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O legado de um Papa que dialogava com o mundo: o impacto de Francisco em Nova Friburgo

sexta-feira, 25 de abril de 2025

A recente morte do Papa Francisco marca o fim de um pontificado que ficará registrado na história como um dos mais ousados, autênticos e transformadores da Igreja Católica. Desde sua eleição em 2013, Jorge Mario Bergoglio se destacou por romper protocolos, aproximar-se dos mais pobres e por abordar temas considerados tabus com uma abertura rara entre os líderes da Igreja.

A recente morte do Papa Francisco marca o fim de um pontificado que ficará registrado na história como um dos mais ousados, autênticos e transformadores da Igreja Católica. Desde sua eleição em 2013, Jorge Mario Bergoglio se destacou por romper protocolos, aproximar-se dos mais pobres e por abordar temas considerados tabus com uma abertura rara entre os líderes da Igreja.

Seu papado foi marcado pela empatia, pela coragem de enfrentar questões polêmicas e pela defesa intransigente da dignidade humana. Francisco falou de forma clara sobre temas como meio ambiente, desigualdade, migrantes, violência, abuso sexual dentro da Igreja, inclusão de pessoas LGBTQIA+ e o papel das mulheres.

Mesmo dentro de uma instituição tradicional, seu discurso foi permeado por uma linguagem de acolhimento, de escuta e de respeito. O Papa argentino foi, acima de tudo, um pontífice do diálogo: entre religiões, entre nações, entre diferentes visões de mundo. Um Papa do encontro.

Seu impacto transcendeu a esfera religiosa, atingindo positivamente inclusive pessoas de religiões distintas e até mesmo as sem religião. Em um mundo crescentemente polarizado pela política, Francisco tornou-se uma voz que clamava por moderação, solidariedade e paz.

Brasil: A Jornada Mundial da Juventude

Um dos momentos mais marcantes do início de seu pontificado foi sua visita ao Brasil em julho de 2013, durante a Jornada Mundial da Juventude, realizada no Rio de Janeiro. Foi a primeira viagem internacional de Francisco como Papa, e nela já se evidenciava o tom pastoral e humano que marcaria seu papado.

A viagem antecipou temas de seu pontificado, como a postura pastoral de acolher as minorias historicamente excluídas pelo catolicismo. No voo de volta ao Vaticano, concedeu uma então incomum entrevista coletiva espontânea a bordo do avião — prática que depois seria recorrente.

Respondendo a um jornalista, disse que ser homossexual não deve ser entendido como pecador, mas os atos sim. "Se uma pessoa é gay e busca a Deus, quem sou eu para julgá-la?", disse Francisco, em uma frase que virou um dos marcos de seu papado. Frente a uma instituição historicamente ligada à Inquisição, ele foi o primeiro pontífice a falar publicamente sobre acolhimento e inclusão.

Ao trocar o papamóvel fechado e blindado por um carro comum, um Fiat Idea, e se misturar à multidão, ele demonstrava seu desejo de proximidade com o povo. Durante o evento, que reuniu mais de três milhões de jovens na praia de Copacabana, Francisco falou sobre a importância da juventude na renovação da Igreja e na transformação do mundo.

Incentivou os jovens a “fazer bagunça” — no sentido de questionar estruturas injustas, provocar mudanças e se engajar na sociedade com coragem e fé. A mensagem teve grande repercussão no Brasil, especialmente entre jovens católicos e educadores, influenciando muito a maneira como a Igreja vem se comunicando com as novas gerações.

Esse encontro também reforçou a ideia de que a fé pode e deve dialogar com os desafios contemporâneos, aproximando a religião da vida concreta das pessoas. Sua presença no Brasil reanimou comunidades católicas, fortaleceu pastorais da juventude e influenciou diretamente o modo como muitas instituições educacionais passaram a tratar temas sociais, políticos e ambientais com mais abertura e protagonismo juvenil.

Mas nem só de seriedade foi construída a relação próxima entre Francisco e o Brasil. Nas costumeiras interações com os fiéis durante os eventos realizados no Vaticano, os brasileiros ganharam a atenção especial de Francisco, com um tom leve e descontraído. Em 2021, um padre paraibano lhe pediu que rezasse pelos conterrâneos. "Vocês não têm salvação. É muita cachaça e pouca oração", brincou o argentino.

Influência em Nova Friburgo

Em Nova Friburgo, cidade com tradição católica expressiva, seu legado pode ser percebido em diversas camadas. Culturalmente, a cidade abriga festas religiosas tradicionais, igrejas centenárias e uma população em que a espiritualidade tem papel importante.

O discurso mais humano e acessível de Francisco ressoou em diversos lugares, abrindo espaços para diálogos que antes pareciam impensáveis dentro da Igreja. Isso facilitou uma maior comunicação entre família, escola e as paróquias locais. Mas foi nas instituições de ensino católicas que sua influência se concretizou de maneira mais evidente.

Os tradicionais colégios religiosos de Nova Friburgo, que têm papel destacado na formação de crianças e adolescentes, adaptaram seus projetos pedagógicos para refletir os valores propagados por Francisco à juventude, tais como a solidariedade, cuidado com o outro, escuta, sustentabilidade e respeito à diversidade.

A escolha de um novo Papa levanta, agora, questionamentos sobre os rumos da Igreja e sobre a continuidade ou não dessas diretrizes nas escolas e como um intermediador entre os mais velhos e os mais jovens. Para Nova Friburgo, fica o desafio e a esperança de que esse legado de acolhimento, diálogo e humanismo permaneça vivo.

Mais do que um líder religioso, Francisco foi um exemplo de escuta ativa e de liderança comprometida com os que mais precisam. Assim fica o legado, do mais brasileiro dos papas.

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80 anos de A VOZ DA SERRA - O jornal que narra as nossas histórias

quinta-feira, 17 de abril de 2025

(Coluna publicada no dia 10 de abril de 2025)

E lá vem ele de novo. O jornal que já acorda com a cidade e que, ao longo de oito décadas, tem visto Nova Friburgo, a Região Serrana e o Rio de Janeiro se transformarem tantas vezes que poderia, tranquilamente, escrever uma novela. E que o faria bem, porque ele é bom nisso: contar histórias.

