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A esperança que não decepciona

terça-feira, 08 de dezembro de 2020

Seguindo nossa reflexão sobre o Advento – tempo de preparação para o Natal - somos chamados a olhar com atenção e esperança o momento crítico da história que estamos vivendo. Assim como os povos ansiavam a vinda do Messias para libertá-los do poder das trevas e do pecado e de toda opressão, esperamos ansiosos pela celebração do Natal e pela superação da crise mundial gerada pelo coronavírus.

Seguindo nossa reflexão sobre o Advento – tempo de preparação para o Natal - somos chamados a olhar com atenção e esperança o momento crítico da história que estamos vivendo. Assim como os povos ansiavam a vinda do Messias para libertá-los do poder das trevas e do pecado e de toda opressão, esperamos ansiosos pela celebração do Natal e pela superação da crise mundial gerada pelo coronavírus.

É verdade que temos inúmeras razões de termos medo e incertezas. Por vezes nos encontramos afogados no desespero da falta de perspectiva de futuro. A pandemia dilacerou o tecido social, destruiu sonhos, desfez projetos. Quantas perdas sofremos: alguns perderam familiares, amigos e a saúde. As chagas de nossa sociedade tornaram-se ainda maiores. O desemprego em massa causando a fome, expondo e exacerbando as desigualdades.

Unido a este quadro, ainda enfrentamos o crescente número de violência, em muitas ocasiões praticada dentro dos próprios lares. As guerras pelo poder de dominação continuam devastando países inteiros e suas populações, elevando a níveis absurdos os números de pessoas que são obrigadas a deixar sua terra natal em busca de asilo em outras nações.

Na mensagem para o Natal, o Conselho Mundial de Igrejas nos fez recordar que celebrar a encarnação do verbo divino é renovar a fé na certeza de que Deus se importa e vem ao encontro de nossas dores e fragilidades.

“A situação em que vivemos, marcada pela pandemia, gera em muitas pessoas preocupação, medo e desânimo; corremos o risco de cair no pessimismo, no fechamento e na apatia. Como devemos reagir a isto? O salmista sugere-nos: ‘Nossa alma espera pelo Senhor, é ele o nosso auxílio e o nosso escudo. Nele se alegra o nosso coração’ (Sl 32,20-21). A espera confiante do Senhor faz-nos encontrar conforto e coragem nos momentos sombrios da existência. E de onde nasce esta coragem e esta aposta confiante? Nasce da esperança” (Conselho Mundial de Igrejas, Mensagem de Natal).

Não podemos nos esquecer que é nas horas mais sombrias de nossa história que encontramos conforto e esperança na boa nova do nascimento do salvador de Belém. Na espera do Natal, esforcemo-nos por redescobrir e valorizar a grande esperança e alegria que nos dá a vinda do filho de Deus ao mundo. Na certeza de que temos um Deus que nos ama e se faz próximo, compartilhando de nossas dores.

Mas não nos esqueçamos: a esperança não pode ser estática. No momento crítico atual, se faz ainda mais urgente nossa atenção e cuidado com os que nos são próximos. A pandemia não acabou. Ao contrário, os últimos números nos mostram que é necessário cautela e determinação na prática das orientações das autoridades de saúde.

Unamos à esperança nosso compromisso de cuidar dos que nos são próximos “para que o medo dê lugar à alegria e que, neste ano de tristeza, solidão e sofrimento, ela possa trazer esperança, coragem e amor a serviço da justiça e da paz” (CMI, Mensagem de Natal).

Seguimos, assim, as palavras do Papa Francisco: “Para sair de uma pandemia, é preciso cuidar-se e cuidar uns dos outros. (...) Cuidar é uma regra de ouro da nossa condição humana, e traz consigo saúde e esperança. Cuidar dos doentes, dos necessitados, dos abandonados: esta é uma riqueza humana e também cristã” (Audiência geral, 16 set. 2020).

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é coordenador da Pastoral da Comunicação da Diocese de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Advento: tempo de espera e preparação

terça-feira, 01 de dezembro de 2020

No último domingo, 29 de novembro, iniciou-se o tempo litúrgico do Advento, um momento de espera e preparação para o Natal. A cada ano a liturgia da Igreja nos faz recordar que o Senhor do Tempo entrou no tempo para dar novo significado à história da humanidade, e fez de cada instante porta para a eternidade (cf. YouCat, 184-185).

No último domingo, 29 de novembro, iniciou-se o tempo litúrgico do Advento, um momento de espera e preparação para o Natal. A cada ano a liturgia da Igreja nos faz recordar que o Senhor do Tempo entrou no tempo para dar novo significado à história da humanidade, e fez de cada instante porta para a eternidade (cf. YouCat, 184-185).

A expectativa do novo céu e da nova terra (cf. Ap 21,1) é o que sustenta e fortalece nossa peregrinação. O Advento é um convite à prática das três virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Este tempo não pode ser compreendido apenas como uma espera estática e vazia, mas deve nos inserir na dinâmica do encontro com o Deus presente.

