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De pé em fé

sábado, 06 de maio de 2023

Sei que o mundo está ruim, mas esperançar é preciso. Ainda que o futuro nos impeça de fazer o que tem que ser feito agora, de dizer o que tem que ser dito hoje, é louvável pensar em um amanhã mais bonito. 

Isso explica muito de nós. Essa coisa de acordar, se levantar e enfrentar as agruras. Essa coisa de continuar, persistir bem próximo de teimar, mesmo quando o ao redor diz não!

Sei que o mundo está ruim, mas esperançar é preciso. Ainda que o futuro nos impeça de fazer o que tem que ser feito agora, de dizer o que tem que ser dito hoje, é louvável pensar em um amanhã mais bonito. 

Isso explica muito de nós. Essa coisa de acordar, se levantar e enfrentar as agruras. Essa coisa de continuar, persistir bem próximo de teimar, mesmo quando o ao redor diz não!

Sim! Vai! De pé em pé. De pé em fé. Não essa fé punitiva que promete prosperidade em troca de dízimo. Mas a fé que mora no âmago da consciência. Já me disseram que é nesse lugar que mora Deus. Bom é ser amigo de Deus, da sua própria consciência, dos seus propósitos, da sua caminhada. 

Talvez, um dia aprendamos. Que ainda que esperemos ver quem amamos amanhã, talvez nunca mais veremos. O amor se alimenta do companheirismo dado agora, do olhar disposto desse instante. E, se constrói dia após dia, na esperança de ser para sempre. 

Mas não é. E jamais saberemos quando o para sempre acaba. Por isso, é sábio sempre se despedir com declaração rasgada, com abraço que sem dizer nada diz: obrigado por existir na minha existência. Obstinaremos em existir juntos o quanto nos for concedido. Sejamos gratos por isso.  

Talvez um dia percebamos. Que não herdaremos a terra, mas as sementes que plantamos serão herança para os que virão. É preciso ousadia para fazer nascer novos frutos, mas é necessário também prudência para preservar os bons desígnios que recebemos. 

Não viemos sós e não iniciamos nada do zero. Somos parte da trajetória da humanidade. Temos muito de seus acertos e erros e seguimos necessitando melhorar como coletivo.

Esse sentimento de que podemos mais, ser melhores com o planeta e uns com os outros é o que deve nos mover. Deve ser o nosso propósito, a nossa gana. Menos tecnocracia e mais empatia. Menos enriquecer por enriquecer e mais solidariedade, dividir para distribuir não só o que se possuiu, mas aquilo que se tem dentro... Essa centelha que se espalha em fagulhas pequenas, mas ilumina corações. 

Nossos corações pulsantes são o sagrado coração da terra que deve clamar para ser melhor para os filhos seus. Mas ao depender dos seus filhos para assim ser, ensina que é digno daquilo que pulsamos: se emanamos o bem — o bem volta. E o contrário também.

O mundo está ruim, mas há pequenas partes florescendo. Eu posso sentir e você pode ver. Há céus se abrindo sobre tetos de casas, de pequenas vilas e consequentemente de mentes que se abrem juntas, em luz, para orientar a um lugar mais acolhedor para se viver. 

Os raios solares que se espalham indicam que conhecimento sem acalanto traz mais avareza do que paz, pois o que vigora é a sabedoria do respeito a ser quem se é e venerar a forma de cada um ser e amar. 

Cientistas sem poesia, matemáticos sem rima, historiadores sem afeto, químicos sem propósito, são como compositores sem música. O que produzem pode até se fincar nos livros, mas não ensinarão a humanidade a ser mais humana. 

O mundo está ruim e essa percepção é, em verdade, um grito cheio de esperançar. Porque tem certeza de que o mundo pode ser bom, de que podemos ser melhores. Sem pressa de chegar, mas na velocidade que a urgência desse passo a passo necessita. 

De pé em fé, vamos!

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A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.

O que é Educação Financeira?

quinta-feira, 04 de maio de 2023

Hoje a coluna tem uma grande diferença de todos os outros textos publicados às sextas-feiras neste espaço: decidi vivenciar a experiência do ChatGPT. Já ouviu falar? Segue o conteúdo elaborado com a colaboração desta nova tecnologia, que é a inteligência artificial.

Muitas pessoas evitam falar sobre dinheiro, mas a verdade é que a educação financeira é essencial para uma vida financeira saudável. Ela não apenas nos ensina a gerenciar nosso dinheiro de forma adequada, mas também nos ajuda a tomar decisões financeiras informadas e inteligentes.