(Coluna publicada no dia 10 de abril de 2025)

E lá vem ele de novo. O jornal que já acorda com a cidade e que, ao longo de oito décadas, tem visto Nova Friburgo, a Região Serrana e o Rio de Janeiro se transformarem tantas vezes que poderia, tranquilamente, escrever uma novela. E que o faria bem, porque ele é bom nisso: contar histórias.

Mas não qualquer história, não. Ele narra as nossas. As de quem atravessa uma rua com o olhar atento ao dia que nasce e também ao que o sol não pode tocar. A história não apenas dos nascidos, vividos ou falecidos em Nova Friburgo, mas também, as dos apaixonados por essa cidade.

A Voz da Serra não é um jornal qualquer. Se fosse, não teria chegado até aqui, com 80 anos nas costas e uma história que mistura chuva e sol, tragédia e vitória, silêncio e grito. Porque, para o bom jornalismo, não há hora de descanso. Ele está sempre ali, à espreita, com a caneta em punho, ou quem sabe o computador, pronto para registrar o que nos une e o que nos separa. O que faz o peito apertar e o sorriso se abrir.

É engraçado pensar que, há 80 anos, o jornal começou com o simples desejo de conversar com a cidade. Era um tempo de papéis e máquinas de escrever, onde a tinta ainda tinha cheiro e os jornalistas eram heróis de uma rotina quase mítica. A Voz da Serra então veio, com sua promessa de contar o que ninguém mais via ou queria contar.

E foi assim, com suas páginas convidativas e com cheiro de café da manhã, que o jornal se enraizou na cidade. Tornando-se mais do que um veículo de comunicação: a janela que os friburguenses olharam por anos, enquanto o mundo passava à nossa porta. O mundo... como ele muda, né?

De vez em quando, o jornal olhava para o céu e via as estrelas, mas também via as nuvens pesadas, e era preciso levantar-se, se erguer, ir atrás de uma resposta. Talvez tenha sido esse o seu maior feito: o de se manter de pé mesmo quando as enchentes arrastavam tudo e as ruas estavam alagadas, quando a política parecia distante e o futuro parecia um eterno ponto de interrogação.

E o jornal, teimoso, se manteve firme. Porque ele sabia que a vida não é só feita de pedras e poeira, mas também de flores e risos. Por mais que o cenário às vezes se tornasse sombrio, ele não podia, em hipótese alguma, virar as costas para a cidade que o nutria, que o alimentava com seus fatos, suas histórias, seus amores e desamores.

Claro, não foi sempre fácil. Em tempos de censura, quando a palavra “liberdade” parecia uma estranha em um dicionário de palavras proibidas, A Voz da Serra deu seu jeito. Como quem fala baixo, mas com firmeza. Como quem olha nos olhos, sem medo de ser quem é. Aquele que opera com “resiliência e coragem” assim como um trabalhador com a dose forte de café matinal.

E o tempo foi passando, como o rio que atravessa a cidade, tomando seu caminho, mas deixando algo de bom para trás. Entrou na era digital, como todo mundo, mas sem perder seu jeitinho de ser. De falar com o povo, de contar as histórias de quem, apesar de tudo, ainda caminha pela rua, olha o céu e se preocupa com o amanhã.

Virou não apenas uma página virtual, mas um meio de manter a chama acesa. Porque, sejamos francos, o jornalismo é, em última instância, uma chama. Às vezes, fraca, quase apagando. Mas, se bem alimentada, nunca se apaga totalmente, dando transparência e luz em meio a tempos sombrios.

Hoje, ao olhar para trás, o que podemos ver? Um rio de história, de luta, de alegrias e perdas. De gente que viveu e se foi, de histórias que passaram, mas que o jornal teve o privilégio de contar. São 80 anos, não 80 minutos. Foram várias páginas quase que diárias durante 80 anos. Não é pouca coisa.

O jornal viu a cidade mudar, viu o Rio de Janeiro crescer e, de certa forma, ele também cresceu com elas. Porque é isso que ele faz, ele se adapta, se molda, se reinventa. E quando a era digital chegou, ele se abriu para ela como quem recebe uma visita antiga: de braços abertos, mas com aquele olhar desconfiado, que só quem tem anos de estrada, em ser um dos jornais impressos mais antigos do estado, consegue manter.

Mas, ao fim e ao cabo, o que importa é que o jornal, com toda sua rotina, com todas as suas notícias que tanto nos emocionam, vai continuar sendo aquilo que sempre foi: a voz de quem sente e vive a cidade, mas também a voz de quem escuta, sem pressa, as histórias que ela tem a contar.

E se há algo que este jornal aprendeu ao longo de suas décadas, é que o mundo não precisa de mais barulho. Ele precisa é de alguém que saiba escutá-lo, e depois contar a história. Com carinho. Com atenção. E, por que não, com um pouco de poesia, assim como o fez com grandes nomes nas edições do Caderno Z.

Por isso, aos 80 anos, A Voz da Serra não é só um jornal. É uma memória. E é também um convite. Um convite para olharmos à nossa volta e não esquecer o que está à nossa porta. E, como sempre fez, vai continuar a contar, sem pressa, as histórias que realmente importam. Continuando a ser nosso amigo fiel que está ali, na esquina, pronto para contar a nossa história, sempre com um sorriso e, claro, com a voz que nunca se cala.

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Estacionamento pago: quem ganha com isso?

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Nova Friburgo está prestes a entregar um serviço público “gratuito” para a iniciativa privada: o estacionamento rotativo nas ruas da cidade. E essa nova licitação vem cercada de polêmicas, dúvidas e, acima de tudo, insatisfação da população. O valor da licitação é de quase R$ 40 milhões com duração de cinco anos.

Nova Friburgo está prestes a entregar um serviço público “gratuito” para a iniciativa privada: o estacionamento rotativo nas ruas da cidade. E essa nova licitação vem cercada de polêmicas, dúvidas e, acima de tudo, insatisfação da população. O valor da licitação é de quase R$ 40 milhões com duração de cinco anos.

Quem conhece o dia a dia de Friburgo sabe que o trânsito já é complicado, principalmente nas áreas centrais. Vagas são poucas, a rotatividade é baixa e há uma clara falta de planejamento urbano. A solução, segundo a prefeitura, seria cobrar ainda mais da população – mas será que é por aí?

 

Números que assustam

Para começar, vamos falar de números. Só para divulgar a ação quando implementada, a prefeitura destinou R$ 120 mil para uma campanha de marketing. Sim, você não leu errado. R$ 120 mil para panfletagem, sendo que apenas cinco pessoas participarão da ação durante apenas 30 dias.

