moraes Teixeira e discurso sobre o sesquicentenário com o dr. Feliciano Benedicto da Costa.
  • “Golpe” premeditado da Autarquia da Água - Tem sido enorme o número de cartas, ofícios e telegramas recebidos pelo prefeito Feliciano Costa, felicitando o diligente e querido homem público pela atitude definitiva e máscula que tomou fazendo terminar o “golpe”  premeditado, traiçoeiro e desabusado com que a Autarquia da Água desejou explorar o bolso dos friburguenses. A reação do Executivo Municipal resultou rigorosamente no estabelecimento do ponto de vista que este jornal defende há mais de dois anos. Calou esplendidamente no espírito da população local, já cansada de ser lesada em seus legítimos interesses, além de grosseiramente tratada pelos “estrangeiros” da água que davam cartas e jogavam de mão, como se Friburgo fosse casa sem dono… 
  • XI Convenção Distrital do L-3 - Com a participação de mais de mil convencionais, Friburgo vai abrigar a XI Convenção Distrital do Lions Clube, comemorativa do 20º ano do leonismo brasileiro. Um programa realmente sensacional será levado a efeito, salientando-se, a Festa da Juventude - Dia do Escoteiro, e almoço de congraçamento leonístico, devendo participar do último, além dos integrantes da convenção e suas domadoras, autoridades civis, militares e eclesiásticas. Um desfile monumental com a participação de bandas de música, leões domadoras e escoteiros, acrescido de uma série de atrações em homenagem às autoridades e ao povo friburguense dará encerramento ao programa que o Lions de Nova Friburgo oferecerá aos companheiros que aqui vierem para prestigiar as festividades. A afamada banda marcial do Instituto Abel, de Niterói, animará o desfile, com evoluções de rara beleza e excelente harmonia de conjunto. 

Pílulas:

  • A famigerada e “famélica” Autarquia Municipal de Água que tanto abusara, impunemente, dos governos passados, viu agora “com quantos paus se fabrica uma cangalha”. Com a boca torta pelo uso do cachimbo, aqueles que, mui justamente classificaremos de "estrangeiros da água” puderam sentir que o atual prefeito não é de brincadeira e nem está no cargo para acomodações… 
  • A opinião pública friburguense exultou com a atitude máscula do prefeito Feliciano Costa, que tornou sem efeito a aladroada tabela sobre o consumo de água da população, fazendo voltar à estaca zero a tarifação anterior. Mas a coisa não ficou somente na anulação da estúpida majoração, já que o administrador friburguense denunciou o convênio com a Amae (de tristíssima memória) o que quer dizer que o serviço de captação e distribuição do precioso líquido será absorvido totalmente pela municipalidade. Bravos, bravíssimo! Prefeito Feliciano Costa! 

E mais… 

  • Grande homenagem que o presidente da República Portuguesa está prestando ao Brasil, trazendo pessoalmente, a urna contendo os restos mortais do nosso Imperador Dom Pedro I… 
  • De fiscal de renda para auditor… 
  • W. Robson falou e disse! É preciso peito! 

Sociais:

  • A VOZ DA SERRA registra os aniversários de: Léa Goulart Rocha (15); Mônica Neves e Ednéia Heringer (23); Antonio Vanzzilotta Dotino e Rudolf Ihns (24); Mathilde Carpenter Meyer e Kátia Fabris (26); George Henze e Rogério Bastos (27); Adelina Leal Pinto (28); Miriam Fátima Kato e Carlos Henrique Macário (29).
Foto da galeria
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As canções que você fez para mim

sábado, 23 de abril de 2022
Foto de capa
(Foto: Pexels)

Minha mãe tinha todos os LPs do Roberto. Na verdade, o único que ela não tinha era o primeiro: “Louco Por Você”. Uma raridade. A editora Columbia lançou apenas mil cópias e o Rei Roberto jamais permitiu que o álbum de 12 músicas fosse reeditado ou mesmo que suas canções fossem colocadas no streaming. 

Minha mãe tinha todos os LPs do Roberto. Na verdade, o único que ela não tinha era o primeiro: “Louco Por Você”. Uma raridade. A editora Columbia lançou apenas mil cópias e o Rei Roberto jamais permitiu que o álbum de 12 músicas fosse reeditado ou mesmo que suas canções fossem colocadas no streaming. 

Muito mais pelo valor documental do que pela qualidade das canções, a tiragem original de 1961 (mesmo ano de nascimento da minha mãe) é um dos discos mais caros do mercado fonográfico brasileiro. Mamãe, costureira vinda da pobreza da roça, jamais pode comprar esse disco, mas juntava seu dinheirinho para ter cada lançamento. Tinha todos os demais e herdei cada um deles, guardados comigo como parte de minha presente saudade.

