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A sociedade justa deve ser realizada pela política (Bento XVI, Deus Caritas est, n.28)

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Prezados (as) Senhores e Senhoras, Candidatos e Candidatas nas eleições municipais 2020,

Paz e bem!

Prezados (as) Senhores e Senhoras, Candidatos e Candidatas nas eleições municipais 2020,

Paz e bem!

No período de campanha eleitoral, a um mês das eleições municipais, minha cordial saudação aos candidatos e candidatas para os relevantes cargos executivos e legislativos. Minha primeira palavra é de gratidão pela vossa candidatura e nobre desejo de servir à população, nesse difícil momento histórico, agravado pela pandemia, no qual convivemos com sofrimentos diversos e infelizmente com a desvalorização da política por parte de muitos. Por essa razão minha gratidão pela coragem, disponibilidade, confiança, vocação e missão de servir ao verdadeiro bem comum, por meio da “boa política e política melhor” (Papa Francisco).

Sempre acreditei na política como nobre vocação e caminho de transformação social, pautada pela ética, justiça, solidariedade e respeito à vida de todos e todas, em todas as fases e situações, “de todo homem e do homem todo” (São João Paulo II). A política é missão concreta, sendo “uma expressão mais alta da caridade” (São Paulo VI) e meio para a justiça social, tão urgente e plausível.

Para tanto, urge concentrar os esforços nas “grandes causas” da vida e dos municípios, em conexão com a realidade concreta das pessoas, especialmente os mais pobres, necessitados e vulneráveis. Estamos incentivando, como Igreja Católica, um grande pacto pela vida e pelo Brasil, buscando o que nos une: ética, justiça, paz, respeito, novas estruturas, vida com qualidade e dignidade. Por meio da evangelização e inúmeras atividades pastorais e sociais procuramos, como Igreja, colaborar com a política na construção da sociedade justa, fraterna e solidária.

O cenário atual não pode gerar em nós sentimentos de resignação, desesperança e conformismo. Antes, pode ser ocasião de mobilização de energias para comunitariamente buscarmos soluções para os problemas e colocar a ética na política, na agenda do dia e na consciência individual e coletiva. Por essa razão, insisto na importância da política e do voto livre e responsável.

A motivação para a atitude consciente e cidadã, emerge do Evangelho, da fé cristã e das palavras do Papa Bento XVI, em sua encíclica Deus caritas est (n.28): “A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa possível. Não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça. Deve inserir-se nela pela via da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça, que sempre requer renúncias também, não poderá afirmar-se nem prosperar. A sociedade justa não pode ser obra da Igreja: deve ser realizada pela política. Mas toca à Igreja, e profundamente, o empenhar-se pela justiça trabalhando para a abertura da inteligência e da vontade às exigências do bem”.

Na mesma direção, ao falar da “caridade social e política”, assim se expressa o Papa Francisco em sua última e recente encíclica Fratelli Tutti, n. 176 e 180: “Atualmente muitos possuem uma má noção da política, e não se pode ignorar que frequentemente, por trás deste fato, estão os erros, a corrupção e a ineficiência de alguns políticos. A isto vêm juntar-se as estratégias que visam enfraquecê-la, substituí-la pela economia ou dominá-la por alguma ideologia. E, contudo, poderá o mundo funcionar sem política? Poderá encontrar um caminho eficaz para a fraternidade universal e a paz social sem uma boa política?Convido uma vez mais a revalorizar a política, que é uma sublime vocação porque busca o bem comum”.

Aos candidatos e candidatas que buscam concretizar por meio da política a tão esperada sociedade justa, meus sinceros agradecimentos pela disponibilidade e coragem, com votos de que tanto a campanha quanto o exercício do mandato sejam ocasião para semear e colher bons frutos em favor da vida e do bem comum, com amor político, desinteressado, democrático, eficiente e justo.

Por conta de minha agenda intensa e extensa, nesse início de governo pastoral na Diocese de Nova Friburgo, considerando a pandemia e o grande número de candidatos e candidatas nos municípios de nossa Diocese, infelizmente não poderei, neste ano, recebê-los (as) em audiência. Estou certo de poder contar com a compreensão dos senhores e senhoras. Contudo, asseguro-lhes minhas orações e reitero minha sincera gratidão pela disponibilidade em servir ao bem comum por meio da política. Serena e frutuosa campanha a todos e todas. Unidos na missão pela vida e pelo Brasil. Com minha benção, orações e proximidade fraterna.

 

Dom Luiz Antonio Lopes Ricci é bispo diocesano de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Viver é melhor que postar!

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Com o advento tecnológico surgiram muitas mudanças no cotidiano social. Não restam dúvidas que o crescimento vertiginoso da internet tem mudado o conceito de comunicação e de socialização. O desenvolvimento do ambiente digital tem oferecido muitas oportunidades únicas para os indivíduos, principalmente no que diz respeito a sua formação pessoal. A agilidade na dinâmica comunicativa e informativa favorece um maior intercâmbio de experiências, bem como o desenvolvimento econômico abrindo novas oportunidades em muitas áreas, incluindo a saúde e a educação.