Hoje a coluna tem uma grande diferença de todos os outros textos publicados às sextas-feiras neste espaço: decidi vivenciar a experiência do ChatGPT. Já ouviu falar? Segue o conteúdo elaborado com a colaboração desta nova tecnologia, que é a inteligência artificial.

Muitas pessoas evitam falar sobre dinheiro, mas a verdade é que a educação financeira é essencial para uma vida financeira saudável. Ela não apenas nos ensina a gerenciar nosso dinheiro de forma adequada, mas também nos ajuda a tomar decisões financeiras informadas e inteligentes.

Infelizmente, a educação financeira não é ensinada nas escolas e, muitas vezes, é negligenciada pela sociedade. Como resultado, muitas pessoas acabam com problemas financeiros graves, como dívidas elevadas, dificuldades para poupar e investir e falta de planejamento financeiro.

É importante lembrar que a educação financeira não é apenas para quem deseja se tornar rico ou investir em ações, mas é um conjunto de habilidades que podem ajudar qualquer pessoa a lidar melhor com o dinheiro. A educação financeira nos ajuda a entender a importância de um orçamento, como economizar para o futuro e como lidar com dívidas.

Apesar de não fazer parte do conteúdo didático entregue nas escolas, para aqueles que desejam aprender mais sobre finanças pessoais, existem muitos recursos disponíveis. Além de livros, cursos online gratuitos e até mesmo aplicativos e plataformas podem ajudar na organização financeira. É importante ressaltar que a educação financeira é um processo contínuo e que devemos sempre buscar aprender e melhorar nossas habilidades financeiras.

Uma das principais lições da educação financeira é a importância de ter um orçamento. O orçamento é uma ferramenta essencial para acompanhar seus gastos e despesas e ajuda a evitar gastos impulsivos e desnecessários. Com um orçamento adequado, é possível economizar dinheiro para despesas futuras, como a compra de um carro ou um imóvel.

Outra lição importante da educação financeira é a importância de economizar dinheiro para emergências. Todos estão sujeitos a eventos inesperados, como doenças, acidentes ou até mesmo problemas com o carro, e é importante estar preparado para essas situações. Uma reserva financeira para emergências, possibilita lidar com esses eventos sem ter que recorrer a empréstimos ou dívidas.

Finalmente, a educação financeira também nos ensina sobre investimentos. É importante entender que os investimentos não são apenas para os ricos, mas são uma ferramenta para aumentar nossa riqueza e atingir nossos objetivos financeiros a longo prazo. Com o conhecimento adequado, é possível escolher investimentos adequados para nossas necessidades e objetivos, sejam eles a curto, médio ou longo prazo.

Educação financeira é fundamental para uma vida financeira saudável. Ela nos ensina a gerenciar nosso dinheiro de forma adequada, evitando dívidas e problemas financeiros graves. Com a educação financeira, é possível economizar dinheiro, investir com sabedoria e alcançar nossos objetivos financeiros a longo prazo. Por isso, é importante que todos se dediquem a aprender mais sobre finanças pessoais e façam dela uma parte essencial de suas vidas.

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Contagem regressiva

quinta-feira, 04 de maio de 2023

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas… percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. (...)”

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas… percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. (...)”

Assim começa o texto “O tempo e as jabuticabas”, de Rubem Alves, que tanto admiro e que deixo aqui como sugestão de leitura. É impressionante como os textos dele falam por mim. Não que eu imagine que já vivi metade da vida, porque minha mente tem por subterfúgio imaginar a vida eterna e se esquivar de pensar na efemeridade da existência. Contudo, também já não tolero gabolices e sinto que em meu tempo já não cabem desperdícios vaidosos e vãos.

Evito me colocar em uma contagem regressiva, mas a verdade é que o tempo não volta e o relógio só anda para frente. O que fazer diante dessa realidade senão aproveitar todo tempo do mundo que nos resta? Uma fórmula infalível ao priorizarmos o que fazer diante da infindável lista de tarefas é pensar se nossa próxima ação vai ser positivamente útil para alguém ou para a humanidade ou se ela traz felicidade. Usar esse critério pode auxiliar em algum direcionamento, embora não resolva nossas questões desde as mais simples às mais profundas.

O tempo está passando e queremos tudo da vida. Desejamos a boa sorte, o sucesso em todos os aspectos, o amor profundo, a Prosperidade, assim mesmo, com p maiúsculo, a saúde plena, a realização profissional, o casamento feliz, a família perfeita, a viagem ao redor do mundo, a fonte da juventude. Conforme a vida vai passando vamos constatando que não dá tempo de ser tudo o que sonhamos (muito não por nossa escolha), que os dias terminam sem que executemos todos os nossos afazeres, que a lista de pendências é uma espiral crescente infinita. Alguns de nós, sabiamente, se dão conta de que querendo ou não, escolhas sobre prioridades são feitas todos os dias, só que elas podem ser conscientes.