Quando começaram a reeditar os discos em CD, mamãe também começou a colecionar os do Rei. Mas o CD não tem graça diante da magia do vinil. A capa grande e robusta. O plástico transparente que protege o patrimônio para evitar que arranhe.  O brilho preto com as faixas visíveis em relevo. Um quase êxtase colocar o borrachudo na vitrola e com cuidado repousar a agulha na primeira faixa. Enquanto roda no encontro com o toca-discos, o tempo passa e as músicas — mesmo as não preferidas — são apreciadas com a devida sensibilidade de quem para diante da poesia que o mundo despeja em nós.

Tarefa árdua, mas prazerosa é encaixar a agulha no ponto certo da canção desejada. E repeti-la e repeti-la de novo até “afundar” aquela faixa. Coração apaixonado é bobo mesmo. 

Talento para parar a canção no ponto exato tinha a saudosa Mirtes de Oliveira. Além de discotecária do excepcional acervo que tinha a Rádio Friburgo AM, ela fazia as de operadora de áudio. Havia um programa que tinha a promoção, por telefone, em que o ouvinte tinha que continuar a música. Mirtes conseguia parar quantas vezes fossem necessárias no mesmo lugar da faixa que estava no roteiro da atração. Mais do que saber as faixas, ela sabia onde estava cada um dos mais de 10 mil vinis, com inúmeras raridades, incluindo o primeiro disco do Roberto. 

Legado de cuidado que foi mantido por Alcemir Rodrigues, até que a Emissora das Montanhas resolveu doar todos os discos. Alguns foram para os funcionários. Conta a lenda que o primeiro disco do Roberto Carlos ficou com Carlos Reis, funcionário quase que desde a fundação. Outros foram para o Pró-Memória. Além dos LPs, foram doadas também as máquinas de gravar vinis que os abnegados funcionários da Rádio conseguiram guardar com esmero por longos anos. Para se ter uma ideia da grandeza dessa coleção, a discoteca da Rádio Cipó só perdia para a da Rádio Globo, no Estado do Rio de Janeiro.                        

A música movimenta o mundo. Seduz nossas nostalgias. Alimenta as nossas memórias. Para além do que se ouve, o objeto, o plástico preto, exponencia esses sentimentos, pois tem todo um ritual que o streaming não entrega. Ritual esse que a contemporaneidade, com sua pressa, trata de tentar extirpar. Mas a saudade, a resistência e a vontade de viver aquilo que não se viveu, faz jovens há menos ou mais tempo, trazer de volta essa magia.    

Independente disso, também não sejamos radicais. Não importa se por vinil, CD, DVD, MP3 ou streaming, a música é a poesia que inunda a alma. Faz nossas efêmeras existências serem mais prazerosas, ainda que vez ou outra mais doídas. E a música é que dá esse toque de amenidade ou perversidade para cada instante. Afinal, o que seria dos romances sem música? O que seria de qualquer história sem uma trilha sonora? O que seria de nós? 

A música dá o tom para a aventura, ritmo para os dias. Intérpretes e canções marcam nossa trajetória. É como se dessem razões para as nossas biografias e encontros, ao ponto que, algumas músicas parecem até que foram feitas para nós. Por que não? Somos adeptos a vestir fantasias e ninguém pode arrancar as fantasias que nos damos. Obrigado, Roberto Carlos, pelas canções que fez para a minha mãe. 

 

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Crédito Programado

sábado, 23 de abril de 2022

Entender o contexto das suas finanças e estudar as diferentes possibilidades de crédito são pontos fundamentais no processo de planejamento de dívidas. Compreender como diferentes modalidades são aplicadas em seu planejamento financeiro e como funcionam os processos de contratação, cálculos de juros e amortização, relacionamento com instituições financeiras e quitação vão ser o grande diferencial para equilibrar suas finanças e te possibilitar manter uma relação saudável entre o dinheiro e você.

Entender o contexto das suas finanças e estudar as diferentes possibilidades de crédito são pontos fundamentais no processo de planejamento de dívidas. Compreender como diferentes modalidades são aplicadas em seu planejamento financeiro e como funcionam os processos de contratação, cálculos de juros e amortização, relacionamento com instituições financeiras e quitação vão ser o grande diferencial para equilibrar suas finanças e te possibilitar manter uma relação saudável entre o dinheiro e você.

Em contrapartida, dívidas urgentes – e não programadas – tendem a cobrar um preço mais alto: tanto pelas taxas de juros, quanto pelos impactos negativos decorrentes da ausência de planejamento. A propósito, como acabamos de falar em juros, você já ouviu falar em CET? Custo Efetivo Total é o que, de fato, você paga pela contratação do crédito. Neste cálculo, são incluídos fatores além dos juros e podem ser decisivos na sua relação com a dívida. Imagine, a simples efeito de simplificação, um produto com 25% de juros ao ano, mas com 38% de CET: a venda deste torna-se favorável, mas o tomador vai arcar com altos custos ainda não conhecidos, então é sempre importante solicitar as devidas simulações da operação. E também, é claro, prestar muita atenção à desonestidade de bancos e alguns de seus funcionários com as clássicas vendas casadas; um grande vilão das suas finanças.