Com o advento tecnológico surgiram muitas mudanças no cotidiano social. Não restam dúvidas que o crescimento vertiginoso da internet tem mudado o conceito de comunicação e de socialização. O desenvolvimento do ambiente digital tem oferecido muitas oportunidades únicas para os indivíduos, principalmente no que diz respeito a sua formação pessoal. A agilidade na dinâmica comunicativa e informativa favorece um maior intercâmbio de experiências, bem como o desenvolvimento econômico abrindo novas oportunidades em muitas áreas, incluindo a saúde e a educação.

Podemos comprovar este fato com as inúmeras situações enfrentadas neste tempo de pandemia. O santo padre ressalta que “as tecnologias abrem novos horizontes, especialmente para os menores que vivem em situações de dificuldade ou longe dos centros urbanos dos países mais industrializados” (14 de novembro de 2019).

Entretanto, diante do fascínio de tantos aspectos positivos, não se pode deixar de notar e denunciar as consequências negativas que, infelizmente, já estão enormemente difundidas e, muitas vezes, tão difíceis de remediar. Poderíamos elencar inúmeras situações, mas sem dúvida a pior delas é o aliciamento de toda a sociedade, que cada vez mais está dividida e se deixando conduzir por ideologias que visam apenas o interesse partidário.

Como uma voz profética o papa Francisco alerta: “É necessário aumentar a sensibilização para os riscos inerentes ao desenvolvimento tecnológico descontrolado em todos os setores da sociedade. Ainda não compreendemos — e muitas vezes não queremos compreender — a gravidade da questão no seu conjunto e as suas consequências futuras!” (Idem).

Na luta pelo poder e pelo dinheiro das grandes empresas tecnológicas, nos tornamos meros produtos que são manipulados ao consumo e à cultura individualista do descarte. Lançado recentemente, o documentário intitulado “O dilema das redes” chama atenção para este grande risco oferecido pela atual rendição às facilidades e distrações oferecidas pelas grandes redes sociais de comunicação. A impactante frase “Se você não paga pelo produto, o produto é você”, nos coloca diante de uma realidade alarmante.

Tristan Harris, um ex-designer do Google, explica durante o longa-metragem que há três objetivos principais na maior parte dos algoritmos criados pelos gigantes de tecnologia. “O de engajamento, para aumentar o seu uso, e te manter navegando. O de crescimento, para que você sempre convide amigos e os faça convidar outros amigos. E o objetivo de publicidade, para garantir que enquanto tudo acontece, estamos lucrando o máximo possível com anúncios”.

É indiscutível o enorme potencial dos instrumentos digitais, mas, ao mesmo tempo, as possíveis consequências devem ser combatidas. Apesar de toda evolução dos algoritmos utilizados no mundo da comunicação e informação, ainda persistem as feridas da sociedade. O tráfico de seres humanos, a organização do terrorismo, a propagação do ódio e do extremismo, a manipulação da informação e, lamentavelmente, o abuso de menores ainda encontram no mundo digital um campo aberto e fértil.

Em sua última encíclica, o Papa Francisco ao falar sobre a fraternidade e amizade social aponta ainda para outros perigos da sedução da evolução tecnológica como o isolamento e perda progressiva de contato com a realidade concreta. “Fazem falta gestos físicos, expressões do rosto, silêncios, linguagem corpórea e até o perfume, o tremor das mãos, o rubor, a transpiração, porque tudo isso fala e faz parte da comunicação humana” (Fratelli tutti, 43).

Cuidemos, pois, de viver a realidade concreta de nossas vidas construindo relações capazes de construir um mundo mais justo e fraterno.

 

Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é coordenador da Pastoral da Comunicação da Diocese de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Eras tu, Senhor?

terça-feira, 06 de outubro de 2020

Nesta Semana Nacional da Vida, dentro do mês missionário, refletiremos com a inspiração da nova encíclica do nosso profético Papa Francisco – “Fratelli tutti” sobre a fraternidade e a amizade social, complementando e aprofundando a Teologia da Criação, do cuidado com a vida apresentada na “Laudato si”.

Nesta Semana Nacional da Vida, dentro do mês missionário, refletiremos com a inspiração da nova encíclica do nosso profético Papa Francisco – “Fratelli tutti” sobre a fraternidade e a amizade social, complementando e aprofundando a Teologia da Criação, do cuidado com a vida apresentada na “Laudato si”.

A exemplo de São Francisco de Assis reassumimos a vida como dom e compromisso, defendendo-a, em todas as suas etapas, desde a concepção no ventre materno até a morte natural. A vida é missão de todo ser humano e de todo batizado. É a base de toda a evangelização e testemunho cristão, como nos recorda São João Paulo II em sua iluminada encíclica Evangelium Vitae.

A fraternidade é a forma mais direta de comunicação da boa nova de Cristo. É o coração de toda mensagem evangélica: o amor fraterno capaz de dar a vida pelo outro, de resgatar a vida dos mais perdidos e necessitados, no espírito da misericórdia e gratuidade. Isto implica na defesa e promoção da dignidade humana como imagem e semelhança de Deus e o respeito ao seu plano de amor da criação, impresso na consciência e nas leis da natureza, de onde decorre a ética da justiça, do equilíbrio e da realização do bem.