O catecismo da Igreja Católica leciona: “Ao celebrar cada ano a liturgia do Advento, a Igreja atualiza esta espera do Messias: comungando com a longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo de sua segunda vinda” (§524).

O Advento é ocasião de intensa espera pela vinda do Messias e, por isso, é também um tempo de preparação, de renovar os propósitos de conversão e de santidade. Durante as quatro semanas que antecedem a grande festa do Natal, a liturgia nos faz reviver e ansiar este grande mistério da nossa fé: a encarnação do verbo.

Assim, o Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa que se reveste de traços litúrgicos e comportamentos próprios de uma vigília. Manifesta-se a expectativa cristã da implementação do reino de Deus.

Na vivência da fé, encontramos um Deus que se faz próximo de nós, que experimenta nossa fragilidade e vive a nossa dor. O Papa Francisco explicou na homilia do último domingo: “O primeiro passo da fé é dizer ao Senhor que precisamos dele, da sua proximidade. E a primeira mensagem do Advento e do ano litúrgico é também reconhecer Deus próximo” (29 nov. 2020).

O santo padre nos convida, ainda, a fazer o exercício de invocar a vinda do Senhor Jesus a todo instante, repeti-la com frequência, antes das reuniões, do estudo, do trabalho e das decisões a tomar, nos momentos importantes e de provação: Vem, Senhor Jesus! Crescer na certeza de que não estamos abandonados à nossa própria sorte.

É esta certeza que nos protege da mediocridade. Pois, segundo o papa, ela nos sobrevém quando esquecemos o primeiro amor e avançamos apenas por inércia, prestando atenção somente em viver tranquilos. “Quando orbitamos apenas em torno de nós mesmos e das nossas necessidades, indiferentes às dos outros, a noite desce sobre o coração” (idem).

A expectativa do Natal, muitas vezes, converte-se apenas em atos externos, preocupações vãs: compras, ceia, enfeites... Contudo, deveria ser próprio deste tempo e perpetuado por toda a vida a fraternidade e a prática da caridade.

Foi o que advertiu Francisco ao encerrar a meditação do início do Advento: “Quando orbitamos apenas em torno de nós mesmos e das nossas necessidades, indiferentes às dos outros, a noite desce sobre o coração” (idem).

Este é um tempo propício para renovar nossos propósitos e assumir o protagonismo na construção de um mundo mais fraterno e justo. Cuidemos para que cada gesto externo de preparação à grande festa do Natal, seja uma sincera e verdadeira manifestação da conversão de nossos corações e ações.

Um santo Advento a todos!

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A carne mais barata do mercado

terça-feira, 24 de novembro de 2020

A carne mais barata do mercado é a carne negra”. Esta música composta por Seu Jorge, Marcelo Yuca e Wilson Capellette, que ganhou espaço na Música Popular Brasileira na voz de Elza Soares, enaltece as qualidades, por muitos ignorada, da população negra na construção deste país. Mas, ao mesmo tempo, denuncia feridas abertas da sociedade brasileira: a desvalorização, o descaso, a falta de respeito, a segregação, o preconceito...

A carne mais barata do mercado é a carne negra”. Esta música composta por Seu Jorge, Marcelo Yuca e Wilson Capellette, que ganhou espaço na Música Popular Brasileira na voz de Elza Soares, enaltece as qualidades, por muitos ignorada, da população negra na construção deste país. Mas, ao mesmo tempo, denuncia feridas abertas da sociedade brasileira: a desvalorização, o descaso, a falta de respeito, a segregação, o preconceito...

Em uma entrevista, Dom José Valdeci Santos Mendes, bispo da Diocese de Brejo, referencial das pastorais sociais do Maranhão e presidente da Comissão Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ao falar da luta pela dignidade e a resistência do povo negro, destacou a importância de, como irmãos, ouvir a voz de Deus, juntar nossas forças e assumir sua causa junto ao seu povo. 

Precisamos unir as nossas forças e dizer não a todo tipo de opressão e de negação da vida. Celebrar o dia da consciência negra (último 20 de novembro) é renovar o compromisso na luta em defesa da vida tendo como base a abertura para o diálogo, compreensão do diferente, compromisso com a justiça e empenho em defesa da vida” (Dom José Valdeci Santos Mendes, 20 nov. 2020).

Infelizmente o racismo está tão entranhado em nossa história, que se tornou estrutural. Por este motivo, muitos defendem que ele não existe mais em nosso meio. Contudo, muitas vezes somos bombardeados por relatos de pessoas que sentem na carne a dor do preconceito por terem sua pele preta.

O recente relato da morte por espancamento de um homem negro de 40 anos em uma famosa rede de supermercados no Rio Grande do Sul chocou a todos. Mas este foi somente mais um caso dentre tantos outros que sofreram e sofrem a prática de violência e abusividade programada contra pessoas negras.

