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Onde está teu irmão? (Gn 4,9)

terça-feira, 21 de julho de 2020

*Padre Aurecir Martins de Melo Júnior

A reconstrução de uma realidade pós-pandemia é um dos assuntos mais discutidos nos últimos dias. Contudo, parece que a realização desta expectativa está cada vez mais distante.

Estamos inseridos numa atmosfera de dor e incerteza que abala nossa esperança, enche nosso coração de angústia e alimenta em nós o questionamento: Como faremos para superar esta situação que nos sobreveio de repente e levar em frente nossa vida?

*Padre Aurecir Martins de Melo Júnior

A reconstrução de uma realidade pós-pandemia é um dos assuntos mais discutidos nos últimos dias. Contudo, parece que a realização desta expectativa está cada vez mais distante.

Estamos inseridos numa atmosfera de dor e incerteza que abala nossa esperança, enche nosso coração de angústia e alimenta em nós o questionamento: Como faremos para superar esta situação que nos sobreveio de repente e levar em frente nossa vida?

Na semana passada, refletimos sobre o que podemos aprender com esta situação complexa e dolorosa. Sem dúvida, o impacto de tudo o que está acontecendo, as graves consequências que se descortinam e se vislumbram, a dor e o luto por nossos seres queridos nos desorientam, entristecem e paralisam. Mas, ao mesmo tempo, nos provocam a tomar as rédeas da situação e começar uma nova etapa na história da humanidade.

Não podemos sepultar a esperança, é preciso fortalecê-la pela realização de nossas práticas pessoais e sociais de justiça, caridade e solidariedade. Como uma pequena porção de fermento leveda toda a massa (cf. Mc 8, 14 -21), toda atitude é, na verdade, um passo em direção ao futuro.

Todas as vezes que saímos de nossa comodidade e caminhamos ao encontro das dores e angústias das pessoas vulneráveis e anciãs que atravessam a quarentena na mais absoluta solidão, quando de alguma forma ajudamos as famílias que não sabem como colocarão um prato de comida sobre a mesa, e tantas outras formas que poderíamos enumerar, concretizamos um encontro condolente com nosso semelhante.

A Pontifícia Academia para a Vida em nota reflete: “A pandemia de Covid-19 nos coloca numa situação de dificuldade sem precedentes, dramática e global: a sua força de desestabilização do nosso projeto de vida cresce a cada dia. Estamos vivendo um paradoxo que nunca teríamos imaginado: para sobreviver à doença, devemos nos isolar uns dos outros, e vivendo assim, percebemos que viver com os outros é essencial para a nossa vida” (30 mar. 2020).

Somos todos responsáveis! Mais uma vez se comprova que não há lugar para o egoísmo no futuro da humanidade. Aquele que escreve sua história dando as costas ao sofrimento dos irmãos e excluindo-se da responsabilidade na construção de um futuro melhor, fere a essência da comunidade.

No panorama atual, podemos perceber o quanto isso atinge a nós. O isolamento (afastamento) social é a principal, se não a única, arma que temos no momento para combater a contaminação pelo coronavírus. Sobre este tema, advertiu o Santo Padre: “Cada ação individual não é uma ação isolada, para o bem ou para o mal, ela tem consequências para os demais, porque todo está conectado em nossa casa comum; e se as autoridades sanitárias ordenam o confinamento nos lugares, é o povo que o faz possível, consciente de sua corresponsabilidade para frear a pandemia” (Papa Francisco, Un plan para ressuscitar, 14 abr. 2020).

Assim, se agimos como um só povo podemos pôr fim não só a esta crise que vivemos, mas a tantas outras epidemias que massacram a humanidade. Do simples uso de máscara de proteção ao voto consciente, assumimos que somos corresponsáveis e protagonistas na tarefa de tornar possível um novo mundo.

Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é coordenador da Pastoral da Comunicação da Diocese de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Novo normal

terça-feira, 14 de julho de 2020

*Padre Aurecir Martins de Melo Júnior

Começamos uma fase de readaptação com as retomadas das atividades públicas que foram suspensas, total ou parcialmente, desde o início das medidas restritivas tomadas por motivo da pandemia causada pelo novo coronavírus.

*Padre Aurecir Martins de Melo Júnior

Começamos uma fase de readaptação com as retomadas das atividades públicas que foram suspensas, total ou parcialmente, desde o início das medidas restritivas tomadas por motivo da pandemia causada pelo novo coronavírus.

Sem dúvida, é um momento de alívio e esperança, mas não podemos deixar de atentar para a responsabilidade que todos temos na construção de um mundo melhor. A busca do ser humano pela normalidade, expressa pelo conceito “novo normal”, fundamenta-se pela proposta de um novo padrão que possa garantir nossa sobrevivência.

Esta nova etapa deve ser pautada na responsabilidade de promover a dignidade e a vocação integral da pessoa no seio das instituições e dos modelos econômicos, a qualidade das suas condições de existência, o encontro e a solidariedade dos povos e das nações com especial atenção à chaga dos pobres que são tão frequentemente esquecidos pela sociedade (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 35).

A Doutrina Social da Igreja atenta que a origem da sociedade não se encontra num ‘contrato’ ou ‘pacto’ convencional, mas na própria natureza humana, e que as ideologias do contrato social se apoiam numa antropologia falsa, ou seja, numa visão equivocada da natureza humana (cf. Leão XIII, Libertas praestantissimum, 8).

Seguindo este ensinamento, é inevitável o questionamento sobre o que até o momento é normal para nossa sociedade. Será que é conveniente voltarmos à normalidade vivida pré-pandemia?

Já em 2016, o Papa Francisco adverte sobre a urgente necessidade de renovação da prática social. Esta não deve ser pensada somente a nível econômico, mas regulada pela busca do bem comum da humanidade, do direito de cada pessoa a uma parte dos recursos deste mundo e de ter as mesmas oportunidades para realizar as próprias potencialidades, potencialidades que em última análise se baseiam na dignidade de filhos de Deus, criados à sua imagem e semelhança (cf. Discurso aos empresários participantes no Fortune-time Global Forum, 03 dez. 2020).

Acompanhamos com sentimento de descaso atitudes de governos que buscam formas para sair da crise e retomar a normalidade enquanto bilhões de pessoas estão confinadas. A pandemia descortinou e evidenciou muitos problemas sociais que o país já estava vivendo. Junto com a precariedade da saúde pública e privada estão o descaso com a educação, a falta de saneamento básico em muitas regiões do país e a esmagadora cultura de corrupção.  

Infelizmente, além dos sofrimentos inerentes à atual situação, une-se a equivocada e interessada prática política de nossas lideranças pela busca de poder e influência global em meio a esta crise desafiadora, na qual sofrem agudamente os mais necessitados (cf. Papa Francisco, Via Crucis, 2020)

Pacotes de emendas necessárias para suprir a crise gerada pelo novo coronavírus deparam-se com outros tantos prometidos para solucionar problemas sociais aos quais a população brasileira parece ter se acostumado.

O número excessivo de mortes revelou o que há muito tempo a parcela mais pobre de nossa sociedade já havia sentido na carne: o descaso com a saúde pública, refletido em hospitais sucateados, sem remédio, sem aparelhos, sem humanidade.

É urgente que este vale de lágrimas pelo qual estamos passando nos faça querer um novo normal. Um normal de mais comprometimento com a dor alheia, de mais fraternidade, solidariedade e consciência de nossa responsabilidade na construção de um futuro melhor, de esperança, respeito e dignidade.

Padre Aurecir Martins de Melo Junior é coordenador diocesano da Pastoral da Comunicação.
Esta coluna é publicada neste espaço às terças-feiras, a cada semana com a mensagem
de um membro do clero da Diocese de Nova Friburgo.

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Padre Aurecir Martins de Melo Junior
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