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Nova Friburgo é passado, presente ou futuro?

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Um dia percebemos que, passado, presente e futuro, fazem parte de toda a história da humanidade e consequentemente, da nossa singela vida. Vivendo no presente, sempre tive a percepção de morar agarrado no passado, e em pensamento, viver ansiosamente, planejando cada passo do meu futuro.

E quando me dei conta, percebi que passado, presente e futuro não são mais tempos tão distintos assim. Na verdade, somos o que somos porque vivemos todos os tempos simultaneamente, sem mesmo que possamos ser plenamente capazes de perceber essa ligação tão sublime.

Um dia percebemos que, passado, presente e futuro, fazem parte de toda a história da humanidade e consequentemente, da nossa singela vida. Vivendo no presente, sempre tive a percepção de morar agarrado no passado, e em pensamento, viver ansiosamente, planejando cada passo do meu futuro.

E quando me dei conta, percebi que passado, presente e futuro não são mais tempos tão distintos assim. Na verdade, somos o que somos porque vivemos todos os tempos simultaneamente, sem mesmo que possamos ser plenamente capazes de perceber essa ligação tão sublime.

“Freud explica? ”. É bem provável que Sigmund Freud, pai da psicanálise, fosse o mais capaz de nos explicar de que nada do que somos e fazemos é por um simples acaso do universo. Para tudo, há uma explicação a ser explorada num divã na sala de terapia.

Na vida humana, devemos nos lembrar que as lutas, as dores, sofrimentos, vitórias, angústias e alegrias compõem a beleza e a imperfeição de ser quem somos. Na vida de uma cidade, como Nova Friburgo, o caminho percorrido é idêntico, dividido em três tempos, em que a lógica não deve ser entendida de modo diferente.

Nosso passado é marcado por momentos históricos únicos e que trazem a identidade do povo friburguense, aguerrido e persistente. Em meio à muitas dificuldades, crescemos e edificamos forças a essa cidade mesmo diante de todas as adversidades geográficas, naturais e políticas.

Somos orgulhosos de sermos detentores do título de única cidade criada por um decreto real. Não somos modestos, dos anos de ouro vividos nas décadas de 70 e 80, em que o Sul do país aprendeu conosco a fazer uma festa da cerveja. E somos extremamente resilientes, de mesmo diante da maior tragédia natural do país, reconstruirmos.

Entretanto, a partir dos anos 90, em meio às muitas disputas políticas, Nova Friburgo ficou esquecida em meio ao caos, e aos poucos foi perdendo em tudo aquilo que lhe tornava única: o seu brilho, a sua prosperidade e o mais importante, a sua identidade.

No presente, uma revolução fazia-se necessária em Nova Friburgo: e nela, surgiu o desejo de rememorar o saudosismo e querer trazer ao presente, todas as boas memórias construídas, do que havia de melhor nos anos de ouro, muito bem vividos pelos mais antigos habitantes dessa cidade - a boêmia!

Há uma digna e justa tentativa em resgatarmos o nosso brilho através da nossa identidade. Contudo, ainda que o passado seja recheado das boas lembranças dos anos de ouro na serra carioca - que infelizmente ficaram para trás – é muito importante percebermos que o mundo não é mais como era antigamente. E a nós, cabe a pergunta do que seremos no dia de amanhã.

Paralisar as nossas ações em lembranças de um passado de realização, na esperança de um futuro melhor, tem mostrado não nos ajudar a provocar a mudança ou o desenvolvimento como um todo. A evasão da realidade, apesar de ser bastante confortável, pode gerar muitos problemas futuros.

Não estamos investindo em inovação e muito menos nos adequando ao novo mundo, que é bem diferente, dos vividos nos anos de ouro. A vastidão dos empregos se foi com as fábricas, que carregaram consigo, toda a prosperidade da juventude friburguense, que prefere sonhar, em locais com mais oportunidades e possibilidades.

Cada dia mais somos uma cidade mais pobre, na busca de projetos, que não mudaram efetivamente a nossa vida. O mundo, por sua vez, cresceu, inovou, dinamizou e inovou e nós, ficamos para trás. Não nos dedicamos a mudar, somente repetir, o que um dia já deu certo e quem sabe, dará certo de novo.

Ainda que a luta seja extremamente justa pelo saudosismo da boemia e do turismo, vivido nos anos 70 e 80, com todo o nosso potencial, seguimos fora do ranking das cidades visitadas por turistas no Estado. E agora? Não podemos, nem como ser humano e nem como cidade, apostar todas as fichas em uma única tentativa e em uma única solução.

Para qualquer mudança e evolução é necessário um esforço constante e acima de tudo, consciente – e é bem provável que Freud diria isso também. Mudança é o resultado de esforço e de foco.

Vivemos no presente com um imenso potencial. O passado já não mais o teremos. E o futuro, ainda que incerto e desconhecido, é totalmente mutável. Daquilo que passou, cabe agradecer, incluir e integrar em sua história. E daquilo que virá, inovar para não se perder novamente no tempo.

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Trânsito e mobilidade em Nova Friburgo: desafios que exigem atenção urgente

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

O trânsito em Nova Friburgo se tornou um dos principais desafios para a cidade. Recentemente, o número de acidentes registrados tem sido alarmante. Esse aumento reflete a falta de planejamento e infraestrutura adequadas para o crescente número de veículos em nossas ruas.

O trânsito em Nova Friburgo se tornou um dos principais desafios para a cidade. Recentemente, o número de acidentes registrados tem sido alarmante. Esse aumento reflete a falta de planejamento e infraestrutura adequadas para o crescente número de veículos em nossas ruas.

Nova Friburgo, com sua geografia serrana e ausência de rotas de escape para o trânsito, exige um esforço peculiar das autoridades. As ruas estreitas, os desníveis acentuados e a falta de sinalização em algumas áreas combinado com a pouca atuação dos agentes de trânsito são fatores que contribuem para o aumento dos acidentes. O desafio é grande, mas não pode ser ignorado.

 

Problemáticas mais que visíveis

As causas dos acidentes em Nova Friburgo vão além do simples desrespeito às leis de trânsito. O excesso de velocidade, embora seja uma das principais razões, não é o único fator. A falta de educação no trânsito, a deficiência na fiscalização e a falta de planejamentos do município com a causa agravam ainda mais os números.

Um outro fator importante se dá pela falta de educação e fiscalização no trânsito. Embora existam faixas de pedestres pintadas, a sua existência parece invisível aos motoristas de Nova Friburgo, que muitas vezes aceleram para não deixar que o pedestre cumpra a sua travessia. A prática é constante, aliada a omissão do poder público que não promove ações de conscientização.

Não menos importante, a deficiência na fiscalização ter tornado o trânsito de Nova Friburgo ainda mais perigoso. Todos param seus carros onde querem e bem entendem, afunilando vias importantes no trânsito intenso da cidade. Os desvios de faixa em um trânsito intenso, estressado e sem fiscalização, fazem parte da receita que elevam os números de acidentes.