Enquanto isso, o município conta com uma equipe de comunicação própria, já remunerada com recursos públicos que nós pagamos. Então por que gastar tanto dinheiro com algo que poderia ser feito internamente, com mais eficiência e muito menos custo?

Um outro número chama atenção: a previsão de 7.551 multas por mês, ou seja, uma média de 250 pessoas multadas por dia. Isso mesmo. Está no papel da licitação: a empresa que vencer terá estimativa do quanto arrecadar. E a pergunta é inevitável: isso é planejamento de mobilidade ou uma máquina de arrecadação de dinheiro?

Além dos quase R$ 40 milhões a serem pagos pelos nossos bolsos para implementar um serviço que não trará qualquer benefício ao friburguense – nem mesmo a geração de empregos, uma vez que será realizado por aplicativo – qual é o verdadeiro benefício para a Prefeitura de Nova Friburgo?

A pergunta que não quer calar é: caso seja extremamente necessário implementar, e arrecadar dinheiro para os cofres da prefeitura, por que insistir em terceirizar algo que poderia ser gerido pelo próprio município? Caso a finalidade seja a arrecadação, é no mínimo, o mais coerente a ser feito. No entanto, pagaremos duas vezes: o estacionamento e uma empresa para nos cobrar.

 

Projetos semelhantes em 2015

O projeto, apresentado pelo vereador Christiano Huguenin, foi respaldado pelos 11 vereadores que originalmente votaram a favor da lei municipal 4.362/2014 que, entre outras providências, autorizava a exploração do estacionamento rotativo por entidades privadas, conforme noticiado por A VOZ DA SERRA em 16 de setembro de 2015.

No entanto, ainda em 2015, a população foi às ruas, vereadores se posicionaram e uma ampla mobilização social conseguiu barrar um projeto semelhante. A cidade disse um sonoro “não” à entrega desse serviço para a iniciativa privada. Na época, a vitória foi considerada um marco de participação popular e bem recebida pelos friburguenses.

A vitória de 2015 do movimento “Eu não vendo minha cidade” não foi apenas sobre estacionamento — foi sobre transparência, sobre respeito à população e sobre a defesa do espaço público como patrimônio de todos, e não como moeda de troca para contratos e arrecadação fácil. O sentimento era de conquista: a cidade mostrou que sabe se posicionar quando seus direitos estão em jogo.

 

O trânsito e seus problemas

Vamos ser realistas: privatizar o estacionamento não resolve os problemas de mobilidade. Ao contrário, só encarece a vida de quem depende do carro para trabalhar, levar os filhos à escola ou cuidar da própria saúde. E quem garante que a empresa que ganhar a licitação vai pensar no bem-estar da cidade, e não apenas no lucro?

Vale lembrar que, nas últimas vezes em que tivemos esse tipo de concessão, as reclamações sobre cobranças indevidas, multas questionáveis e falta de fiscalização foram inúmeras. Novamente, nós friburguenses, que já vivemos em uma cidade sem muitas oportunidades, precisaremos mais uma vez pagar para viver na cidade?

Friburgo precisa, sim, pensar em mobilidade urbana de forma ampla: com transporte público de qualidade, ciclovias, calçadas decentes, planejamento de tráfego e educação no trânsito. Mas isso exige estudo, diálogo e compromisso com o interesse público – não decisões apressadas, cercadas de gastos duvidosos e atropelos legais.

Na prática, quem vai realmente se beneficiar dessas medidas que deverão ser implementadas na cidade? A pergunta que fica é: quem está ganhando com tudo isso? Porque, definitivamente, não é o cidadão friburguense.

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Envelhecer entre bancos de praça: o lazer esquecido dos idosos em Nova Friburgo

quinta-feira, 03 de abril de 2025

A população idosa de Nova Friburgo enfrenta um desafio crescente: a falta de opções de lazer e aprendizado. Atualmente, as praças públicas são o principal — e, muitas vezes, único — espaço de convivência e recreação. Embora ofereçam momentos de socialização e contato com a natureza, esses locais são insuficientes. A questão que se impõe é: envelhecer em Nova Friburgo significa estar restrito a bancos de praça?

Faltam políticas públicas aos idosos

A população idosa de Nova Friburgo enfrenta um desafio crescente: a falta de opções de lazer e aprendizado. Atualmente, as praças públicas são o principal — e, muitas vezes, único — espaço de convivência e recreação. Embora ofereçam momentos de socialização e contato com a natureza, esses locais são insuficientes. A questão que se impõe é: envelhecer em Nova Friburgo significa estar restrito a bancos de praça?

Faltam políticas públicas aos idosos

O lazer desempenha um papel fundamental na promoção da saúde física e mental dos idosos. Atividades recreativas ajudam a aumentar a autoestima, reduzir o isolamento social e prevenir doenças. No entanto, em Nova Friburgo, as opções de lazer específicas para essa faixa etária são praticamente inexistentes.

Sem espaços apropriados, muitos idosos acabam isolados, sem estímulos que favoreçam um envelhecimento saudável e ativo. Além da falta de atividades de lazer, a escassez de oportunidades de aprendizado contínuo também preocupa. Aprender novas habilidades não só mantém a mente ativa, mas também oferece um senso de propósito e pertencimento.

Cursos e oficinas culturais ou tecnológicas poderiam estimular os idosos e integrá-los à sociedade. Contudo, a cidade não dispõe e nem parece ter interesse em investir em programas acessíveis para esse público, limitando suas possibilidades de desenvolvimento pessoal na melhor idade.

O envelhecimento não deveria ser sinônimo de estagnação, mas a realidade imposta pela ausência de políticas públicas eficientes sugere o contrário. Enquanto crianças e jovens têm acesso a escolas, cursos e espaços de cultura e esporte, os idosos são frequentemente esquecidos no banco das praças.

A estrutura urbana também não colabora, pois faltam centros comunitários e equipamentos públicos adaptados para essa população que carecem de uma atenção especial, porque além de tudo foram e são contribuintes ao longo de toda uma vida. O descaso com o envelhecimento ativo precisa ser discutido com seriedade.

Aprendizado por toda a vida

Iniciativas que estimulam o aprendizado e o convívio social deveriam ser incentivadas e ampliadas. Infelizmente, os idosos de Nova Friburgo acabam limitados a uma rotina monótona, sem perspectivas de crescimento intelectual ou novas experiências. Essa situação reforça o sentimento de exclusão e desvalorização.