E assim, é possível bancar a opção de saber dizer “não” para muitas situações e “sim” para outras tantas, de sustentar um modo de vida em que o tempo seja prioridade e que tê-lo livre ou destinado para o que nos seja crucial é um luxo merecido que todos podemos ter. Viver a vida é fundamental, viver mesmo, não apenas existir. Na minha concepção, há uma correlação entre o viver de verdade e o ser de verdade, na essência de tudo.

E “o tempo e as jabuticabas” conclui por mim:  “(...) Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: ‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa… Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo. O essencial faz a vida valer a pena.”

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Honestidade faz parte da cura

quarta-feira, 03 de maio de 2023

Rose N. Franzblauer foi psicóloga e colunista do jornal New York Post. Ela disse: “Honestidade sem compaixão e compreensão não é honestidade, mas hostilidade sutil.” Tem gente que se diz sincera porque fala tudo o que pensa. Será benéfico isso? Não pode ser uma forma de hostilidade contra aquela pessoa ou grupo social para quem o indivíduo se dirige?

Rose N. Franzblauer foi psicóloga e colunista do jornal New York Post. Ela disse: “Honestidade sem compaixão e compreensão não é honestidade, mas hostilidade sutil.” Tem gente que se diz sincera porque fala tudo o que pensa. Será benéfico isso? Não pode ser uma forma de hostilidade contra aquela pessoa ou grupo social para quem o indivíduo se dirige?

Todos os dias lemos ou ouvimos em jornais, revistas, telejornais notícias cheias de conflito de interesses. Por exemplo, uma rede de TV famosa em nosso país joga dos dois lados. Às vezes faz isso disfarçadamente, outras explicitamente. Quando interessa à sua ambição materialista insaciável, ela fica do lado da direita política. Quando não interessa, ela defende a esquerda. Um nojo. E como afeta a opinião pública! O politicamente correto muitas vezes não é prudência, mas é hipocrisia e faz parte da malignidade.

Certa vez uma amiga budista comentou: “A verdade vai acabando com as minhas mentiras.” E uma pergunta que pode surgir nesse contexto é: você quer a verdade? Precisamos entender que não tem cura pessoal, comunitária, social, política sem verdade. Mas como a verdade pode surgir se, por exemplo, colocam políticos corruptos para serem o chefe de uma comissão parlamentar? Isso equivale colocar um lobo voraz para tomar conta do galinheiro. Não funciona para o bem. Mas isso parece ser feito para se manter a zona de conforto no caldo da corrupção.

Rose Franzblauer diz ainda que “qualquer coisa boa pode ser usada de forma prejudicial ou destrutiva. Toda a nossa recuperação [da saúde mental e por extensão, a de uma nação] é baseada em uma premissa fundamental de honestidade. Mas nossa honestidade se torna distorcida e prejudicial quando não estamos em sintonia com nossas motivações. Um homem que contradiz outros membros do grupo para se sentir superior em vez de ser útil está sendo hostil. Se criticarmos as pessoas sobre coisas que elas não podem mudar, estaremos apenas ferindo-as.”

Muito de nosso comportamento tem que ver com motivações mais inconscientes do que conscientes. Lembra quando você disse alguma palavra e queria dizer outra? Por que saiu a palavra que você não queria? Em psicanálise chamamos isso de “ato falho”. É da mente inconsciente que vem isso. Então, veja que temos uma área de nossa mente desconhecida para nossa consciência. Foi por isso que Jesus disse que é do coração que vem as coisas que machucam a pessoa e a leva a ferir as outras com seus comportamentos. Coração aqui se refere à parte mais profunda da mente e não o órgão em nosso peito que bombeia sangue para todo o corpo.

A psicóloga Rose segue dizendo: “À medida que crescemos, encontramos mais partes de nós mesmos que podem ser prejudiciais. Precisamos aceitar essas partes também, não nos condenar por sermos humanos, não esconder nossos impulsos destrutivos de nós mesmos. Então nossa honestidade conosco e com os outros não será maculada por motivos desonestos.” Interessante isso que ela diz, não é? Quando aceitamos nosso lado maldoso, tendencioso, corrupto, destrutivo, desonesto, quando percebemos que existe isso em nosso caráter, em vez de negar e fugir dessa verdade, aí temos a escolha de pegar um caminho de cura emocional, de honestidade que pode ajudar tanta gente, além de nós mesmos.

Franzbauer termina a reflexão dela com essa oração: “Eu oro por honestidade comigo mesmo primeiro, para que minha honestidade com os outros seja pura.” Eu também. Honestidade faz parte da cura pessoal, comunitária, social, política e espiritual.