Além disso, embora diversas vias sejam asfaltadas, não há como negar que a cidade carece de atenção na sua infraestrutura, contando com muitas ruas esburacadas, bueiros desnivelados e inúmeros trechos mal sinalizados, tornando um ambiente de risco constante para motoristas, motociclistas e pedestres.

Por fim, não há como esquecer o aumento do número de motociclistas. Em uma cidade com vias afuniladas e trânsito intenso acabam se tornando um perigo, tanto para quem as pilota quanto para os demais motoristas. A falta de fiscalização específica para a alta velocidade dos motociclistas e a desconsideração total pelas regras de segurança fazem com que os motociclistas se exponham a acidentes ainda mais graves.

 

Não falta solução, falta iniciativa

O planejamento urbano deve ser uma prioridade para garantir maior segurança e fluidez no trânsito. A implementação de políticas públicas diferenciadas na guarda municipal e a melhoria nas condições de trânsito e infraestrutura da cidade são para tornar as ruas mais acessíveis e seguras.

A fiscalização também deve ser intensificada para garantir que as leis de trânsito sejam cumpridas. A presença constante da Guarda Municipal e da Polícia Militar nas ruas pode ajudar a reduzir as infrações. Além disso, o uso de câmeras de monitoramento já existe em nossa cidade, só não são utilizadas como deveriam. A fiscalização constante é essencial para reduzir os acidentes e aumentar a segurança.

A tecnologia não precisa ser utilizada apenas para multar, mas na melhoria da mobilidade. Aplicativos de trânsito que informam sobre as condições das vias, aliados a políticas públicas sérias podem ajudar na gestão do trânsito. Sistemas inteligentes de semáforos, que se adaptam ao fluxo de veículos, também podem contribuir para a fluidez do tráfego. O uso de tecnologia já é utilizado em diversas cidades e portanto, deve ser parte da solução.

Além disso, o transporte público precisa ser melhorado para reduzir a dependência do carro particular. O transporte coletivo em Nova Friburgo ainda é insuficiente e arcaico, deixando os moradores das zonas mais afastadas em uma situação vulnerável. A melhoria da qualidade do transporte alternativo e a implementação de vans com preços acessíveis, poderia ser um passo importante para uma mobilidade mais sustentável.

A conscientização no trânsito é uma das ferramentas mais poderosas para transformar a realidade. Campanhas educativas devem ser realizadas regularmente para alertar motoristas, pedestres e motociclistas sobre as regras e a importância da segurança. A educação no trânsito é um investimento de longo prazo que pode salvar vidas e reduzir os índices de acidentes. As autoridades devem priorizar ações nesse sentido.

 

Estamos ficando para trás

Em Nova Friburgo, é possível transformar o trânsito em uma realidade mais segura, mas isso exige esforço conjunto entre poder público e cidadãos. Enquanto o município de São José-SC, implementa um sistema de trânsito inteligente e Gramado-RS e Bento Gonçalves-RS promovem educação no trânsito, Nova Friburgo somente liga a sirene dos carros da Secretaria de Mobilidade e aplica multas.

O investimento em infraestrutura, a melhoria do transporte público e o aumento da fiscalização são passos essenciais. É hora de tomar ações concretas para garantir que as ruas de Nova Friburgo sejam mais seguras para todos. O futuro da mobilidade na cidade depende da nossa capacidade de agir agora.

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Quando meu pai era gigante

quinta-feira, 07 de agosto de 2025

Quando eu era pequeno, meu pai era o homem mais forte do mundo. Ele alcançava coisas no alto dos armários, carregava sacolas pesadas com uma só mão e tinha um jeito de abrir os potes de palmito que parecia mágica. Bastava um giro do punho e lá estava ele, sorrindo com o vidro aberto, como quem vence uma batalha invisível.

Quando eu era pequeno, meu pai era o homem mais forte do mundo. Ele alcançava coisas no alto dos armários, carregava sacolas pesadas com uma só mão e tinha um jeito de abrir os potes de palmito que parecia mágica. Bastava um giro do punho e lá estava ele, sorrindo com o vidro aberto, como quem vence uma batalha invisível.

Meu pai era desses homens que falam pouco, observam e fazem muito. Tinha um jeito quieto de amar — fazia o café passado na hora certa, o almoço de domingo, tentava me ensinar a jogar bola — embora eu nunca tenha aprendido muito bem. Dizia “eu te amo” com gestos, com presença, com olhos atentos aos meus passos desajeitados.

Havia nos seus olhos um cansaço, desses que os anos vão empilhando sem cerimônia. Só entendi depois, que crescer e abdicar de si pelo outro também dói. E que ser pai talvez seja carregar o mundo nas costas fingindo que ele não pesa. Fingindo que está tudo sob controle mesmo quando nada está.

Meu pai parecia saber de tudo, até daquilo que eu nem sabia perguntar. Ele me ensinava coisas sem parecer que estava ensinando. Como puxar assunto com o vizinho, como respeitar o tempo das pessoas, como apertar a mão com firmeza e olhar nos olhos. Quando dirigia, mostrava os caminhos da cidade e os da vida. Quando se calava, ensinava sobre a importância do silêncio. Um mestre escondido no corpo de um homem comum.

Achava que ele nunca chorava. Um dia, o vi desabar em lágrimas como nunca imaginei. Descobri, então, que gigantes também choram. E que o amor, às vezes, escapa por onde a gente menos espera. Um olhar, um bilhete, um gesto que parece simples, mas guarda um mundo dentro. Desde então, passei a reparar mais.

O tempo passou — como passa para todos os filhos e todos os pais. E aquele super poderoso ser humano foi se tornando um homem. A força de carregar pesos descomunais foi sumindo. As dores, crescendo. O seu jeito apressado foi substituído por andar mais devagar, como quem conta os passos. E eu, que agora sou adulto, tento não esquecer que ele ainda é o meu herói.

No espelho, às vezes, vejo os traços dele nos meus. O mesmo franzido entre as sobrancelhas, a mesma forma de falar sozinho pela casa quando penso demais, a mesma calvície de quando eu o chamava de careca. Herdei dele não só o jeito de andar, mas um modo de ver o mundo com simplicidade. Como se o segredo estivesse nas coisas pequenas: o modo de trabalhar, de cuidar das pessoas, de ser forte quando o mundo desaba.

Hoje, quando ele fala, eu escuto como quem recolhe diamantes. Às vezes, frases curtas. Outras vezes, lições. Algumas ditas com esforço, outras em forma de piada. Mas todas carregam um tanto de sabedoria que só quem viveu muito e amou mais ainda consegue passar. Meu pai me ensina, todos os dias, que o amor não precisa ser barulhento para ser verdadeiro. Que o afeto mora na constância.