As pessoas pensam que pela elevada idade não se pode mais aprender, no entanto, é o momento mais livre que uma pessoa possui para aprender algo diferente. A ampliação do acesso a cursos gratuitos e acessíveis contribuiria para um envelhecimento mais digno e valorizado.

É essencial que o poder público, tanto na Câmara Municipal como na prefeitura, una esforços para mudar esse cenário. Criar centros de convivência voltados à terceira idade, com atividades culturais, esportivas e educacionais, seria um passo significativo. Ignorar essa demanda significa negligenciar uma parte importante da população.

Idoso quer liberdade de escolhas

O que se observa hoje em Nova Friburgo é um envelhecimento marcado pela falta de alternativas. O idoso que deseja sair de casa e interagir socialmente encontra poucas opções além das praças. É inaceitável que uma cidade com potencial turístico e cultural não ofereça o mínimo de infraestrutura adequada para essa parcela da população.

Se a sociedade deseja um futuro mais inclusivo, é preciso investir em políticas públicas que garantam aos idosos mais do que bancos de praça e caminhadas. Criar espaços e atividades que valorizem essa população não é um favor, mas uma necessidade urgente da cidade, que ano após ano, fica mais esquecida.

O envelhecimento deve ser visto como uma etapa rica em possibilidades, não como um período de abandono. Nova Friburgo precisa cuidar melhor dos seus idosos, antes que o silêncio das praças seja o único testemunho de seu descaso.

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Ovos de galinha: o novo rival dos ovos de Páscoa

quinta-feira, 27 de março de 2025

Quem imaginaria que os ovos de galinha, um alimento tão básico no dia a dia dos brasileiros, poderiam disputar mercado com os famosos ovos de Páscoa? Depois de um período de preços altos para os ovos de chocolate, o cenário está prestes a mudar. E, nesse caso, o ovo de galinha será o novo "concorrente" dos ovos de chocolate.

Mudança que vem de fora

Quem imaginaria que os ovos de galinha, um alimento tão básico no dia a dia dos brasileiros, poderiam disputar mercado com os famosos ovos de Páscoa? Depois de um período de preços altos para os ovos de chocolate, o cenário está prestes a mudar. E, nesse caso, o ovo de galinha será o novo "concorrente" dos ovos de chocolate.

Mudança que vem de fora

A grande mudança vem dos Estados Unidos, onde as importações de ovos do Brasil cresceram 93% em fevereiro de 2025, comparado ao mesmo mês do ano anterior. Esse aumento está diretamente ligado ao surto de gripe aviária que afetou a produção local e deixou os americanos com a necessidade de buscar fontes externas de ovos.

Até janeiro deste ano, os ovos brasileiros nos EUA eram usados exclusivamente na ração animal. Agora, começam a ser utilizados também em produtos alimentícios processados, como sorvetes e misturas para bolos. Isso já representa uma grande mudança na economia de ovos, mas não para por aí.

Preços ainda mais elevados

Com a escassez de ovos nos Estados Unidos, a pressão sobre o mercado global de ovos aumentou consideravelmente. Os comerciantes brasileiros, um dos maiores produtores mundiais de ovos, se viram diante de uma oportunidade de ouro: vender um comoditie em dólares.

No entanto, essa mudança no fluxo de exportações pode ter consequências diretas no mercado interno, e não são exatamente boas notícias para o consumidor brasileiro. O aumento na demanda externa vai afetar ainda mais a oferta interna, o que, por consequência, tende a elevar os preços. E quem paga a conta por isso? O bolso do brasileiro.

Este fenômeno não é novo. O preço dos ovos já vinha subindo no Brasil, principalmente devido à inflação e aos custos elevados de produção, que incluem o aumento do preço do milho e da soja, principais alimentos das galinhas. O que antes parecia uma constante nos preços, agora se agrava com a competição internacional.

Em fevereiro de 2025, o preço do ovo subiu 15% em apenas um mês, segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Esse aumento já tem causado impacto nos orçamentos das famílias brasileiras, especialmente nas que mais dependem do ovo como fonte de proteína acessível.

A real expectativa é que, com a continuidade do aumento das exportações para os EUA, a oferta interna de ovos diminua ainda mais, o que pode causar uma alta ainda mais expressiva nos preços dos ovos. O impacto afetará desde as dietas dos marombeiros, ricas em proteína, como no preço de diversos outros produtos que contém ovos, impulsionando a inflação.

Problemas não tão distantes

E esse cenário de alta nos preços de ovos de galinha não é apenas uma especulação. O aumento nas exportações de ovos afeta não só a oferta dos produtos no Brasil, mas também a cadeia de produção da indústria brasileira.

O país exporta atualmente cerca de 2,5 mil toneladas de ovos por mês. Embora o volume enviado para os EUA ainda seja pequeno em comparação com o total produzido, a tendência é que esse número cresça. Com isso, os produtores brasileiros terão um incentivo financeiro para priorizar o mercado externo, o que pode comprometer ainda mais o abastecimento interno.

Além disso, outro ponto a ser considerado é o impacto dessa mudança na qualidade e segurança dos alimentos. O aumento das exportações pode gerar pressão sobre as empresas brasileiras, que precisarão garantir a maior quantidade para cumprir a demanda, podendo deixar de prezar com a qualidade do produto e saúde dos animais.

A flexibilidade nas regulamentações dos EUA sobre os tipos de ovos que podem ser importados do Brasil também levanta questões sobre segurança alimentar. Alguns especialistas alertam que, caso as novas regras permitam a entrada de ovos que não atendem aos mesmos padrões rigorosos exigidos para o mercado interno, isso pode comprometer a segurança dos alimentos

Se essa tendência de aumento nas exportações continuar, o impacto no mercado interno será inevitável. O consumidor brasileiro, já bastante afetado com a inflação, terá que lidar com um aumento nos preços dos ovos, que eram uma das poucas fontes de proteína acessível. O futuro pode reservar para os brasileiros uma nova realidade: a escolha entre um ovo de chocolate ou um ovo de galinha pode ser uma decisão difícil, dependendo do bolso.

Portanto, ao planejar a compra do seu ovo de Páscoa, talvez seja hora de pensar um pouco além do chocolate. Quem diria que, em um futuro próximo, o ovo de galinha poderia se tornar tão raro e caro quanto o ovo de Páscoa? O mercado de ovos está em constante transformação, e o brasileiro pode ter mais surpresas do que imaginava ao abrir sua cesta de compras.