Por estes e outros motivos, é muito importante estudar o seu contexto e como você pode fazer da dívida uma alavanca para a qualidade de vida – e não o contrário. Portanto, separei alguns fatores importantes a serem esclarecidos para todos os que pretendem manter em dia a saúde das finanças pessoais. Fique com as dicas.

  • Contexto Profissional: analise a segurança da sua fonte de renda e defina uma estratégia – caso julgue necessário – caso a renda sofra alterações.
  • Contexto Financeiro: aqui, deixo um questionamento simples: agora é o melhor momento para se comprometer com uma dívida?
  • Estudar o Produto de Crédito: este ponto é fundamental para a decisão correta. Defina qual produto recorrer e estude o contrato de diferentes instituições financeiras para identificar a melhor opção para o seu bolso. Taxa de juros, Custo Efetivo Total, possibilidades de quitação e amortização e as circunstâncias em caso de inadimplência são pontos essenciais a serem analisados.

         É grande a responsabilidade de assumir dívidas e o planejamento ainda não acabou: chegou a hora de escolher qual o produto de crédito mais condizente com as suas necessidades.

  • Financiamento: o modelo de crédito direcionado a alguma atividade específica (automóveis, imóveis, maquinário de empresas) torna o crédito mais barato devido à segurança da instituição financeira em receber a garantia em caso de inadimplência.
  • Empréstimo Pessoal: o crédito para uso livre tem seu preço e costumam encarecer o produto. Portanto, fique atento, pois o crédito pessoal também apresenta diferentes possibilidades e há alternativas de encontrar produtos com taxas de juros menores.
  • Cartão de Crédito: o crédito para uso imediato, precisa estar em constante comunhão com o seu orçamento. Este pode ser um ótimo produto caso seja usado com consciência; portanto, evite parcelar tudo o que aparecer pela frente.
  • Cheque Especial: este é o produto de crédito mais utilizado pela população brasileira e, por coincidência ou não, também é o mais caro. A recomendação aqui é utilizá-lo apenas com a certeza de quitação em poucos dias.

Agora você está preparado para assumir a responsabilidade da contratação de crédito com mais inteligência financeira; use isso a seu favor.

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A tal da empatia

sábado, 23 de abril de 2022

Empatia: no dicionário é definida como a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria; compreensão. Você tem a habilidade da compreensão? O lugar do outro te parece confortável?

Empatia: no dicionário é definida como a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa, buscando agir ou pensar da forma como ela pensaria ou agiria; compreensão. Você tem a habilidade da compreensão? O lugar do outro te parece confortável?

Apenas com o recorte daquilo que se vê, muito pouco ou quase nada de alguém, é possível exercitar ocupar, ainda que em pensamentos, esse lugar? Com dores, amores e dissabores. Parece fácil ir a um lugar que não é seu avistar paisagem bonita, jardim frondoso, experiência próspera, ao passo de que se faz muito difícil ir até lá se o terreno lhe parece arenoso, encoberto de tristeza e dor. E diante disto que é uma certeza, é possível fingir que nada acontece e viver em uma simbólica ilusão de que tudo está bem quando na verdade o caos habita se não nos nossos lares, nos dos vizinhos, nos vizinhos dos nossos vizinhos e por aí vai.

Você conseguiria ainda exercitar a empatia imaginando a dor de quem não ama? Me parece mais simples compreendermos pelo amor, entendermos melhor quem gostamos, nos colocar nos lugares das pessoas queridas. E dos demais? E quanto aos estranhos, aqueles sobre os quais nada sabemos, com quem nunca trocamos, que nada têm a nos oferecer? Conseguimos nos colocar em seus lugares? Alcançamos a dor de um filho que perde um pai? De um colega que perde o emprego? De uma pessoa enferma no leito de um hospital? De alguém que se separa? Que sofre de uma doença psíquica? Que se sente só? Destilamos atos de compreensão por todos ou seguimos com uma bondade seletiva que pouco ou nada vê além de nós mesmos?

Não faça aos outros, aquilo que não gostaria que fizessem com você. É tão simples assim como parece? Deveria ser. Comumente vivemos situações embaraçosas, desconfortáveis, angustiantes e sentimo-nos tristes e sobrecarregados. Situações essas que não raras vezes poderiam ter sido evitadas se nossos interlocutores da vida pensassem em evitar fazer às pessoas aquilo que abominariam que impusessem a elas. Seria bem mais fácil.

Mas, se coabitamos o mesmo planeta, talvez todos já tenhamos entendido ou estejamos próximos de compreender, que essa interação de mentes, de gente, de egos e valores, não é tão simples assim. Não é premissa básica uníssona que evitar impor aos outros, coisas que detestaria que nos impusessem, pode minimizar o sofrimento e o estresse do próximo. É importante até mesmo considerar que sendo múltiplos, não necessariamente partilhamos de dores semelhantes, de modo que às vezes o agir inconsciente atropela qualquer raciocínio sobre o estado de espírito dos receptores de nossas condutas por eles recepcionadas como negativas.  E por aí vai.