Por meio de várias inciativas e pastorais, campanhas e obras, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ao longo de décadas, vem refletindo e agindo com toda a comunidade brasileira sobre vários temas e áreas da nossa realidade: a ecologia, a saúde, a terra, o índio, o negro, o trabalho, a mulher, a fome, o menor, a educação, a moradia, o jovem, a família, idoso, a pessoa com deficiência, a segurança, a água, a comunicação, a paz, entre outros.

Ao ver o quadro real, com suas injustiças, desigualdades e incoerências com a verdade cristã, a Igreja exerce, com a autoridade de Cristo, sua missão profética de julgar, avaliar as situações à luz do Evangelho, conscientizar sobre os valores e denunciar o sistema de pecado, apresentando pistas de ação e sua colaboração concreta – o agir -  para uma solução justa e fraterna a partir da solidariedade e da união.

A comunhão eclesial, seguindo o exemplo e o coração de Cristo, se inclina aos mais pobres e abandonados e adverte que os que os excluem estão contra a vontade de Deus. Oprimem e exploram o próprio Cristo no ser humano faminto, prostituído, prisioneiro, dependente químico, alcoolizado, indefeso no ventre. Rejeitam o Jesus abandonado, doente, menor carente, pobre, mendigo, analfabeto. Discriminam o Senhor no negro, no indígena, na mulher, no idoso, nas pessoas com deficiência, nos portadores do vírus do HIV, dentre outros.

É necessário que nos convertamos à proposta do mestre que é a humildade, a partilha na igualdade, a solidariedade e o amor fraterno, à consciência de que não somos melhores que ninguém. “Somos do mesmo barro”, ainda que agitados pela vaidade e pelo orgulho que tão facilmente retorna ao chão. Tudo passa! A figura do mundo se esfumaça. Nós também passamos. Cada ser humano que de nós se aproxima é nosso irmão, é Jesus. E um dia, ele próprio nos julgará pela nossa sensibilidade, nossa atenção, nosso amor. “Estava com fome e me destes de comer. Tive sede e me destes de beber. Estava nu e me vestistes... doente e fostes me ver...”  E nós: “Mas quando, Senhor que te fizemos isso?” Responderá para nós o Cristo: “Todas as vezes que fizestes isso ao menor dos pequeninos, a mim o fizestes”. E que nunca ouçamos o inverso: “o que não fizestes ao menor dos pequeninos...” (cf.  Mt 25 31-46). Restará a surpresa: “Eras tu, Senhor!”

Padre Luiz Cláudio Azevedo de Mendonça é assessor diocesano da Pastoral Familiar. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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A ciência do autoconhecimento

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Luz, caminho e cura!

Luz, caminho e cura!

Escritas assim, palavras soltas em uma exclamação fora de contexto, resumindo um parágrafo inteiro, parecem pertencer a mais um texto amador com intuitos de autoajuda. Mas para um bom leitor, indispensável é a paciência atenta diante de textos que só revelam sua perspicácia no conjunto, no seu todo. Daí meu pedido clemente: leia até o fim sem pré-juízos, se lhe for possível. Caso não seja, não há problema, pois geralmente nossos pré-juízos são destruídos ao fim de cada processo de conhecimento. Proponho-lhe, então, abertura resoluta de mente e coração.

Sócrates, na antiga Grécia, lançou as bases para todo processo de autoconhecimento e qualquer espécie de ciência voltada para o ser humano quando repetia para os seus concidadãos o adágio “conhece-te a ti mesmo”. Ele mesmo definiu seu pensamento e estilo de vida nessa dinâmica a tal ponto que julgava nada saber para poder se debruçar diante do conhecimento de algo. Assim, com essa humildade e honestidade intelectual, ele conseguia colocar os seus interlocutores em dificuldade diante do que pensavam conhecer.

Quando julgamos saber algo devemos questionar nosso saber para que ele cresça sempre mais. Pois o conhecimento que adquirimos será sempre limitado e, por isso mesmo, deve ser questionado a fim de poder crescer. O saber, sendo ilimitado, possui a capacidade de reciclar nossa disposição e abertura para novas aprendizagens. O conhecimento é infinito e infinita também deve ser nossa capacidade de rever o que pensamos saber. Ainda mais quando se trata de nós mesmos, daquilo que se passa dentro do coração: o saber sobre nosso temperamento, nossos gostos, nossos defeitos predominantes e nossas qualidades. Tal saber ganhou grande ajuda através das ciências psicológicas e psiquiátricas.

Falo do autoconhecimento. Por isso, o que vou dizer desejo que seja edificante no seu processo de autoconhecimento e descoberta da experiência maravilhosa de uma vida que, quando consegue mergulhar em sua interioridade, sempre vem à tona com novidades e não se fecha ao conhecimento e a novas formas de ver o mundo e a si mesmo.

