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Um crime que abalou Nova Friburgo

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

“Matou o patrão para não ser estrangulado”. Esta era a manchete sensacionalista de uma reportagem publicada pelo jornal Luta Democrática, em 21 de julho de 1954. Trata-se de um crime que abalou Nova Friburgo em meados do século 20. Conversando com o amigo Bráulio Batista que é policial militar e estudante de história falávamos sobre esse crime e ele me motivou a escrever um artigo. Procurei extrair da reportagem somente a cronologia do crime e o motivo que o provocou, já que este jornal era tendencioso e pertencia a Tenório Cavalcanti, um dos advogados no julgamento.

“Matou o patrão para não ser estrangulado”. Esta era a manchete sensacionalista de uma reportagem publicada pelo jornal Luta Democrática, em 21 de julho de 1954. Trata-se de um crime que abalou Nova Friburgo em meados do século 20. Conversando com o amigo Bráulio Batista que é policial militar e estudante de história falávamos sobre esse crime e ele me motivou a escrever um artigo. Procurei extrair da reportagem somente a cronologia do crime e o motivo que o provocou, já que este jornal era tendencioso e pertencia a Tenório Cavalcanti, um dos advogados no julgamento.

A população de Nova Friburgo viveu no dia 19 de julho de 1954 uma intensa expectativa pelo julgamento no tribunal do júri do operário José Alves Pinheiro, acusado do assassinato de Henrique Frederico Fernando Witte, gerente da fábrica Rendas Arp. O caso apaixonou os friburguenses e não tardou que dividisse a opinião pública surgindo daí grande parte do sensacionalismo que se revestiu esse julgamento, possivelmente o mais importante da história forense de Nova Friburgo.

O povo, na sua quase totalidade ficou ao lado do réu, enquanto certa parcela de empregadores colocou-se ao lado da vítima, nos informa o jornal Luta Democrática. Além da importância deste acontecimento nele iriam se enfrentar dois advogados gigantes do mundo jurídico, Evandro Lins e Silva e o deputado Natalício Tenório Cavalcanti de Albuquerque, conhecido como o homem da capa preta e por portar quase sempre uma metralhadora que chamava de Lourdinha.

A cidade parou para acompanhar o julgamento e muitos estabelecimentos comerciais não abriram. Quase ao meio-dia o movimento na praça Getúlio Vargas onde ficava o fórum era intenso. A multidão guardava lugares naquele logradouro pois corria a notícia de que o julgamento seria transmitido pela rádio local e que alto-falantes seriam colocados nas imediações do fórum. Era muito comum à época essa prática pois nem todos tinham aparelho de rádio.

Houve algum problema e do lado de fora a turba reclamava a ausência dos alto-falantes prometidos. Foi então que Tenório Cavalcanti com a ajuda de técnicos da cidade mandou fazer a instalação de alto-falantes da camioneta de seu jornal. Quando abriu-se a porta do tribunal do júri às 14h, as pessoas entraram aos empurrões lotando e se comprimindo no salão.

No dia 18 de novembro de 1952, às 10h30, o operário José Alves Pinheiro feriu com uma faca o gerente da fábrica Rendas Arp, Henrique Frederico Fernando Witte, 46 anos, que morreu 28 dias depois desse incidente. José Alves Pinheiro foi empregado na fábrica Rendas Arp durante dois períodos relativamente curtos. A sua primeira contratação foi em 1948, trabalhando por cinco meses, quando pediu demissão. Tempos depois voltou a trabalhar nessa fábrica quando foi dispensado em novembro de 1952, depois de um ano de trabalho. A demissão segundo o jornal foi sem justa causa e ninguém soube informar o motivo.

Dirigindo-se ao Departamento Pessoal sob a gerência de Henrique Frederico Fernando Witte, o operário demitido não se conformou com o valor de sua rescisão contratual. Não aceitou os dois mil cruzeiros oferecido por Witte. Procurou um advogado trabalhista e retornou à gerência com um parecer do mesmo que declarava que os seus direitos consistiam em seis mil cruzeiros, três vezes mais. No entanto Witte reafirmou que não pagaria mais de dois mil cruzeiros ao operário. Depois de muita insistência de José Pinheiro, o gerente fez uma nova oferta de 2.800 cruzeiros e que não foi aceito.

Pinheiro era arrimo de família de sua mãe e irmãos e temia recorrer a uma ação judicial pois o processo trabalhista era lento e a fábrica Rendas Arp normalmente esgotava todos os recursos. Não receberia tão cedo qualquer valor e a família passaria por privações. Continuou insistindo que a fábrica lhe pagasse o valor aferido pelo advogado alegando ter sido um bom operário e prova disso era que habitava uma das casas da Vila Arp, destinadas apenas aos funcionários de bom comportamento e qualificados.

Em determinado momento Witte disse que não pagaria nem mais os dois mil cruzeiros, pois estava irritado com a insistência de José Pinheiro. Este último propôs então ao gerente receber a indenização de cinco mil cruzeiros ou então ser admitido em outra seção, pois acreditava que se tratava de alguma antipatia o motivo de sua demissão. A sua proposta não foi aceita e Witte sugeriu que ele procurasse os seus direitos na justiça. Foi quando José Pinheiro argumentou que a fome já havia chegado em sua casa e, de acordo com o jornal, “o morto [Witte] disse que nada tinha com isso, deu um soco no operário e agarrou-o pelo pescoço furiosamente, tentando estrangulá-lo”.

Com porte físico bem inferior ao do gerente, José Pinheiro para se defender sacou de uma faca dando um único golpe em Witte no abdome, fugindo em seguida. No dia posterior apresentou-se à polícia. Evandro Lins e Silva contratado pela fábrica Rendas Arp atuou como assistente de acusação do promotor Helênio Verani. Já Tenório Cavalcanti era advogado do réu acompanhado do auxiliar Benigno Rodrigues. Presidia o Tribunal do Júri o juiz Antônio Neder.