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Trânsito e mobilidade em Nova Friburgo: desafios que exigem atenção urgente

quinta-feira, 20 de março de 2025

O trânsito em Nova Friburgo se tornou um dos principais desafios para a cidade. Recentemente, o número de acidentes registrados tem sido alarmante, com 30 ocorrências apenas nos primeiros 18 dias deste mês. Esse aumento reflete a falta de planejamento e infraestrutura adequadas para o crescente número de veículos em nossas ruas.

O trânsito em Nova Friburgo se tornou um dos principais desafios para a cidade. Recentemente, o número de acidentes registrados tem sido alarmante, com 30 ocorrências apenas nos primeiros 18 dias deste mês. Esse aumento reflete a falta de planejamento e infraestrutura adequadas para o crescente número de veículos em nossas ruas.

Nova Friburgo, com sua geografia serrana e ausência de rotas de escape para o trânsito, exige um esforço peculiar das autoridades. As ruas estreitas, os desníveis acentuados e a falta de sinalização em algumas áreas combinado com a pouca atuação dos agentes de trânsito são fatores que contribuem para o aumento dos acidentes. O desafio é grande, mas não pode ser ignorado.

Problemáticas mais que visíveis

As causas dos acidentes em Nova Friburgo vão além do simples desrespeito às leis de trânsito. O excesso de velocidade, embora seja uma das principais razões, não é o único fator. A falta de educação no trânsito, a deficiência na fiscalização e a falta de planejamentos do município com a causa agravam ainda mais os números.

Um outro fator importante se dá pela falta de educação e fiscalização no trânsito. Embora existam faixas de pedestres pintadas, a sua existência parece invisível aos motoristas de Nova Friburgo, que muitas vezes aceleram para não deixar que o pedestre cumpra a sua travessia. A prática é constante, aliada a omissão do poder público que não promove ações de conscientização.

Não menos importante, a deficiência na fiscalização ter tornado o trânsito de Nova Friburgo ainda mais perigoso. Todos param seus carros onde querem e bem entendem, afunilando vias importantes no trânsito intenso da cidade. Os desvios de faixa em um trânsito intenso, estressado e sem fiscalização, fazem parte da receita que elevam os números de acidentes.

Além disso, embora diversas vias sejam asfaltadas, não há como negar que a cidade carece de atenção na sua infraestrutura, contando com muitas ruas esburacadas, bueiros desnivelados e inúmeros trechos mal sinalizados, tornando um ambiente de risco constante para motoristas, motociclistas e pedestres.

Por fim, não há como esquecer o aumento do número de motociclistas. Em uma cidade com vias afuniladas e trânsito intenso acabam se tornando um perigo, tanto para quem as pilota quanto para os demais motoristas. A falta de fiscalização específica para a alta velocidade dos motociclistas e a desconsideração total pelas regras de segurança fazem com que os motociclistas se exponham a acidentes ainda mais graves.

Não falta solução, falta iniciativa

O planejamento urbano deve ser uma prioridade para garantir maior segurança e fluidez no trânsito. A implementação de políticas públicas diferenciadas na guarda municipal e a melhoria nas condições de trânsito e infraestrutura da cidade são para tornar as ruas mais acessíveis e seguras.

A fiscalização também deve ser intensificada para garantir que as leis de trânsito sejam cumpridas. A presença constante da Guarda Municipal e da Polícia Militar nas ruas pode ajudar a reduzir as infrações. Além disso, o uso de câmeras de monitoramento já existe em nossa cidade, só não são utilizadas como deveriam. A fiscalização constante é essencial para reduzir os acidentes e aumentar a segurança.

A tecnologia não precisa ser utilizada apenas para multar, mas na melhoria da mobilidade. Aplicativos de trânsito que informam sobre as condições das vias, aliados a políticas públicas sérias podem ajudar na gestão do trânsito. Sistemas inteligentes de semáforos, que se adaptam ao fluxo de veículos, também podem contribuir para a fluidez do tráfego. O uso de tecnologia já é utilizado em diversas cidades e portanto, deve ser parte da solução.

Além disso, o transporte público precisa ser melhorado para reduzir a dependência do carro particular. O transporte coletivo em Nova Friburgo ainda é insuficiente e arcaico, deixando os moradores das zonas mais afastadas em uma situação vulnerável. A melhoria da qualidade do transporte alternativo e a implementação de vans com preços acessíveis, poderia ser um passo importante para uma mobilidade mais sustentável.

A conscientização no trânsito é uma das ferramentas mais poderosas para transformar a realidade. Campanhas educativas devem ser realizadas regularmente para alertar motoristas, pedestres e motociclistas sobre as regras e a importância da segurança. A educação no trânsito é um investimento de longo prazo que pode salvar vidas e reduzir os índices de acidentes. As autoridades devem priorizar ações nesse sentido.

Estamos ficando para trás

Em Nova Friburgo, é possível transformar o trânsito em uma realidade mais segura, mas isso exige esforço conjunto entre poder público e cidadãos. Enquanto o município de São José-SC, implementa um sistema de trânsito inteligente e Gramado-RS e Bento Gonçalves-RS promovem educação no trânsito, Nova Friburgo somente liga a sirene dos carros da Secretaria de Mobilidade e aplica multas.

O investimento em infraestrutura, a melhoria do transporte público e o aumento da fiscalização são passos essenciais. É hora de tomar ações concretas para garantir que as ruas de Nova Friburgo sejam mais seguras para todos. O futuro da mobilidade na cidade depende da nossa capacidade de agir agora.

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Crise política em Nova Friburgo: a liminar que abalou o Legislativo e o Executivo

quinta-feira, 13 de março de 2025

Nos bastidores da política municipal, as decisões judiciais frequentemente moldam os rumos das instituições democráticas. Em Nova Friburgo, a recente decisão liminar suspendendo os efeitos das eleições das comissões permanentes da Câmara Municipal gerou um impacto significativo tanto no Legislativo quanto no Executivo.

Nos bastidores da política municipal, as decisões judiciais frequentemente moldam os rumos das instituições democráticas. Em Nova Friburgo, a recente decisão liminar suspendendo os efeitos das eleições das comissões permanentes da Câmara Municipal gerou um impacto significativo tanto no Legislativo quanto no Executivo.