O Dia dos Pais não é sobre presentes embrulhados com fita. É sobre memória. Sobre a lembrança do colo, do cheiro da camisa, da gargalhada que parecia trovão. Sobre as vezes em que ele fez, mesmo cansado, só para garantir que tudo estava bem. Coisas que, agora adulto, reconheço como amor em estado puro.

Se seu pai está por perto, abrace. Se já partiu, feche os olhos e abrace mesmo assim. Eles continuam conosco, morando em detalhes que só a saudade sabe apontar: uma música antiga, o nome de uma rua, um conselho que vem do nada. E a gente sorri, meio triste, meio grato, como quem recebe uma visita inesperada da memória.

E se você não conheceu seu pai, certamente teve ao lado alguma figura que assumiu esse papel. Às vezes foi o avô, o tio, o padrasto. Outras vezes, uma mulher — forte, incansável — que precisou reunir em si o carinho de mãe e a firmeza de pai. Porque o amor paterno, mesmo disfarçado, sempre encontra um jeito de chegar.

Ser pai é um ofício sem manual, sem folga, sem hora certa para dormir. E ainda assim, tantos se dedicam com coragem. Se reinventam, aprendem com os filhos, erram, acertam, seguem. São nossos primeiros heróis. E às vezes, mesmo depois de tantos anos, continuam sendo. Basta um gesto, um cheiro, uma história — e de repente, somos de novo os filhos de alguém.

Eu olho pro meu pai hoje como quem relê um livro querido: o tempo pode ter passado pelas páginas, mas cada palavra ainda carrega um valor imenso. E me orgulho de ter sido, um dia, seu menino. Porque no fundo, sempre seremos. Crescer não apaga o vínculo — apenas nos coloca, pouco a pouco, no lugar deles. E só então entendemos o quanto é difícil ser gigante.

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61 Socos num Elevador

quinta-feira, 31 de julho de 2025

A descida ao subsolo da nossa barbárie

O elevador subia. E o mundo, naquele instante, caía. Há lugares onde o tempo parece suspirar, onde o silêncio se instala entre um andar e outro, feito de aço, espelhos e rotina. O elevador é esse lugar de passagem, onde ninguém espera que algo aconteça. Mas naquele cubo metálico, o cotidiano foi rompido de forma brutal.

A descida ao subsolo da nossa barbárie

O elevador subia. E o mundo, naquele instante, caía. Há lugares onde o tempo parece suspirar, onde o silêncio se instala entre um andar e outro, feito de aço, espelhos e rotina. O elevador é esse lugar de passagem, onde ninguém espera que algo aconteça. Mas naquele cubo metálico, o cotidiano foi rompido de forma brutal.

O que deveria ser um trajeto breve tornou-se palco de uma violência que escancarou o que muitos ainda se recusam a ver: a fúria contra a mulher que decide ir embora. Juliana Garcia dos Santos, espancada com 61 socos dentro de um elevador, em Natal (RN), não é apenas o rosto machucado de mais uma vítima.

É o espelho da dor que tantas mulheres conhecem, mas que o mundo ainda tenta empurrar para debaixo do tapete. Os golpes não foram movidos por impulso. Foram entregues com método, com raiva fria, com a convicção de quem acredita ter o direito de punir. Aquela não era uma briga. Era um castigo por desobediência. Por dizer “não”. Por desejar liberdade.

Não chamemos de descontrole. Há uma lógica perversa por trás de cada gesto violento. Uma lógica que vem de longe, construída em silêncios e conivências, e que ensina — ainda hoje — que mulher é posse, que amor é dominação, que rejeição é ofensa. Essa lógica se disfarça de cuidado, se embala em presentes, se mascara em promessas.

Mas, no fundo, carrega uma vontade antiga de calar, submeter, punir. E é isso que os socos revelam: o fracasso de uma sociedade que ainda permite que amar seja sinônimo de machucar.

A agressão não começou ali, naquele minuto entre dois andares. Começou muito antes, nos dias em que o ciúme era chamado de zelo, em que as proibições vinham junto de “é para o seu bem”. Começou no isolamento dos amigos, no controle do celular, nas brigas por roupas ou horários. Começou nas pequenas humilhações cotidianas, aceitas porque “ele é assim mesmo”. A violência física foi apenas a última camada de uma prisão invisível, construída aos poucos, tijolo por tijolo, com aval do silêncio social.

Juliana tentou sair. E por isso apanhou. O corpo dela foi castigado não por erro algum, mas pela ousadia de escolher um novo caminho. Porque para o agressor, sair de casa, se afastar, pedir respeito — tudo isso era visto como rebeldia. E rebeldias, na cabeça de quem ama com ódio, devem ser sufocadas. Os socos, portanto, não buscavam apenas ferir: buscavam apagar a identidade, silenciar o desejo, reafirmar um poder que se sentia ameaçado.

Mas mesmo espancada, Juliana falou. Escreveu em um bilhete aquilo que sua boca, naquele momento, não conseguia dizer. Sua caligrafia trêmula tornou-se mais eloquente do que qualquer grito. Ali estava a força de uma mulher que, mesmo ensanguentada, se recusava a ser silenciada. E é esse bilhete que transforma dor em denúncia, medo em coragem, violência em memória. Um gesto pequeno que grita por todas as outras que ainda não conseguiram escrever.

As imagens da agressão circularam com força, invadiram telas, provocaram indignação. Mas o tempo das redes é breve, e a indignação cansa. Em poucos dias, a cena corre o risco de virar apenas mais uma entre tantas. Esquecida, arquivada, descartada. E é aí que mora o perigo: o de nos acostumarmos. O de assistirmos à barbárie com olhos cansados, sem nos perguntarmos o que podemos — e devemos — fazer para que ela não se repita.

O elevador, naquele dia, foi espelho. Mostrou a face de um mal que ainda se esconde em muitas casas, muitos relacionamentos, muitas rotinas. Mostrou que a violência contra a mulher não é exceção, mas sintoma. E que ela não acabará com leis apenas, mas com educação, com conversa, com coragem coletiva. Porque o problema não está só em quem agride, mas também em quem cala, quem desvia o olhar, quem relativiza o sofrimento alheio.

Todos sonhamos com um lugar de paz, com um horizonte bonito, talvez “Além das Montanhas”. Mas esse horizonte não será alcançado enquanto as mulheres precisarem temer o próprio lar, o próprio parceiro, o próprio caminho. A travessia para esse futuro exige que estejamos atentos nos espaços pequenos, nos corredores silenciosos, nos elevadores. Que sejamos companhia. Que sejamos voz.

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O brasileiro cansou da política ou só aprendeu a ignorar?

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Todo mundo já ouviu — ou já falou — aquela famosa expressão: “Ah, política não é pra mim”. O problema é que, enquanto você foge da política, ela continua decidindo o valor do seu aluguel, a qualidade do seu ônibus e o preço do seu arroz. Fingir que ela não existe só faz bem para quem quer se esconder dela.