No duelo de gigantes Evandro Lins e Silva ao ocupar a tribuna declarou que ali estava tão somente na qualidade de advogado e não como político e tampouco como candidato a qualquer pleito. Esta era uma investida contra o deputado Tenório Cavalcanti que respondeu nas considerações finais que ali estava como político, como deputado e como advogado mas não estava ganhando coisa nenhuma, pois o seu constituinte não poderia pagar “rios de dinheiro” como fez a Rendas Arp contratando Lins e Silva. E mais, o seu constituinte era pobre e não podia exercer a influência econômica das forças que ali lutavam pela sua condenação.

Tenório Cavalcanti atribuiu a atitude do réu a uma tensão social provocada pelos patrões e por um “gritante desequilíbrio social e econômico.” A sua tese foi a de legítima defesa, mas sutilmente tratava-se da luta entre o capital e o trabalho. O júri terminou às 5h da madrugada do dia seguinte. José Alves Pinheiro foi condenado a oito anos de reclusão, sendo que já cumprira dois anos. Pode-se afirmar que Tenório Cavalcanti saiu vitorioso.

Considerando que cumprida um terço da pena o condenado poderia requerer livramento condicional, em pouco mais de um ano José Alves Pinheiro estaria livre da prisão. Leyla Lopes se recorda desse acontecimento e nos informa que no dia seguinte ao julgamento, Tenório Cavalcanti desfilou em um cadillac conversível com a capota arriada pelas principais ruas da cidade. Trajava a sua capa preta debruada de cetim vermelho, colete à prova de bala, empunhando garbosamente a “Lourdinha”, sua metralhadora alemã.

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    Manchete no jornal Luta Democrática do crime que abalou Friburgo

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    Tenório Cavalcanti defendeu o operário gratuitamente

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    Tenório desfilou pelas ruas de Friburgo portando a sua metralhadora Lourdinha

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Você está repetindo no presente o que viveu no passado?

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Maria nasceu no interior, sendo a mais velha de cinco irmãos. Sua mãe cuidava da casa, seu pai era empregado numa fazenda e tinha problemas com a bebida. A epidemia é tal que até 17% dos homens na população em geral e 8% das mulheres cumprirão os critérios de alcoolismo durante a vida. (https://www.alcohol.org/statistics-information/ )

Maria nasceu no interior, sendo a mais velha de cinco irmãos. Sua mãe cuidava da casa, seu pai era empregado numa fazenda e tinha problemas com a bebida. A epidemia é tal que até 17% dos homens na população em geral e 8% das mulheres cumprirão os critérios de alcoolismo durante a vida. (https://www.alcohol.org/statistics-information/ )

O pai de Maria piorou na bebida, agredindo filhos e esposa e um dia decidiu expulsar sua mulher de casa. Maria o odiava e referia-se a ele como “bêbado malvado”. Ela ía para um canto da casa, nos seus 8 anos de idade, tremendo de medo ao ver seu pai chutando os irmãos e gritando com a mãe dela. Ao ele berrar que a esposa sairia de casa, as crianças se agarraram na saia dela, suplicando para não ir. Ela saiu, ameaçada pela violência do marido.

Alguns irmãos foram morar com parentes e Maria ficou com o pai, crescendo cheia de amargura e ódio por ele pelo que ele havia feito com a família. Aos 20 anos de idade ela se casou e ficou anos sem notícias dele. Um dia ele apareceu procurando por ela. Ele estava mudado. Havia recebido ajuda emocional e espiritual e procurava cada filho para uma reconciliação. Maria havia jurado que não falaria com ele. Não usava mais a palavra “pai”, referindo-se a ele como “aquele cara”. Ela não queria reconciliação. Queria distância dele. Havia tomado a decisão de não ser igual a ele no lidar com os filhos. Ela tinha três filhos agora. E lidava com eles de maneira ditatorial, agredindo-os com palavras duras, tão dolorosas quanto às de seu pai no passado. Ela não percebia isto. Será que não queria perceber? Nunca perdoava, nunca pedia perdão. Implicava com Teresa, sua filha do meio, gerando nela revolta e rebeldia.

Na adolescência Teresa se envolveu com drogas e a mãe a expulsou de casa. Alguns filhos do meio têm problemas emocionais complicados porque em geral o mais velho recebe afeto especial por ser o primeiro, e o mais novo por ser o caçula. O do meio fica meio perdido. Após um casamento complicado com um dependente químico, Teresa teve José, que ao chegar na adolescência não aguentava mais as implicâncias da mãe porque ele usava cabelo comprido, óculos escuros o tempo todo e não comia carne. E ela que tinha sido hippie! Ela não controlava sua irritabilidade exagerada e sempre agredia verbalmente o jovem filho adolescente.

Aos 18 anos José se juntou com uma mulher mais velha que ele dez anos. Será uma moda isto? É sintoma de algo? Estão copiando algum personagem de novela? Ele se separou dela oito meses depois, dizendo que ela implicava demais com ele. Igual à mãe dele? É possível casar com alguém muito diferente do pai ou mãe em termos de personalidade? No segundo relacionamento de José, sua mulher sofria porque, dizia ela, ele ficava facilmente irritado e a destratava com palavras duras, embora não a agredisse fisicamente como o avô fazia com os filhos e a esposa. A repetição do comportamento entre gerações nem sempre ocorre igualzinho.