Está em nossas mãos o poder de mudar esta triste realidade e execrar todo e qualquer ato discriminatório. No Concílio Vaticano II, o Magistério ressaltou o valor da fraternidade universal e a reprovação de toda a discriminação racial ou religiosa, e afirmou categoricamente que “A Igreja reprova, por isso, como contrária ao espírito de Cristo, toda e qualquer discriminação ou violência praticada por motivos de raça ou cor, condição ou religião” (Nostra aetate, 5).

Todo cristão deve se empenhar no âmbito social-político-cultural afim de garantir o direito de todos a uma cultura humana e civil, adequada à pessoa humana (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 557; Gaudium et Spes, 60).

A doutrina da Igreja ainda nos ensina que no sacrifício de Cristo na cruz, manifestação máxima de seu amor, todas as barreiras de divisão e discórdia foram derrubadas (cf. Ef 1,8-10). Isto implica a todos que carregam a égide de cristão e que queiram viver esta nova vida em Cristo devem abraçar como meta de toda a sua existência instrumentos de paz e fraternidade, evitando que as diferenças raciais e culturais sejam motivo de divisão entre os homens (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja. 431).

Somos chamados, como família humana, a recuperar a nossa própria unidade e a reconhecer a riqueza presente em nossas diferenças tendo como meta a “unidade total em Cristo” (cf. Pio XII, Discurso aos Juristas Católicos, 6 dez. 1953).

Termino esta reflexão com duas afirmações: no Brasil existe racismo e todas as carnes têm o mesmo valor, pois custaram um alto preço: a morte de Cristo na cruz.

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Ver Jesus nos pobres

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

No último domingo, 15, celebramos o Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco há quatro anos. A referida data tem como principal intenção conduzir nossa reflexão e atenção às necessidades dos irmãos menos favorecidos e à nossa responsabilidade na construção de um mundo melhor.

No último domingo, 15, celebramos o Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco há quatro anos. A referida data tem como principal intenção conduzir nossa reflexão e atenção às necessidades dos irmãos menos favorecidos e à nossa responsabilidade na construção de um mundo melhor.

O Sumo Pontífice faz um apelo à humanidade: “Não pensemos nos pobres apenas como destinatários de uma boa obra de voluntariado, que se pratica uma vez por semana, ou, menos ainda, de gestos improvisados de boa vontade para pôr a consciência em paz” (Mensagem para o I Dia Mundial dos Pobres, 19 nº 2017).

O cuidado com os mais necessitados deve se tornar uma constante na vivência comunitária, não se pode resumir a um ato isolado, ou a um mecanismo para alívio da consciência. Diante desta realidade somos chamados “a estender a mão aos pobres, a encontrá-los, fixá-los nos olhos, abraçá-los, para lhes fazer sentir o calor do amor que rompe o círculo da solidão” (idem). Se queremos encontrar Jesus é preciso sair das nossas certezas e comodidades, caminhar em direção às fragilidades de nossos irmãos e tocar em suas chagas o corpo chagado do próprio Cristo.  

Na mensagem para celebração deste ano, o Papa Francisco toma como ponto de partida as palavras do livro do Eclesiástico: “estende sua mão ao pobre” (Eclo 1,36), chamando atenção para a densidade do seu significado nos dias de hoje. É preciso concentrar o olhar no que é essencial e superar as barreiras da indiferença.

A Palavra de Deus ultrapassa o espaço, o tempo, as religiões e as culturas. A generosidade que apoia o vulnerável, consola o aflito, mitiga os sofrimentos, devolve dignidade a quem dela está privado, é condição para uma vida plenamente humana. A opção de prestar atenção aos pobres, às suas muitas e variadas carências, não pode ser condicionada pelo tempo disponível ou por interesses privados, nem por projetos pastorais ou sociais desencarnados. Não se pode sufocar a força da graça de Deus pela tendência narcisista de se colocar sempre a si mesmo no primeiro lugar” (Mensagem para o IV Dia Mundial dos Pobres, 15 nov. 2020).

A cultura atual nos empurra para uma vivência individualista e despreocupada com a triste realidade com os que sofrem. Encerrados em suas bolhas, os indivíduos atravessam a vida preocupados somente com o momento presente e com o seu bem estar. A grande tentação do mundo atual é pensar que a existência é nossa de modo absoluto, como se tivéssemos criado a nós mesmos, sendo capazes de viver sozinhos, valorizando somente o que pode nos devolver favores.

Para se poder apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com este ideal egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença. Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe” (Evangelii gaudium, 54)

Num mundo cheio de distrações, novidades e produtos a serem consumidos, é urgente manter o olhar voltado para o irmão em situação de vulnerabilidade social e imprimir a justa direção à nossa vida pessoal e social.

O cuidado com o pobre deve ser encarnado, comprometido concretamente com a vida, e não apenas alicerçado no uso de muitas palavras. Tomemos, pois, nosso lugar na construção da fraternidade e amizade social (cf. Fratelli Tutti), deixando a indiferença e o cinismo em ignorar as feridas e dores de nossos irmãos.