Carecemos de uma percepção mais inteligente. Emocionalmente mais inteligente, que considere também os outros, a sociedade como um todo e mesmo o planeta. Talvez devêssemos perceber que há questões que de maneira geral ferem, causam transtorno, prejudicam e geram sofrimento. Não é tão difícil supor que determinadas ações magoam, desestabilizam, deixam as pessoas em apuros de várias ordens.

Gostaria muito que fosse tão simples quanto parece. Que escolher ser pessoa leve fosse tudo de que precisássemos para efetivamente estarmos envoltos pela leveza todo o tempo. Às vezes, o é. Mas como não vivemos em uma bolha e nossas energias se entrelaçam com as dos outros o tempo todo, passa a ser uma arte e uma habilidade diferenciada sabermos nos defender da negatividade, da injustiça, da grosseria, da sobrecarga que nos impõem e ainda assim, seguirmos gratos e sem disseminar o mesmo nível de pensamentos, sentimentos e condutas por aí.

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O lado saudável e doentio de nossa personalidade

quinta-feira, 21 de abril de 2022

O relacionamento entre pessoas com algum grau de intimidade pode não ser fácil quando se esbarra nas diferenças inevitáveis, sejam ligadas ao gênero – masculino e feminino, ou à geração, necessidades pessoais, e devido a problemas pessoais ainda não resolvidos.

Morrer para o eu e ao mesmo tempo manter os aspectos saudáveis da individualidade e da personalidade também é um desafio. Requer anos de experiência prática na vida para adquirirmos o equilíbrio entre estas duas atitudes.

O relacionamento entre pessoas com algum grau de intimidade pode não ser fácil quando se esbarra nas diferenças inevitáveis, sejam ligadas ao gênero – masculino e feminino, ou à geração, necessidades pessoais, e devido a problemas pessoais ainda não resolvidos.

Morrer para o eu e ao mesmo tempo manter os aspectos saudáveis da individualidade e da personalidade também é um desafio. Requer anos de experiência prática na vida para adquirirmos o equilíbrio entre estas duas atitudes.

Cada pessoa possui um lado saudável que é a parte da personalidade que funciona bem. O lado saudável da personalidade é o que tem bom equilíbrio, é razoável (usa a razão), tem ética, respeita limites próprios e dos outros indivíduos, não invade, evita controlar as pessoas, respeita.

Este lado precisa ser considerado tanto pela própria pessoa a fim de que ela não se desvalorize e se deprecie injustamente, assim como pela pessoa com quem ela convive. É possível olharmos para o lado saudável de alguém sem negar que existe também o lado “sombrio”, complicado, limitado, presente em todos nós.

Jesus era uma Pessoa que procurava sempre olhar o lado saudável das pessoas e mesmo quando se tratava de alguém descontrolado, complicado, possesso, promíscuo, ainda assim Ele Se concentrava no que aquele indivíduo viria a ser caso se sujeitasse aos princípios de comportamento saudável que Ele apontava e se aceitasse Seu oferecimento de ajuda pessoal.

Podemos aprender para fazer o mesmo em nossos relacionamentos. Ou seja, quando estivermos lidando com o lado complicado de alguém, quando este lado complicado estiver em ascendência no nosso contato com a pessoa, podemos dar dois passos para trás, evitar brigar e querer que a pessoa se comporte como desejamos, evitar também que ela abuse de nós, e tentar olhar o lado positivo dela.

Pessoas reivindicam coisas certas de maneira equivocada, ou seja, há pessoas que pedem coisas em seus relacionamentos, conjugal (esposo-esposa), filial (pais-filhos), paternal (filhos-pais), empregatício (patrão-empregado), que são boas em si e necessárias para que aquele tipo específico de contato humano ocorra com bem-estar, só que fazem isto de uma maneira que destrói o próprio contato ao invés de construí-lo. E isto pode se tornar um padrão de comportamento não saudável em pessoas que possuem, como todas, o lado saudável, normal.

Há um lema usado em grupos de ajuda, como o AA, Al-Anon, que diz assim: “Que comece por mim.” Isto significa que ainda que a outra pessoa com quem você convive tenha seu lado complicado, como todos temos, procure começar consigo mesmo o processo de melhorar seu comportamento em vez de esperar que ela compreenda seus problemas e mude também. Pode ser que ela vá compreender e aceitar que também tenha problemas e procurar mudar, mas pode ser que não, porque há pessoas bem defensivas que resistem a qualquer mudança.

Manifeste apreciação pelo lado saudável da outra pessoa sempre que tiver oportunidade para isto. Quem sabe assim ela irá, finalmente, admitir que ela também tem o lado complicado, e decidir trabalhar para resolvê-lo. Mas se mesmo assim ela permanecer na negação e auto-engano, isto será um problema dela. Siga sua vida pedindo ao Criador para ampliar os aspectos saudáveis de sua personalidade e eliminar o lado ruim, por causa de uma decisão e pedido seu.