O pai de Maria, Maria mesmo, sua filha Teresa, o filho José, cada geração repetindo o mesmo comportamento emocional, com diferenças, mas o mesmo problema central: amargura, rispidez, abuso verbal. Parece um defeito no DNA passado geneticamente, não é? Mas felizmente a genética não explica tudo. Alguns neurocientistas afirmam que a genética é responsável, no máximo, por cerca de 40% do que nos tornamos como pessoa. Ela não determina inevitavelmente nosso comportamento. Existe o aprendizado, a escolha, a capacidade de raciocínio, a epigenética, o livre arbítrio e é isto o que pode levar à neutralizar as tendências hereditárias genéticas e aprendidas, para doenças do comportamento.

Temos que repetir a história do passado? Sim e não. Sim, pelo poder da influência hereditária e cópia do modelo observado durante a infância dos adultos com quem a criança viveu. Não, porque a genética não nos obriga a, inevitavelmente, repetir os mesmos comportamentos. Se assim fosse, por exemplo, todo filho de alcoólico teria que ser alcoólico,  apesar de que a ciência comprova que filhos de pais com alguma compulsão têm maiores chances de desenvolverem talvez a mesma compulsão comparados com filhos de pais sem compulsão por qualquer coisa.

Evitar repetir a história ruim do passado requer: 1 - lembrar dela ao invés de fugir da mesma como se nada de ruim tivesse ocorrido; 2  - observar com sinceridade e honestidade o próprio comportamento para ver se e como ocorre a repetição de atitudes desagradáveis que você jurava que nunca iria ter com as pessoas; 3 - ao perceber seu comportamento destrutivo herdado e cultivado, decidir lutar para mudá-lo por ver que ele está destruindo relacionamentos, e 4 - agir, fazer, atuar, treinar conscientemente o novo comportamento saudável.

Você muda quando você muda. As pessoas ao nosso redor (filhos, marido, esposa, esposo etc.) não têm culpa dos problemas de nosso passado. Não temos o direito de estressar a vida delas por causa de nossos conflitos vividos em nossa família de origem. É difícil mudar. Mas tem jeito. O pai de Maria conseguiu.Os nomes citados aqui são fictícios.

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Proposta de casamento

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

— Casar contigo? Tá doido!

— Ué, por que não? Tou me oferecendo de coração.

— E vai sustentar a gente como? E tem meus três meninos. Tu tem quantos?

— No papel é duas meninas.

— Mas fora do papel é uma fila que vai daqui à Bahia. É o que dizem...

— Exagero desse povo, num chega nem a Niterói.

— Quero não. A gente ia ter lua de mel com cinco testemunhas na cama.

— Cama é o que não me falta. Ontem mesmo peguei um sofá na beira do rio. Tirando a mola que espeta dum lado, dá pra dormir otimamente bem.

— Casar contigo? Tá doido!

— Ué, por que não? Tou me oferecendo de coração.

— E vai sustentar a gente como? E tem meus três meninos. Tu tem quantos?

— No papel é duas meninas.

— Mas fora do papel é uma fila que vai daqui à Bahia. É o que dizem...

— Exagero desse povo, num chega nem a Niterói.

— Quero não. A gente ia ter lua de mel com cinco testemunhas na cama.

— Cama é o que não me falta. Ontem mesmo peguei um sofá na beira do rio. Tirando a mola que espeta dum lado, dá pra dormir otimamente bem.

— Mas tua casa é desse tamaninho. A gente ia morrer sufocado lá dentro.

— Você precisa ver as janelas. É janela pra todo lado. Muito arejado. E tem um quintal bacana...

— Muito do bacana! Pena é aquele barranco nos fundos: cai-não-cai. Quero não.  E tem o Arlindo.

— O que que o Arlindo tem com a nossa conversa?

— Quer casar comigo.

— Safado! Picareta! Eu vi primeiro, ninguém tasca! E deve ser casado, aquele malandro.

— Casado é você e com três ou quatro. Arlindo é solteirinho que só vendo.

— Mas dizem que ele é meio frouxo.

— Isso posso te garantir que é mentira.

— Num vai me dizer que tu tá falando por experiência própria!

— Ah, deixa pra lá! Mas casar contigo, só se eu tivesse maluca.

— Vamos fazer o seguinte: a gente dá um chego lá em casa, tu vê as condições e pensa melhor no assunto.

— Tá bom. Vou lá conhecer tua casa. Mas, ó, num vou passar da sala, combinado?

— Mas o mais lindo é o quarto. Tu precisa ver.

— Tem o que no quarto?

— Tem a cama, tem o espelho, tem...

— O importante é a cama. É boa?

— Macia que dá gosto! Só vendo!

— Vamos lá dá uma olhada. Sem compromisso, hem!

— Sem compromisso. Deixa comigo...

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A visita da verdade

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Certa feita, disse o mestre que só a verdade fará livre o homem; e, talvez porque lhe não pudesse apreender, de imediato, a vastíssima extensão da afirmativa, perguntou-lhe Pedro, no culto doméstico:

— Senhor, que é a verdade?

Jesus fixou no rosto enigmática expressão e respondeu:

— A verdade total é a luz divina total; entretanto, o homem ainda está longe de suportar-lhe a sublime fulguração.

Reparando, porém, que o pescador continuava faminto de esclarecimentos novos, o amigo celeste meditou alguns minutos e falou:

Certa feita, disse o mestre que só a verdade fará livre o homem; e, talvez porque lhe não pudesse apreender, de imediato, a vastíssima extensão da afirmativa, perguntou-lhe Pedro, no culto doméstico:

— Senhor, que é a verdade?

Jesus fixou no rosto enigmática expressão e respondeu:

— A verdade total é a luz divina total; entretanto, o homem ainda está longe de suportar-lhe a sublime fulguração.