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A paz é fruto da justiça” (Is 32, 17)

terça-feira, 10 de novembro de 2020

A humanidade anseia ardentemente pela paz. Esta deve ser buscada em cada decisão e ação dos agentes sociais. A Doutrina Social da Igreja adverte que a paz é posta em perigo quando o homem é ferido em sua dignidade e quando a organização social não é orientada em direção ao bem comum, isto é, a construção de uma sociedade pacífica só será possível com a defesa e promoção dos direitos humanos (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 494).

A humanidade anseia ardentemente pela paz. Esta deve ser buscada em cada decisão e ação dos agentes sociais. A Doutrina Social da Igreja adverte que a paz é posta em perigo quando o homem é ferido em sua dignidade e quando a organização social não é orientada em direção ao bem comum, isto é, a construção de uma sociedade pacífica só será possível com a defesa e promoção dos direitos humanos (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 494).

O Papa Francisco em discurso às autoridades governamentais, à sociedade civil e ao corpo diplomático de Myanmar e Bangladesh afirmou categoricamente que “o árduo processo de construção da paz e reconciliação nacional só pode avançar através do compromisso com a justiça e do respeito pelos direitos humanos. A sabedoria dos antigos definiu a justiça como a vontade de reconhecer a cada um aquilo que lhe é devido, enquanto os antigos profetas a consideraram como o fundamento da paz verdadeira e duradoura” (28 nov. 2017).

Esta reflexão é sustentada pelas palavras do profeta Isaías: “A paz é fruto da justiça” (Is 32, 17). Nisto se engendra nossa responsabilidade comum em zelar pelo equilíbrio de todas as dimensões da pessoa humana e da sociedade. A conversão pessoal nos impõe “a obrigação de trazer às instituições e às condições de vida as correções convenientes para que elas se conformem com as normas da justiça e favoreçam o bem, em vez de se lhe oporem” (Catecismo da Igreja Católica, 1888).  

Aproximamo-nos de um importante dia em nossa luta pela justiça e pela paz: as eleições; oportunidade de todo cidadão participar efetivamente da vida comunitária, exercendo livre e responsavelmente seu dever cívico ‘com’ e ‘pelos’ outros.  Por isso, se faz necessário e urgente a conscientização desta ferramenta da democracia.

Assim, “merecem uma preocupada consideração todas as atitudes que levam o cidadão a formas participativas insuficientes ou incorretas e à generalizada desafeição por tudo o que concerne à esfera da vida social e política: atente-se, por exemplo, para as tentativas dos cidadãos de “negociar” com as instituições as condições mais vantajosas para si, como se estas últimas estivessem ao serviço das necessidades egoísticas, e para a praxe de limitar-se à expressão da opção eleitoral, chegando também, em muitos casos, a abster-se dela” (CDSI, 191).

No dia em que elegeremos nossos representantes municipais, cuidemos por escolher aqueles que manifestem propósitos de diligência e abnegação no desempenho de suas funções. Estejamos atentos aos ideais de igualdade, imparcialidade, fraternidade principalmente de justiça, pois quando esta “chega tarde ou não chega, se engendra muita dor e sofrimento, a dignidade humana fica ferida e o direito postergado” (Papa Francisco, carta ao presidente da Suprema Corte da Argentina).

Conscientes, respeitemos a ordem, busquemos as virtudes da prudência, sabedoria, integridade e fortaleza, afim de que, com nossas escolhas, derrotemos o mal e tutelemos a verdade.

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Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é coordenador diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras

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A teimosa esperança

quarta-feira, 04 de novembro de 2020

Estamos nos aproximando do final de mais um ano, no itinerário anual o mês de novembro é de uma aura de certeza e esperança. Duas celebrações marcam o início deste mês, a Solenidade de Todos os Santos e a comemoração dos fiéis defuntos, últimos dias 1º e 2.

Estamos nos aproximando do final de mais um ano, no itinerário anual o mês de novembro é de uma aura de certeza e esperança. Duas celebrações marcam o início deste mês, a Solenidade de Todos os Santos e a comemoração dos fiéis defuntos, últimos dias 1º e 2.

A liturgia da Igreja, repleta de significado, nos provoca à reflexão sobre a existência humana e a transitoriedade das coisas. Nesta perspectiva é lícito e necessário meditarmos sobre nossa vocação de sermos-para-a-vida, ou seja, não só sobre nossa finitude, mas para o além dela, sobre o além túmulo, sobre o nosso desejo de eternidade.

Neste ano, estamos sendo interpelados a todo instante pela certeza de nossa finitude. Diante da pandemia causada pelo coronavírus, vimos de perto e com muita frequência a fragilidade de nossa condição humana. Compreendemos, assim como o salmista, que nossa existência “é semelhante à erva, ela floresce como a flor dos campos. Apenas sopra o vento, já não existe, e nem se conhece mais o seu lugar” (Sl 102, 15-16).