Não é critério único, mas também é importante o que os outros pensam sobre você. Sim! Há luz, caminho e cura nessa descoberta. Todavia, o que sempre ouço é diferente e soa um tanto quanto altivo: “não importa o que pensam sobre você, seja autêntico e livre de opiniões alheias”. Até parece que somos uma ilha solitária num imenso oceano. Nós somos feitos de “nós mesmos e nossos compostos e estruturas”. Ou seja, esse é o modo de funcionarmos no mundo complexo de tudo o que nos compõe. E, portanto, não podemos negar: precisamos de um mundo onde pessoas importantes para nós pensem algo a nosso respeito.  

A humanidade parece concordar em uma opinião comum a respeito da tristeza: ela surge de um coração solitário, onde ninguém e nada habitam. “Falem mal, mas falem de mim” parece ser não só um ditado corrente, porém uma necessidade estrutural que faz a pessoa sentir que não está na solidão de suas atitudes, que alguém pensou nela e até se equivocou na interpretação de uma boa ação sua. Conhecendo-nos um pouco mais, descobriremos que em certa medida devemos ser livres de opiniões alheias, concordando com o ditado acima criticado, mas que, geralmente, a maioria das opiniões alheias são verdades criadas em nossos pensamentos e em nenhum outro lugar. Daí concluir que devemos nos libertar mais de nossos pensamentos viciados do que do pensamento dos outros.

Peço-lhe, mais uma vez, caro leitor, a pachorra de procurar entender. Em nossa criação, o que os pais e outras pessoas relevantes pensavam sobre nós sempre foi determinante para uma elevada autoestima. Tal estrutura se fixa tanto na interioridade do viver como na exterioridade do agir. Por um lado, o que as pessoas pensam sobre você ajuda você a ser quem você é. Contudo, é o que você formula no seu pensamento sobre a opinião dos outros a seu respeito que geralmente se transforma em um monstro, alimentado rapidamente por terríveis hipóteses que crescem na medida em que você dá a elas alimentos, os quais existem somente em seus pensamentos e não nos fatos.

Concluindo, se o que os outros pensam a nosso respeito nos faz bem por um lado (e a quem não faz bem ser reconhecido?), por outro, não devem e não podem determinar totalmente quem somos e o que pensamos sobre nós.

Padre Celso Henrique Macedo Diniz é vigário paroquial da Catedral Diocesana São João Batista. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Setembro Amarelo

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria, em parceria com o Conselho Federal de Medicina, organiza nacionalmente o movimento “Setembro Amarelo”. A culminância desta efeméride é o dia 10 deste mês, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.

Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria, em parceria com o Conselho Federal de Medicina, organiza nacionalmente o movimento “Setembro Amarelo”. A culminância desta efeméride é o dia 10 deste mês, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.

De acordo com o site oficial da campanha, “são registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de um milhão no mundo. Trata-se de um triste fato, que registra cada vez mais casos, principalmente entre os jovens. Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estavam relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e o abuso de substâncias”.

O Papa Francisco, com sua proximidade e preocupação com as dores da humanidade que lhe são peculiares, sempre manifesta sua inquietação com este fenômeno, sobretudo com o grande número de jovens vítimas desta trágica realidade social. Para o Pontífice, o principal motivo é a falta de perspectiva. “Não conseguem sentir-se úteis. Outros jovens não têm a coragem de enfrentar o suicídio, mas procuram uma alienação intermediária nas dependências, e hoje a dependência é uma fuga desta falta de dignidade”. (Mensagem do papa no Dia de Prevenção do Suicídio, 10 de setembro de 2020)

O santo padre ainda alerta para o drama enfrentado pelas famílias, uma vez que diante de um mundo cada vez mais desumano as situações de usura são recorrentes, aumentando sem medida o sofrimento e angústia no seio familiar. “E muitas vezes, no desespero, quantos homens acabam no suicídio porque não aguentam, não têm esperança, não têm uma mão estendida que os ajude, mas só uma mão que os obriga a pagar os juros”. (Papa Francisco, 10 de setembro de 2020).

Outra situação que se descortina em nossas vidas é o drama da pandemia. Quantas pessoas veem suas certezas desmoronarem, tantas expectativas traídas... o sentimento de abandono nos aperta o coração. O Papa Francisco nos faz recordar que Jesus não nos abandona e nos motiva à coragem! Abramos o coração ao amor de Deus!

Este tema nos faz ver e entender o quanto somos responsáveis uns pelos outros e pela construção de um mundo melhor, mais justo e fraterno. Vivemos tão fechados em nossos interesses, em nossas preocupações, em nossos lucros, que nos esquecemos que o maior tesouro que possuímos é nossa vida e a dos nossos irmãos.

O sofrimento da vida é, por vezes, tão pesado que se torna impossível carregá-lo sozinho. É preciso criar ambientes de escuta e de fala. Lugares seguros onde a dor e os sentimentos dos outros sejam respeitados e valorizados.

São João Paulo II nos ensinou que a família é a base da sociedade e o lugar onde as pessoas aprendem, pela primeira vez, os valores que os guiarão durante toda a vida. Por isso, é importante que os jovens e as crianças encontrem dentro do seu próprio lar condições para o diálogo.