Reparando, porém, que o pescador continuava faminto de esclarecimentos novos, o amigo celeste meditou alguns minutos e falou:

— Numa caverna escura, onde a claridade nunca surgira, demorava-se certo devoto, implorando o socorro divino. Declarava-se o mais infeliz dos homens, não obstante, em sua cegueira, sentir-se o melhor de todos. Reclamava contra o ambiente fétido em que se achava. O ar empestado sufocava-o — dizia ele em gritos comoventes. Pedia uma porta libertadora que o conduzisse ao convívio do dia claro. Afirmava-se robusto, apto, aproveitável. Por que motivo era conservado ali, naquele insulamento doloroso? Chorava e bradava, não ocultando aflições e exigências. Que razões o obrigavam a viver naquela atmosfera insuportável?

Notando nosso pai que aquele filho formulava súplicas incessantes, entre a revolta e a amargura, profundamente compadecido enviou-lhe a fé.

A sublime virtude exortou-o a confiar no futuro e a persistir na oração.

O infeliz consolou-se, de algum modo, mas, a breve tempo, voltou a lamuriar.

Queria fugir ao monturo e, como se lhe aumentassem as lágrimas, o todo-poderoso mandou-lhe a esperança.

A emissária afagou-lhe a fronte suarenta e falou-lhe da eternidade da vida, buscando secar-lhe o pranto desesperado. Para isso, rogou-lhe calma, resignação, fortaleza.

O pobre pareceu melhorar, mas, decorridas algumas horas, retomou a lamentação.

Não podia respirar — clamava, em desalento.

Condoído, determinou o Senhor que a caridade o procurasse.

A nova mensageira acariciou-o e alimentou-o, endereçando-lhe palavras de carinho, qual se lhe fora abnegada mãe.

Todavia, porque o mísero prosseguisse gritando, revoltado, o pai compassivo enviou-lhe a verdade.

Quando a portadora de esclarecimento se fez sentir na forma de uma grande luz, o infortunado, então, viu-se tal qual era e apavorou-se. Seu corpo era um conjunto monstruoso de chagas pustulentas da cabeça aos pés e, agora, percebia, espantado, que ele mesmo era o autor da atmosfera intolerável em que vivia. O pobre tremeu cambaleante, e, notando que a verdade serena lhe abria a porta da libertação, horrorizou-se de si mesmo; sem coragem de cogitar da própria cura, longe de encarar a visitadora, frente a frente, para aprender a limpar-se e a purificar-se, fugiu, espavorido, em busca de outra furna onde conseguisse esconder a própria miséria que só então reconhecia.

O mestre fez longa pausa e terminou:

— Assim ocorre com a maioria dos homens, perante a realidade. Sentem-se com direito à recepção de todas as bênçãos do eterno e gritam fortemente, implorando a ajuda celestial.

 Enquanto amparados pela fé, pela esperança ou pela caridade, consolam-se e desconsolam-se, crêem e descrêem, tímidos, irritadiços e hesitantes; todavia, quando a verdade brilha diante deles, revelando-lhes a condição em que se encontram, costumam fugir, apressados, em busca de esconderijos tenebrosos, dentro dos quais possam cultivar a ilusão.

Extraído do livro “Jesus no lar”; espírito Neio Lúcio; médium Francisco Cândido Xavier

CENTRO ESPÍRITA CAMINHEIROS DO BEM – 62 ANOS
Fundado em 13/10/1957
Iluminando mentes – Consolando corações

Rua Presidente Backer, 14 – Olaria - Nova Friburgo – RJ
E-mail: caminheirosdobem@frionline.com.br
Programa Atualidade Espírita, do 8º CEU, na TV Zoom, canal 10 – sábados, 9h.

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Da criança ao mundo adulto, A VOZ DA SERRA conversa com as gerações!

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Na semana passada, por conta do apagão, acabei recebendo o jornal impresso na segunda-feira, 5, quando meu texto já havia sido encaminhado para  a redação. Por ter feito as surpresas de viagem pela internet, perdi alguns conteúdos, entre os quais, a coluna “Sociais”, que destacou o meu aniversário. Agradeço as manifestações de carinho. Outubro, mês festivo, traz a celebração do Dia das Crianças no Caderno Z. E lembramos o deputado federal Galdino do Valle Filho que, em 1924, propôs a criação da data para festejar os pequenos.

Na semana passada, por conta do apagão, acabei recebendo o jornal impresso na segunda-feira, 5, quando meu texto já havia sido encaminhado para  a redação. Por ter feito as surpresas de viagem pela internet, perdi alguns conteúdos, entre os quais, a coluna “Sociais”, que destacou o meu aniversário. Agradeço as manifestações de carinho. Outubro, mês festivo, traz a celebração do Dia das Crianças no Caderno Z. E lembramos o deputado federal Galdino do Valle Filho que, em 1924, propôs a criação da data para festejar os pequenos. Por sorte, por ser também o dia da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, em 1980, foi decretado feriado nacional em 12 de outubro.

As crianças mereciam o feriado  e, mais do nunca, a data este ano é um dia para reflexões adultas. A pandemia do coronavírus afetou a vida das crianças e não poderia ser diferente. Sem frequentar escolas, é preciso observar o comportamento das crianças para que não haja um conflito interno propenso a quadros de depressão. Por outro lado, a dependência virtual parece que já está entranhada no dia a dia infantil. Na atualidade, os bebês já observam o comportamento dos pais, dependentes das tecnologias.

As crianças de hoje não são com as do meu tempo, que não podiam nem ligar a televisão fora de hora. Nós não mexíamos em vitrolas; máquinas fotográficas nem pensar. Nós jamais ousaríamos ligar uma tomada, porque dava choque. O choque hoje se dá em como ligar a tomada de consciência para disciplinar algo que domina o mundo atual: a tecnologia, cada vez mais avançada. Como eu digo, a geração Nutella já nasce sabendo muita coisa. Contudo, ainda é possível brincar fora da caixinha tecnológica. Brincar de tudo e até de ajudar a arrumar a casa. Vale a nossa criatividade. A psicóloga Lívia Moura de Andrade ressalta que “estamos vivendo algo atípico e, por isso, não teremos solução para todas as questões”. Em compensação, “o processo é rico de aprendizado...”.