Muitas vezes a certeza da finitude causa em nós angústia, desânimo e desespero, pois nos deixamos dominar pelo pensamento de perda e impotência. Contudo, à luz da ressurreição de Cristo somos levamos a alimentar nossa esperança na eternidade. É como reza a Igreja: “E, aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola” (Prefácio dos fiéis defuntos I).

Olhando para os anseios do coração humano, se pode afirmar com certeza que o homem jamais aceitou sua aparente vocação de ser-para-o-nada, demonstrando-se sempre insatisfeito e inconformado com a certeza de sua finitude, alimentado pelo desejo de ir além, rompendo com as amarras de sua condição.

Sedenta pela infinitude a humanidade buscou ao longo de séculos meios para vencer a morte e as consequências da fragilidade de seu corpo. Nesta linha vimos evoluir a ciência na busca pela cura das doenças e superação da contingência das coisas.

É justo e verdadeiro este combate. Não podemos sucumbir aos sofrimentos desta vida e tão pouco nos eximir de nossa condição mortal. A teimosa esperança nos faz caminhar na tenacidade desta vida em direção à futura, construindo ambientes de paz, verdade e dignidade para todos.

A tomada de consciência de que somos seres finitos deve nos fortalecer na luta por construímos uma realidade presente melhor, mais justa e fraterna para todos. Assim, se encherá de concretude nossa fé e nossa esperança.

Somos peregrinos nesta jornada. Por isso, cada passo, cada decisão, tomados à luz de nossa vocação à vida eterna, onde se manifestará de fato o havemos de ser (cf. 1Jo 3, 2), nos conduzirá ao outro, às suas dores. Portanto, como irmãos, ajudemos uns aos outros a enfrentar as pedras e espinhos do caminho, de modo a chegarmos juntos às moradas eternas.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior é coordenador diocesano da Pastoral da Comunicação

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Mensagem dos bispos do Estado do Rio de Janeiro para estas eleições

terça-feira, 27 de outubro de 2020

A proximidade das eleições municipais 2020 e o cenário atual de pandemia no Brasil são um convite para que os fiéis católicos e todas as pessoas de boa vontade façam uma reflexão madura sobre o exercício consciente da sua responsabilidade cristã e cidadã na construção do bem comum.

Como pastores do povo que nos foi confiado por Jesus Cristo, nós, os arcebispos e bispos católicos do Estado do Rio de Janeiro, Regional Leste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), desejamos oferecer alguns elementos para esta reflexão.

A proximidade das eleições municipais 2020 e o cenário atual de pandemia no Brasil são um convite para que os fiéis católicos e todas as pessoas de boa vontade façam uma reflexão madura sobre o exercício consciente da sua responsabilidade cristã e cidadã na construção do bem comum.

Como pastores do povo que nos foi confiado por Jesus Cristo, nós, os arcebispos e bispos católicos do Estado do Rio de Janeiro, Regional Leste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), desejamos oferecer alguns elementos para esta reflexão.

Inspira-nos a imagem bíblica do bom samaritano (Lc 10) que, superando a indiferença diante da dor alheia e estendendo a mão para ajudar, faz da caridade a força que devolve a esperança. A Doutrina Social da Igreja ensina que “a política é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum” (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 205).

Um olhar samaritano ao atual momento histórico, faz-nos perceber a sua gravidade e não pode nos deixar indiferentes. A pandemia do coronavirus acelerou processos de crises morais, socioeconômicas, políticas e culturais já existentes. Por outro lado, despertou também a consciência solidária de que estamos todos juntos, “no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar” (Papa Francisco, 27 de março de 2020). A solidariedade faz surgir esperança onde a insegurança das respostas oferece medo.

Este contexto exige atitudes políticas novas, capazes de repensar o serviço à cidade com modalidades mais eficientes, priorizando políticas públicas que defendam a vida na sua totalidade (família, saúde, educação, moradia, segurança, ambiente, etc.). A capacidade de estabelecer diálogo, a superação das polarizações, a união das diversas forças e o combate à corrupção fazem parte de atitudes políticas urgentes e que candidatos e eleitores devem considerar.

A Igreja Católica não faz política partidária, não tem candidatos, mas considera como parte de sua missão orientar as consciências à luz da coerência com os valores que tornam uma sociedade mais humana. Como cristãos e cidadãos temos o compromisso e a responsabilidade de cooperar para o bem de toda a sociedade. O voto consciente é um instrumento importante para mudanças políticas e sociais significativas.

Procure informar-se, através de fontes seguras, sobre o candidato em que você pretende votar e se suas propostas correspondem à realidade. Considere o seu compromisso com os reais interesses da cidade, especialmente para com os mais pobres e vulneráveis. Não vote em quem troca votos por favores, nem em candidatos condenados pela Justiça por atos de improbidade administrativa. A Lei da Ficha Limpa há de ser, neste caso, o instrumento iluminador do eleitor para barrar candidatos de ficha suja.