A origem do imbróglio está na distribuição dos cargos das comissões permanentes da Câmara, cuja formação excluiu determinados parlamentares e partidos. Isso motivou o vereador Marcos Marins (PSD) a ingressar com um mandado de segurança. A Justiça entendeu que há indícios sólidos de violação ao princípio da proporcionalidade partidária, garantido pela Constituição Federal e pelo Regimento Interno da casa legislativa.

 

Efeitos da decisão

A decisão liminar (provisória), ao suspender os efeitos das eleições, interfere diretamente na dinâmica do Legislativo. As comissões permanentes desempenham um papel essencial no trâmite dos projetos de lei, na fiscalização do Executivo e na análise das políticas públicas municipais. Sem essas comissões em funcionamento regular, a tramitação de projetos pode sofrer atrasos, impactando diretamente as demandas. No entanto, demonstra uma verdadeira separação política na Câmara, que tem deixado de lado alguns vereadores atuantes, prevalecendo a base política do atual prefeito.

No Executivo, o efeito também é perceptível. A prefeitura depende da atuação da Câmara para aprovação de projetos essenciais, como leis orçamentárias e planos de investimento. A decisão liminar pode levar o Executivo a enfrentar dificuldades na implementação de políticas públicas com vereadores de base, que podem “perder poder político”.

Por outro lado, a medida judicial também sinaliza um alerta para a necessidade de respeito às normas democráticas e ao princípio da representatividade. A Justiça, ao intervir, reforça que nenhum grupo político pode atuar de forma a excluir minorias ou adversários da estrutura do Poder Legislativo. Essa decisão pode, inclusive, incentivar uma reestruturação mais transparente e equilibrada da composição das comissões.

 

Debates e inseguranças

A exclusão dos vereadores da oposição das comissões permanentes levantou um debate importante sobre a transparência no funcionamento do Legislativo. Afinal, as comissões são espaços de discussão qualificada e de controle dos atos do Executivo. Sem uma representação equilibrada, a pluralidade de opiniões é comprometida. Isso favorece um ambiente de governabilidade unilateral, sem a devida fiscalização e contraponto necessários a um sistema democrático saudável.

Além disso, há um impacto direto na percepção da população sobre o funcionamento dos poderes municipais. Quando a Justiça precisa intervir em questões internas da Câmara, isso demonstra que o diálogo político está falhando. Em um contexto de crescente desconfiança nas instituições públicas, episódios como esse reforçam a imagem de um Legislativo influenciado por interesses particulares.

Outro ponto relevante é que a decisão judicial também impacta a relação entre Executivo e Legislativo no longo prazo. Se a Câmara tiver sua autonomia fragilizada por manobras políticas, isso pode comprometer o processo de tomada de decisão e a independência dos vereadores de oposição. A democracia exige um equilíbrio entre os poderes. Isso garante que nenhum deles exerça domínio absoluto sobre o outro.

 

Jogando as regras do jogo

Dessa forma, a liminar concedida pela Justiça é um lembrete de que as regras democráticas devem ser respeitadas. A exclusão de vozes dissidentes do debate público é prejudicial ao funcionamento do sistema político. A decisão cria um precedente importante, reafirmando que a proporcionalidade partidária é um princípio inegociável. Qualquer tentativa de prevalência ou interferência política pode ser corrigida pelo Judiciário.

O desfecho dessa questão ainda é incerto. Seus desdobramentos já demonstram como uma decisão judicial pode remodelar o funcionamento do Legislativo e influenciar a governança municipal. Se, por um lado, essa intervenção gera um impasse temporário, por outro, reitera a importância do equilíbrio entre os poderes e da observância das normas democráticas.

Nova Friburgo vive, portanto, um capítulo decisivo na consolidação de sua institucionalidade política. O maior desafio agora é garantir que os próximos passos sejam dados com transparência, responsabilidade e, acima de tudo, respeito à democracia.

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Luzes na avenida, sombras na Câmara

quinta-feira, 06 de março de 2025

A cidade estava repleta de luzes e foliões nas ruas. Já na Câmara Municipal, a ausência de comprometimento escurece um cenário desolador.

O Carnaval passou, e com ele a explosão de cores, ritmos e alegria que transformaram a cidade em um verdadeiro espetáculo. As ruas iluminadas refletiram o brilho no olhar de foliões que dançaram cheios de glitter sem pensar no amanhã, embalados pelo som contagiante das baterias.

A cidade estava repleta de luzes e foliões nas ruas. Já na Câmara Municipal, a ausência de comprometimento escurece um cenário desolador.

O Carnaval passou, e com ele a explosão de cores, ritmos e alegria que transformaram a cidade em um verdadeiro espetáculo. As ruas iluminadas refletiram o brilho no olhar de foliões que dançaram cheios de glitter sem pensar no amanhã, embalados pelo som contagiante das baterias.

Os blocos arrastaram multidões, a felicidade se espalhou no ar, e a energia vibrante fez com que, por alguns dias, os problemas parecessem simplesmente desaparecer. A cidade pulsou em festa, em um frenesi que fez jus à grandiosidade da celebração e ao espírito festivo que contagiou a todos.

Mas enquanto a cidade brilhou, a Câmara Municipal permaneceu em sombras. No primeiro dia da audiência pública para a prestação de contas da Secretaria de Saúde, os vereadores membros da Comissão de Saúde simplesmente não compareceram. Se na avenida houve luzes e confetes, no plenário houve apenas cadeiras vazias e uma ausência ensurdecedora.

 

Saúde pública sem urgência?

O tema debatido no primeiro dia foi urgente: a saúde pública, setor que clamou por fiscalização, investimento e soluções. Ainda assim, aqueles que deveriam estar à frente desse debate, buscando respostas e cobrando eficiência, não se fizeram presentes, demonstrando um descompromisso preocupante aos friburguenses.

Foi inadmissível que, enquanto a população enfrentou filas intermináveis, falta de médicos e de insumos básicos, os responsáveis por fiscalizar e garantir a correta aplicação dos recursos públicos simplesmente se ausentaram, às vésperas do Carnaval. A omissão não foi um deslize qualquer: foi um desrespeito àqueles que dependeram do sistema público de saúde.

A cidade esteve repleta de luzes e foliões nas ruas. Já na Câmara Municipal, a ausência de comprometimento escureceu o cenário desolador. A indignação cresceu à medida que os problemas se acumularam e a negligência de quem deveria atuar para solucioná-los se tornou evidente.