 

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Gasolina alta: um fenômeno mundial ou local?

quinta-feira, 21 de abril de 2022

O custo de vida que outrora já não estava barato, ficou em uma situação ainda mais complicada com os muitos eventos globais e locais, em crises, como: a pandemia da Covid-19, aumento do valor do dólar e a insegurança com a guerra entre Ucrânia e Rússia. Não somente nós somos os afetados por todo esse movimento de oscilação de preços, mas o mundo como um todo.

O custo de vida que outrora já não estava barato, ficou em uma situação ainda mais complicada com os muitos eventos globais e locais, em crises, como: a pandemia da Covid-19, aumento do valor do dólar e a insegurança com a guerra entre Ucrânia e Rússia. Não somente nós somos os afetados por todo esse movimento de oscilação de preços, mas o mundo como um todo.

Os preços dos combustíveis vêm assustando motoristas brasileiros – e gerando reflexos por toda economia. Afinal de contas: você tem alguma noção se o aumento estrondoso do valor dos combustíveis é um fenômeno mundial ou apenas local?

A realidade que pesa no bolso

Um novo levantamento feito pelo site de consultorias, Global Petrol Prices, indica que o preço da gasolina no Brasil está 15% acima da média praticada em 170 países do mundo. Assim, o valor da gasolina brasileira está entre uma das mais caras do mundo.

De acordo com a pesquisa, o valor de custo da gasolina, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP), nos postos brasileiros custa R$ 7,19 enquanto a média mundial é de R$ 6,29. Nas nossas montanhas, os friburguenses e moradores da região tem se deparado com a gasolina comum próxima a marca dos R$ 8, o litro, visto que moramos no interior do estado com uma das gasolinas mais cara do país.

Por outro lado, é importante vermos que o levantamento feito pela Global Petrol Prices, não leva em conta o poder de compra da população – ou seja, quanto a população ganha e o quanto pode gastar com combustíveis - fazendo com o que a situação brasileira seja ainda mais delicada.

Considerando um trabalhador brasileiro que ganha um salário mínimo – o que representa grande parte da população - a sua situação é ainda mais delicada. O custo para se encher um tanque de 40 litros compromete quase 25% da renda total de maior parte dos brasileiros.

Para quem mora próximo às fronteiras, uma alternativa tem sido sair do país em viagem, reabastecer por lá e voltar com o tanque cheio para economizar. Bem ao nosso lado, na Argentina, a situação é diferente e o brasileiro têm feito filas na Ponte Internacional, que liga o Rio Grande de Sul ao país vizinho.

Mesmo após um aumento de quase 10% no custo dos combustíveis, a gasolina comum está sendo vendida, na Argentina, à um valor de incríveis R$ 3,30. Mas será que esse valor está alto para os hermanos? O custo para encher o mesmo tanque de 40 litros de um trabalhador que ganha um salário mínimo lá, corresponde somente a 10% da renda dele. A gasolina, de fato, aumentou de preço no mundo, contudo, os dados apontam que os custos dos combustíveis estão pesando demais nos bolsos brasileiros.

Recorde após novo aumento

O preço médio da gasolina nacional na última semana chegou ao patamar de R$ 7,49, o mais alto já registrado em todo o país. As informações foram coletadas pela empresa ValeCard, que monitora mais de 25 mil postos de combustíveis por todo Brasil.

E o etanol, que é um substituto da gasolina para muitos brasileiros, e ainda compõe quase 25% do combustível comum também sofreu com os aumentos. De acordo com especialistas, o aumento do preço se dá porque mais brasileiros têm procurado o produto, diminuindo assim, sua disponibilidade no mercado.

Não é de pouco tempo para cá que a gasolina vem subindo. Ocorre que de centavinhos em centavinhos, o aumento acumulado pesa ao nosso bolso a cada mês que passa. De acordo com informações, o combustível que custava, em média, R$ 5,73 em abril do ano passado, sofreu uma alta de 30,7% nos últimos 12 meses.

Mesmo buscando os melhores preços, os brasileiros ainda sentem muito no bolso, o alto custo de encher o tanque do seu automóvel. Thamara Lopes, empresária friburguense relata que necessita do carro para se locomover até clientes, colaboradores e fornecedores, contudo o alto dos combustíveis a fazem repensar sobre o uso dos transportes.

“Os frequentes aumentos impactam no orçamento familiar ao final do mês. Seria um dinheiro que poderia ser empregado em outro lugar. O aumento da gasolina tem interferido não somente nas bombas, mas no custo de todos os produtos que consumimos. Chegamos a um ponto de resignificar se as caminhadas longas fazem bem não somente para a saúde, mas também para o nosso bolso!”

Dia após dia, o brasileiro sente pesar no orçamento familiar o custo de um dos combustíveis mais caros do mundo, especialmente para quem necessita de veículo para trabalhar. Nos momentos atuais, todos nós estamos aguardando ansiosamente por uma redução no valor cobrado pelos combustíveis para que possamos respirar - um pouco, quem sabe - dentro do orçamento familiar.