Lembremo-nos de que as eleições municipais têm relevância particular, pois vivemos na cidade e nela são aplicadas as políticas públicas que têm mais impacto no contexto do bem comum. A escolha dos prefeitos e vereadores pode ser determinante para processos de superação de desigualdade social e melhor qualidade de vida para todos.

Não se esqueça de que o compromisso com a vida social se exerce de forma privilegiada na hora de votar. Valorize o seu voto! Para um melhor exercício da cidadania na sociedade democrática é conveniente que nossa atuação se prolongue após as eleições, no acompanhamento dos eleitos, através dos instrumentos que já existem para isso, e que é preciso conhecê-los. O intuito é não só o de fiscalizar, mas também de colaborar positivamente no desenvolvimento das necessárias políticas públicas que garantam os direitos do cidadão.

A política democrática não é luta pela defesa de interesses particulares nem ideológicos, mas serviço e promoção do bem comum, incentivo do desenvolvimento pessoal e solidário das pessoas e dos povos, promoção da justiça e defesa da liberdade.

O conhecimento e aprofundamento da Doutrina Social da Igreja neste tempo poderá fomentar a participação mais consciente e eficaz dos leigos na vida pública.

Que Deus abençoe e ilumine a todos, eleitores e candidatos, nas eleições municipais deste ano, para o bem do povo!

Dom José Francisco Rezende Dias - arcebispo metropolitano de Niterói e presidente do Regional Leste 1 – CNBB; Dom Gilson Andrade da Silva, bispo de Nova Iguaçu e vice-presidente do Regional Leste 1 – CNBB e Dom Tarcisio Nascentes dos Santos , bispo de Duque de Caxias e secretário do Regional Leste 1 – CNBB. Esta coluna é publicada às terças-feiras. 

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A sociedade justa deve ser realizada pela política (Bento XVI, Deus Caritas est, n.28)

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Prezados (as) Senhores e Senhoras, Candidatos e Candidatas nas eleições municipais 2020,

Paz e bem!

Prezados (as) Senhores e Senhoras, Candidatos e Candidatas nas eleições municipais 2020,

Paz e bem!

No período de campanha eleitoral, a um mês das eleições municipais, minha cordial saudação aos candidatos e candidatas para os relevantes cargos executivos e legislativos. Minha primeira palavra é de gratidão pela vossa candidatura e nobre desejo de servir à população, nesse difícil momento histórico, agravado pela pandemia, no qual convivemos com sofrimentos diversos e infelizmente com a desvalorização da política por parte de muitos. Por essa razão minha gratidão pela coragem, disponibilidade, confiança, vocação e missão de servir ao verdadeiro bem comum, por meio da “boa política e política melhor” (Papa Francisco).

Sempre acreditei na política como nobre vocação e caminho de transformação social, pautada pela ética, justiça, solidariedade e respeito à vida de todos e todas, em todas as fases e situações, “de todo homem e do homem todo” (São João Paulo II). A política é missão concreta, sendo “uma expressão mais alta da caridade” (São Paulo VI) e meio para a justiça social, tão urgente e plausível.

Para tanto, urge concentrar os esforços nas “grandes causas” da vida e dos municípios, em conexão com a realidade concreta das pessoas, especialmente os mais pobres, necessitados e vulneráveis. Estamos incentivando, como Igreja Católica, um grande pacto pela vida e pelo Brasil, buscando o que nos une: ética, justiça, paz, respeito, novas estruturas, vida com qualidade e dignidade. Por meio da evangelização e inúmeras atividades pastorais e sociais procuramos, como Igreja, colaborar com a política na construção da sociedade justa, fraterna e solidária.

O cenário atual não pode gerar em nós sentimentos de resignação, desesperança e conformismo. Antes, pode ser ocasião de mobilização de energias para comunitariamente buscarmos soluções para os problemas e colocar a ética na política, na agenda do dia e na consciência individual e coletiva. Por essa razão, insisto na importância da política e do voto livre e responsável.

A motivação para a atitude consciente e cidadã, emerge do Evangelho, da fé cristã e das palavras do Papa Bento XVI, em sua encíclica Deus caritas est (n.28): “A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa possível. Não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça. Deve inserir-se nela pela via da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça, que sempre requer renúncias também, não poderá afirmar-se nem prosperar. A sociedade justa não pode ser obra da Igreja: deve ser realizada pela política. Mas toca à Igreja, e profundamente, o empenhar-se pela justiça trabalhando para a abertura da inteligência e da vontade às exigências do bem”.