Outubro é também o mês de aniversário da reintegração de Amparo ao município de Nova Friburgo. Agora são 109 anos do retorno, pois até 1911 o distrito integrava a vizinha Bom Jardim. Este ano, por conta da pandemia, os festejos foram suspensos, mas até o dia 17 será realizado um concurso virtual de fotografia para escolher a melhor foto de Amparo. De qualquer forma, toda foto de Amparo é sempre um cartão postal!

Uma boa ideia que vai agradar em cheio é integrar as marcas do polo gastronômico, cervejeiro e industrial de nossa cidade ao ramo de hotelaria. O turista poderá conhecer e adquirir esses produtos no próprio local onde estiver hospedado. O hotel Habitare “dá o pontapé” na ação e se dispõe a ser “a ponte entre as marcas friburguenses e o turista”. Todos sairão ganhando: hotéis, turistas e produtores. Boa sorte!

A Caminhada Rosa promovida pela Amma este ano será substituída por uma carreata no final do mês. Entretanto, a instituição está promovendo uma série de atividades virtuais em sua página no Facebook. Mas, a grande novidade é a confecção e venda de máscaras de barreira na cor rosa, com a logo da Amma. Vendas na sede, na Rua Mato Grosso e no Bazar da Amma, na Travessa Eugênio Thurler, no Centro.

“É o fim! Carne, óleo, feijão e café têm disparada de preços”. Esse é o fim que não tem fim, pois a manchete está em “Há 50 anos” e servindo para os tempos atuais. Na mesma coluna, a indústria Pedrinco inaugurava suas modernas instalações – “um investimento vultuoso. Uma resposta ao desafio de desenvolvimento de Nova Friburgo”. Que beleza!

A pandemia do coronavírus não acabou. Apenas está saindo das manchetes dos noticiários. Em nossa cidade eram 3.434 infectados e 142 mortes até a última sexta-feira, 9. Bandeira amarela e tudo funcionando. Muita gente nas ruas, aglomerações etc. É vida que segue! E agora que já conhecemos os bens declarados pelos “postulantes à chefia do Executivo friburguense” e sabemos também quanto o prefeito, o vice e os vereadores custam aos cofres públicos, é hora de o eleitor colocar tudo na ponta do lápis. Se for preciso, é bom meditar, porque o nosso voto é o bem mais precioso que os candidatos podem cobiçar!

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Vivas para Elizabeth

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Com pequeno atraso, mas com grande satisfação, enviamos nossas congratulações à querida Elizabeth Bôscolo Muylaert (foto), empresária do segmento de Correios e rotariana das mais conceituadas em Nova Friburgo, que aniversariou na última sexta-feira, 9. A ela, os nossos parabéns com votos de saúde e felicidades.

Feira inflacionada

A feira livre de Olaria está sofrendo uma superinflação, não propriamente nos preços dos produtos oferecidos e sim, quanto a presença de novos “clientes”.

Com pequeno atraso, mas com grande satisfação, enviamos nossas congratulações à querida Elizabeth Bôscolo Muylaert (foto), empresária do segmento de Correios e rotariana das mais conceituadas em Nova Friburgo, que aniversariou na última sexta-feira, 9. A ela, os nossos parabéns com votos de saúde e felicidades.

Feira inflacionada

A feira livre de Olaria está sofrendo uma superinflação, não propriamente nos preços dos produtos oferecidos e sim, quanto a presença de novos “clientes”.

Por certo, dos cerca de 500 candidatos a vereador, fora a boa quantidade de postulantes à prefeitura, mais da metade deles têm marcado presença pelo local para tentar conquistar a simpatia e, claro, os votos dos eleitores friburguenses.

Bonan aniversariou

Outro aniversário que registramos com imenso carinho, apesar da data passada, é o do prezado amigo de imprensa e grande locutor esportivo Fernando Bonan, que estreou idade nova no último dia 7.

Renovadas congratulações ao querido Fernando Bonan, na foto junto do maior amor de sua vida, o filhão, Lucas.

Premiação nacional de design

Até o próximo dia 25 permanece aberta a votação popular do "Brasil Design Award 2020", no site da premiação que é promovida há dez anos pela Abedesign - Associação Brasileira das Empresas de Design.

 Pela primeira vez, uma jovem friburguense foi classificada, que é a Ilana Santos Guilland, recém graduada e que concorre com o "Bonde da Gambiarra", seu projeto de conclusão do curso na PUC-Rio, que propõe inovação na educação para o século 21, com uso da tecnologia no segmento do ensino fundamental, a partir da visão da favela, onde as práticas da "gambiologia" e da "sevirologia" fazem parte da cultura de seus moradores.

 O projeto da friburguense Ilana concorre na subcategoria Estudante e na categoria Design de Impacto Positivo com outros projetos de mais de 150 profissionais das maiores empresas brasileiras.

Dos mais de 40 projetos inscritos pela própria Pontifícia Universidade Católica no BDA, o "Bonde da Gambiarra" foi um dos três selecionados daquela universidade.

Para votar e dar uma força à nossa Ilana Guilland, basta acessar o link e cadastrar um e-mail por voto: https://inscricoes.brasildesignaward.com.br/voto-popular/design-de-impacto-positivo/806

Bernardo, ano 1

No próximo domingo, 18, esta gracinha da foto, Bernardo Gomes Sarno Mangia vai completar seu 1° aninho de vida, para alegria especial dos pais Danielle e Rodrigo, assim como dos avós maternos Nélia e Getúlio e avó materna Sandra, incluindo também os demais familiares.

Desde já parabéns com os votos de um mundo de felicidades ao Bernardo.