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Dinheiro do petróleo chega aqui

quarta-feira, 20 de abril de 2022

Dinheiro do petróleo chega aqui
Nova Friburgo recebeu R$ 3,157 milhões em royalties de petróleo, só em março deste ano, segundo o Centro de Informações de Petróleo e Gás Natural (Cipeg) do Serviço Geológico do Estado do Rio (DRM/RJ). A alta do preço do barril aumentou a distribuição para todos os municípios, incluindo os não produtores. A faixa de recebimento de Nova Friburgo é igual aos municípios de Petrópolis e Teresópolis.

Dinheiro do petróleo chega aqui
Nova Friburgo recebeu R$ 3,157 milhões em royalties de petróleo, só em março deste ano, segundo o Centro de Informações de Petróleo e Gás Natural (Cipeg) do Serviço Geológico do Estado do Rio (DRM/RJ). A alta do preço do barril aumentou a distribuição para todos os municípios, incluindo os não produtores. A faixa de recebimento de Nova Friburgo é igual aos municípios de Petrópolis e Teresópolis.

Aumento considerável
Para se ter uma ideia do quanto o valor é expressivo, há 11 anos, Nova Friburgo recebeu por todo o ano de 2011 a quantia de R$ 8,693 milhões. A alta inflação, como defendem especialistas, beneficia principalmente a arrecadação pública. Neste ano de 2022, Nova Friburgo tem a previsão da sua maior arrecadação da história, um aumento de R$ 120 milhões em comparação a 2021 e de quase R$ 150 milhões em comparação a 2020.

Melhores tempos para a arrecadação municipal
A pandemia que aumentou as despesas federais e estaduais, foi “benéfica” para os gastos municipais. Basta observar que no ano passado, por exemplo, com escolas fechadas, houve menos despesas com energia elétrica, não houve despesa com transporte escolar e gastos pequenos com merenda escolar, apenas revertendo parte para aquisição de cestas básicas para alunos de famílias de baixa renda. Portanto, o cenário do ponto de vista financeiro para Nova Friburgo é o melhor em muitos anos. Há espaço para investimentos, como em muito tempo não houve. Será que está aproveitando ou aproveitou-se bem a oportunidade?      

Longe dos produtores
Voltando a arrecadação com a distribuição de recursos de petróleo e gás, ainda que o número de Nova Friburgo tenha aumentado consideravelmente, o município está longe de receber o que os produtores recebem. Maricá segue na liderança absoluta. Em março recebeu R$ 197 milhões só com a distribuição de royalties. Saquarema é o 2º com R$ 157 milhões, seguido de Macaé (R$ 119 milhões), Niterói (R$ 87 milhões) e Campos (R$ 56 milhões). Rio das Ostras, outrora grande recebedora de royalties, recebeu (R$ 21,9 milhões) atrás de cidades praianas vizinhas como Cabo Frio, Búzios e Arraial do Cabo.

Crescimento segue
Corroborando com as altas de repasses até para municípios não produtores como Nova Friburgo, estimativas da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), considerando os recentes aumentos do barril e as variações de câmbio, o Estado do Rio deve crescer 85% em arrecadação com royalties de petróleo e gás. O Estado recebeu perto de R$ 8 bilhões em 2021, poderá receber mais de R$ 14 bilhões, em 2022.

Municípios ganham
Assim a Firjan avalia que os municípios fluminenses poderão ter um acréscimo na arrecadação de royalties na mesma ordem de grandeza do Estado, ou seja mais de R$ 15 bilhões. No ano passado, as cidades do Rio de Janeiro receberam mais de R$ 8 bilhões em royalties.

Alerta pertinente
Karine Fragoso, gerente de Petróleo, Gás e Naval da Firjan, no entanto, alerta que não se deve esquecer que esse mercado é cíclico, com altos e baixos, conforme a produção e a conjuntura internacional. “Esses recursos podem e devem ser usados para estimular as economias locais, a partir do desenvolvimento das cadeias de valor e de produção dos mercados de óleo e de gás natural”. Cá entre nós, algo que Rio das Ostras, por exemplo, não fez no tempo de maior bonança.

Novas energias
A gerência de Petróleo, Gás e Naval da Firjan defende que esse aumento de quase 85% é uma oportunidade de se criar um ciclo de crescimento, atraindo investimentos que podem responder às demandas da transição energética com integração de novas fontes e novos agentes, que se desdobrarão em emprego e renda. Ainda que a arrecadação de Nova Friburgo seja pequena diante de municípios produtores uma pergunta não cala: o que Nova Friburgo faz com esse recurso?

Participações especiais x royalties
Já a arrecadação dos municípios fluminenses em participações especiais aumentou de forma consecutiva em quatro dos últimos cinco anos, com crescimento superior a 60% em 2021. No ano passado, 15 municípios do Rio receberam perto de R$ 3 bilhões em participações especiais. Ao contrário dos royalties, que incidem sobre toda produção, as participações especiais são receitas extraordinárias provenientes somente de campos com grande volume de produção, licitados sob o regime de concessão.