A prestação de contas não foi um detalhe burocrático, tampouco um evento protocolar sem impacto direto na vida dos cidadãos. Foi um momento essencial para a transparência e a atribuição da responsabilidade na administração pública daquilo que andou péssimo. Quem foi ou é usuário do SUS não deixa mentir: a situação é preocupante.

Se os vereadores, apesar de receberem um baita salário, não acompanharem e não cobrarem melhorias, quem paga o preço é a população. O Carnaval passou, a alegria dos blocos se dissolveu no tempo, mas os problemas da saúde permanecerão, e a negligência dos responsáveis continuará gerando sofrimento para quem mais precisava.

No primeiro dia de prestação de contas, enquanto alguns vereadores, mesmo sem fazer parte da Comissão de Saúde (Maicon Gonçalves, Marcos Marins, Bruno Silva e a assessoria de Cláudio Damião) compareceram para cumprir o dever cívico de fiscalização, a ausência dos demais escancarou uma triste realidade: para muitos, o compromisso com a cidade se restringiu apenas aos períodos eleitorais.

Em se tratando da possibilidade de um vereador que não pode ir no primeiro dia, seja por qual justificativa plausível que tenha, me pergunto: não seria minimamente responsável pensar na presença de um representante que possa lhe instruir depois? Ouso dizer que é o principal tema na cidade.

Me entristece que ousemos pensar em justificativas para que um representante do povo, que ganha quase R$ 15 mil por mês – fora benefícios -, tenha tantos imprevistos ao ponto de não estar presente ou não mandar sequer um representante para uma prestação de contas da saúde no município.  

As luzes do Carnaval iluminaram o centro da cidade, mas a transparência na gestão da saúde seguiu em penumbra, à espera de quem deveria, mas não quis enxergar. Enquanto os confetes coloridos se espalharam pelas ruas e pelas redes sociais dos gestores públicos, nas unidades de saúde o cenário foi de desolação, com pacientes aguardando atendimento e profissionais lidando com a escassez de recursos.

O povo precisa ser prioridade e não apenas um discurso em palanques. Os cidadãos merecem representantes que estejam presentes nos momentos cruciais, que assumam a responsabilidade que lhes foi confiada e que não tratem a saúde pública como um problema menor.

Enquanto as serpentinas enfeitaram o céu da cidade, a população seguiu sem respostas, sem soluções e sem a atenção de quem deveria estar ao seu lado. A festa acabou, mas os desafios continuam exigindo compromisso e ação de quem tem o dever de governar com seriedade e respeito.

A fiscalização deveria ter sido uma prioridade constante, não um compromisso ocasional pelos vereadores.

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STF amplia poder da Guarda Municipal: avanço ou confusão?

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que as guardas municipais podem sim, atuar no policiamento urbano. Isso significa que os guardas podem realizar patrulhamento ostensivo, comunitário e até efetuar prisões em flagrante. No entanto, suas funções devem respeitar os limites das polícias Civil e Militar, conforme a Constituição Federal.

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que as guardas municipais podem sim, atuar no policiamento urbano. Isso significa que os guardas podem realizar patrulhamento ostensivo, comunitário e até efetuar prisões em flagrante. No entanto, suas funções devem respeitar os limites das polícias Civil e Militar, conforme a Constituição Federal.

Essa decisão foi tomada no julgamento de um recurso sobre uma lei do município de São Paulo. O Tribunal de Justiça do Estado, à época, havia considerado a norma inconstitucional, alegando que a cidade teria invadido uma das competências do estado: a responsabilidade pela segurança pública.

No entanto, o Superior Tribunal Federal reverteu a decisão, reconhecendo que as guardas podem sim atuar na segurança pública urbana, desde que respeitem a Constituição. A definição do STF gerou reações divergentes em todo o país, deixando muita gente surpresa. Enquanto alguns veem um avanço na descentralização da segurança pública, outros temem que isso gere conflitos entre diferentes corporações responsáveis pela segurança pública.

Para os defensores da medida, a decisão fortalece a capacidade dos municípios de combater a criminalidade, especialmente em cidades como o Rio de Janeiro. Por outro lado, especialistas alertam que a falta de padronização e treinamento pode aumentar os riscos de abuso de autoridade.

 

O que muda na prática?

Com a decisão, as guardas municipais ganham mais autonomia no policiamento. Elas poderão atuar na prevenção do crime de maneira mais ativa, aumentando sua presença nas ruas. No entanto, elas continuam sem poder de investigação, que segue sendo exclusivo das polícias Civil e Federal. Seu papel deve ser complementar, evitando conflitos de competência com outras forças de segurança.

Isso significa que a Guarda Municipal poderá atuar na repressão imediata de crimes, como furtos e assaltos. Contudo, a elucidação de delitos e a busca por provas seguem sendo atribuições da Polícia Civil. Para que essa divisão funcione, será necessária uma colaboração efetiva entre as instituições.

Além disso, a atuação das guardas deve ser coordenada com os demais órgãos de segurança. Isso exige investimentos em treinamento, estrutura e um planejamento integrado. Sem esses elementos, a ampliação das funções pode gerar sobrecarga e ineficiência.

 

Segurança pública é dever do Estado

A Constituição Federal determina que a segurança pública é responsabilidade do Estado. No entanto, também afirma que é um direito e dever de todos. Isso significa que municípios podem e devem contribuir, dentro de seus limites, para garantir a ordem pública. A decisão do STF reflete essa necessidade ao permitir que as guardas municipais participem mais ativamente da segurança pública. Com presença mais próxima da população, essas forças podem agir de maneira mais ágil na prevenção de crimes e na mediação de conflitos urbanos.

A Guarda Municipal sempre teve um papel importante na proteção do patrimônio público, mas agora sua atuação se amplia. No entanto, isso também significa que as prefeituras precisarão investir na qualificação desses profissionais, especialmente porque andam armados e sem o devido zelo - por parte do poder público - com seus treinamentos.

Sem um treinamento adequado, a ampliação das funções da Guarda pode resultar em erros operacionais graves e até mesmo em abusos de autoridade – algo relativamente frequente na justiça estadual. Também é preciso garantir que os guardas municipais tenham equipamentos adequados e condições de trabalho compatíveis com as novas responsabilidades que passam a assumir.