Na mesma direção, ao falar da “caridade social e política”, assim se expressa o Papa Francisco em sua última e recente encíclica Fratelli Tutti, n. 176 e 180: “Atualmente muitos possuem uma má noção da política, e não se pode ignorar que frequentemente, por trás deste fato, estão os erros, a corrupção e a ineficiência de alguns políticos. A isto vêm juntar-se as estratégias que visam enfraquecê-la, substituí-la pela economia ou dominá-la por alguma ideologia. E, contudo, poderá o mundo funcionar sem política? Poderá encontrar um caminho eficaz para a fraternidade universal e a paz social sem uma boa política?Convido uma vez mais a revalorizar a política, que é uma sublime vocação porque busca o bem comum”.

Aos candidatos e candidatas que buscam concretizar por meio da política a tão esperada sociedade justa, meus sinceros agradecimentos pela disponibilidade e coragem, com votos de que tanto a campanha quanto o exercício do mandato sejam ocasião para semear e colher bons frutos em favor da vida e do bem comum, com amor político, desinteressado, democrático, eficiente e justo.

Por conta de minha agenda intensa e extensa, nesse início de governo pastoral na Diocese de Nova Friburgo, considerando a pandemia e o grande número de candidatos e candidatas nos municípios de nossa Diocese, infelizmente não poderei, neste ano, recebê-los (as) em audiência. Estou certo de poder contar com a compreensão dos senhores e senhoras. Contudo, asseguro-lhes minhas orações e reitero minha sincera gratidão pela disponibilidade em servir ao bem comum por meio da política. Serena e frutuosa campanha a todos e todas. Unidos na missão pela vida e pelo Brasil. Com minha benção, orações e proximidade fraterna.

 

Dom Luiz Antonio Lopes Ricci é bispo diocesano de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Viver é melhor que postar!

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Com o advento tecnológico surgiram muitas mudanças no cotidiano social. Não restam dúvidas que o crescimento vertiginoso da internet tem mudado o conceito de comunicação e de socialização. O desenvolvimento do ambiente digital tem oferecido muitas oportunidades únicas para os indivíduos, principalmente no que diz respeito a sua formação pessoal. A agilidade na dinâmica comunicativa e informativa favorece um maior intercâmbio de experiências, bem como o desenvolvimento econômico abrindo novas oportunidades em muitas áreas, incluindo a saúde e a educação.

Com o advento tecnológico surgiram muitas mudanças no cotidiano social. Não restam dúvidas que o crescimento vertiginoso da internet tem mudado o conceito de comunicação e de socialização. O desenvolvimento do ambiente digital tem oferecido muitas oportunidades únicas para os indivíduos, principalmente no que diz respeito a sua formação pessoal. A agilidade na dinâmica comunicativa e informativa favorece um maior intercâmbio de experiências, bem como o desenvolvimento econômico abrindo novas oportunidades em muitas áreas, incluindo a saúde e a educação.

Podemos comprovar este fato com as inúmeras situações enfrentadas neste tempo de pandemia. O santo padre ressalta que “as tecnologias abrem novos horizontes, especialmente para os menores que vivem em situações de dificuldade ou longe dos centros urbanos dos países mais industrializados” (14 de novembro de 2019).

Entretanto, diante do fascínio de tantos aspectos positivos, não se pode deixar de notar e denunciar as consequências negativas que, infelizmente, já estão enormemente difundidas e, muitas vezes, tão difíceis de remediar. Poderíamos elencar inúmeras situações, mas sem dúvida a pior delas é o aliciamento de toda a sociedade, que cada vez mais está dividida e se deixando conduzir por ideologias que visam apenas o interesse partidário.

Como uma voz profética o papa Francisco alerta: “É necessário aumentar a sensibilização para os riscos inerentes ao desenvolvimento tecnológico descontrolado em todos os setores da sociedade. Ainda não compreendemos — e muitas vezes não queremos compreender — a gravidade da questão no seu conjunto e as suas consequências futuras!” (Idem).

Na luta pelo poder e pelo dinheiro das grandes empresas tecnológicas, nos tornamos meros produtos que são manipulados ao consumo e à cultura individualista do descarte. Lançado recentemente, o documentário intitulado “O dilema das redes” chama atenção para este grande risco oferecido pela atual rendição às facilidades e distrações oferecidas pelas grandes redes sociais de comunicação. A impactante frase “Se você não paga pelo produto, o produto é você”, nos coloca diante de uma realidade alarmante.

Tristan Harris, um ex-designer do Google, explica durante o longa-metragem que há três objetivos principais na maior parte dos algoritmos criados pelos gigantes de tecnologia. “O de engajamento, para aumentar o seu uso, e te manter navegando. O de crescimento, para que você sempre convide amigos e os faça convidar outros amigos. E o objetivo de publicidade, para garantir que enquanto tudo acontece, estamos lucrando o máximo possível com anúncios”.

É indiscutível o enorme potencial dos instrumentos digitais, mas, ao mesmo tempo, as possíveis consequências devem ser combatidas. Apesar de toda evolução dos algoritmos utilizados no mundo da comunicação e informação, ainda persistem as feridas da sociedade. O tráfico de seres humanos, a organização do terrorismo, a propagação do ódio e do extremismo, a manipulação da informação e, lamentavelmente, o abuso de menores ainda encontram no mundo digital um campo aberto e fértil.