Todo mundo já ouviu — ou já falou — aquela famosa expressão: “Ah, política não é pra mim”. O problema é que, enquanto você foge da política, ela continua decidindo o valor do seu aluguel, a qualidade do seu ônibus e o preço do seu arroz. Fingir que ela não existe só faz bem para quem quer se esconder dela.

Tem gente que não assiste mais jornal, não vota com convicção, não sabe o nome do vereador da própria cidade. E, sinceramente? Dá pra entender. A política brasileira virou sinônimo de escândalo, decepção e promessas que morrem no palanque. É um ciclo de expectativas frustradas que esgota até o mais otimista dos brasileiros.

Mas será que o brasileiro realmente desistiu? Ou será que ele só cansou de se importar sozinho? Enquanto alguns gritam nas redes, muitos já não acreditam que vale a pena reclamar. A sensação é de que tudo já está decidido por cima. A política virou um jogo de cartas marcadas — e ninguém quer mais jogar.

 

Cada vez menos “Policarpos Quaresmas”

Lá no começo do século 20, Lima Barreto já deu um aviso que seguimos ignorando: a política não costuma tratar bem quem acredita demais nela. A obra “O Triste Fim de Policarpo Quaresma” conta a história de um homem apaixonado pela pátria, pela cultura nacional, pela ideia de um país mais justo.

Policarpo era um servidor público metódico, honesto, obcecado por fazer do Brasil uma grande nação — e que, por isso mesmo, acabou morrendo nas mãos do próprio sistema em que confiava. Para uma narrativa publicada em 1915, o texto soa estranhamente bem atual.

Quaresma se apaixonou pela política como quem ama com fé cega. Tentou mudar o idioma oficial, defendeu uma agricultura nacionalista, e por fim se alistou na Revolta da Armada, acreditando que poderia ajudar o Brasil de verdade. No entanto, a política que ele tanto venerava o triturou como mais um número — um idealista perdido entre a indiferença do Estado e o cinismo dos poderosos. Morreu traído pelo exato país que queria consertar.

Hoje, ser Policarpo Quaresma virou quase um insulto. A paixão pela política dá lugar à desconfiança, o engajamento vira piada, e o idealismo é confundido com maluquice.

O brasileiro moderno prefere se proteger do que se envolver, rir do que se frustrar, ignorar do que se decepcionar. Ninguém quer morrer pela pátria — e muito menos morrer de decepção por ela. Aos poucos, estamos deixando de ser Quaresmas. E talvez o Brasil e Nova Friburgo nunca tenha precisado tanto de alguns.

 

Sentimento de apatia

Essa apatia coletiva não surgiu do nada. Ela é o resultado de anos de corrupção exposta, de representações que não representam e de instituições que parecem viver num mundo à parte. O cidadão comum olha para a prefeitura ou para a Câmara de Vereadores e não se vê ali. Parece tudo distante, sujo, inatingível — então pra quê se envolver?

O problema é que o silêncio político não é neutro. Ele é terreno fértil para oportunista. Quando a maioria se afasta, quem se aproxima são justamente os que mais se beneficiam da ausência do povo. A política, como a natureza, não tolera vácuos: se você sai, alguém entra. E nem sempre com boas intenções.

A descrença virou moda. E junto com ela, vieram os discursos perigosos: “todos são iguais”, “tem que fechar tudo”, “precisamos de alguém que mande de verdade”. Frases aparentemente simples, mas que escondem um desejo autoritário, travestido de impaciência. Cansamos da política... e começamos a flertar com soluções fáceis.

Enquanto isso, a democracia vai perdendo força, mas de forma silenciosa. Ninguém derruba a politicagem com tanques mais — é no cansaço, na indiferença, no tanto faz. O voto vai ficando vazio, o debate raso, o interesse ausente. E quando a gente percebe, quem fala por todos já não representa ninguém.

É claro que ninguém é obrigado a virar militante. Mas também não dá pra viver como se política fosse algo opcional, como se fosse possível se esconder da cidadania. Ela tá no IPTU, na fila do SUS, no preço do gás, no tarifaço, nas práticas contra a lei. Fugir dela não resolve. É como ignorar o vazamento do teto achando que a água vai cansar primeiro.

 

Somos cansados sobreviventes

Talvez o Brasil não precise de mais heróis. Heróis são para as epopeias, e a vida, no fundo, é feita de prosa, café e de cansaço. A política, com suas fanfarras e seus discursos urgentes, passa do lado de fora da janela como um desfile barulhento – e com bastante irregularidades fiscais. Nós, de dentro, apenas espiamos por uma fresta da cortina.

O nosso patriotismo – e não no sentido partidário, deixe-se claro - virou uma coisa doméstica, silenciosa. Mora no armário, junto com os retratos amarelados e as contas do mês. Cuidamos dele como quem cuida de um bibelô frágil, com medo de que uma lufada de vento o derrube da estante.

A verdade é que a Pátria, essa ideia que fez o pobre do Quaresma sonhar tão alto, para nós, encolheu. Hoje, ela tem o tamanho exato da nossa desesperança de um jogo com cartas marcadas, corrupção e TikTok. E ultimamente ficamos assim, vivendo em pontas de pés ao redor dele. Em silêncio. Para não fazer barulho e acordar a dor.

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Trocou-se a fantasia, mas a festa segue a mesma

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Nos últimos meses, Nova Friburgo tem vivido uma sequência de escândalos que envergonham até o mais otimista dos cidadãos. A cada semana, surgem novas informações sobre contratos suspeitos, valores incompatíveis com a realidade e a já conhecida promiscuidade entre o poder público e certos fornecedores.

Nos últimos meses, Nova Friburgo tem vivido uma sequência de escândalos que envergonham até o mais otimista dos cidadãos. A cada semana, surgem novas informações sobre contratos suspeitos, valores incompatíveis com a realidade e a já conhecida promiscuidade entre o poder público e certos fornecedores.

É como se a cidade estivesse presa num ciclo de repetições de más gestões e de escândalos sem fim: troca-se o palco, muda-se o evento, mas os personagens e os bastidores continuam os mesmos. Desde a época dos acalorados embates em Paulo Azevedo e Heródoto, passando pelos absurdos pós enchente até o presente momento.

 

Eventos são importantes, porém

É inegável que eventos públicos são importantes para a cidade. Eles movimentam a economia, atraem turistas, fortalecem o comércio local e geram oportunidades. Mas também é inegável que, em Friburgo, essas iniciativas têm sido tratadas como verdadeiros balcões de negócios.

Basta uma leitura atenta nos contratos publicados no Diário Oficial para notar incoerências gritantes: empresas recém-abertas vencendo licitações vultosas, estruturas superfaturadas, pagamentos adiantados e uma falta de transparência que já beira o deboche, especialmente se falando dos valores gastos com shows de artistas para o evento “Reforma Protestante”.