Salve os mestres!

Em razão do seu dia comemorativo nesta quinta-feira, 15, abraços e saudações carinhosas aos professores de Nova Friburgo, figuras imprescindíveis para a vida de todos nós. Uma viva aos mestres, com carinho!

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    Vivas para Elizabeth

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    Bonan aniversariou (Fernando Bonan e o filhão, Lucas)

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    Bernardo, ano 1

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Viver é melhor que postar!

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Com o advento tecnológico surgiram muitas mudanças no cotidiano social. Não restam dúvidas que o crescimento vertiginoso da internet tem mudado o conceito de comunicação e de socialização. O desenvolvimento do ambiente digital tem oferecido muitas oportunidades únicas para os indivíduos, principalmente no que diz respeito a sua formação pessoal. A agilidade na dinâmica comunicativa e informativa favorece um maior intercâmbio de experiências, bem como o desenvolvimento econômico abrindo novas oportunidades em muitas áreas, incluindo a saúde e a educação.

Com o advento tecnológico surgiram muitas mudanças no cotidiano social. Não restam dúvidas que o crescimento vertiginoso da internet tem mudado o conceito de comunicação e de socialização. O desenvolvimento do ambiente digital tem oferecido muitas oportunidades únicas para os indivíduos, principalmente no que diz respeito a sua formação pessoal. A agilidade na dinâmica comunicativa e informativa favorece um maior intercâmbio de experiências, bem como o desenvolvimento econômico abrindo novas oportunidades em muitas áreas, incluindo a saúde e a educação.

Podemos comprovar este fato com as inúmeras situações enfrentadas neste tempo de pandemia. O santo padre ressalta que “as tecnologias abrem novos horizontes, especialmente para os menores que vivem em situações de dificuldade ou longe dos centros urbanos dos países mais industrializados” (14 de novembro de 2019).

Entretanto, diante do fascínio de tantos aspectos positivos, não se pode deixar de notar e denunciar as consequências negativas que, infelizmente, já estão enormemente difundidas e, muitas vezes, tão difíceis de remediar. Poderíamos elencar inúmeras situações, mas sem dúvida a pior delas é o aliciamento de toda a sociedade, que cada vez mais está dividida e se deixando conduzir por ideologias que visam apenas o interesse partidário.

Como uma voz profética o papa Francisco alerta: “É necessário aumentar a sensibilização para os riscos inerentes ao desenvolvimento tecnológico descontrolado em todos os setores da sociedade. Ainda não compreendemos — e muitas vezes não queremos compreender — a gravidade da questão no seu conjunto e as suas consequências futuras!” (Idem).

Na luta pelo poder e pelo dinheiro das grandes empresas tecnológicas, nos tornamos meros produtos que são manipulados ao consumo e à cultura individualista do descarte. Lançado recentemente, o documentário intitulado “O dilema das redes” chama atenção para este grande risco oferecido pela atual rendição às facilidades e distrações oferecidas pelas grandes redes sociais de comunicação. A impactante frase “Se você não paga pelo produto, o produto é você”, nos coloca diante de uma realidade alarmante.

Tristan Harris, um ex-designer do Google, explica durante o longa-metragem que há três objetivos principais na maior parte dos algoritmos criados pelos gigantes de tecnologia. “O de engajamento, para aumentar o seu uso, e te manter navegando. O de crescimento, para que você sempre convide amigos e os faça convidar outros amigos. E o objetivo de publicidade, para garantir que enquanto tudo acontece, estamos lucrando o máximo possível com anúncios”.

É indiscutível o enorme potencial dos instrumentos digitais, mas, ao mesmo tempo, as possíveis consequências devem ser combatidas. Apesar de toda evolução dos algoritmos utilizados no mundo da comunicação e informação, ainda persistem as feridas da sociedade. O tráfico de seres humanos, a organização do terrorismo, a propagação do ódio e do extremismo, a manipulação da informação e, lamentavelmente, o abuso de menores ainda encontram no mundo digital um campo aberto e fértil.

Em sua última encíclica, o Papa Francisco ao falar sobre a fraternidade e amizade social aponta ainda para outros perigos da sedução da evolução tecnológica como o isolamento e perda progressiva de contato com a realidade concreta. “Fazem falta gestos físicos, expressões do rosto, silêncios, linguagem corpórea e até o perfume, o tremor das mãos, o rubor, a transpiração, porque tudo isso fala e faz parte da comunicação humana” (Fratelli tutti, 43).

Cuidemos, pois, de viver a realidade concreta de nossas vidas construindo relações capazes de construir um mundo mais justo e fraterno.

 

Padre Aurecir Martins de Melo Júnior é coordenador da Pastoral da Comunicação da Diocese de Nova Friburgo. Esta coluna é publicada às terças-feiras.

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Perfumes do tempo

terça-feira, 13 de outubro de 2020

A vida é feita de momentos, são pedaços de tempo que vão compondo nossa história, e a memória os vai guardando, como se os depositasse em gavetas cheias de caixinhas. Depois que os vivemos, parece que são realçados quando os assentamos nas lembranças. Repentinamente, eles surgem e ressurgem, trazendo perfume e flores para o dia. Na semana passada, senti o cheiro de rosas e vou trazê-las aqui. 

A vida é feita de momentos, são pedaços de tempo que vão compondo nossa história, e a memória os vai guardando, como se os depositasse em gavetas cheias de caixinhas. Depois que os vivemos, parece que são realçados quando os assentamos nas lembranças. Repentinamente, eles surgem e ressurgem, trazendo perfume e flores para o dia. Na semana passada, senti o cheiro de rosas e vou trazê-las aqui. 

A literatura une as pessoas, untando momentos e recordações, fazendo-os deslizar com suavidade pelos pensamentos e relacionamentos. Cria identidades e laços afetivos porque a criatividade encanta, as histórias envolvem e a realidade abordada pela literatura atrai.   