Sendo irmãos comprometidos com a dor um dos outros permitiremos que a consolação de Deus sustente toda a humanidade. (Papa Francisco, 10 de setembro de  2020).

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Padre Aurecir Marins de Melo Junior é coordenador diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Ética e sagrada escritura

terça-feira, 15 de setembro de 2020

No mês dedicado à Sagrada Escritura, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) por meio da Comissão Bíblico-Catequética e o Serviço de Animação Bíblica propõe à Igreja no Brasil o estudo do Livro do Deuteronômio, apontando como lema a passagem bíblica que diz “Abre a tua mão para o teu irmão” (Dt 15, 11). Com tal lema, e diante da crise ético/moral em que vivemos no cenário pessoal, político e familiar, podemos refletir de modo abundante sobre como apontar caminhos de saída da dita crise marcada, sobretudo, pelo indiferentismo.

No mês dedicado à Sagrada Escritura, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) por meio da Comissão Bíblico-Catequética e o Serviço de Animação Bíblica propõe à Igreja no Brasil o estudo do Livro do Deuteronômio, apontando como lema a passagem bíblica que diz “Abre a tua mão para o teu irmão” (Dt 15, 11). Com tal lema, e diante da crise ético/moral em que vivemos no cenário pessoal, político e familiar, podemos refletir de modo abundante sobre como apontar caminhos de saída da dita crise marcada, sobretudo, pelo indiferentismo.

O texto do livreto do Serviço de Animação Bíblica esclarece o seguinte: “Apesar da centralidade do culto e da confirmação de que Israel é um povo eleito e santo, as exigências apresentadas (no Deuteronômio) não se restringem à relação entre Deus e o povo; pelo contrário, a eleição e a fidelidade à aliança se expressam na convivência humana, comunitária, fraterna, no estabelecer leis humanitárias e numa atenção especial às pessoas mais vulneráveis: o pobre, o órfão, a viúva, o estrangeiro (Dt 12 – 26)”. Portanto, o Deuteronômio não é somente um livro que sintetiza o que é fundamental para a fé do povo de Deus, mas também traz consigo um ethos, uma lei moral que visa estabelecer relações éticas entre os membros do povo, leis que humanizam.

Pode parecer que, por ser um livro escrito em um contexto de fé na categoria da revelação, ele não contenha uma reflexão ética pautada na razão tal como a ética no decorrer de 26 séculos de pensamento filosófico, desde a Grécia antiga até os tempos atuais. Mas se engana quem pensa assim, pois a fé no Deus de Israel não visava levar o povo a atitudes contrárias ao que é próprio do ser humano. Para tanto, devemos compreender o que é o ser humano e entendermos quais são as atitudes próprias de uma pessoa humana. Ou seja, sem uma adequada antropologia não poderá haver uma adequada reflexão ética e consequente conduta ética.

Recentemente, muitas reflexões têm surgido em torno do conceito de pessoa. O que é pessoa? Resumindo, pessoa tem a ver com relação. É um ser capaz de se relacionar. E muito mais, se não está aberta à relação com os semelhantes, não vem a tornar-se pessoa no sentido mais pleno da palavra. O ser humano foi criado para a relação e nunca chegará a ser plenamente ele mesmo se não se abrir ao que mais o edifica: a bondade. O ser humano bondoso é a mais plena realização do que vem a ser pessoa, pois a bondade quebra o indiferentismo, abre espaço generoso para a escuta, a caridade, a esmola e todo tipo de saída de si mesmo, jurando de morte o egoísmo.

No versículo 7 do capítulo 15 do livro em questão, lemos: “Se houver entre os teus um pobre, um irmão teu (...) não endureças o coração nem feches a mão ao teu irmão pobre”. Aqui está explicitada a fé do povo de Deus e a subsequente conduta moral: porque Deus é bom para com o povo, os membros do povo devem ser bons uns com os outros. A memória da bondade de Deus, do que ocorreu na história, serve de apoio reflexivo para a conduta do povo. Leia o que se segue: “Não defraudarás o direito do migrante e do órfão, nem tomarás como penhor roupas da viúva; recorda que foste escravo no Egito, e de lá o Senhor teu Deus te resgatou; por isso eu hoje te ordeno cumprir esta lei” (Dt 24, 17-18). 

Aqui está delineado um caminho a ser seguido sem medo e que desembocou numa reflexão ímpar na boca de Jesus, tornando-se a regra de ouro da ética cristã: “O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles” (Lc 6, 31). O que antes era justificado apenas na revelação, em Jesus torna-se lei justificada também pela razão, pois Deus se fez humano sem deixar de se revelar divino. Não mais cumprir a lei somente porque Deus agiu com bondade para com o povo. Também isto.

Mas a reflexão cresce e humaniza-se sem deixar de ser divina; e aquilo que era transcendente, sem o deixar de ser, torna-se imanente sem se adulterar, pois a suprema regra se encontra no amor ao próximo, como Cristo, feito homem, nos amou. Deste modo, podemos elencar várias leis de amor: Seja bom pois você também deseja a bondade; seja pacífico, pois você também deseja a paz; seja prudente em relação às palavras, pois você não deseja ouvir grosserias. Eis um caminho que pode solapar o indiferentismo.