Enquanto isso, a cidade enfrenta dificuldades reais. O mato toma conta de praças e calçadas, o hospital segue ao léu, e os bairros mais distantes continuam esquecidos, sem infraestrutura mínima. Os servidores, que carregam a máquina pública nas costas, convivem com atrasos salariais, falta de insumos e promessas não cumpridas.

Mas, para os eventos, há sempre verba e espaço no orçamento — desde que os contratos caibam no bolso certo. E o mais irônico é que, em muitos desses contratos, o discurso é de valorização do turismo e da cultura friburguense. No entanto, os verdadeiros artistas da cidade sequer são, muitas vezes, os contratados.

 

Revolta, mas não surpreende

Em vez de servir à cultura, os eventos parecem servir a um grupo muito específico — sempre os mesmos, diga-se, o grupo de apoio político à atual gestão. A tal "turma dos eventos" virou piada pronta nas rodas de conversa e palco de um escândalo que dividiu os palcos políticos da cidade.

É triste ver o nome de Nova Friburgo envolvido em escândalos que poderiam ser facilmente evitados com transparência, ética e respeito ao dinheiro público. Mais triste ainda é ver que, mesmo diante de tantas denúncias, ainda há quem defenda o indefensável — seja por conveniência, por medo, ou por interesse.

Em uma cidade onde há artistas locais qualificados, produtores culturais experientes e mão de obra abundante, é curioso ver que apenas determinados nomes aparecem repetidamente nas contratações, como se fossem os únicos capazes de realizar uma festa ou um show.

É importante dizer que a crítica aqui não é contra eventos — ao contrário. A cidade precisa deles, especialmente em tempos difíceis, quando o lazer e a arte se tornam refúgios. Mas precisamos de eventos que respeitem a legalidade, que valorizem o artista local, que prestem contas dos seus gastos e que beneficiem a população como um todo, e não apenas quem está com o crachá certo no peito.

 

Fiscalização

O Ministério Público tem cumprido seu papel – ao menos no presente momento -, com investigações que já resultaram em ações, afastamentos e pedidos de explicações. Mas não pode agir sozinho. A Câmara de Vereadores, em grande parte omissa, precisa lembrar que o seu papel não é apenas votar projetos do Executivo, mas fiscalizar com independência.

No entanto, as audiências públicas têm, a cada dia, escancarado o distanciamento entre o discurso e a prática. Muitos vereadores se comportam como defensores da gestão, ainda que diante de fatos gritantes. Preferem o silêncio conveniente ao confronto necessário. Esquecem que foram eleitos para fiscalizar, não para aplaudir.

Esse alinhamento político com o Executivo, diante de fatos tão graves, enfraquece a democracia local e mina a confiança da população em soluções. Quando os vereadores deixam de questionar contratos suspeitos, de exigir transparência e de representar os interesses da comunidade, tornam-se cúmplices do que deveriam combater.

A Câmara não pode ser palco de conchavos e acordos velados, mas espaço de debate, fiscalização e coragem política. O povo não precisa de aliados do prefeito, mas de guardiões do interesse público.

Friburgo é uma cidade linda, cheia de potencial e com um povo trabalhador. Merece mais do que administrações que enxergam o serviço público como uma extensão dos próprios interesses. A cidade merece um novo capítulo, longe dos velhos vícios. Mas esse capítulo não vai se escrever sozinho. Vai depender da coragem de quem denuncia, da independência de quem fiscaliza e da consciência de quem vota.

Muitas pessoas sempre acharam que os textos desta coluna tinham tendência política, mas o tempo tem se encarregado de revelar que não era questão de lado — era questão de lucidez. Enquanto alguns preferiam o conforto da conveniência, optei por enxergar o que muitos insistiam em ignorar. Não se trata de oposição, mas de compromisso com a verdade, mesmo quando ela incomoda. Afinal, quem escreve com consciência antecipa aquilo que, mais cedo ou mais tarde, salta aos olhos de todos.

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A criação de ecossistemas para inovação

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Se existe uma palavra que tem movido cidades, universidades e empresas pelo Brasil, essa palavra é inovação. Mas para que a inovação floresça, ela precisa de mais do que ideias: precisa de ambiente. Precisa de gente conectada, compartilhando saberes, recursos e oportunidades. É nesse contexto que entram os ecossistemas de inovação.

Se existe uma palavra que tem movido cidades, universidades e empresas pelo Brasil, essa palavra é inovação. Mas para que a inovação floresça, ela precisa de mais do que ideias: precisa de ambiente. Precisa de gente conectada, compartilhando saberes, recursos e oportunidades. É nesse contexto que entram os ecossistemas de inovação.

Esse ambiente é o que chamamos de ecossistema de inovação — um espaço vivo onde tecnologia, educação, empreendedorismo e políticas públicas caminham lado a lado. Não basta ter startups ou centros de pesquisa. É preciso que eles conversem, colaborem, troquem experiências e construam soluções em conjunto. O ecossistema é, antes de tudo, uma rede viva.

Na última semana, Nova Friburgo deu um passo nessa direção. Foi realizado o Workshop de Captação de Recursos, dentro do Projeto Ecossistema Local de Inovação – ELI, no auditório do Sebrae. A proposta do encontro foi reunir pessoas, instituições e empresas para pensar os caminhos possíveis de estruturar um verdadeiro ecossistema de inovação na cidade.

Fernanda Gripp, coordenadora regional do Sebrae, destacou a importância de conectar o que já existe: “O Sebrae já vinha atuando no ecossistema de inovação de Nova Friburgo desde 2018, com ações como a criação do Código Municipal de Ciência e Tecnologia. Esse histórico permitiu incluir a região no projeto nacional ELI, que busca fortalecer os ecossistemas locais. A iniciativa agora abrange todos os municípios da Regional Serrana I, com foco no desenvolvimento regional integrado.”

Floripa: referência em ecossistemas de inovação

Cidades que entenderam esse processo têm se destacado no cenário da inovação. Elas investem não só em tecnologia, mas também em gente, em articulação, em criar uma cultura onde errar faz parte do processo e onde inovar é algo cotidiano. O segredo está na conexão: ninguém inova sozinho.

Recentemente estive em Florianópolis-SC, cidade que hoje é considerada uma referência nacional em inovação. Não à toa, recebeu em 2024 o título de Capital Nacional das Startups. Lá, cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) vem do setor de tecnologia. E esse resultado não surgiu por acaso: é fruto de um ecossistema robusto, maduro e muito bem articulado.

Thiago Schütz, palestrante, conselheiro em Governança para Inovação, CEO do escritório de advocacia Silva Schütz, especializado no atendimento a startups, e envolvido em iniciativas como o projeto Flow Vista, que conecta inovação nacional ao mercado internacional, resume bem essa lógica: “Confiança e colaboração são o cimento do ecossistema. Nenhum ator, isoladamente, é capaz de criar um ambiente inovador sustentável. Empresas precisam confiar que governo e universidades não são apenas fiscalizadores ou geradores de burocracia, mas parceiros. Quando esses grupos colaboram, somam competências e compartilham riscos. Isso acelera a transferência de conhecimento, reduz gargalos regulatórios e cria pontes para internacionalização. Inovação é sempre um jogo coletivo, nunca individual.”