(Fonte: Today’s Gift - Touchstones: A Book of Daily Meditations for Men -

hazeldenbettyford.org)

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Cesar Vasconcellos de Souza – www.doutorcesar.com

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Alto dos 50

quarta-feira, 03 de maio de 2023

“Alô Prefeitura de Nova Friburgo. A estrada de acesso ao Alto dos 50, no distrito de  Mury, encontra-se há muito tempo completamente abandonada, com trechos intransitáveis. Deve-se assinalar que nós, moradores, pagamos o IPTU ao município e não temos  nenhum retorno. Não temos a quem apelar. É preciso reparos urgentes.”

Jarbas Barbosa Lopes 

“Alô Prefeitura de Nova Friburgo. A estrada de acesso ao Alto dos 50, no distrito de  Mury, encontra-se há muito tempo completamente abandonada, com trechos intransitáveis. Deve-se assinalar que nós, moradores, pagamos o IPTU ao município e não temos  nenhum retorno. Não temos a quem apelar. É preciso reparos urgentes.”

Jarbas Barbosa Lopes 

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Mais um caso de homofobia nos templos religiosos de Friburgo

quarta-feira, 03 de maio de 2023

A homofobia se revela nos lugares mais inesperados, como no recente caso do ator friburguense, Bernardo Dugin, ocorrido em uma capela de uma tradicional escola de doutrina religiosa de nossa cidade. Um boletim de ocorrência foi registrado na 151ª DP, pelo crime de homofobia, análogo ao crime de racismo.

A homofobia se revela nos lugares mais inesperados, como no recente caso do ator friburguense, Bernardo Dugin, ocorrido em uma capela de uma tradicional escola de doutrina religiosa de nossa cidade. Um boletim de ocorrência foi registrado na 151ª DP, pelo crime de homofobia, análogo ao crime de racismo.

As pregações ofensivas não foram proferidas em uma conversa de canto e reservada, mas sim, diante de todos que prestigiavam uma missa. Incluindo-se nessa lista, os familiares do ator, que num momento de luto, buscavam palavras de conforto, fé e compaixão na missa de sétimo dia do falecimento de um ente querido.

Na TV e no streaming, Bernardo coleciona participações, como nas novelas: Éramos Seis (Globo, 2019), Todas as Flores (Globoplay, 2022), Gênesis (Record, 2021), Reis (Record, presente) – as duas últimas, novelas religiosas. O ator nunca escondeu sua fé, mas nas redes sociais nos deu a tristeza de esconder o seu sorriso fácil, desabando em lágrimas após o ocorrido.

Em seu relato nas redes sociais, o ator narra sua dor e desabafa, após ouvir pregações comparando o demônio e relações homoafetivas: “É com muita dor e tristeza que registro um crime contra a minha existência. A igreja e a liberdade de expressão não podem servir como estudo para a propagação de ódio e preconceito”.

Caso semelhante em 2011

Não muito distante dos dias atuais, em agosto de 2011, uma pastora, também de Nova Friburgo repercutiu muito negativamente na internet, em meio a postagens de indignação, após uma pregação polêmica contra fiéis que defendem causas políticas, raciais e LGBTQIA+.

Em um tom enérgico, disse: “É um absurdo pessoas cristãs levantando bandeiras políticas, bandeiras de pessoas pretas, bandeiras de LGBTQIA+, sei lá quantos símbolos tem isso aí. É uma vergonha. (...) A nossa bandeira é Jeová Nissi, é Jesus Cristo. Ele é a nossa bandeira. Para de querer ficar postando coisa de gente preta, de gay.”.

E acreditem se quiserem, os desembargadores da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio – a mesma que julgará o Caso Marotti - decidiram extinguir o processo sob o argumento de que a pregadora "está amparada pelo exercício regular do direito que é a liberdade de culto religioso e de crença, assegurados pela Constituição".

Homofobia: uma realidade brasileira

Já não é o primeiro caso e infelizmente, não será o último. Em Nova Friburgo temos assistido a mais um daqueles episódios em que percebemos a desconstrução do ser humano pelas vertentes do falso moralismo. Pode não parecer, mas discursos como estes se enraízam no pensamento coletivo e trazem consequências assustadoras.

Informações de importantes órgãos de fiscalizações apontam: uma pessoa a cada 20 horas foi morta, de forma brutal, vítima de homofobia no Brasil. Os dados são espantosos e somente em 2018, foram 420 mortes decorrentes desse tipo de violência por arma de fogo, espancamento, pauladas ou suicídio.