Em sua última encíclica, o Papa Francisco ao falar sobre a fraternidade e amizade social aponta ainda para outros perigos da sedução da evolução tecnológica como o isolamento e perda progressiva de contato com a realidade concreta. “Fazem falta gestos físicos, expressões do rosto, silêncios, linguagem corpórea e até o perfume, o tremor das mãos, o rubor, a transpiração, porque tudo isso fala e faz parte da comunicação humana” (Fratelli tutti, 43).

Cuidemos, pois, de viver a realidade concreta de nossas vidas construindo relações capazes de construir um mundo mais justo e fraterno.

 

Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é coordenador da Pastoral da Comunicação da Diocese de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

Foto da galeria

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Eras tu, Senhor?

terça-feira, 06 de outubro de 2020

Nesta Semana Nacional da Vida, dentro do mês missionário, refletiremos com a inspiração da nova encíclica do nosso profético Papa Francisco – “Fratelli tutti” sobre a fraternidade e a amizade social, complementando e aprofundando a Teologia da Criação, do cuidado com a vida apresentada na “Laudato si”.

Nesta Semana Nacional da Vida, dentro do mês missionário, refletiremos com a inspiração da nova encíclica do nosso profético Papa Francisco – “Fratelli tutti” sobre a fraternidade e a amizade social, complementando e aprofundando a Teologia da Criação, do cuidado com a vida apresentada na “Laudato si”.

A exemplo de São Francisco de Assis reassumimos a vida como dom e compromisso, defendendo-a, em todas as suas etapas, desde a concepção no ventre materno até a morte natural. A vida é missão de todo ser humano e de todo batizado. É a base de toda a evangelização e testemunho cristão, como nos recorda São João Paulo II em sua iluminada encíclica Evangelium Vitae.

A fraternidade é a forma mais direta de comunicação da boa nova de Cristo. É o coração de toda mensagem evangélica: o amor fraterno capaz de dar a vida pelo outro, de resgatar a vida dos mais perdidos e necessitados, no espírito da misericórdia e gratuidade. Isto implica na defesa e promoção da dignidade humana como imagem e semelhança de Deus e o respeito ao seu plano de amor da criação, impresso na consciência e nas leis da natureza, de onde decorre a ética da justiça, do equilíbrio e da realização do bem.

Por meio de várias inciativas e pastorais, campanhas e obras, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ao longo de décadas, vem refletindo e agindo com toda a comunidade brasileira sobre vários temas e áreas da nossa realidade: a ecologia, a saúde, a terra, o índio, o negro, o trabalho, a mulher, a fome, o menor, a educação, a moradia, o jovem, a família, idoso, a pessoa com deficiência, a segurança, a água, a comunicação, a paz, entre outros.

Ao ver o quadro real, com suas injustiças, desigualdades e incoerências com a verdade cristã, a Igreja exerce, com a autoridade de Cristo, sua missão profética de julgar, avaliar as situações à luz do Evangelho, conscientizar sobre os valores e denunciar o sistema de pecado, apresentando pistas de ação e sua colaboração concreta – o agir -  para uma solução justa e fraterna a partir da solidariedade e da união.

A comunhão eclesial, seguindo o exemplo e o coração de Cristo, se inclina aos mais pobres e abandonados e adverte que os que os excluem estão contra a vontade de Deus. Oprimem e exploram o próprio Cristo no ser humano faminto, prostituído, prisioneiro, dependente químico, alcoolizado, indefeso no ventre. Rejeitam o Jesus abandonado, doente, menor carente, pobre, mendigo, analfabeto. Discriminam o Senhor no negro, no indígena, na mulher, no idoso, nas pessoas com deficiência, nos portadores do vírus do HIV, dentre outros.

É necessário que nos convertamos à proposta do mestre que é a humildade, a partilha na igualdade, a solidariedade e o amor fraterno, à consciência de que não somos melhores que ninguém. “Somos do mesmo barro”, ainda que agitados pela vaidade e pelo orgulho que tão facilmente retorna ao chão. Tudo passa! A figura do mundo se esfumaça. Nós também passamos. Cada ser humano que de nós se aproxima é nosso irmão, é Jesus. E um dia, ele próprio nos julgará pela nossa sensibilidade, nossa atenção, nosso amor. “Estava com fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Estava nu e me vestistes... doente e fostes me ver...”  E nós: “Mas quando, Senhor que te fizemos isso?” Responderá para nós o Cristo: “Todas as vezes que fizestes isso ao menor dos pequeninos, a mim o fizestes”. E que nunca ouçamos o inverso: “o que não fizestes ao menor dos pequeninos...” (cf.  Mt 25 31-46). Restará a surpresa: “Eras tu, Senhor!”

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor diocesano da Pastoral Familiar. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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