Em cidades como Florianópolis, essa cultura colaborativa foi construída aos poucos, com participação ativa de universidades, empresários e gestores públicos. Não se trata apenas de investir dinheiro, mas de cultivar relações. A inovação aparece como fruto de um ambiente fértil — e não como um raio que cai do céu.

“Quando iniciativas são contínuas e articuladas, acontece um fenômeno interessante: as conquistas de uns inspiram outros a empreender, investir e colaborar. Isso gera um ciclo virtuoso — as startups que crescem acabam, depois, mentorando ou investindo em novas empresas. O sucesso de um grupo retroalimenta o sistema, criando referências locais e, aos poucos, consolidando a reputação do ecossistema nacionalmente e até internacionalmente”, explica Thiago, com entusiasmo de quem vive esse ambiente no dia a dia.

Florianópolis abriga uma rede vibrante de ambientes de inovação que impulsionam o ecossistema local. Espaços como o Soho, a Acate, o Sebrae/SC, o Centro de Inovação da Acif, o Sapiens Parque e o Miditec servem como pontos de encontro para empreendedores, pesquisadores e investidores.

Esses locais oferecem suporte técnico, mentorias, eventos e conexões estratégicas que fazem a inovação circular. Juntos, formam um ecossistema onde ideias ganham vida e se transformam em negócios de impacto por todo o país.

E em Nova Friburgo? Há caminho e ele passa pela conexão

Nova Friburgo tem um ecossistema em construção, com uma base valiosa: um polo universitário respeitado, instituições como Uerj, Cefet, UFF e o Instituto Politécnico da Uerj, além de uma indústria de abrangência nacional sólida e criativa nos setores têxtil e metal mecânico. É um solo fértil, com talento, técnica e vocação para inovação.

O que falta, talvez, seja fazer essas peças se encontrarem. Muitos jovens se formam na cidade e acabam partindo, não por falta de capacidade local, mas por não enxergarem oportunidades conectadas com suas áreas. A solução está em aproximar ensino, mercado e empreendedorismo — e isso pode partir de todos nós.

Marcelo Verly, professor e articulador regional no ramo de inovação, acredita que esse movimento começa pela união dos ativos já existentes: “Quando os atores locais passam a trabalhar juntos, o ambiente de inovação se fortalece naturalmente. Não é preciso reinventar a roda, mas criar oportunidades reais de diálogo e ação conjunta”.

No fundo, inovar é isso: reunir pessoas para pensar e agir juntas, encontrando soluções criativas para os desafios locais. Friburgo tem histórias para contar, estrutura para crescer e gente disposta a fazer acontecer. O que falta são esses encontros que transformam ideias em realidade, construindo um ecossistema vivo, passo a passo, com vontade e propósito.

Esses encontros e conexões não precisam esperar por grandes investimentos ou ações grandiosas. Muitas vezes, começam em pequenos grupos, eventos locais, parcerias entre estudantes e empresas, ou mesmo em iniciativas comunitárias realizadas por grupos de WhatsApp.

Quando esses elementos estão integrados, nasce algo muito mais poderoso do que a soma das partes. As ideias fluem com mais rapidez, os recursos circulam com mais eficiência e as oportunidades se multiplicam. O que poderia ser apenas uma iniciativa isolada se transforma em um movimento coletivo com impacto real no território.

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Nova Friburgo e o Plano Diretor: entre o progresso e a preservação

quinta-feira, 03 de julho de 2025

Toda cidade precisa de um plano. Um norte, uma diretriz que defina como será o seu crescimento, onde podem surgir novas construções, o que deve ser preservado e de que forma os bairros devem se organizar. Esse plano existe, tem nome e papel central na vida urbana: é o chamado Plano Diretor.

Toda cidade precisa de um plano. Um norte, uma diretriz que defina como será o seu crescimento, onde podem surgir novas construções, o que deve ser preservado e de que forma os bairros devem se organizar. Esse plano existe, tem nome e papel central na vida urbana: é o chamado Plano Diretor.

Ele orienta o desenvolvimento das cidades para os próximos anos, equilibrando crescimento econômico, meio ambiente, transporte, moradia, qualidade de vida, entre outros fatores. Igualmente, é responsável por estabelecer a altura máxima de prédios na cidade e as regras basilares dos locais aptos a serem construídos imóveis, excluindo-se zonas de risco, por exemplo.

Debate

A prefeitura quer mudar o plano atual, de 2007, com uma proposta que considera novas realidades, como a mobilidade urbana, os riscos ambientais e a ocupação desordenada. Entre os principais pontos, estão a criação de um corredor de ônibus e um novo zoneamento que leve em conta a geografia da cidade. A ideia é promover um modelo de “cidade compacta”, onde a população se concentre em áreas já urbanizadas.

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), no entanto, recomendou a suspensão da proposta enviada à Câmara de Vereadores. Segundo o órgão, faltou transparência no processo. A ausência de audiências públicas e de consultas à população desrespeita a Constituição e o Estatuto da Cidade. A recomendação é clara: nenhum avanço sem escuta ampla e participação popular.

Essa decisão interfere diretamente no calendário de mudanças da cidade. Por um lado, impede que decisões importantes sejam tomadas às pressas. Por outro, adia projetos que podem melhorar a qualidade de vida, como a criação de vias alternativas para o trânsito e os chamados Planos de Bairro — pequenas versões do Plano Diretor, adaptadas a cada localidade.

O novo documento traz uma inovação importante: é o primeiro do Brasil a usar o risco de desastres naturais como critério para o zoneamento ambiental. Em Nova Friburgo, cerca de 70% do território é suscetível a deslizamentos, enchentes e outros eventos geológicos ou hidrológicos, segundo o Serviço Geológico do Brasil. Para isso exige-se soluções mais seguras e sustentáveis, especialmente em uma cidade marcada por tragédias no passado.

Cidades mais verticais e menos caras

Na proposta atual, não se fala mais em expandir a cidade para áreas afastadas. A lógica agora é adensar a população nas regiões que já são urbanizadas. Com isso, o objetivo é conter a ocupação de áreas de risco e, ao mesmo tempo, preservar e até aumentar as áreas verdes. Uma escolha que combina sustentabilidade, segurança e racionalidade urbana — se for bem implementada.

Esse adensamento, no entanto, precisa ser feito com responsabilidade e estrutura para isso. Bairros como Braunes, Vila Amélia e Cordoeira, próximos ao Centro e com grandes terrenos, já chamam a atenção de grandes construtoras. Com preços ainda acessíveis, essas regiões podem ser alvo de intensa especulação imobiliária.

No entanto, em se falando de adensamento populacional, é certo que haverá a necessidade de reavaliação do Plano Diretor quanto à altura dos edifícios residenciais, sendo certo que a chegada de novos empreendimentos pode valorizar ou desvalorizar o preço dos imóveis da cidade e alterar profundamente o perfil dos bairros.