E com o passar os anos, a violência se mostra cada vez mais brutal. Em 2010 ocorreram 130 homicídios dessa forma, enquanto em 2017, esse dado já computava 445 – um aumento de 242% em apenas sete anos.

Mesmo com a imprecisão de números acerca da violência contra a população LBGTQIA+, devido à falta de órgãos fiscalizadores, o Brasil carrega a marca de ser tristemente reconhecido mundialmente, como o país que mais mata homossexuais no mundo.

Marcado por mobilizações em todo o Brasil, o Dia Internacional da Luta contra LGBTfobia é celebrado no dia 17 de maio em todo o mundo. A data refere-se ao dia em que a Organização Mundial da Saúde, em 1990, retirou o termo “homossexualismo”, que associava a homossexualidade à uma doença mental passível de tratamento.

Ser homossexual não deve ser encarado com perversão. De longe! A verdade é que podemos escolher muitas coisas na nossa vida, seja o almoço de amanhã, a roupa que vestirei, e até a cor do meu próximo carro. Agora, o que realmente se gosta, não dá para escolher. Você gosta e pronto! Amor não se explica, amor se sente!

Apesar de a homofobia já ser crime há um tempo, ela parece não ser encarada dessa forma. Aos líderes religiosos, entendam que com grandes poderes, temos que ter grandes responsabilidades. Liberdade de religião não se pode confundir com liberdade de agressão, afinal, nunca foi isso o que o próprio Cristo pregou.  

Que um dia possamos olhar para trás e perceber que 420 pessoas mortas em um ano, de forma discriminatória soe como um absurdo. E que discursos assim, sejam repreendidos, assim como aqueles que um dia apoiaram a escravidão e a violência contra a mulher. Necessitamos olhar para o passado para não cometer os erros no futuro.

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A VOZ DA SERRA é o trabalho enaltecendo o trabalho!

terça-feira, 02 de maio de 2023

 Tivemos mais um feriado prolongado do jeito que o brasileiro gosta. Há pessoas que até criticam a existência de tanta folga, porém, há datas que não podem passar em brancas nuvens. O Dia do Trabalho (1º de maio) é fruto da luta de muitos trabalhadores e trabalhadoras do passado, a partir de uma greve por direitos trabalhistas, em 1º de maio de 1886, em Chicago. No Brasil, o reconhecimento se deu em 1925 e se aperfeiçoou em 1940, quando foi instituído o salário mínimo, por Getúlio Vargas.

 Tivemos mais um feriado prolongado do jeito que o brasileiro gosta. Há pessoas que até criticam a existência de tanta folga, porém, há datas que não podem passar em brancas nuvens. O Dia do Trabalho (1º de maio) é fruto da luta de muitos trabalhadores e trabalhadoras do passado, a partir de uma greve por direitos trabalhistas, em 1º de maio de 1886, em Chicago. No Brasil, o reconhecimento se deu em 1925 e se aperfeiçoou em 1940, quando foi instituído o salário mínimo, por Getúlio Vargas. Meu pai contava que essa conquista foi um marco na vida dos trabalhadores e as pessoas diziam: “Fulano ganha salário mínimo!”. Era algo vantajoso. Foram muitos avanços, como a criação da Justiça do Trabalho, em 1941 e a Consolidação das Leis Trabalhistas, em 1943.

A mulher saiu do casulo e expandiu seu campo de atuação, além das fronteiras domésticas, passando a ter, inclusive, direito ao voto. Na reportagem  “A batalha diária de milhões de brasileiras”, o Caderno Z nos trouxe uma escalada com episódios muito interessantes e, alguns até escalafobéticos, como em 1827, ano em que as  mulheres foram “liberadas para frequentarem a escola”. Papai dizia que, na roça, não se devia mandar as moças para a escola, pois logo aprenderiam a escrever cartas para namorados. O cartão de crédito, por muito tempo, foi exclusivo para os homens.

Ainda bem que a mulher prosperou, tornando-se senhora de seu destino, conseguindo até driblar “os desafios da tripla jornada”. Wanderson Nogueira nos ajuda a difundir o respeito ao poderio feminino: “Sei que rótulos existem e admiti-los, ajudam a nos prevenirmos deles. Sei que temos uma longa caminhada de conscientização, mas não é porque é longo que não deva ser caminhado. Talvez, seja menor do que ontem. Certamente, ainda é vergonhoso. Sensibilidade para o feminino é apenas um primeiro passo, tanto quanto respeito é dever...”.

Em “Sociais”, eu mando um abraço especial para Myrian Kato que, no auge dos festejos de seus 70 anos, esbanja beleza e simpatia. A ela, que é símbolo da força empreendedora das mulheres, votos de saúde e de mil felicidades. Ser feliz no trabalho é o sonho de muita gente e essa é a realidade de quem trabalha na Stam. A metalúrgica recebeu o certificado “Melhores Empresas Para Trabalhar”. Parabéns, pois a Stam possui as chaves do sucesso, abrindo portas e janelas para o mundo!