Tenho uma amiga, Glória, que me ligou há uns vinte anos, dizendo que haveria um concurso de histórias infantis e que eu deveria participar. Sempre gostei de escrever, e ela sabia disso. Fiz a inscrição no concurso, comecei a escrever três contos e enviei. Meus textos não foram selecionados, mas descobri o prazer de imaginar aventuras e transformá-las em histórias. E, desde então, não parei mais. Dois destes contos já foram publicados: Um Cão Cheio de Ideias e Aventureiros da Serra. 

Glória sempre esteve presente na minha empreitada literária, participando dos eventos e conversando a respeito do meu aprendizado e experiência como escritora, o que embelezou mais ainda nossa amizade.

Depois que o mundo foi invadido pelo Corona Vírus, ela de novo me informou a respeito de um concurso, Tempo Partido, que consistia na elaboração de uma carta em que o participante relatasse a qualquer pessoa como estaria vivenciando esta época pandêmica. Os textos selecionados comporiam uma coletânea, que seria publicada. Não produzi um texto. Entretanto, ela participou e foi selecionada. Tão logo soube do resultado, enviou-me uma mensagem, contando a novidade com a carta anexada, que fora dedicada a um sobrinho, escrita com suavidade e objetividade. 

Sua mensagem abriu minha gaveta de lembranças, o que me fez viajar pelo tempo passado, desde a primeira vez que havia me ligado para falar de um concurso. Como num filme, revi como fui me fazendo escritora. Há dias que sou expectadora de mim, o que me está me dando ideias para passos futuros.

Aí, senti com clareza como a amizade desvela possibilidades e fertiliza canteiros. Bem como tive a certeza de que a magia da literatura existe.

 

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É o fim! Carne, óleo, feijão e café têm disparada de preços

sábado, 10 de outubro de 2020

Edição de 10 e 11 de outubro de 1970
Pesquisado por Fernando Moreira

Manchetes:

Edição de 10 e 11 de outubro de 1970
Pesquisado por Fernando Moreira

Manchetes:

  • Disparada dos preços dos alimentos - Uma verdadeira disparada nos preços dos gêneros e das utilidades. A carne verde desapareceu dos açougues, óleos comestíveis subiram 200 cruzeiros velhos em lata; o quilo do feijão preto ultrapassou a barreira dos dois mil cruzeiros velhos; a carne seca bateu o recorde de todos os tempos: oito cruzeiros velhos. E o pior, Heron Domingues, da TV Tupy, anuncia que o café custará seis cruzeiros e cinquenta centavos por quilo, dentro de pouco tempo. É o fim.
  • A nova Pedrinco – no rumo do futuro - Indústria inaugura modernas instalações – um investimento vultoso. Uma resposta ao desafio de desenvolvimento de Nova Friburgo
  • A velha Pedrinco - Quem passar por Olaria, tomando o caminho do Cônego, se depara com uma pedreira abandonada, onde os friburguenses se acostumaram a ver homens em incessante trabalho, máquinário em funcionamento, o barulho dos britadores, caminhões basculantes, recebendo e transportando as pedras que muito ajudaram a construir o progresso de Nova Friburgo. Ali funcionava a Pedrinco – “pedreira do Dr. Cézar Guinle”, que  com o cessar das atividades mais parece um desses tranquilos cenários cinematográficos de filmes do faroeste americano.
  • A Nova Pedrinco - Mas foi preciso que assim tivesse acontecido para que a Pedrinco S.A. se transformasse numa numa empresa poderosa e pujante, perfeitamente estruturada dentro da concepção moderna e equipada com o que de melhor pode fornecer hoje a tecnologiamo de sua atividade.
  • General elogia apoio do governo - O governador Geremias Fontes recebeu telegrama do inspetor gerai das Policias Militares, general José Pereira, congratulando-se com o Governo fluminense pela excelente condição de sua Policia Militar. O documento diz: “Ao retornar de viagem de inspeção ao seu Estado, apresento a V. Excia. meus cumprimentos, em razão das excelentes condições da Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro, quer quanto a sua apresentação, aquartelamentos e meios materiais, como quanto ao entusiasmo profissional constatado na ocasião da referida visita, tudo isso fruto do apoio que vem recebendo do Governo estadual.” 
  • Governador Geremias inaugura novos postos de saúde - O governador Geremias Fontes presidiu as solenidades de inauguração dos novos postos de saúde de Rio Claro e Angra dos Reis, construídos pelo governo fluminense. 
  • Amaral Peixoto e Afonso Celso - Os dois candidatos ao Senado pelo MDB fluminense visitaram Friburgo em campanha e foram recebidos pelo diretório emedebista e ocuparam a rádio local no programa partidário que foi ao ar às 14h. 

Pílulas:

  • Café moído ao preço de 6.500 cruzeiros velhos por quilograma é a última que está sendo levada ao ar, por conhecidos arautos das grandes marmeladas. Não estava faltando mais nada, neste fim de semana, como notícia de sensação. Imagine, no Brasil dos imensos cafezais, da queima do ouro verde da erradicação dos cafezais velhos, um artigo nosso, verde-amarelo, em superprodução, custar quase seis notas de um mil cruzeiros antigos, um cruzeiro atual, por mil gramas, o que significa dizer que uma chicarazinha da rubiacea em qualquer botequim custará mais ou menos, pela casa de 800 cruzeiros antigos.
  • E viva a cantoria, em verso e prosa, das maravilhas que estão acontecendo, pela voz de certos candidatos, arenistas, pregoeiros das infindáveis benesses para o operariado. Nesta semana, a corrida aumentista tomou proporções alarmantes por aqui: carne verde comum, cinco mil cruzeiros antigos por quilograma (sem falar em alcatra, filé, filé mignon etc.— Feijão, ultrapassou bastante a casa dos dois cruzeiros modernos. Arroz, com majoração de 100,10 cruzeiros em quilo. Óleos, mais 300 cruzeiros modernos em lata. Carne seca, de 5 para Cr$ 7,40 também por quilograma. Toda a nossa triste história estaria resolvida se os salários estivessem acompanhando a ascensão dos preços dos principais gêneros alimentícios.