É verdade que mais imóveis no mercado podem ajudar a baixar os preços e facilitar o acesso à moradia. Mas isso também pode sobrecarregar a infraestrutura urbana: ruas, esgoto, escolas, postos de saúde etc. Sem planejamento, o que era solução vira problema. Por isso, o Plano Diretor precisa prever essas consequências e oferecer respostas inteligentes e justas.

Também é necessário lembrar que Nova Friburgo tem um déficit de infraestrutura imobiliária moderna. A maioria dos novos imóveis “diferenciados” da cidade ainda seguem padrões de construção extremamente ultrapassados, em comparação com o que se encontra hoje em grandes centros urbanos.

Na cidade, a maior parte dos investimentos em prédios está marcada pelas famílias mais abastadas da cidade, que compram um terreno e constroem um prédio para explorar comercialmente. Falta inovação, conforto, sustentabilidade e acessibilidade de uma cidade que quer crescer. A cidade precisa atrair investimentos de qualidade — e para isso, precisa-se de regras claras e mais flexíveis, para que seja atrativa.

Precisamos com urgência alinhar planejamento urbano, sustentabilidade e uma nova forma de pensar o mercado imobiliário da cidade. Hoje, Friburgo vive uma especulação descolada da realidade, que afasta investidores sérios e faz com que imóveis com pouca qualidade inflem o mercado com valores absurdos.

População

A participação da população, nesse contexto, não é um favor: é um dever. Desde o ano passado, foram realizados encontros com moradores, baseados em cinco eixos: mobilidade urbana e rural, infraestrutura nos bairros, regularização fundiária, áreas verdes e o patrimônio cultural. Várias propostas surgiram dali — como a criação de mapas com ações prioritárias e a reorganização do tráfego — e devem estar no plano final.

O novo Plano Diretor é uma oportunidade única de preparar Nova Friburgo para o futuro. Uma cidade bem planejada cresce com segurança, sustentabilidade e qualidade de vida. Isso exige diálogo, técnica e acima de tudo, coragem para tomar decisões difíceis. Que o município, em decisão totalmente acertada, saiba aproveitar essa chance de mudar Nova Friburgo — e que cada cidadão friburguense possa dizer, com orgulho, que também ajudou a construí-la.

 

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A Fevest e o coração têxtil de Nova Friburgo

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Quem vive em Nova Friburgo há algum tempo sabe que junho não é só tempo de casaco, névoa e chocolate quente: é também tempo de Fevest. A tradicional Feira de Moda Íntima, Praia, Fitness e Matéria-prima não é apenas um evento no calendário: é um verdadeiro ponto de encontro entre inovação, tradição e negócios que movimenta os quatro cantos da serra.

Quem vive em Nova Friburgo há algum tempo sabe que junho não é só tempo de casaco, névoa e chocolate quente: é também tempo de Fevest. A tradicional Feira de Moda Íntima, Praia, Fitness e Matéria-prima não é apenas um evento no calendário: é um verdadeiro ponto de encontro entre inovação, tradição e negócios que movimenta os quatro cantos da serra.

Mais do que vitrines elegantes e desfiles arrojados, a Fevest é o reflexo da identidade produtiva de Nova Friburgo, que se consolidou, ao longo das últimas décadas, como o maior do polo de moda íntima em todo o Brasil – e com muito orgulho, nós friburguenses, batemos no peito para falarmos sobre essa conquista.

A Fevest, que começou na terça-feira, 24, e termina hoje, 26, é a vitrine anual onde os bastidores da indústria ganham holofotes: ali se revela a força de uma cadeia produtiva que vai do desenho ao acabamento, da costureira ao exportador, da qualidade da renda à qualidade do elástico.

Calcinhas, sutiãs e muito mais

A economia local de Nova Friburgo respira moda íntima. São milhares de empregos diretos e indiretos gerados por pequenas, médias e grandes confecções espalhadas por toda a cidade. Muitas dessas empresas são familiares, enraizadas nos bairros, passando de geração em geração como um verdadeiro legado. Outras surgiram quase por acaso, impulsionadas pelo talento e pela coragem de costureiras experientes que decidiram empreender.

A Fevest representa, para esse universo produtivo, muito mais do que uma vitrine. É uma oportunidade concreta de crescimento, de firmar parcerias e de conquistar visibilidade em um mercado competitivo. Mas é também uma experiência que conecta o presente ao passado, permitindo que cada expositor vivencie de perto a história viva — e ainda pulsante — da cidade, com toda sua identidade produtiva.

Durante os dias de feira, o impacto na economia local é visível. A rede hoteleira registra altos índices de ocupação, restaurantes e bares ficam mais movimentados, motoristas de aplicativo garantem uma rotina cheia de corridas, e o comércio em geral sente o aquecimento. É como se Nova Friburgo respirasse um novo ar: mais vibrante, mais cosmopolita, mais integrado ao que há de mais moderno no mercado nacional e internacional.

“Como comecei a atuar recentemente como autônoma, a Fevest representa uma grande oportunidade para mim. É um espaço onde estou ampliando meu portfólio, conhecendo novas empresas, trocando experiências e fazendo networking com profissionais da área. Tudo isso me ajuda a crescer profissionalmente, me motiva a seguir em frente e a buscar constantemente a melhora do meu trabalho”, explica Nathalia Senna, videomaker e storie maker que atua na cobertura de eventos e produção de conteúdo para marcas.

Mas o impacto vai além da semana do evento. Muitos negócios iniciados ali seguem gerando frutos ao longo do ano. São contratos fechados, parcerias firmadas, marcas lançadas e ideias que saem do papel. A Fevest também impulsiona a inovação: é ali que muitas empresas locais apresentam novas tecnologias têxteis, tecidos sustentáveis, designs autorais e soluções para produtividade.

“Estar na Fevest é essencial para a gente, principalmente pela visibilidade que ela traz para a marca e pelos novos contatos que surgem. Temos conseguido alcançar clientes do Brasil inteiro e até de fora, o que é muito importante para o nosso posicionamento. Como trabalhamos com público de atacado, que é quem movimenta nossa demanda, estar aqui fortalece tanto o branding quanto os negócios”, observam Davi Exposito e Thamata Lopes, empresários da Thatha Lopes Lingerie.

Outro aspecto fundamental é o papel social que a feira desempenha. Além de fomentar negócios, a Fevest valoriza o talento local. Desfiles, oficinas e palestras ajudam a qualificar profissionais, despertar vocações e incentivar jovens empreendedores. É um espaço de troca, de aprendizado e de valorização da criatividade — uma característica tão marcante no DNA friburguense.