A charge de Silvério também homenageou o 1º de maio, felicitando os trabalhadores. O Cão Sentado é simpático ao calendário e acompanha a vida de Nova Friburgo, como se fosse um escoteiro, sempre alerta aos acontecimentos. Na verdade, as homenagens ao trabalho são todas muito bem-vindas, pois é pelo trabalho que se obtém o pão de cada dia, contudo, a manteiga requer mais suor ainda. O pão é a massa, a manteiga, o sabor e os desafios do empreendimento. É o que fazem as empreendedoras do projeto “Mulheres de Sucesso”, pois “se unem para se fortalecerem”.

Da união dessas mulheres veio a força de juntarem sonho, trabalho e empreendedorismo. A reportagem de Christiane Coelho nos levou a um passeio educativo para quem quer entender de negócios, sem perder a sensibilidade lúdica de viver. Do início, quando “Sílvio Montechiari, emprestou as máquinas às costureiras demitidas da Triumph, para começarem suas confecções, muitas se tornaram empreendedoras de empresas, que hoje, são verdadeiras indústrias”. Elas hoje se capacitam, buscam flexibilidade, são inovadoras e sabem que “o sucesso de uma impulsiona muitas”. 

Sonhadoras, realistas, guerreiras, empreendedoras, de tudo um pouco, essas mulheres fazem da vida o pano de fundo onde costuram sonhos, remendam os anseios e alinhavam a esperança, buscando melhorar não apenas a própria vida, mas, consequentemente, o ambiente, onde quer que desenvolvam suas habilidades. A elas dedico uma trova: Na força em que foi moldada / a mulher é colossal: / - muda o rumo, muda a estrada, / mas não perde um ideal! Feliz trabalho para todo dia de trabalho!

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Em busca da beleza perdida

terça-feira, 02 de maio de 2023

Nas crianças, aí mesmo é que a beleza chega a ser um exagero de Deus

Um outrora famoso humorista brasileiro, já nas últimas curvas da estrada que leva aos noventa anos (e depois leva sabe-se lá para onde) submeteu-se àquela reforma eufemisticamente conhecida como harmonização facial. Não sei bem que cara ele tinha antes, mas pelas fotos que vi, não acredito que a reforma tenha harmonizado grandes coisas. Pode ser que agora ele esteja de fato um pouco mais bonito, até porque pior do que estava era difícil ficar.

Nas crianças, aí mesmo é que a beleza chega a ser um exagero de Deus

Um outrora famoso humorista brasileiro, já nas últimas curvas da estrada que leva aos noventa anos (e depois leva sabe-se lá para onde) submeteu-se àquela reforma eufemisticamente conhecida como harmonização facial. Não sei bem que cara ele tinha antes, mas pelas fotos que vi, não acredito que a reforma tenha harmonizado grandes coisas. Pode ser que agora ele esteja de fato um pouco mais bonito, até porque pior do que estava era difícil ficar.

Na minha humilíssima opinião, ele chegou a uma idade em que melhor faria se começasse a harmonizar a alma para aquela longa viagem sem volta do que insistir em impressionar os outros com seus últimos encantos. Não que eu seja contra a beleza. Muito pelo contrário. Nas mulheres, a beleza é o colírio do mundo e mesmo nos homens ela não faz nenhum mal às vistas. Quando pousa na natureza ou nas crianças, aí mesmo é que a beleza chega a ser um exagero de Deus. As feias não me levem a mal, mas não há como não concordar com Vinícius de Moraes: “A beleza é fundamental”. Apesar de que, segundo afirma um etílico ditado, “Não existe mulher feia, você é que bebeu pouco”, ou, ainda segundo outro anexim (que palavra antiga!), “Quem ama o feio bonito lhe parece”.

Mas o que surpreende no caso desse senhor (se é que alguma coisa ainda nos pode surpreender neste mundo de espantos em que ora vivemos) é essa obsessão por uma cara bonita, numa idade em que ela pouco ou nada pode acrescentar à felicidade da pessoa, e nada mais a justifica, salvo o caso de o sujeito ser tão horroroso que assuste as criancinhas. Como o caso daquele homem que, acusado de ser feio além da conta, prometeu matar-se caso lhe mostrassem alguém que, por se assemelhar a ele, o convencesse da própria feiura.