Mudança de comportamento
Nos primeiros três meses deste ano, os pedidos online em supermercados saltaram 12% em relação ao mesmo período de 2021. Ainda pouco habitual, mas como legado da pandemia, essa forma de consumo indica um aumento que veio para ficar e já é sentido em Nova Friburgo. Vários supermercados locais, de rede ou não, estão investindo em plataformas virtuais.

Inflação
Como curiosidade, os produtos mais vendidos online no Brasil foram as cervejas long neck, óleo de soja e leite em pó. Apesar do aumento, o ticket médio de compras caiu 4,7% no período. A inflação galopante – avalia-se – é a culpada pela queda nos gastos médios. Não há dados específicos do Estado do Rio ou de Nova Friburgo. Mas sente-se que o município – que não é uma ilha, esteja dentro dessa média.

Palavreando
“A equação da sobrevivência é o amor. A fórmula da vida está na habilidade de amar e se apaixonar. Quem será? Nunca haverá certeza até descobrir. Ser capaz de experimentar até quando não puder mais subtrair. Exige força. Pede atenção. Requer entrega”.

O fim de semana foi de Rock The Montain em Itaipava, distrito de Petrópolis. A volta dos grandes eventos atraiu milhares de pessoas para a cidade serrana, inclusive, friburguenses. Entre as atrações, Caetano Veloso, Gal Costa, Alceu Valença, Silva, entre dezenas de outros artistas da nova música brasileira. Uma grande estrutura foi montada com direito a balão, bug jump e até roda gigante. Quatro palcos, praça de alimentação e tendas culturais. Prova concreta que é possível, realizar um evento de magnitude nacional na região. O festival terá as mesmas atrações no próximo fim de semana de feriadão.

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Uma personagem da minha infância

quarta-feira, 20 de abril de 2022

Tanto a missa quanto o pão doce são capazes desses milagres

Tanto a missa quanto o pão doce são capazes desses milagres

A maior ingratidão é que nem do nome dela eu me lembro. Mas, também, para uma criança de 7 ou 8 anos a pessoa chamar-se João ou Maria, Zezé ou Greta Garbo nenhuma diferença faz. Nem por isso deixa de ser ingratidão. Pois ela foi uma personagem importante no filme da minha infância, nunca protagonista, mas por algum tempo uma figurante de destaque. Morava próximo à nossa casa e, todo domingo, ainda de madrugada, batia levemente na nossa porta (o que agora me faz lembrar os versos daquela “Balada da neve”, de Augusto Gil: “Batem leve, levemente, / como quem chama por mim. / Será chuva? Será gente? / Gente não é, certamente, / e a chuva não bate assim”). Também madrugadora, mamãe já tinha nos acordado e aprontado. E então aquela santa vizinha nos levava de Olaria até o Centro para assistirmos à missa na catedral.

 Íamos a pé, que nenhum de nós tinha dinheiro para o luxo de pegar ônibus, e nem sei se havia ônibus àquela hora. Ela, embora tão ou mais pobre do que nós, talvez pudesse pagar sua própria passagem, mas e as cinco ou seis crianças que ela levava com os cuidados de uma galinha que tomasse conta de pintinhos alheios? Talvez ela sonhasse que daquela ninhada sairia algum santo. No que me diz respeito, reconheço tristemente que esse sonho, se existiu, não se realizou, e só me consola a certeza de que ela não chegou a ver os ralíssimos juros de santidade que resultaram de seus excelsos investimentos em mim. Mas, talvez, quem sabe, algum dos outros meninos pôde compensá-la por aquelas caminhadas nas frias manhãs dos domingos friburguenses.

Não sei por que não íamos à missa numa das igrejas do bairro, tão mais próximas de nossas casas. Duas hipóteses me ocorrem. Pode ser que ela acreditasse que a santidade não se alcança sem algum sacrifício, no que estaria coberta de razão. Veja se Irmã Dulce dormia em palacetes ou se Francisco de Assis andava de carruagem. E o apóstolo Paulo, que teve que cair do cavalo e ficar cego para entrar na linha? Outra possibilidade é que ela queria premiar nosso bom comportamento, e para isso não bastavam as conhecidas padarias do bairro. Uma padaria no coração da cidade, na praça principal... era uma emoção a mais, um acontecimento na vida de crianças tão humildes.

Além do que, provavelmente sacrificando boa parte dos seus ínfimos ganhos de operária, depois da missa ela nos levava à padaria e prodigamente pagava um pãozinho doce para cada um de nós. Era só isso, era tudo, era demais. Voltávamos para casa de alma leve, que tanto a missa quanto o pão doce são capazes desses milagres, quando neles se põe um coração puro e uma barriga vazia.