A feira também colabora para manter viva a identidade da cidade como referência nacional em moda íntima, concorrendo com polos maiores e mais industrializados. Isso exige investimento, organização e, claro, uma dose de orgulho local. E esse orgulho aparece: nas peças bem-acabadas, nos stands caprichados, no sotaque que mistura timidez e confiança ao apresentar uma nova coleção.

Em tempos de economia instável, eventos como a Fevest são âncoras de desenvolvimento. Não só movimentam milhões em negócios, mas criam uma cadeia de valor que distribui renda e oportunidades por toda a região. Para muitos pequenos empreendedores, estar na Fevest é a chance de mostrar sua marca para compradores de fora, firmar presença no mercado e consolidar sua história.

Se Nova Friburgo fosse uma peça de roupa, a Fevest seria sua costura bem-feita: segura, firme e cheia de personalidade. É nela que a cidade reafirma seu lugar no mapa da economia criativa, mostra sua força produtiva e abre portas para o futuro. E por tudo isso, a feira é muito mais do que moda. É movimento, é identidade, é economia pulsando no ritmo das máquinas de costura e da criatividade serrana.

Enquanto houver costureiras afiadas, designers sonhadores e empresários dispostos a acreditar no que fazem, a Fevest continuará sendo um dos maiores orgulhos de Nova Friburgo. E que venham as próximas edições, com mais inovação, mais talento e mais renda girando — porque quando a feira cresce, a cidade inteira cresce com ela.

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​Israel, Irã, o prefeito e Friburgo

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Embora a ironia do destino tenha levado o prefeito de Nova Friburgo a viajar para Israel em busca de soluções para a segurança, o mandatário acabou tendo que retornar às pressas, fugindo da insegurança que vive aquele país, que entrou em uma nova guerra – o que embora parecesse óbvio para muitos, não pareceu aos prefeitos brasileiros.

Embora a ironia do destino tenha levado o prefeito de Nova Friburgo a viajar para Israel em busca de soluções para a segurança, o mandatário acabou tendo que retornar às pressas, fugindo da insegurança que vive aquele país, que entrou em uma nova guerra – o que embora parecesse óbvio para muitos, não pareceu aos prefeitos brasileiros.

No entanto, o conflito entre Irã e Israel pode influenciar muito mais a vida do friburguense do que apenas acompanhar notícias de soldados, explosões, sirenes distantes ou as centenas de publicações realizadas no Instagram do prefeito sobre os riscos da sua viagem em busca de soluções de segurança.

Não é preciso ser especialista em política internacional para perceber que a tensão crescente entre Israel e Irã interfere em muito mais do que manchetes de jornal. Ela chega, por exemplo, ao posto de gasolina da esquina, ao carrinho de compras do mercado e à realidade de agricultores e empreendedores da serra fluminense.

As consequências dessas tensões internacionais chegam silenciosamente ao nosso cotidiano, afetando preços, o abastecimento de produtos essenciais e até mesmo a economia local. É um lembrete de que, mesmo vivendo entre montanhas, estamos conectados a um mundo cada vez mais interdependente e vulnerável às crises globais.

Guerra em Israel e seus possíveis desdobramentos

Israel bombardeou o Irã na sexta-feira, 13. O ataque ocorreu no mesmo dia em que as tropas israelenses completavam 616 dias de guerra ininterrupta contra a Faixa de Gaza. Essas duas ações foram intercaladas por bombardeios israelenses contra o sul do Líbano, a Síria e o Iêmen nos últimos meses.

Note que no espaço de um parágrafo, cinco países foram citados – Israel, Líbano, Síria, Iêmen e Irã – além de um território, Gaza, que muita gente sequer sabe dizer que status possui. Não é à toa que é difícil entender o que acontece; a situação é mesmo complicada e tende a se escalar para um nível ainda maior.

Nesse tabuleiro tenso, os Estados Unidos e a China desempenham papéis centrais. Washington é o principal aliado de Israel e tem enviado armamentos, recursos e apoio diplomático desde o início das hostilidades. Ao mesmo tempo, busca conter o envolvimento direto do Irã, para evitar um conflito regional de larga escala que comprometa seus interesses econômicos e estratégicos.

Já a China, que mantém boas relações com Teerã, adota uma postura de cautela — mas claramente busca aproveitar a crise para se firmar como mediadora e reforçar sua presença na diplomacia do petróleo. A disputa entre as duas potências por influência global, somada à instabilidade no Oriente Médio, gera um efeito dominó que chega rapidamente aos mercados de energia, de commodities agrícolas e às rotas marítimas de abastecimento.

Com a alta dos combustíveis, o encarecimento dos alimentos e a valorização do dólar, quem sentirá primeiro o impacto é o consumidor comum — inclusive aquele que abastece seu carro, faz feira e compra gás de cozinha em Nova Friburgo. O mundo, afinal, já não é feito de ilhas.

Além disso, não é exagero afirmar: desde 1991, o mundo não esteve tão perto de uma nova grande guerra. Disputas territoriais, alianças militares instáveis e o envolvimento de potências nucleares, e os EUA ficando para trás na economia, criam um cenário alarmante.

Inflação sobe

O Brasil, embora produtor de petróleo, ainda depende totalmente do mercado internacional para definir o preço dos combustíveis, especialmente, do Oriente Médio – um dos maiores fornecedores do país. Isso significa que, a cada míssil disparado no Oriente Médio, o friburguense sentirá o impacto no momento de abastecer.

Como o custo do transporte influencia toda a cadeia de abastecimento, o aumento no preço do diesel e da gasolina, por exemplo, se reflete também no frete de alimentos, no gás de cozinha, no material escolar e até no pão francês. Ou seja, é inerente que tenhamos um aumento da inflação nos próximos meses.

Vendas da região caem

O setor têxtil de Nova Friburgo, já pressionado por altos custos de produção, pode enfrentar ainda mais dificuldades diante da instabilidade internacional. A elevação no preço dos combustíveis e o encarecimento da energia impactam diretamente na fabricação e no transporte. Além disso, mercados compradores no exterior tendem a retrair pedidos em momentos de incerteza. Isso afeta não só a indústria, mas também o comércio e os empregos locais.

O polo metal mecânico, por sua vez, também não sai ileso. A importação de insumos encarece com o dólar alto e os gargalos logísticos, prejudicando a cadeia de produção. Muitas empresas trabalham sob demanda e sofrem com prazos mais longos e margens mais apertadas. O efeito é em cadeia: menos produção, menos faturamento, menos renda circulando na cidade.

Friburgo, o Brasil e o mundo

Pensar que Nova Friburgo está distante demais para ser afetada pelos conflitos entre Israel e Irã é uma ilusão confortável. Os impactos são indiretos, mas contínuos. Eles atravessam o posto de combustíveis, o supermercado, a roça, o terminal urbano e, sim, o gabinete do prefeito.

Reconhecer essas conexões é o primeiro passo para exigir políticas públicas mais preparadas para lidar com um mundo interdependente. Porque as montanhas podem até nos proteger das tempestades de verão, mas não nos isolam das turbulências globais.

 

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