Muitos monstrengos foram trazidos à sua presença, mas nenhum deles lhe causou grande impressão. Assim foi por vários anos, até o dia em que apareceu um forasteiro que era a perfeita mistura do Corcunda de Notre Dame com Frankenstein. Ao deparar-se enfim com alguém que o enfrentava no quesito horrorosidade, deu-se por vencido: “Se eu sou tão feio quanto ele, mereço morrer”, e cumpriu a promessa. Bastou esse simples gesto de humildade para que o mundo imediatamente ficasse um pouco mais bonito.

Grande é a vaidade humana. Está lá no Eclesiastes: “Vaidade de vaidades. É tudo vaidade”. Cada um de nós tem a sua, e a mais grave talvez seja justamente alguém achar-se uma pessoa sem vaidade.  É bom e louvável que procuremos ser em tudo um pouco melhor a cada dia, mas também é bom nos aceitarmos como somos, porque Sancho Pança, que era ingênuo, mas não era idiota, já dizia ao seu mestre Dom Quixote que “Cada qual é como Deus o fez, e muitas vezes ainda pior”.

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Botafogo derrota o Flamengo e mantém 100% de aproveitamento no Brasileirão

terça-feira, 02 de maio de 2023

No último domingo, 30, em pleno Maracanã lotado, o Botafogo derrotou o Flamengo pelo placar de 3 a 2. Com esse resultado o time da estrela solitária assumiu a ponta da tabela e mantém 100% de aproveitamento, com três vitórias. Aliás, a última vez que o Glorioso alcançou a primeira posição foi na 15ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2013. Na ocasião, o time comandado por Oswaldo de Oliveira derrotou a Portuguesa por 3 a 1 no Canindé no dia 18 de agosto. Aquele time terminou a competição na 4ª colocação.

No último domingo, 30, em pleno Maracanã lotado, o Botafogo derrotou o Flamengo pelo placar de 3 a 2. Com esse resultado o time da estrela solitária assumiu a ponta da tabela e mantém 100% de aproveitamento, com três vitórias. Aliás, a última vez que o Glorioso alcançou a primeira posição foi na 15ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2013. Na ocasião, o time comandado por Oswaldo de Oliveira derrotou a Portuguesa por 3 a 1 no Canindé no dia 18 de agosto. Aquele time terminou a competição na 4ª colocação.

Outro mérito, também, do time atual é o fato de se manter invicto no início do campeonato. Essa é a primeira vez no formato atual do Brasileirão, com 20 clubes e pontos corridos, que o Glorioso inicia a competição com três vitórias nos três primeiros jogos. A última vez que isso tinha ocorrido havia sido na edição de 2005, quando fez 2 a 0 no Internacional, 3 a 1 no Corinthians e 2 a 1 no Atlético Mineiro. Na ocasião, o campeonato ainda era disputado com 22 times, mas já no atual sistema.

Como não podia deixar de ser, numa partida disputada entre o alvinegro e o rubro-negro, o jogo foi emocionante, com chances de gols perdidas por ambas as equipes, com jogadas de alto nível e, não fossem as lambanças da sopradora de apito Édina Alves, o nível do jogo seria ainda maior. Durante o confronto, a árbitra foi apontada como uma juíza sem pulso para apitar essa partida. No confronto ela chegou a expulsar o lateral Rafael, do Botafogo, em chegada forte em Everton Cebolinha, mas não teve a mesma postura para tirar Thiago Maia de campo em falta forte no botafoguense Di Plácido. Como a expulsão de Rafael ocorreu aos cinco minutos do segundo tempo, o Botafogo foi obrigado a disputar o restante do jogo com um jogador a menos.

Aí entrou em campo a raça e a determinação do Fogão, pois em termos gerais o Flamengo está um pouco acima por ter um plantel que joga junto há pelo menos quatro anos; além disso, em algumas posições o time da Gávea tem jogadores de nível técnico melhor. No entanto, isso só vem enaltecer a postura da equipe do Botafogo que soube aproveitar as chances que se lhe apresentaram e faturar mais uma vitória.

O Campeonato Brasileiro 2023 será um dos mais equilibrados dos últimos tempos e vários fatores entram em cena para corroborar essa afirmação. Em relação ao ano passado subiram Bahia, Cruzeiro, Grêmio e Vasco da Gama que são times da elite do futebol brasileiro, mas que, infelizmente, enfrentaram períodos de intensa turbulência. Vários deles como Bahia, Botafogo, Cruzeiro, Cuiabá e Vasco da Gama aderiram ao sistema SAF (Sociedade Anônima do Futebol), em que empresas ou empresários adquirem o departamento do futebol, que passa a ser desvinculado do clube.