 

Novos desafios para a segurança pública

Embora a medida possa fortalecer a segurança local, há desafios a serem enfrentados. Sem treinamento adequado e estrutura suficiente, o risco de abusos ou ineficiência aumenta, especialmente diante do uso obrigatório das câmeras corporais às polícias militares. Além disso, a falta de clareza nos limites da atuação pode gerar disputas entre corporações, principalmente com as polícias militares, que historicamente são as principais responsáveis pelo policiamento ostensivo. Afinal, no meio dessa gama de responsabilidades não bem definidas, quem ajoelhará no milho?

Outro ponto sensível é o impacto financeiro para os municípios. O aumento das atribuições da Guarda Municipal pode exigir mais contratações, melhores salários e novos equipamentos. Além disso, demandará maior organização com as demais funções atribuídas à Guarda Municipal, que muitas vezes não são tão efetivas como deveriam.

Essencial ressaltar que nem todas as cidades terão condições de arcar com esses custos, o que pode criar disparidades na qualidade da segurança, gestão do trânsito e outras atribuições da Guarda Municipal, entre diferentes regiões. Além disso, a responsabilidade incumbida também ao município poderá gerar um déficit no investimento estadual com segurança pública, o que poderá acarretar em menos policiais nas ruas.

O caminho ideal é a cooperação entre União, estados e municípios. Apenas com um trabalho coordenado será possível garantir segurança de qualidade para todos. A decisão do STF é um passo largo, mas agora é preciso que as cidades estejam preparadas para essa nova responsabilidade. Resta saber se as prefeituras e a própria população estão prontas para essa mudança.

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Geração Z: Cada dia mais longe da casa própria

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Sonhar com a casa própria já foi uma das maiores aspirações de quem começava sua trajetória no mercado de trabalho. Contudo, para a Geração Z, os jovens que nasceram entre 1995 e 2010, esse sonho parece cada vez mais distante e menos palpável.

Sonhar com a casa própria já foi uma das maiores aspirações de quem começava sua trajetória no mercado de trabalho. Contudo, para a Geração Z, os jovens que nasceram entre 1995 e 2010, esse sonho parece cada vez mais distante e menos palpável.

Há quem fale que a geração não tenha o sonho de comprar a casa própria para ter maior liberdade de locomoção por um mundo globalizado. Entretanto, a realidade se distancia da afirmativa. O resultado desse cenário? A aquisição de um imóvel deixou de ser uma meta atingível para a maioria dos jovens, transformando-se em um privilégio restrito a poucos.

 

Perda do poder de salário

A realidade atual revela que os salários perderam substancialmente o poder de compra, enquanto os custos essenciais da vida só aumentaram. Em décadas passadas, era comum que um jovem recém-ingressado no mercado de trabalho conseguisse, com o tempo, juntar dinheiro suficiente para casar, comprar um carro e dar entrada em um imóvel. Esse objetivo, que representava um marco importante na vida adulta, era alcançável por meio de um planejamento financeiro prudente.

No entanto, a vida não é mais como era antigamente. Enquanto os salários cresceram de forma lenta e desproporcional, a inflação disparou, corroendo o poder aquisitivo da população. Itens básicos como aluguel, alimentação, transporte e lazer consomem boa parte da renda dos jovens dessa geração, deixando espaço mínimo para a poupança.

Além disso, as empresas deixaram de ser as grandes corporações centralizadas de antigamente, nas quais os jovens subiam gradualmente até cargos de gerência, com salários mais altos. Hoje, o mercado de trabalho é mais dinâmico e diversificado, com o surgimento de empresas menores, que geralmente oferecem menos estrutura e planejamento de carreira.

 

Especulação imobiliária

A situação se agrava ainda mais devido à especulação imobiliária. Investidores que compram imóveis em larga escala e os revendem a preços elevados, impulsionados pela busca incessante de lucro, têm ajudado a inflacionar ainda mais os preços dos imóveis. O resultado é que, enquanto uma parcela da população se beneficia desse cenário, quem realmente precisa de um lar digno e acessível encontra opções cada vez mais escassas e inacessíveis.

A chamada “bolha imobiliária” parece se expandir sem controle, colocando a casa própria ainda mais fora do alcance dos jovens. Com isso, muitos se veem obrigados a pagar aluguel por apartamentos cada vez menores, com valores que muitas vezes beiram o absurdo, sem conseguir acumular patrimônio.

A falta de espaço nos grandes centros urbanos também se tornou um obstáculo significativo. Enquanto as grandes cidades continuam sendo os principais polos de emprego e oportunidades, a escassez de terrenos e a saturação do mercado imobiliário tornam o sonho de morar perto do trabalho quase impossível.

Os poucos imóveis disponíveis em áreas centrais estão além do orçamento da maioria dos jovens. Isso força os jovens a tomarem decisões difíceis: ou se mudam para bairros distantes, enfrentando o caos do trânsito, da violência e do desgaste do tempo – e gastos - de deslocamento, ou optam por gastar uma parte significativa da sua renda mensal com aluguel. O que antes era uma escolha natural e até desejada – ter um lar próprio perto de onde trabalham – agora parece mais uma utopia.

 

Financiamentos cada vez mais difíceis

Comprar um imóvel? Esse objetivo tem tornado viável para a geração por meio de financiamentos, que quando conseguidos, são de valores exorbitantes, cujas parcelas podem atravessar gerações, com valores que, muitas vezes, ultrapassam a capacidade de pagamento de muitos.

 

Utopia

Em face dessa realidade desanimadora, tanto nas grades cidades como em Nova Friburgo, muitos jovens já desistiram do sonho da casa própria, considerando-o inatingível em suas circunstâncias atuais. Outros buscam alternativas, como soluções de co-living (repúblicas), nos quais dividem espaços com outras pessoas, ou aceitam financiar imóveis por prazos tão longos que parecem quase impensáveis.

Há ainda aqueles que simplesmente se conformam com a ideia de que morar de aluguel será a única opção ao longo de toda a vida adulta. O problema, contudo, não está apenas no fato de que os jovens estão se adaptando a um mercado imobiliário cada vez mais restritivo, mas na necessidade de questionar se esse mercado ainda faz sentido.

Será que o modelo atual, onde imóveis são tratados como meros produtos de especulação, ainda é viável e sustentável para as futuras gerações? Se a tendência continuar, a casa própria, que já foi um símbolo de conquista e estabilidade, pode se transformar, para a Geração Z, em um sonho inalcançável, quase um conto de fadas. 

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