Só voltei a vê-la muitos anos e muitos pecados depois, quando fui com um grupo de alunos à Casa dos Pobres. Eu a reconheci imediatamente, mas ela apenas me olhou sem me olhar. Marcos nos conta (capítulo 8, versículos de 22 a 26) que Jesus curou um cego em duas etapas e ele só iria enxergar com clareza na segunda delas. Na primeira, disse ter visto os homens e que eles lhe pareciam árvores andando. Então, provavelmente eu era para ela não mais que uma árvore que se mexia no meio de outras árvores inquietas.  E assim eu me afastei, e talvez a velha senhora, cabelos tão alvos, sentadinha no banco, ouvindo as vozes infantis que a rodeavam, vagamente se lembrasse das crianças que ela muito antigamente levava à missa. Não sei se alguma delas foi ou irá para o céu, mas quem as conduzia certamente tem lugar garantido, e será recebida por São Pedro como a Irene de Manuel Bandeira: “Entra, Irene, você não precisa pedir licença”.

 

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O Brasil não é para principiantes

quarta-feira, 20 de abril de 2022

O Brasil mais parece o “samba do afrodescendente ensandecido” que antes da instalação do “politicamente correto”, era chamado de “Samba do Crioulo Doido”, obra do magistral Sérgio Porto, mais conhecido como Stanislaw Ponte Preta. Digo isso porque somos o único país do mundo em que o carnaval vai ocorrer após a Semana Santa. Pelo calendário católico cristão, a quaresma é o período de 40 dias após a festa pagã do carnaval, que termina no Domingo de Páscoa, ápice da Semana Santa.

O Brasil mais parece o “samba do afrodescendente ensandecido” que antes da instalação do “politicamente correto”, era chamado de “Samba do Crioulo Doido”, obra do magistral Sérgio Porto, mais conhecido como Stanislaw Ponte Preta. Digo isso porque somos o único país do mundo em que o carnaval vai ocorrer após a Semana Santa. Pelo calendário católico cristão, a quaresma é o período de 40 dias após a festa pagã do carnaval, que termina no Domingo de Páscoa, ápice da Semana Santa.

 Como na Terra de Cabral os acontecimentos mais marcantes acontecem em São Paulo ou no Rio de Janeiro, e como os desfiles das escolas de samba do grupo especial, nesses estados, serão nesta sexta-feira, 22, e no sábado 23, somado aos pontos facultativos de hoje, 20, e sexta feira, 22, decretados pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro e a prefeitura da capital, teremos os quatro dias de festejos momescos no mês de abril, depois do Domingo de Páscoa.

Claro que algo está por detrás dessa aberração, uma vez que simples desfiles de escolas de samba não deveriam acarretar tamanho disparate. Dizem as más línguas que essa é uma exigência de milicianos e traficantes do Rio de Janeiro, desde que o comando das escolas saiu das mãos dos bicheiros e foi repousar em outras plagas. Pelo sim pelo não, é muito estranho que tanto o governador do Estado como o prefeito carioca aceitem pressões de quem quer que seja, principalmente, quando o país está saindo de uma grave crise financeira. Afinal, foram dois anos em que a economia mundial como um todo e a brasileira, em especial, foi afetada pela pandemia da Covid-19 e a salvação passa pela recuperação dos dias e horas perdidas e não por um aumento da ociosidade.

É falso dizer que o povo assim exigiu, pois, pesquisas feitas com relação ao adiamento dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro em decorrência da pandemia de Covid-19, não foi aprovado pelos fluminenses, segundo pesquisa Datafolha; de acordo com o levantamento, 69% dos entrevistados são contra a realização da festa agora em abril, enquanto 26% são a favor. Indiferentes são 4%, e 1% não soube opinar. Já sobre os blocos de rua, quando se perguntou aos entrevistados se participariam dos desfiles, 89% disseram que não pretendem participar, enquanto 10% disseram que devem ir curtir a folia nas ruas. Apenas 1% não soube responder. O Datafolha ouviu 1.218 pessoas, com 16 anos ou mais, entre os últimos dias 5 e 7 em 30 municípios fluminenses. A margem de erro é de três pontos percentuais.

O que salta aos olhos, nessa pesquisa, é que as pessoas ouvidas se mostram muito mais conscientes do que os responsáveis pelos destinos do estado e da cidade do Rio de Janeiro. Sem falar que se por um lado a pandemia está sob controle, sendo classificada agora como endemia, os casos não acabaram. Não se pode prever qual será o resultado da aglomeração de pessoas nas arquibancadas do sambódromo, em que a fiscalização para uso de máscaras será impossível.

Dois anos de “fique em casa”, de restrições ao ir e vir, realmente mexeram com a cabeça das pessoas, tanto é assim que os consultórios de psiquiatras e psicólogos nunca foram tão procurados. No entanto, a distensão tem de ser gradativa, sob o risco de vermos um retorno a enfermarias e UTIs cheios de contaminados pelo vírus da Covid-19. A volta à normalidade é algo que todos queremos e nos alegra muito, mas temos de ter sempre em mente de que todo cuidado é pouco.           

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