Padre Celso Henrique Macedo Diniz é vigário paroquial da Catedral Diocesana São João Batista. Esta coluna é publicada às terças-feiras.  

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Saber ouvir

quarta-feira, 09 de setembro de 2020

Setembro tradicionalmente é conhecido pela Igreja no Brasil como o mês da Bíblia. Durante todo este período, se busca de maneira especial desenvolver o conhecimento da Palavra de Deus, para que seja mais viável sua aplicação na vida cotidiana.

Setembro tradicionalmente é conhecido pela Igreja no Brasil como o mês da Bíblia. Durante todo este período, se busca de maneira especial desenvolver o conhecimento da Palavra de Deus, para que seja mais viável sua aplicação na vida cotidiana.

O desejo de ouvir a Deus preenche o coração da humanidade. Todos sonhamos por entender o sentido de nossa vida, saber quais são os passos que devemos seguir. O Concílio Vaticano II, inspirado nas palavras de São Paulo a Timóteo nos ensina que toda escritura divinamente inspirada é útil para ensinar, repreender, corrigir e instruir na justiça (cf. 2Tm 3,16-17).

Neste sentido, o Papa Francisco repetidas vezes chama atenção para a importância e lugar da Sagrada Escritura na vida de todo fiel. Na abertura do Sínodo para as famílias o Santo Padre ressaltou que “a Bíblia não é para ser colocada em um suporte, mas para estar à mão, para lê-la frequentemente, cada dia, seja individualmente ou juntos, marido e mulher, pais e filhos, talvez de noite, especialmente no domingo” (out. 2014).

Mas, este seria o único meio que Deus tem para falar a nós? Se dissermos que sim, como explicaremos a comunicação divina antes da Bíblia ser um livro legitimamente canonizado?

O Magistério da Igreja nos ensina que toda a Sagrada Escritura tem o Altíssimo por autor. Isto não significa que as sagradas letras foram ditadas pelo próprio Senhor, mas que “na redação dos livros sagrados Deus escolheu homens, dos quais se serviu fazendo-os usar próprias faculdades e capacidades” (Dei verbum, 11).

Esta dinâmica nos ensina que o Senhor usa de meios naturais para nos comunicar sua verdade. Por isso, é preciso estar atento aos sinais divinos em nossas vidas. Seja qual for o meio que ele encontra para nos falar, sua palavra é sempre eficaz (cf. Hb 4,12).

Mas para escutar a Palavra de Deus, é preciso ter também o coração aberto para recebê-la no coração. O Senhor fala e nós nos colocamos em escuta, para depois pôr em prática o que ouvimos.

É muito importante ouvir. Algumas vezes o barulho no qual estamos imersos, as preocupações, a cultura individualista e egocêntrica não nos permite ouvir a Deus, que nos fala no silêncio de uma brisa mansa cotidiana (cf. 1Rs 19,12).

Mais uma vez o papa, em sua sabedoria, nos adverte: “A vida cristã é simples: ouvir a Palavra de Deus e a pôr em prática; não se limitar a ‘ler’ o Evangelho, mas questionar-se sobre como suas palavras falam à nossa vida” (homilia, 23 set,. 2014). Saibamos, pois, ouvir e praticar as palavras de Deus para construirmos um mundo de paz e de verdade.

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Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é coordenador diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

 

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Onde está o teu coração?

terça-feira, 01 de setembro de 2020

No último domingo, 30 de agosto, a liturgia da Igreja apresentou na primeira leitura o trecho do livro do Profeta Jeremias: “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder” (Jr 20,7). Estas belíssimas palavras expressam a rendição do profeta diante do poder sedutor da vocação e missão dada por Deus.

Não é fácil o seguimento! Em seu desabafo, este homem de Deus relata que sua obediência à vontade divina o tornou alvo de chacota e zombaria. Mas, com o coração ancorado na certeza do amor do Senhor, seguiu fiel ao chamado.

No último domingo, 30 de agosto, a liturgia da Igreja apresentou na primeira leitura o trecho do livro do Profeta Jeremias: “Seduziste-me, Senhor, e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder” (Jr 20,7). Estas belíssimas palavras expressam a rendição do profeta diante do poder sedutor da vocação e missão dada por Deus.

Não é fácil o seguimento! Em seu desabafo, este homem de Deus relata que sua obediência à vontade divina o tornou alvo de chacota e zombaria. Mas, com o coração ancorado na certeza do amor do Senhor, seguiu fiel ao chamado.

Ao contemplar a vida de Jeremias, Francisco, Clara, Dulce, Teresa de Calcutá, e tantos outros homens e mulheres que se deixaram seduzir pelo Senhor, surge em nossos corações o questionamento: o que justifica essa entrega, esse abandono de si? E ainda: será que no contexto e cultura atual ainda há espaço para este chamado?

O Papa Francisco no início de seu pontificado falou sobre este desejo de eternidade que move o coração do cristão.  Refletindo as palavras evangélicas “Onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc 12, 34), o pontífice afirmou que este desejo se alimenta na esperança de nos encontrarmos com o Senhor, juntamente com os irmãos, com os companheiros de caminho.