Sociais:

  • A VOZ DA SERRA registra os aniversários de: Ângelo Ruiz, Nilo Ferreira Torres e Ruy Corrêa da Rocha (10); Leila Marques (11); Ary Ventura, Maria Nazareth Amélio e Luiz Gustavo Macário (13); Marilse Rangel e Nydia Rangel da Silveira (14); Dilva de Moraes (15); Benício Valladares Júnior (16); Carmen Bravo Costa, Juvenal Namen, Mônica de Mello e Dayse Cristina Heredia (17). 

 

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Edição de 10 e 11 de outubro de 1970
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Sobre olhar para nós

sexta-feira, 09 de outubro de 2020

O olhar sobre a vida do outro em muitos momentos parece aduzir uma percepção ilusória da realidade. A grama do vizinho é realmente mais verde que a nossa? Por que tanta gente acha que os sonhos realizados pelo outro são mais fáceis de serem alcançados? Que na casa dos outros não tem bagunça, que o casal lindo que vemos pelas fotos das redes sociais não tem contas a pagar? Que a doença do outro cura mais facilmente, que o trabalho dele rende mais ou mesmo que é fácil ser ele? Difícil mesmo é ser você, não é mesmo?  De onde o ser humano tira a ideia de que o melhor está lá e não aqui ?

O olhar sobre a vida do outro em muitos momentos parece aduzir uma percepção ilusória da realidade. A grama do vizinho é realmente mais verde que a nossa? Por que tanta gente acha que os sonhos realizados pelo outro são mais fáceis de serem alcançados? Que na casa dos outros não tem bagunça, que o casal lindo que vemos pelas fotos das redes sociais não tem contas a pagar? Que a doença do outro cura mais facilmente, que o trabalho dele rende mais ou mesmo que é fácil ser ele? Difícil mesmo é ser você, não é mesmo?  De onde o ser humano tira a ideia de que o melhor está lá e não aqui ?

Acho que falta gratidão no mundo. Percebo uma zona cinzenta em que um contingente incontável de seres habitam. O dia de hoje está aquém do que deveria estar, e ao mesmo tempo, quando a coisa piora, se percebe que aquele dia estava na verdade muito bom.

Uma comparação constante e massiva com o colega do lado. Uma observação para o que acontece do lado de fora que cega as pessoas para o lado de dentro de seus lares e seus corações. Dá medo. Eu não quero sentir isso e desejo fortemente que não sintam isso em relação a mim.

Muita gente já não se contenta mais em ter saúde e paz. Faltam as fotos maravilhosas de viagens, o príncipe encantado, o melhor emprego, a casa mais frondosa. A vitrine das redes sociais, a meu ver, tem sido um portal para essa ilusão de que a vida do outro é mais feliz que a nossa. Prosperar é lindo. Amar e ser amado é uma dádiva. A realização profissional é uma alegria. Viajar é uma maravilha. O esquisito é o grau de comparação muitas vezes doentio que mingua algumas pessoas. 

Falta gratidão. Só pode ser. A partir do momento em que uma pessoa agradece por tudo o que é, pelo que faz e pelo que possui, a coisa muda de figura. Na verdade, a grama do outro passa a não ter tanta importância. Quando somos gratos pelas oportunidades que temos, pela vida que nos é dada, pela proteção diária, pelas pessoas que nos cercam, conseguimos olhar para o outro com admiração e alegria por suas conquistas. Não com inveja. Não com cobiça.

Se é para olharmos para o outro lado do muro, que seja então para observarmos o tanto de esforço que aquele "vizinho" emprega em prol de suas conquistas. E então, nos esforçarmos também. Empenho precede o resultado. Grandes conquistas decorrem de emprego de energia, preparação, renúncias, investimento de tempo etc etc etc. Salvo se a grama do vizinho for sintética, ela requer plantio e cuidados. E ainda que seja sintética, requer possibilidade de compra, que demanda trabalho, dinheiro, prioridade e por aí vai. Não é de graça. Não é à toa. Não somos um amontoado de seres aleatórios em que coisas boas acontecem arbitrariamente para os outros e as ruins, para mim.   

Somos resultado do que fazemos para mudar, para melhorar, para aprimorar. São mesmo dias de luta e dias de glórias. É a vida. Se o vizinho tem um relacionamento saudável e feliz, o que ele fez por merecer? Felicidade no amor não é para qualquer um. Tem que merecer, deve se dedicar, jogar energia boa para o universo, respeitar as pessoas, ser sincero, acolher o lado bom das pessoas. Não dá para ser um caçador de defeitos, andar com uma lupa para o negativo e encontrar pessoas maravilhosas com quem conviver. Somos todos imperfeitos. Todos. A grama alheia também pode ser. Não se pode julgar pela aparência.

Em tempos de terreno ermo, barreado, cheio de lama, a gente desanima. Mas aí é que temos que buscar aquela força que todos temos e poucos sabemos. A força de dentro. A mola da possibilidade de superação e realização.

Falar é fácil, exercer essa ideia é mais difícil. Eu sei. Mas não subestimo nossa capacidade de decidir e perseguir o objetivo. O que eu quero? Ser grata em qualquer circunstância. Amar meu próprio jardim, mesmo quando as ervas daninhas insistirem em castigá-lo. E desejar que o jardim do outro tão garboso quanto eu quero que seja o meu.

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