Isso foi uma maneira de sanar a insolvência que esses clubes estavam atravessando, em função de diretorias desastradas e até mesmo coniventes com a baderna financeira. Com isso, vários jogadores puderam ser trazidos, muitos deles repatriados da Europa. Foi o caso de Tiquinho Soares, Eduardo, Marçal, Luís Henrique e Rafael sem falar nos estrangeiros como Luís Segóvia, Matheus Segóvia, Ernandez, Di Plácido, entre outros, no Botafogo. A maioria deles acostumados a disputar as taças europeias e as sul americanas, o que encorpa a qualidade do time.

Foi um domingo para lavar a alma do torcedor alvinegro, mesmo que a carga de emoção seja forte, pois o adágio não me deixa mentir, já que têm coisas que só acontecem ao Botafogo. Como digo sempre, é desnecessária prova de esforço para um botafoguense, pois o final de um jogo suplanta qualquer teste. Uma outra coisa que chama atenção, é que o treinador, o português Luiz Castro, depois de um ano à frente do time, parece que entendeu a dinâmica do futebol brasileiro; com isso parou de tentar adaptar os jogadores ao seu estilo de jogo. Ao passar a adaptar seu estilo aos jogadores que dispõe, as coisas começaram a dar certo. Haja visto uma invencibilidade de 13 partidas.

Mas, a frase o ex-goleiro Manga, que marcou presença no glorioso da estrela solitária não me deixa mentir: “Jogo contra o Flamengo é bicho certo”.

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Somos feras entre feras

terça-feira, 02 de maio de 2023

No Clube de Leitura Vivências, estamos lendo “Cartas Sem resposta”, organizado por Ninfa Parreiras. No livro, várias pessoas escrevem cartas a escritores eternamente presentes entre nós, que, no entanto, já partiram para algum lugar do universo. É uma coletânea que emana da sensibilidade de quem escreve para o autor por quem tem admiração. Poderiam ser cartas sem respostas, mas penso que não são. Quem as tem nas mãos, como eu, sente a forte presença dos escritores destinatários.

No Clube de Leitura Vivências, estamos lendo “Cartas Sem resposta”, organizado por Ninfa Parreiras. No livro, várias pessoas escrevem cartas a escritores eternamente presentes entre nós, que, no entanto, já partiram para algum lugar do universo. É uma coletânea que emana da sensibilidade de quem escreve para o autor por quem tem admiração. Poderiam ser cartas sem respostas, mas penso que não são. Quem as tem nas mãos, como eu, sente a forte presença dos escritores destinatários.

Tive, pois, na dinâmica da leitura, a incumbência de falar ao grupo sobre o poeta Augusto dos Anjos (1884-1914) e, ao longo da pesquisa, fui me deparando com sentimentos sombrios, com uma voz triste, que se tornou singular na literatura brasileira.

O poeta da tristeza e do assombro termina o poema “O Vencedor” com o verso “Que ninguém doma o coração de um poeta!”  Seus sentimentos incontroláveis o consagraram como uma expressão relevante na literatura brasileira nos tempos do pré-modernismo. A força da sua poesia mostra suas impressões sobre a vida, a desesperança e a morte; cada um dos seus versos foi escrito com vigor. Mesmo suas poesias estando reunidas em um só livro, ”EU”, faz dele um dos poetas brasileiros mais lidos.  

 

VERSOS ÍNTIMOS

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera

Somente a ingratidão – esta pantera

Foi tua companheira inseparável!

 

Acostuma-te à lama que te espera

O homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

 

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que te afaga é a mesma que te apedreja.

 

Se alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

 

Essa sua mais famosa poesia me faz externar sensações sobre os acontecimentos que me cercam porque, com a infelicidade que cabe no meu coração, concluo que seus versos estão por toda a parte e atropelam o costume que tenho de enaltecer a beleza nas pessoas e nos fatos. É terrível acatar a perversa rudeza que nos cerca. Augusto dos Anjos, por loucura ou coragem, colocou seus dedos nas feridas que trazemos na alma. É bom vê-las e aceitá-las porque melhor podemos refletir sobre os modos como é possível agir. 

Quem não se angustia?! A melancolia nos toma quando não conseguimos reagir a situações que nos ameaçam, ferem ou limitam, às vezes sem timidez, causando-nos desencantos. É um estado desagradavelmente perturbador, tão bem colocado na poesia de Augusto dos Anjos. 

A literatura traz o reflexo das emoções do escritor. Como ele se esforça para conhecer a essência das coisas! Contudo jamais o conseguirá. De modo solitário, o autor a evidencia de forma particular em suas palavras. 

Falas de amor, e eu ouço tudo e calo

O amor na humanidade é uma mentira

(Idealismo, Augusto dos Anjos)

Ufa! Agora só me resta ir para a cozinha e preparar uma omelete recheada com mel.

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