“Todos nós temos um desejo. Pobre daquele que não tem desejos; o desejo de ir em frente, rumo ao horizonte. Gostaria de vos dirigir duas perguntas. A primeira: todos vós tendes um coração desejoso, um coração que deseja? Pensai e respondei em silêncio no vosso coração: tu tens um coração que deseja, ou um coração fechado, um coração adormecido, um coração anestesiado pelas situações da vida? O desejo de ir em frente, ao encontro de Jesus. E a segunda pergunta: onde está o teu tesouro, aquele que tu desejas? e eu pergunto: onde está o teu tesouro? Qual é para ti a realidade mais importante, mais preciosa, a realidade que atrai o meu coração como um ímã? O que atrai o teu coração? Posso dizer que é o amor de Deus? Há o desejo de fazer o bem ao próximo, de viver para o Senhor e para os nossos irmãos? Cada um responda no seu coração. Mas alguém pode dizer-me: mas padre, eu trabalho, tenho família, para mim a realidade mais importante é ocupar-me da minha família, do trabalho... Sem dúvida, é verdade, é importante. Mas qual é a força que mantém a família unida? É precisamente o amor, e quem semeia o amor no nosso coração é Deus, o amor de Deus, é mesmo o amor de Deus que confere sentido aos pequenos compromissos diários e que ajuda também a enfrentar as grandes provações. Este é o verdadeiro tesouro” (Ângelos, 11 ago. 2013).

Ainda neste pensamento, prosseguiu o Santo Padre: “Mas no que consiste o amor de Deus? Não é algo vago, um sentimento genérico. O amor de Deus tem um nome e um rosto: Jesus Cristo. O amor de Deus manifesta-se em Jesus. Trata-se de um amor que confere valor e beleza a todo o resto; um amor que dá força à família, ao trabalho, ao estudo, à amizade, à arte e a cada obra humana. E dá sentido também às experiências negativas, porque este amor nos permite ir além destas experiências, ir mais além, sem permanecer prisioneiros do mal, mas impele-nos além, abrindo-nos sempre à esperança. Eis, o amor de Deus em Jesus sempre nos abre à esperança, àquele horizonte de esperança, ao horizonte final da nossa peregrinação. Assim, até as dificuldades e as quedas encontram um sentido. Até os nossos pecados encontram um sentido no amor de Deus, porque este amor de Deus em Jesus Cristo nos perdoa sempre, nos ama a ponto de nos perdoar sempre” (Ângelos, 11 ago. 2013).

Esta reflexão do Papa Francisco é muito atual. Precisamos todos os dias questionar o que nos move para seguirmos na busca pelo tesouro que nem a traça nem a ferrugem consome (cf. Mt 6, 20).

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Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é coordenador diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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A instabilidade do mundo

terça-feira, 25 de agosto de 2020

Em tempos de crise, muito se propõe a resiliência. Um termo originário da física e diz respeito à propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original, após terem sido submetidos a uma deformação elástica. Em seu sentido figurado, é a capacidade de se recobrar facilmente ou de se adaptar à má sorte ou às mudanças.

Em tempos de crise, muito se propõe a resiliência. Um termo originário da física e diz respeito à propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original, após terem sido submetidos a uma deformação elástica. Em seu sentido figurado, é a capacidade de se recobrar facilmente ou de se adaptar à má sorte ou às mudanças.

É certo que não se pode parar na dificuldade ou nos problemas que se nos impõe. É necessário seguir em frente. Como diz o grande compositor Paulo Vanzolini, numa queda o importante é levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Mas, de onde podemos tirar forças para levantar? Como poderemos prosseguir se os sonhos se tornaram utopias e as expectativas foram frustradas?

Repetidas vezes temos que conviver com pensamentos de desânimo e vazios de esperança. Talvez isto seja consequência do lugar em que estejamos ancorando o nosso coração (cf. Mt 6, 21) e da significação que damos ao momento vivido.

A resiliência é uma virtude admirável, mas não pode ser alcançada sem uma meta, sem um ‘porquê’ e um ‘para quê’. Diferentemente do proposto em seu conceito para a física, sempre que enfrentamos uma adversidade não saímos iguais. Isto foi o que disse o Papa Francisco na ocasião da solenidade de Pentecostes: “Das grandes provas da humanidade, e entre eles a pandemia, se sai melhor ou pior. Não se sai da mesma forma” (30 de maio de 2020).

No último domingo, 23, a liturgia nos levou à seguinte oração: “Ó Deus, que unis os corações dos vossos fiéis num só desejo, dai ao vosso povo amar o que ordenais e esperar o que prometeis, para que, na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias” (Oração do dia, 21º domingo do tempo comum).

Assim compreendemos que o princípio para um processo resiliente diante da instabilidade do mundo é a capacidade de voltar o olhar para além da fase difícil, para além dos problemas, agarrando-se com fé e determinação na esperança de que as dores desta vida não se podem comparar às alegrias reservadas por Deus para todos nós.

Apesar de nossa fragilidade nos fazer questionar este amor de Deus, somos surpreendidos todos os dias pelas provas de sua existência e proximidade. O santo padre nos adverte que “as perguntas angustiantes sobre o mal não desaparecem repentinamente, mas encontram no ressuscitado o fundamento sólido que não nos deixa naufragar” (Audiência Geral, 8 de abril de 2020).

Repito, não é fácil se reerguer. Dói, dói muito, mas não podemos nos esquecer que a ressurreição acontece depois da cruz. Nosso Senhor com sua morte venceu a morte e nos garantiu a vida. Não fiquemos estagnados na cruz. Olhemos para ela como sinal e certeza da vida, que nasce do sofrimento.

Lembre-se, não estamos sozinhos. Temos um Deus que com seu amor gratuito nos reuniu como irmãos. Por isso, seja aquele que estende a mão, doa o coração e é sinal e presença de Deus para aquele que sofre. Pois, certamente, assim suas dores encontrarão sentido e serão também elas salvíficas.  

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Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é coordenador da Pastoral da Comunicação da Diocese de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras. 

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A cruz de Cristo na vida do cristão

terça-feira, 18 de agosto de 2020

Na última semana, refletimos sobre o sofrimento e o anseio do homem em evitá-lo a todo custo. Diante da promessa de felicidade, da alegria do coração, sempre presente nas promessas do Senhor, o sofrimento se apresenta como um verdadeiro paradoxo. Neste contexto, retomam-se as palavras de São João Paulo II: “O homem é destinado à alegria, mas todos os dias experimenta variadíssimas formas de sofrimento e de dor” (Christifideles laici, 53).

Na última semana, refletimos sobre o sofrimento e o anseio do homem em evitá-lo a todo custo. Diante da promessa de felicidade, da alegria do coração, sempre presente nas promessas do Senhor, o sofrimento se apresenta como um verdadeiro paradoxo. Neste contexto, retomam-se as palavras de São João Paulo II: “O homem é destinado à alegria, mas todos os dias experimenta variadíssimas formas de sofrimento e de dor” (Christifideles laici, 53).

A adversidade que mais está presente na vida do homem é a enfermidade. No Antigo Testamento a enfermidade está misteriosamente ligada ao pecado e ao mal. Contudo, ela atinge também o justo, como se pode perceber no livro de Jó, assumindo o caráter de prova.

Já no Novo Testamento, o sofrimento do justo encontra verdadeira resposta. Na atividade pública de Jesus a cura das enfermidades é manifestação da sua missão como Messias, pois manifestam a vitória sobre todo o mal. Contudo, a cruz parece contrariar a esperança messiânica que os discípulos tinham em Cristo.

Mas é na ressurreição que se compreende verdadeiramente a perpetuidade messiânica de Jesus. Inspirado neste mistério pascal, o cristianismo constrói uma nova relação com o sofrimento; sofrer não é meramente uma consequência de uma culpa ou uma prova de Deus, mas um modo de se unir a Cristo e assim participar de sua ressurreição (.

Ao contemplar os algozes de Cristo, se abre para a vida pessoal do cristão um novo contexto. “O mistério da cruz não está simplesmente diante de nós, mas envolve-nos, dando um novo valor à nossa vida” (Ratzinger, J. Jesus de Nazaré: da entrada em Jerusalém até a ressurreição, p. 213). O oferecimento de si, em Jesus, assume características de culto espiritual, sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Cf. Rm 12, 1).

Uma vez que o cristianismo apresenta Cristo como modelo e destino para o sofredor, se faz necessário compreender que a cruz se apresenta como a possibilidade de restauração da justiça infinitamente lesada de Deus, isto é, o sacrifício da cruz é concebido como um desagravo infinito de uma culpa igualmente infinita.

Assim, a entrega de Jesus representa, para a verdadeira fé cristã, a radicalidade do amor. A partir da cruz a fé cristã entende que Jesus não se limitou simplesmente a fazer ou dizer algo, mas é nele que a sua vida e missão se reconhecem. Deus se identifica com os sofredores até de modo físico, identifica-os com ele e os introduz no seio de seu amor ao ponto de podermos nos unir à sua paixão redentora (Cf. Catecismo da Igreja Católica, §1505).

Olhando para o exemplo de Jesus, devemos pautar nosso agir. É preciso valorizar e compadecer-se dos sofrimentos alheios. Neste sentido, o Papa Francisco afirma: “Para falar de esperança a quem está desesperado, é preciso compartilhar o seu desespero; para enxugar as lágrimas do rosto de quem sofre, é preciso unir o nosso pranto ao seu. Só assim podem as nossas palavras ser realmente capazes de dar um pouco de esperança” (Audiência Geral, 11 jan. 2017).

Tocados pela misericórdia do Senhor, entremos em solidariedade com o seu sofrimento, e assim nos tornemos disponíveis para completar na nossa carne o que falta aos padecimentos de Cristo, sendo próximos e caridosos uns com os outros.

 

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Padre Aurecir Marins de Melo Junior é coordenador diocesano da Pastoral da Comunicação. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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